quarta-feira, 20 de abril de 2011

A SULANCA DA VIOLÊNCIA

Convivemos com uma feira, uma enorme feira da violência. Temos uma legislação rigorosíssima a respeito da comercialização e o porte de armas de fogo, mas não se consegue desarmar bandidos e não se evita a venda clandestina de armas. Nesse episódio recente em que foi morto o foragido Floro Calheiros e dois dos que o acompanhavam na fuga, viu-se que na camionete havia um arsenal. Mas esse é apenas um exemplo de tantos, de milhares de casos semelhantes espalhados pelo país. Talvez tenha sido por isso que, quando houve o plebiscito, a população manifestou-se a favor da continuação da venda e do porte de armas, aceitando o argumento de que se os fora da lei transitam livremente armados, por que o cidadão honrado não poderia portar uma arma, tê-la guardada em sua residência, até mesmo para defender-se da bandidagem. Assim, o desarmamento geral foi desautorizado pelo voto da maioria dos brasileiros, mas, o uso ilegal de armas continua criminalizado, e ter arma legalmente adquirida e registrada é tarefa das mais difíceis.  Se o desarmamento houvesse sido aprovado na votação, a situação não seria muito diferente. Os bandidos continuariam tendo acesso às armas, e a criminalidade estaria no mesmo nível. Agora, vem o senador Sarney a propor um novo plebiscito para que a população vote outra vez e diga se quer ou não o comércio e o porte de arma. Trata-se de um retumbante equivoco, mais um diversionismo de ocasião, para encobrir uma realidade que os nossos legisladores se recusam a tratar objetivamente, por omissão, negligencia ou covardia. Se for feita mais uma consulta ao povo, e dessa vez a maioria decidir pela proibição total das armas de fogo, nada vai mudar. Hoje, essas armas na prática já são proibidas, mas, quem quiser e tiver dinheiro, principalmente se estiver ligado à bandidagem, poderá comprá-las até com uma certa facilidade. No Paraguai, coladas à nossas fronteiras, há feiras permanentes de armamentos de todos os gêneros e calibres.  No Brasil continuam entrando armas a granel. Essa é uma parte da sulanca da violência. A outra parte, talvez tão perigosa quanto é a criminosa exaltação do comportamento violento, e isso se faz por todos os meios e modos, ostensivamente, escandalosamente, sem que se preocupem os legisladores em criar leis que combatam a disseminação de uma cultura de  crime e brutalidade, que não faz parte dos nossos hábitos como povo, que até já foi caracterizado pela cordialidade.  A sulanca da violência é uma enorme feira livre que terá de ser combatida e vencida, não com medidas oportunistas, mas, com uma permanente dedicação para que surja entre nós uma consistente cultura de paz.

ADVOGADOS OU CHANTAGISTAS?


Não estariam esses advogados de Floro Calheiros a merecer a atenção da Ordem dos Advogados? A OAB sempre pronta a envolver-se em tantos e variados assuntos, em alguns até com exagero, como no caso do exame de ordem, poderia dedicar-se com mais intensidade ao acompanhamento  das ações  de  advogados que se habituaram a pisotear a ética, e transformam  a  causa que patrocinam num midiático desfile  de destemperos e acusações, grosseiramente evidentes, ou maliciosamente veladas. Desse show de egolatrias e ânsias pelos honorários, forma-se um absurdo maniqueísmo, que faz do cliente, seja ele quem for, um exemplo de virtudes, e o resto, juízes, promotores, instituições, a sociedade, todos, enfim, que ousarem duvidar dessa santificação ao avesso  são   tratados como se fizessem parte de uma imensa quadrilha de malfeitores. Cabe ao advogado usar de todos os meios lícitos para fortalecer a defesa dos seus clientes. Se, do lado dos que acusam ou terão de julgar, os advogados identificarem condutas ilegais ou desonestas, se tiverem mesmo elementos para formalizar uma acusação que possa atingir até a honorabilidade de juízes ou promotores, sabem os advogados quais as formas legais para fazê-la. Vivemos num estado Democrático de Direito onde, felizmente, não se tem notícia de que abusos de autoridade possam ser cometidos, sem que deles a sociedade tome conhecimento, e, para coibi-los, existem sólidos instrumentos como garantias de que a cidadania e a lei venham a ser preservadas. Ninguém, por mais poderoso que seja, pode, no Brasil em que agora felizmente vivemos desafiar a lei sem que um dia venha a pagar pelos ilícitos cometidos. Não tem sido fácil o processo de fortalecimento da cidadania, e ainda existem inúmeros obstáculos que devem ser vencidos. Mas hoje, a sociedade e as instituições invariavelmente terminam vencendo a batalha contra violentos, corruptos, bandidos de um modo geral, que, antes, sempre foram acobertados com o manto deplorável da impunidade. Hoje, temos juízes na cadeia, isso não pode ser apontado como se fosse um troféu da sociedade, mas apenas como uma prova de que a democracia tem instrumentos eficazes para que se corrijam erros e se faça a Justiça, até contra Juízes. Da mesma forma, e aí sim, trata-se de uma vitória da sociedade, há marginais desafiadores que estão a encher as penitenciárias de segurança máxima. Ou seja, o Estado Democrático de Direito, cumpre o seu papel e se consolida na medida em que assegura o cumprimento das leis. Essa arquitetura institucional que construímos e estamos todos empenhados em aperfeiçoar, é resultado de um longo processo, que de tantos exigiu sacrifícios. A História os registra. A Constituição republicana de 88, e as outras estaduais que lhe seguiram o exemplo, foram uma decisiva etapa para que alcançássemos a modernidade política, institucional e social, da qual um longo autoritarismo nos afastou. O advogado Evaldo Campos, como assessor parlamentar, teve um brilhante papel naqueles meses frenéticos e criativos em que, sob a batuta firme e idealista de Guido Azevedo, a Assembléia Constituinte elaborou a nossa Carta Magna. Aqueles que acompanharam, naquele tempo, o trabalho do jurista empenhado em desenhar com  as leis, o modelo de uma sociedade democrática, sob a égide de uma Constituição inovadora, realçando o primado da paz,  o repúdio à violência, quase não acreditam que seja ele, o mesmo  que agora,    desempenha um lamentável papel, que extrapola o múnus do advogado, para se  transformar, quase, em apologia à violência, e em combustível para incendiar vinganças, ou exaltação desarrazoada aos que, pela violência   se nutriram, e através dela construíram a triste fama. Como disse o radialista-deputado Gilmar Carvalho, só resta agora sugerirem a construção em Sergipe de uma estátua, para uma espécie de Billy The Kid pernambucano.
Chantagem explicita, com a ameaça de divulgação de dossiês forjados, absurdos, e, pela origem, desqualificados, é método usual entre integrantes de máfias ou camorras, não se imagina que possam fazer parte do comportamento adotado por bancas de advogados. Mas, lamentavelmente, agora fazem, para descrédito dos que recorrem a tão enojante baixaria.
Um conceituado advogado, dizia, e em altas vozes para quem quisesse ouvi-las, durante almoço em movimentado restaurante aracajuano, sobre o professor Evaldo Campos: Ele é uma inteligência profusa e brilhante, só lhe faz falta um mínimo de caráter. Registramos a verrina cáustica, sem, contudo, dar-lhe o aval, apenas, para  revelar os efeitos desastrosos sobre a imagem ética de quem, mesmo por excesso de entusiasmo litigante, inclui  algum tipo de chantagem no seu arsenal de chicanas.

AQUELA GENTE DE ASTERIX E OBELIX


Quando se fala em gauleses, logo nos vêm à memória as figuras de Asterix e Obelix, aqueles dois personagens d e uma das mais inteligentes revistas em quadrinhos já editadas, e os dois, são protagonistas tão centrais, que a própria revista leva o nome deles. Os celtas, povo mais antigo, que venceu mares, cruzou montanhas, dividiram-se em sub-grupos por toda a Europa por onde andaram, desde as Ilhas britânicas, a península ibérica, até a Anatólia, nos confins do Mediterraneo. Essas multiplicadas tribos do tronco celta deram origem e até nome aos territórios onde se fixaram, depois, na complexa e mutante geografia política da Europa ocidental, ganharam dimensão maior do que aqueles feudos dos senhores barões, condes, duques e marqueses, e formaram países. Os gauleses, ocupando privilegiado espaço de terras férteis, na sua maior parte, planas, cobertas por grandes florestas, atravessadas por rios volumosos, e ainda com temperaturas amenas, logo se tornaram alvo da cobiça de vizinhos conquistadores, entre eles os romanos, que expandiam o Império. Júlio Cezar escreveu o seu best-seller De Belum Galico, A Guerra das Gálias, depois de enfrentar e subjugar os Asterix e Obelix, que causaram grandes baixas nas suas poderosas legiões. Não fossem os vinte séculos que nos separam desses acontecimentos, Cezar, com a sua primorosa narração da guerra nas gálias, teria recebido o Prêmio Nobel de Literatura, da mesma forma que um político ambicioso feito chefe militar pelas circunstancias, homem de origem celta, Winston Spencer Churchill, o recebeu, por ter alinhado prodigiosas memórias da Segunda Guerra Mundial. Tanto Cezar como Churchill, enfrentaram cada um o seu Rubicão, o momento decisivo entre a gloria e o esquecimento, aquele brado guerreiro que surge da coragem e da reflexão: o  Allea jacta est,  a sorte está lançada. Aquelas terras selvagens e férteis de Asterix e Obelix era o coração da França e, por isso, os franceses são também gauleses, e ainda, em grande parte, gaulistas, ou seja, seguidores do velho general que até no nome evocava a  França.
Pois é sobre esse povo que a Aliança Francesa fará uma exposição que abre dia 25 as seis da noite, e vai até 20 de maio. A professora Elódia Caldas Barros, primeira entre os francófilos sergipanos, deu à professora Caroline Tomi a responsabilidade pela organização, da qual participou todo o corpo de professores da escola de língua e cultura. Na abertura da mostra a professora e historiadora Berthe Goiswin, falará sobre os parentes de Asterix e Obelix.

OS SÍMBOLOS E A POSSE DE JACKSON


Entre as variadas leituras de Déda, incluem-se alguns livros referenciais sobre semiótica, a teoria que talvez já seja ciência, sobre os signos, ou, mais amplamente, das representações diversas, que podem estar na escrita, nos sinais, nos gestos, na dança, no tuite, e também nas figuras rupestres deixadas nas cavernas. A semiótica é a essência da comunicação, e quer ir mais além ao interpretá-la, conhecer sua lógica, alcançar sua abrangência social. João Alves, ex-governador oposicionista, competente e em tempo integral, costuma acusar Déda, dizendo que ele é um excelente marqueteiro. Quando faz isso João também dá um tiro no próprio pé, pois poucos políticos sabem, como ele, valer-se tão bem do marketing, e a prova disso, é que, politicamente sobrevive, e até se mostra forte.
 Mas, voltando ao terreno da semiótica que já foi xodó de intelectuais refinados, o governador Marcelo Déda parecia  inspirado pela teoria dos signos, ao falar  no dia em que transmitiu o cargo ao vice-governador Jackson Barreto. Começou referindo-se ao simbolismo do ato, da solene transmissão onde estavam representados os poderes, o desembargador Jose Alves, presidente do  Judiciário, a deputada Angélica Guimarães, presidente do Legislativo, o procurador Jose Carlos Oliveira representando o Ministério Público, o prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira, muitos prefeitos do interior, deputados, e um grupo de antigos peemedebistas que ficou bem identificado  pelo o ex-prefeito de Aracaju, João Augusto Gama gritando da primeira fila, quando Jackson assinava o termo de posse: Até que enfim, Barreto.
Déda destacou a amplitude que quis conferir ao ato de transferência de comando, exatamente para com isso simbolizar o apreço a Jackson, a perfeita identificação com o vice, que no seu caso, existiu, tanto quando era prefeito de Aracaju,  com Edvaldo Nogueira, como no primeiro mandato, com Belivaldo Chagas. Déda proferiu uma sucinta aula sobre a importância dos signos, dos sinais e dos seus efeitos no desenrolar dos fatos políticos. Quase parodiando Jose Maria Alckmin que disse serem mais importantes as versões do que os fatos, ele lembrou que um simples piscar de olhos do governador, coisa irrelevante na essência, poderá ter repercussões ampliadas, desde que venha a ser entendido como sinalização de alguma coisa. Luiz Garcia quando governador, por conta de um piscar de olhos transformou em vítimas 4 radialistas que foram logo depois violentamente espancados pela polícia. Ele estava em palácio quando chegou um major do seu gabinete militar dizendo-se revoltado com os radialistas que faziam na Jornal o programa Risolandia. Eles estavam achincalhando, insultando, no seu entender a pessoa do governador, e por isso iria aplicar-lhes uma boa surra. Garcia o proibiu terminantemente, mas, quando o major se afastava decepcionado, vislumbrou o governador que dava uma piscada de olhos.  Logo interpretou o gesto como uma forma de desautorizar a proibição, e assim, os radialistas logo depois sentiriam o peso dos braços irados da polícia. Luiz tinha o sestro de piscar olhos, que transmitiu a seus filhos. Por isso, Gilton, quando governador do Amapá, fazia um esforço enorme para não piscar olhos na frente de auxiliares, principalmente se fossem policiais. Mas naquela tarde Déda não deu apenas uma piscadela, de fato, simbolizou fortemente sobre o que pensa e o que pretende fazer do seu mandato e da sua sucessão. E para Jackson Barreto os símbolos evidenciados foram  os mais agradáveis.

QUANDO MATARAM PITITÓ


Nos anos cinquenta e começo da década dos sessenta, quando findou-se  sua breve existência, Pititó era, em Sergipe,  nome  pronunciado com  o recato que se  se tem ao verbalizar palavras que nos metem medo. E Pititó metia medo, muito medo, na polícia, inclusive. Filho de um pecuarista que se tornou usineiro, Pedro Ribeiro, homem honrado que fez fortuna com muito trabalho, Pititó receberia a mesma educação dos irmãos e irmãs mandados a estudar internos em bons colégios de Aracaju. Mas as carteiras escolares lhe foram incômodas, nelas não conseguia sentar-se sem pensar na sela de um cavalo, onde acomodava-se seguro e dominador, lidando com gado, despejando-se nas correrias pelos pastos. Com a mesma destreza como cavalgava e derrubava bois, passou a manejar revólveres, pistolas, espingardas, e rifles. Sua pontaria era excepcional.  Sobre um cavalo a galope, disparava tiros sucessivos em garrafas de cerveja colocadas ao longo da corrida, e em quase todas acertava.
 Gênio impulsivo e violento, desentendia-se facilmente, e era muito sensível a qualquer coisa que pudesse interpretar como ofensa.  Matou o primeiro e não parou mais. Vivia entre as fazendas do pai, a usina Várzea Grande em Capela, os bares e os cabarés de Aracaju. Não tinha pistoleiros a acompanhá-lo como guarda-costas. Quase sempre, sentava-se a um canto, de costas para a parede, e parecia elétrico. Poucos costumavam fazer-lhe companhia, mas, quem chegasse à sua mesa ele recebia com amabilidades de um gentleman. Não fosse a fama, ninguém imaginaria que ali pudesse a qualquer momento despertar uma fera.  A cabeça rodava de um lado para outro, como se estivesse tentando localizar alguma coisa ao seu redor, enquanto acariciava, tanto as prostitutas que  o cercavam, como o revolver 38 e a pistola 9 milímetros que carregava na cintura  ao alcance das duas mãos.  E a volúpia em cada caso parecia ser a mesma. Atravessado às costas, por baixo da camisa, tinha um punhal.
 Cumpria sempre um invariável roteiro entre os cabarés Shangay,  ShelL,  Mira-Mar, e terminava a noite no Brahma Bar, comendo filé com fritas.  Tanto aqueles cabarés como o bar da madrugada, eram frequentados assiduamente por policiais, alguns com fama de violentos, mas Pititó nunca era incomodado. Poderia tudo isso, configurar uma prosaica existência boêmia, não fosse pontilhada por enfrentamentos, nos quais, a rapidez no gatilho, a precisa pontaria e a frieza de Pititó iam fazendo dele um homem cada vez mais temido e também odiado por muitos. Pititó não era um pistoleiro no sentido comum da palavra. Não alugava o seu braço para matar, nem pagava a pistoleiros para que matassem.  Quando Leandro Maciel assumiu o governo, o seu Secretário da Segurança Pública Heribaldo Vieira entendeu que Pititó era uma ameaça que precisava ser contida, e a policia começou a caçá-lo depois que a Justiça contra ele emitiu uma ordem de prisão. Havia quem identificasse por trás daquela súbita mudança de comportamento da polícia, motivações marcadamente políticas, porque o usineiro pai de Pititó era amigo e eleitor de líderes pessedistas, que  haviam perdido o governo, derrotados pelos udenistas.  Pititó passou a viver em Serra Negra sob a proteção de João Maria de Carvalho, e, dizia-se, mais ainda, do seu irmão, o general de exército Liberato Carvalho, homem que caçou o bando de Lampião, participou da revolução de 30, e era fraternal amigo do poderoso tenente Juracy, vice - rei da Bahia. Tendo suspeitado, certa vez, que Pititó poderia estar na usina Várzea Grande, do seu pai Pedro Ribeiro, uma volante policial foi organizada para ir prendê-lo, Não o encontrando, depredaram a casa grande, metralharam paredes, portas, janelas, móveis, até cachorros, gatos, e um infeliz papagaio.  O louro, talvez primeiro e único a ser alvo das metralhadoras, ficou destroçado num monte de penas verdes sobre o ladrilho branco ensanguentado da imensa cozinha. Depois, outra volante policial, dessa vez recheada com muitos pistoleiros famosos, atravessou as caatingas sergipanas e baianas, para ser surpreendida por Pititó à frente de um pequeno grupo. A volante retornou desfalcada e desmoralizada a Aracaju.  Depois disso, correu a noticia de que uma outra e mais poderosa volante seria mandada a Serra Negra, dessa vez,  para matar Pititó, decepar-lhe a cabeça,  que deveria ser trazida a Aracaju como troféu e prova definitiva de que o temido homem estava mesmo morto. Quando soube que a volante estava prestes a ser despachada para a macabra empreitada, Pedro Ribeiro  colocou na camionete Fargo que costumeiramente usava, uma metralhadora Thompson, e foi à casa do amigo e compadre, o jornalista e promotor público Paulo Costa. A conversa não foi longa, mas, foram muitos os  fumarentos charutos  que nervosamente Pedro Ribeiro consumiu em tão pouco tempo. Disse que não tinha dúvidas de que o seu filho seria morto violentamente, pelo modo de vida que ele escolhera, e que a Justiça e a polícia cumpriam o seu o papel ao tentar prendê-lo, mas, não admitiria que depois de morto lhe decepassem a cabeça. Se isso acontecesse,  ele se consideraria ofendido como pai, e teria de usar a metralhadora contra as autoridades responsáveis pela ordem de decapitação. Sabia que seria morto, e pedia ao amigo que cuidasse  de fazer cumprir o inventário que ele já teria feito e assinado. Paulo Costa pediu-lhe calma, enquanto tentaria fazer proveitosos contatos. Conversou com algumas pessoas, narrou o ato de desespero que o pai cometeria, caso Pititó tivesse cortada a cabeça. A volante não se deslocou para o sertão.  Tempos depois, Pititó voltou a aparecer em Aracaju, no interior, envolveu-se em novas refregas sangrentas, matou um policial, e aí tornou-se inimigo número um da policia militar, que decidiu exterminá-lo.  Uma patrulha comandada pelo sargento Sobral o  surpreendeu num cabaré em Carmopólis. Ele foi atingido por vários tiros de revolver e fuzil, o irmão, Pempo, que estava com ele, conseguiu fugir. Pititó cambaleou até a porta e caiu no meio da rua, agonizando, mas investindo contra os policiais,  tentando retirar das costas o  seu inseparável punhal. Os soldados o cercaram e dispararam vários tiros à queima roupa, até se certificarem de que ele estava efetivamente morto. Por esse tempo Pedro Ribeiro já se desfizera da metralhadora Thompson. Acontecera o que ele esperava, e até considerava normal, diante da vida e da fama do filho morto.
O velório foi realizado na casa da família, aquele casarão na esquina de Gerú com Santo Amaro onde hoje funciona a Federação da Agricultura. A família Ribeiro sempre teve poder, posses e muita influência política. O usineiro Pedro Ribeiro era meio irmão do ex-deputado estadual Rosendo Ribeiro e do ex-prefeito de Lagarto, Jose Raimundo Ribeiro, o Cabo Zé. Nem o pai, nem os tios, nem os irmãos, Idélio e Pempo, imaginaram qualquer forma de vingança, admitindo que quem escolhe a violência, sempre terá um fim violento e isso era o que todos esperavam  que acontecesse com Pititó.
 Os policiais que mataram Pititó continuaram sossegados as suas vidas. O sargento reformado da PM, Sobral, que comandou a patrulha, bem idoso, vive hoje cuidando de uma pequena propriedade em Canindé do São Francisco. Recebe quem chega à sua acolhedora casa no povoado Capim Grosso, com uma xícara de café bem quente servido pela sua atenciosa esposa, mas, é preciso vencer-lhe uma enorme resistência para que ele admita relembrar daquele episodio em Carmópolis.      

A RASTEIRA EM ALBANO, OU O INIMIGO MORA AO LADO

Albano poderá até minimizar a insultuosa decisão do seu partido, o PSDB, que surpreendentemente proibiu a realização da convenção em que seria eleito o novo dirigente estadual o empresário Adierson Monteiro. Albano tem o hábito de contemporizar, isso faz parte do seu raro temperamento, infenso a qualquer forma de conflito. Pacificador sempre, ele tenta reduzir os efeitos de uma decisão que equivaleu a uma traiçoeira punhalada desferida pelos costados indefesos. Diz Albano que o presidente Sérgio Guerra depois lhe telefonou, dando justificativas e pedindo que ele indicasse o nome de um interventor para o partido. Fosse outro, e não Albano, Guerra teria sido mandado para o lugar que costumeiramente são remetidos aqueles que cometem atos assim tão traiçoeiros. Mas isso faz parte dos conflitos internos de um partido que se esfrangalha e se mostra incapaz de encontrar um rumo entre tantas egolatrias que o dominam. Albano foi sempre rigorosamente leal ao partido. Prejudicou-se fazendo composições, e prejudicou-se mais ainda por deixar de fazê-las, para não discrepar das posições assumidas pelos tucanos. Agora, recebe um golpe que não merecia, mas tem caminhos novos a percorrer, se assim decidir livrar-se do estigma tucano que o persegue, atormenta e prejudica. O pior de tudo: a inspiração para que Sérgio Guerra interviesse tão açodadamente no PSDB local, teria partido de um amigo e vizinho de apartamento de Albano, o ex-deputado federal Jose Carlos Machado, interessado em acoplar o PSDB uma vez por todas ao seu DEM, ou a comandá-lo, para que o partido se torne um aliado, para ele enfim, confiável e submisso.

domingo, 10 de abril de 2011

BIOMBO NOS BANCOS UMA COISA SIMPLES E PRÁTICA


Em São Paulo agora é lei. Toda agencia bancária terá, obrigatoriamente, de instalar um biombo isolando os caixas do espaço onde ficam os clientes aguardando atendimento, Também entre os caixas, à semelhança do que existe em quase todos os mictórios masculinos deverá haver divisórias. Com essa tão simples providencia espera-se reduzir os assaltos que ocorrem nas saídas dos bancos. O marginal fica entre os clientes, acompanha quem está recebendo dinheiro, e telefona para o comparsa que está do lado de fora, e descreve as características da vítima. Na rua, acontece o assalto. O que impressiona nisso tudo ,é a total indiferença dos bancos. Todos, parece, estão se lixando para a sorte dos incautos clientes. Banco, quando é assaltado, nada perde, porque o seguro cobre tudo, já o cliente mesmo estando dentro de uma agencia, se for roubado terá de percorrer uma longa via de obstáculos, primeiro, a recusa do banco em indenizá-lo, depois, a enorme lentidão da Justiça. Os bancos deveriam ser obrigados a estender o seguro que fazem, também para cobrir os clientes no interior das suas agencias.
Em São Paulo, a lei do biombo que teve origem na Assembléia Legislativa foi sancionada pelo governador no dia 17 de março, mas, como ninguém escapa dos intrincados labirintos da burocracia, haverá ainda a necessidade da regulamentação, que não tem prazo para ser feita. Foi estabelecido no texto legal que a determinação somente entrará em vigor noventa dias após a regulamentação, Como ninguém sabe quando sairá a regulamentação, a lei existe, mas não vale nada, e os assaltos continuam acontecendo nas calçadas em frente aos bancos, depois que os clientes saem das agencias com dinheiro no bolso, sendo identificados pelo bandido que estava lá dentro a tudo assistindo, apenas, porque não existe o isolamento feito por um simples e baratíssimo biombo. Semana passada o ex-governador de Sergipe, João Alves teve o desprazer e o grande susto de presenciar a ação ousada de uma quadrilha que invadiu um banco num dos pontos mais movimentados de São Paulo, alguns clientes perderam o que levavam nos bolsos. Nunca serão ressarcidos do prejuízo, mas com o banco, no caso o Bradesco, tudo será diferente. Talvez por isso, por se sentirem assim tão solidamente seguros em meio a um clima de insegurança que a todos assusta, os bancos não tomam qualquer iniciativa para a proteção do cliente, aliás, são os próprios bancos os grandes desrespeitadores dos clientes quando os obrigam a uma exaustiva permanência aguardando um atendimento calamitoso.
Um biombo, algumas placas de isolamento entre os caixas, são coisas bem simples, custam uma ninharia, principalmente para quem exibe todos os anos astronômicos lucros, mas, é preciso que se faça uma lei para que os bancos sejam obrigados a instalá-los.
Algum vereador de Aracaju, poderia apresentar uma lei semelhante a de São Paulo, embora por aqui os bancos costumem desrespeitar todas as leis. Onde anda, por exemplo, aquela dos 15 minutos, prazo máximo para atendimento ao cliente ?
Para maior amplitude à lei dando-lhe dimensão estadual, seria melhor que um deputado tratasse do assunto.
Uma observação: o banco HSBC em Aracaju, já tem, há muito tempo, o biombo instalado na sua única agencia.

SUPERMERCADOS E SHOPPINGS FECHADOS AOS DOMINGOS UMA BURRICE PROVINCIANA


Fechar supermercados e shoppings aos domingos e feriados é uma adesão ao atraso. Deixar que supermercados e shoppings funcionem todo tempo sem fiscalização, é capitulação ao atraso. Não se gera emprego criando-se obstáculos às atividades produtivas, o que se faz necessário é a presença fiscalizadora do Estado para que as leis trabalhistas sejam cumpridas. Nossas leis trabalhistas já andam um tanto caducas, mas, no que se referem à proteção do trabalhador, enquanto coisa melhor não vier a ser feita pelos nossos legisladores, teremos de conviver com elas e, sobretudo, fazê-las eficazes. Fechar shoppings e supermercados, impedi-los de funcionar normalmente preenchendo horários noturnos, também nos dias de domingo e feriados, é grave demonstração de incapacidade para tirar proveito de oportunidades disponíveis para gerar mais empregos. Não se gera emprego reduzindo-se as oportunidades de trabalho. Se os supermercados e shoppings exploram os trabalhadores, os submetem a uma jornada excessiva, não pagam horas extras, não convocam outros trabalhadores para que ocupem as etapas ampliadas, então, faliu o Ministério do Trabalho que não tem condições para exercer seu papel fiscalizador. Alegam que aquele Ministério anda um tanto sucateado, não tem funcionários suficientes para que possa bem cumprir suas atribuições. Se isso for verdade, então, que se lute para tornar eficiente o ministério semi-paralisado.
Shoppings e supermercados fechados aos domingos é atitude provinciana e ausência de compreensão da lógica econômica que move o capitalismo. Pode-se questionar essa lógica. Em relação à tantas coisas, inclusive o futuro do planeta, ela é extremamente perversa, mas, enfim, é no capitalismo que vivemos, por isso para que empregos sejam gerados, a máquina da economia deve ser posta a andar, e se ela não para aos domingos e feriados tanto melhor. Para tornar possível a contratação de novas turmas de trabalhadores apenas para preencherem os espaços de domingos e feriados, seria indispensável uma mudança na legislação trabalhista no que se refere ao trabalho temporário. Isso dificulta tudo, mas, é sempre possível um acordo com a interveniência dos sindicatos, desde que a geração de empregos fosse o foco do entendimento. Pergunte-se a um taxista o que ocorre quando supermercados e shoppings fecham, e ele mostrará quanto se perde, quanto dinheiro deixa de ser injetado, de girar na economia. O taxista, somente a título de exemplo, é uma das vítimas de uma insensatez que se comete sob o disfarce de proteção aos direitos dos trabalhadores. É possível a proteção desses direitos, como se faz, por sinal, em todo o mundo e pelo Brasil a fora, onde não existem restrições ao funcionamento de qualquer forma de comércio, desde que gere emprego, remunere decentemente os trabalhadores e respeite os seus direitos.
O resto é demagogia, ou burrice mesmo.

O PISO E AS PREFEITURAS


O piso salarial dos professores que o Supremo Tribunal Federal agora garante, é quantia demasiadamente pequena para remunerar o trabalho de um professor. Trata-se, apenas, de uma tímida tentativa de recuperar o longo tempo de esquecimento em relação aos mestres, o que significa também dizer, desprezo absoluto pela educação. Mas se a quantia é ainda muito pequena, grande é a penúria de boa parte das prefeituras brasileiras. Muitos prefeitos, mesmo aqueles que não fazem parte da numerosa quadrilha de assaltantes dos cofres públicos, terão dificuldades para cumprirem a lei do piso. Vão ter de demitir aquelas pessoas, que, imagina-se as vezes, são as beneficiadas pelo empreguismo eleitoreiro,ocupando cargos em comissão mas,que na maioria dos casos se tornam funcionários das prefeituras porque nos municípios mais pobres existe um a insuperável carência de empregos, e quase sempre, é a prefeitura que supre parcialmente a carência.
Esse é um aspecto do círculo vicioso da pobreza do qual ainda não conseguimos escapar, embora tenham ocorrido avanços consideráveis. Claro que os professores não iriam abrir mão do salário ao qual têm direito, e que é, ainda, quase um acinte à dignidade de quem cumpre a árdua missão de educar, mas que no momento, seria o possível, ou até impossível para tantas prefeituras.
O Ministërio Público terá, ou deveria ter. muito trabalho para acompanhar a situação de cada prefeitura e verificar onde há mesmo dificuldade real para o pagamento do piso, e buscar soluções compartilhadas. É preciso, também, identificar aquelas prefeituras onde a recusa ao pagamento do piso decorre, somente, da devastação provocada pela corrupção além dos limites.

UMA HOMENAGEM A JOSE ALENCAR


Em Sergipe, além do luto decretado no estado e em algumas prefeituras, as homenagens oficiais, uma singela missa na Igreja de Nossa Senhora Menina, assinalou o sétimo dia da passagem do grande brasileiro Jose Alencar. Foi mandada celebrar pela família Franco, com dona Maria Virgínia Leite Franco, viúva de Augusto Franco, ao lado dos filhos e dos amigos participando da celebração. A amizade da família Franco com a família Alencar vem de muito tempo. Quando Jose Alencar, bem jovem comercializava tecidos, e ainda não havia consolidado seu império fabril, as fábricas sergipanas de Augusto Franco eram fornecedoras de tecido para as lojas de Alencar. Augusto Franco referia-se a Jose Alencar com o respeito de um empresário que admirava a sua imensa capacidade, e a uma característica, que, para Augusto Franco o distinguia: a palavra e o compromisso, que faziam parte do seu inflexível conceito de honra pessoal. Augusto Franco lembrava que ouvira certa vez de Alencar: “Augusto, se você tivesse começado
em São Paulo, você seria um dos maiores empresários do país”. Quase a mesma coisa Augusto Franco já ouvira antes, dito por Jose Ermírio de Morais, fundador do Grupo Votarantim, pai de Antonio Ermírio. A amizade transferiu-se aos filhos. walter Franco costumava visitar Jose Alencar em Minas, antes que ele fosse senador e vice-presidente, e depois, em Brasília. Albano Franco consolidou a afeição, quando teve Jose Alencar que representava Minas, incluido como vice-presidente, quando ele exerceu a presidência, por doze anos, da Confederação Nacional da Indústria . A Globo News, cobrindo o velório de Alencar, destacou a presença de Albano, que tentava controlar o choro. Durante o longo período da doença, ele nunca deixou de visitar Jose Alencar no hospital.

MARDOQUEU NA COHIDRO: PRIORIDADE PARA O SEMIÁRIDO


Mardoqueu Bodano, pastor e ex-deputado estadual, assumiu a presidência da COHIDRO assegurando que dará prioridade ao semiárido e `a revitalização dos perímetros irrigados em Itabaiana , Lagarto e Canindé do São Francisco. Mardoqueu, um paulista que se tornou sergipano,é frequentador assíduo dos caminhos do sertão. Muito ligado ao Frei Enoque, p;refeito de Poço Redondo, e ao deputado federal Heleno Silva, ele teve com os dois um bom aprendizado do sertão, e tornou-se, quando deputado por duas vezes, um atento defensor do semiárido . Ele quer fazer da COHIDRO uma ferramenta eficiente para transformar o sertão, e, para isso, quer completar o mapa dos recursos hídricos da área, com levantamento preciso das águas subterâneas, dos rios que podem ser represados, das regiões mais propícias para construção de açudes e barragens em todo o semiárido. Anunciou, também, a disposição para batalhar por recursos que tornem possível a revitalização dos perímetros irrigados o que, se for feito, poderá ampliar em mais de cinquenta por cento a capacidade de geração de empregos nas áreas irrigadas. Começa bem o pastor Mardoqueu.

O MASSACRE NO REALENGO



O bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, já foi palco de intensos combates no período mais convulso da primeira República. Eram, todavia, enfrentamentos entre militares rebelados e legalistas. Depois disso, o bairro, embora da periferia, caracterizou-se como uma região de vida pacata, que até contrastava com a violência espalhada por toda a cidade. Quinta-feira, dia 7, o Realengo alarmou-se, entrou em pânico e desespero. Um atirador estava matando crianças dentro de uma escola. Coisa inédita no rol da violência brasileira, todavia recorrente nos Estados Unidos, e que já aconteceu na civilizadíssima Europa,. onde até a Alemanha e a frígida e pacífica Finlandia foram palcos de tragédias semelhantes.
Todas as vezes em que sucedem coisas assim, que ultrapassam o descomedimento da estupidez criminosa, logo surgem os que começam a fazer críticas, quase sempre direcionadas à ausência de um aparato de segurança capaz de assegurar tranqüilidade ao cidadão, pronto a agir, tanto nas favelas conturbadas como nas pacíficas escolas, nesses inesperados momentos em que loucos podem invadi-las e assassinar crianças. Nenhum aparelho de segurança, por mais eficiente que seja, conseguiria ocupar todos os espaços e evitar os crimes. Reclama-se da polícia, até mesmo quando divergências ocorridas dentro de casa levam homens a agredirem mulheres. Cada um quer dar uma sugestão, oferecer uma idéia, fazer uma critica. No Congresso, volta-se a tratar de projetos voltados para a segurança pública que, logo depois, voltam a dormir placidamente esquecidos nas gavetas. Até que surja um outro acontecimento violento que ocupe os espaços na mídia.
O Brasil, país do carnaval, terra da cordialidade, da convivência pacífica, da tolerância entre as religiões, da fraternidade das raças, teria todas as condições históricas, sociais, antropológicas, para tornar-se uma terra caracterizada pela reduzida criminalidade. E assim conseguimos ser, até uns quarenta anos atrás, quando a “malandragem carioca” era, tão somente, a boemia um tanto irresponsável, associada a uma certa esperteza que não causava maiores males e passava distante da violência. Já os Estados Unidos que fizeram do rifle um símbolo do “american way of life “ trilharam um caminho radicalmente diverso do processo civilizatório brasileiro. Com o rifle os americanos conquistaram o oeste, exterminaram os índios, ampliaram suas fronteiras, tomaram grande parte do território mexicano. Do começo do século passado até hoje, não se passaram quatro anos sem que os americanos estivessem envolvidos numa guerra ou em algum conflito no exterior. Isso significa dizer que, nesse longo período, nenhum presidente americano completou mandato sem autorizar o disparo dos seus canhões. Obama, prêmio Nobel da Paz, já tem três guerras nas costas. A Constituição americana assegura ao cidadão o direito de portar uma arma, que pode ser comprada em qualquer mercearia da esquina na maioria das cidades. E há em Washington o poderoso lobie das armas, da guerra. No Brasil os Bandeirantes entraram pelos sertões, procurando ouro, pedras, e prendendo ou matando índios, e assim ampliaram as fronteiras. Mas houve Rondon, um militar do exército, que saiu a abrir caminhos a levar o telégrafo pelos ermos mais distantes, e em relação aos índios, baixou, para seus comandados, a instrução: “Matar jamais, morrer se for preciso”. Depois, com a mesma filosofia, vieram os indigenistas que lhe seguiram as pegadas. Por isso os índios sobreviveram.
Este “país do futuro” como o chamou Stefan Zweig, um austríaco que por aqui encantou-se com a sua natureza, com a forma de vida do nosso povo, este país, já antecipou o futuro, mas vem perdendo as características que o diferenciavam. Não temos conseguido, infelizmente, manter intocadas as nossas marcas essenciais como povo. Na India que cresce muito, mas ainda tem mais de duzentos milhões de famintos, quase não há violência urbana, quase não se registram assaltos, roubos, seqüestros, não há quadrilhas invadindo bancos, lojas, vendendo drogas e matando. A India que tem a bomba atômica, que se envolveu desde a independência em muitas guerras, mesmo enfrentando conflitos religiosos e terrorismo, consegue manter a criminalidade tal como a conhecemos aqui, dentro de limites que, para nós, podem parecer impossíveis. A resposta poderá estar na índole pacífica do povo indiano, ( exceto aquela parte contaminada pelo sectarismo religioso) que não foi destruída pela cultura da violência que chega de fora. É exatamente disso que estamos a sofrer. As crianças estão nos computadores manipulando jogos de guerra, um desfile de horrores, onde se chega a exibir heróis vencedores, que a promovem extermínios, queimando cidades, assassinando pessoas. A televisão, o cinema, o rádio, fazem também a sua parte, glorificando uma maneira de vida que destrói valores, que estimula o uso da droga, que, de certa forma, exalta a violência. Há músicas e não só o rap, exaltando o comportamento violento. O carro se torna um instrumento de morte, usado como parte das baladas onde se consume de tudo. Posto de gasolina é transformado em bar e centro de comercialização de droga funcionando noite a dentro. Depois, ao volante, saem muitos, bêbados ou drogados, e matam, ou morrem. A propaganda de bebidas alcoólicas é feita com absoluto descontrole, e os apelos são direcionados para que se passe a idéia de que álcool é associado ao sucesso, à conquista de belas mulheres. Vejam o que fazem de Zeca Pagodinho, e o que estão a fazer com ídolos do futebol e de outros esportes, que deveriam seguir o bom exemplo de Pelé que nunca aceitou fazer propaganda de bebida alcoólica, ou de cigarro, quando era ainda permitida. Essa não é uma conversa de quem já anda entrado nos anos e parece um tanto saudosista ou incapaz de compreender a realidade presente. Há, sem pieguismo religioso ou moralista, uma evidente deformação cultural que nos leva à perda de uma identidade que nos cabe preservar.

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Mais do que tudo, estamos precisando reconstruir uma cultura de paz, e esse é um trabalho que agora nos desafia, se não quisermos continuar macaqueando, desgraçadamente, os exemplos de violência que nos chegam de fora.

CLÓVIS BARBOSA OUVIDOR


A presidente do Tribunal de Contas Isabel Nabuco cumpriu mais uma das promessas que fez ao traçar suas objetivas metas para os nove meses que durará seu mandato.. Acaba de criar a Ouvidoria do Tribunal de Contas. Segue, exemplos recentes de tantas instituições, entre elas, as que mais precisam de criar acessos para o cidadão. O desembargador Roberto Porto criou uma Ouvidoria no Tribunal de Justiça, e o desembargador Edson Ulisses tornou-se Ouvidor; no Tribunal Regional Eleitoral, tornou-se Ouvidor o Juiz Anselmo Oliveira, depois de criada a Ouvidoria pelo desembargador Luiz Mendonça. À frente da Ouvidoria do Tribunal de Contas ficará o Conselheiro Clóvis Barbosa, um homem que tem um exemplar passado de luta pela consolidação da cidadania.

HELENO E O NOVO PARTIDO


O deputado federal Heleno Silva parece que já está providenciando a troca de partido rumo ao PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab. O partido que vai abrigar políticos das mais variadas tendências, já teria assegrado o ingresso de mais de quarenta deputados federais, o que, logo ao nascer, lhe colocará entre as maiores bancadas da Câmara. Heleno afirma que está apenas alinhavando alguns acertos finais para providenciar a transferência, mas se declara um seguidor do projeto político do governador Marcelo Déda. Quando terminou, na sexta-feira passada de percorrer os 41 quilômetros da inaugurada rodovia da produção, ligando Nossa Senhora da Glória, pólo leiteiro, a Carira, pólo de cereais, Déda convidou Heleno a acompanhá-lo no retorno a Aracaju. Alí as últimas conversas devem ter acontecido. Já a deputada Suzana Azevedo dizia, num almoço também na última sexta-feira no Di Vino,e dizia até com muito entusiasmo, que a troca de partidos está decidida, e que ela vai mesmo para o PSD. O senador Eduardo Amorim que também almoçava no restaurante em companhia da esposa, afirmou que não sabia do interesse do governador pelo partido de Kassab, mas considera o interesse absolutamente normal, e que isso não dará motivo a qualquer estremecimento com o seu grupo, que ele assegura, continua integrado aos propósitos do governo.

JOÃO DANIEL E A REFORMA AGRÁRIA


O deputado estadual João Daniel, líder do MST em Sergipe, passou a última semana percorrendo ministérios em Brasilia. Ele quer desentravar o andamento de processos de desapropriação de terras, para transformar o mais cedo possível, acampamentos em assentamentos. João Daniel faz do seu mandato, como prometeu, um instrumento de fortalecimento do processo da reforma agrária.
Existe agora no MST uma grande preocupação em tornar produtivos os assentamentos e ampliar as desapropriações, até porque a geração de empregos com a dinamização da economia, e ainda a Bolsa Família, diminuíram o interesse dos agricultores sem terra pela luta social, pela perspectiva de se tornarem donos de um chão. O deputado João Daniel entende que, exatamente por isso, é preciso demonstrar a plena viabilidade da reforma agrária com os assentamentos produzindo , gerando renda e emprego. Ele dá como exemplos de sucesso, os assentamentos situados entre Simão Dias, Pinhão e Carira, que agora batem recordes de produtividade de milho e abóbora.

AR CODICIONADO NAS ESCOLAS


O prefeito Orlandinho Andrade de Canindé do São Francisco afirma que depois de ter consolidado o município como segundo pólo turístico de Sergipe, depois de Aracaju, quer agora começar a colocar ar condicionado em todas as escolas da rede municipal. Pretende, até o final do mandato, deixar todos os alunos, que são quase oito mil, livres dos calores excessivos do verão sertanejo, que lhes reduz o aproveitamento escolar em virtude do desconforto. Começa este mês inaugurando a escola Antonio Alexandre no povoado Curituba, com todas as salas dispondo de ar condicionado. Depois, restarão vinte e uma escolas, e mais uma para portadores de necessidades especiais, que será a próxima a receber os condicionadores de ar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

QUANDO RAREIAM OS ESTADISTAS


O século XX foi pródigo em estadistas, já este, XXI, parece que acompanha o processo de sumiço dos grandes homens de Estado iniciado algum tempo depois de encerrada a Segunda Grande Guerra. Depois que De Gaulle recolheu-se para morrer entediado em Colombey Les  Deux Églises,  restou-nos Mikhail Gorbatchev que revelou-se estadista quando entendeu, ao contrário de todos os seus antecedentes no Kremlin, que o hermético e autocrático sistema soviético teria de ser substituído por algo menos anacrônico. E assim, com a perestroikae a glasnostele desmontou o artificial império, fez transição quase pacífica do regime hermético para uma democracia meia-sola. Clarividente, Gorbatchev evitou um morticínio, tendo a coragem de enfrentar a engrenagem totalitária que se disfarçava com o nome de socialismo. Alguém lembrará da Dama de Ferro, a senhora Margareth Teatcher, de Ronald Regan. Mas o que eles fizeram além de espichar os dias de um liberalismo econômico condenado ao fracasso? No século vinte é possível identificar grandes estadistas, tanto no primeiro como no chamado terceiro mundo, e neste, eles apareceram providenciais no sofrido, doloroso processo das lutas pela independência das colônias.  Aí surge, grandioso, Nelson Mandela. Depois do apartheid que o humilhou e prendeu, ele, no poder,  dissolveu as odiosidades, juntou, emblematicamente, num estádio de futebol negros e brancos, e mostrou como poderia ser uma África do Sul multiracial.  Excluamos do rol respeitável dos estadistas aqueles que foram ditadores, assim, sobrariam no Brasil, por exemplo, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Luiz Inácio Lula da Silva, este último já neste século carente, onde FHC também poderia ter figurado se lhe sobrasse, além da vaidade imensa, um olhar mais efetivo para o povo, a desprezível plebe que o Império não viu e a República fingiu enxergar. Josef Stalin, por cima de todos os seus cadáveres, para a União Soviética teria sido estadista, se, para salvar o seu país houvesse apenas feito a horrenda aliança com Hitler, sem a qual a URSS teria sido pulverizada pelas tropas nazistas, com o resto do mundo alegremente assistindo de camarote a matança. Mas ele igualou-se aos baixos instintos de Hitler, e participou criminosamente da partilha e aniquilação da Polônia, daí porque, é sempre boa providência de assepsia moral não enxergar como estadistas aqueles que governaram pelo uso da força. Entre estes, Vladmir Lênin poderia figurar como exceção, mas, a morte prematura não lhe permitiu deixar pronto o esboço do Estado socialista com o qual tanto sonhara.
As grandes personalidades que povoaram o século vinte desde o começo rarearam no seu final, e agora desapareceram por completo neste começo de centúria, tão marcado por fortes e inusitados episódios. Houve o 11 de setembro, duas guerras, agora uma terceira, o colapso do sistema financeiro, o SOS desesperado do capitalismo, que vai sobrevivendo amparado pelo Estado, uma heresia em tempos de neoliberalismo. Descobrimos que a civilização poderá estar vivendo seus dias finais se a devastação do planeta não for contida. Agora um tsunami rebelde no mundo árabe arrasta ditadores e faz aflorar inacreditáveis contradições.
 E onde estão os estadistas, nesta hora em que, mesmo para os absolutamente descrentes na possibilidade de super-homens, seria providencial o surgimento de grandes personalidades políticas?
Por algum momento imaginou-se que a Barack Obama estaria reservado o papel de tentar liderar o mundo, conduzi-lo ao início de uma virada civilizatória. Depois daquele calamitoso títere das corporações petroleiras, o Bush-2, Obama seria o homem que poderia desenhar o esboço de um mundo multilateralista, mas, para isso, seria preciso domar o Pentágono, mudar a face do complexo- militar- industrial que faz sobrepor seus interesses sobre os Estados Unidos, e, de certa forma, sobre o mundo. Mas Obama ao receber o premio Nobel da Paz, quase fez uma apologia à guerra, aumentou a matança no Iraque, no Afeganistão, Entre um discurso cheio de charme e vazio de idéias para uma platéia devidamente revistada no Teatro Municipal, um passar de olhos pela cidade do Rio de Janeiro, lá no alto do Corcovado, ele mandou disparar seus mísseis e jogar suas bombas sobre a Líbia. Tudo muito humanitariamente, para salvar da morte os opositores de Kadhafi.
O candidato à estadista se desfez no hipócrita. E boa parte dos homúnculos europeus o acompanhou, sob as bênçãos de uma ONU incapaz de cumprir seu verdadeiro papel. A Europa quase falida, foi à guerra. Sarkozy queria mostrar a pontaria dos seus Raffales, e que é algo mais do que o marido da Carla Bruni; David Cameron precisava fazer o seu batismo de sangue; Zapatero, impotente diante do desemprego que fustiga a Espanha, colocou em pauta outro assunto que não fosse a crise;  Berlusconi quis vingar-se de Kadhafi, aquele egoísta que não liberou o acesso às  duzentas  loiras da sua  guarda pessoal quando andou visitando a Italia envergando aquele multicolorido uniforme , bela fantasia para qualquer mestre-sala de escola de samba.
Obama começou a guerra por telefone, num quarto de hotel, enquanto pedia a Michele que ajeitasse o nó da sua gravata. A piedade o fez agir assim, tão rapidamente. Em outros desertos, em outras regiões esquecidas do mundo, há massacres, genocídios, a fome dizima milhões de pessoas todos os anos. Nesses locais desgraçados não há petróleo, então, a piedade não chega até eles. Aquela piedade guerreira sempre surge, quando está em jogo o petróleo.

OS TRES MINEIROS


Três mineiros mortos, tiveram Brasília como palco apoteótico do último ato. Os três comoveram o país, e demarcaram, com as lágrimas do povo, três fases bem distintas e emblemáticas da História brasileira.
Juscelino Kubitscheck de Oliveira morre em um acidente na via Dutra quando viajava de São Paulo ao Rio. Morte suspeita, envolvida em mistérios. Corria o ano de 75, Geisel era o presidente, permitiu o sepultamento em Brasília, mas, negou as honras devidas a um ex-Chefe de Estado. Na cidade que ele criara o povo chorou sua morte e fez do funeral, um ato de protesto. Entre brados de indignação banhados a lágrimas passou a onda popular que começava a desafiar, e, depois, iria varrer a ditadura.
Quando JK deixou a presidência em 61 encerrava-se uma das mais florescentes etapas da vida brasileira. Logo começaria uma fase soturna de pessimismo e incertezas, tão bem simbolizada pela figura tragicômica de Jânio Quadros. O povo que foi às ruas aplaudir um morto, vencendo o medo, aplaudia também a liberdade.
 Em 1985 morria outro mineiro, Tancredo Neves. Presidente eleito, ele escondeu a doença que o abatia receando que, se não fosse ele a tomar posse, os militares não entregariam o poder.
Morreu sem colocar ao peito a faixa presidencial, e o seu longo martírio comoveu os brasileiros. Sarney já presidente, empurrado para a posse por Ulisses Guimarães, e sustentado pelo general Leonidas, Ministro do Exercito, providenciou as pompas fúnebres ao presidente não empossado, mostrando que os tempos começavam mesmo a mudar, e a mesquinhez insensível da ditadura fora substituída por sentimentos mais próximos à índole do povo brasileiro. O povo que saiu às ruas de Brasília para homenagear o defunto ilustre e pranteado mostrou, aos inconformados, que a Ditadura se tornara mesmo uma detestada defunta, sem a menor possibilidade de ressureição.
Um outro mineiro comoveu agora a Nação. O longo padecimento e a extraordinária resistência de Jose Alencar seriam suficientes para emocionar, para fazer dele o centro das atenções solidárias do povo Ele foi muito mais do que um mártir, até porque, recusou-se sempre, com coragem e otimismo a aceitar o papel de vitima. Mas, além do câncer e do homem que saiu da pobreza para construir um império econômico, o povo enxergava no político uma característica hoje tão escassa na vida pública: a dignidade. José Alencar foi um político digno, ético, foi um exemplo. As lágrimas que por ele o Brasil derramou, expressaram, para além do sentimento de perda, um outro sentimento: o de insatisfação com a indignidade que vai tomando conta da política.
No dia em que morreu Alencar, o governador Marcelo Déda inaugurando a rodovia São Cristóvão - Rita Cacete em clima de luto que o fez rejeitar música e foguetes, lembrou de um episódio que passou um tanto despercebido na crônica política brasileira. Foi o ano de 2005, quando, a pretexto do mensalão que era antigo, e foi retemperado para produzir escândalo, conspirou-se na surdina, para afastar o metalúrgico  do poder. Para boa parte das elites brasileiras, para uma grande parte da mídia que imagina-se muito mais competente para manipular a opinião publica do que  é na realidade, para essa legião de insatisfeitos, talvez pela perda de privilégios e ascensão do povo, chegara a hora exata para retirar do Planalto um operário que jamais poderia ter conquistado a faixa de presidente. Chegaram aos ouvidos do Vice- presidente da República as ladainhas golpistas, e ele, ao ouvi-las, soube imediatamente calar as vozes que imaginavam poder seduzir o menino pobre de Muriaé que se tornara grande capitão de indústrias, e, certamente, segundo os aliciantes, não resistiria à ambição de tornar-se presidente. Os que tramaram o golpe no Congresso, na mídia, ate nos tribunais, imaginaram que encontrariam um outro Itamar Franco, aquele mesmo que, vice de Collor, tanto excitou-se na idéia de substituí-lo que chegou a prometer aumento de salários para os militares. Mas Alencar não era Itamar, e Lula não era Collor. Os golpistas sabiam que retirar Lula do poder seria tarefa complicada, poderia desencadear reações populares imprevisíveis, mas, se obtivessem o aval exatamente do seu vice, as coisas se tornariam mais fáceis. Naquele momento, o Vice Jose Alencar revelava a grandeza, a dignidade, que fizeram dele um homem publico singular.
 Esse terceiro mineiro, ao morrer e causar comoção nacional marcou, com seus gestos, com a sua vida e a sua presença na política, uma etapa diferenciada na Historia brasileira. Aquela em que foi possível derrubar preconceitos, trocar a indiferença por ações que retiraram milhões de brasileiros da pobreza, fortaleceram o mercado interno e geraram desenvolvimento e emprego. Quando o empresário mineiro uniu-se ao metalúrgico pernambucano na mesma chapa, viu-se que era possível mudar o Brasil sem conflitos e tumultos. Por isso, Jose de Alencar, que se recusou a apunhalar Lula, entra, com ele, com os mesmos méritos, na nossa História.
Bela História a desses três mineiros, três brasileiros que engrandecem o Brasil.

PUPINHA, CONSELHEIRO

Luiz Augusto Ribeiro, Pupinha, como é carinhosamente chamado pela família e amigos, tornou-se agora Conselheiro do Tribunal de Contas. Foi o caminho natural e merecido do advogado que se tornou auditor, e dedicou grande parte da sua vida ao trabalho meticuloso de emitir pareceres e participar do julgamento de contas públicas no Tribunal. Na sua posse prestigiada por tantos amigos, por tantos lagartenses, Luiz Augusto, filho do ex-deputado Rosendo Ribeiro, pai do deputado Gustinho Ribeiro, e ele, também, ex-deputado, demonstrou cultivar o que existe de melhor numa tradição política que se perde: a gratidão publicamente revelada. Ele revelou essa gratidão ao citar o nome de todos os que o apoiaram para que chegasse, pela primeira vez ao tribunal, e se tornasse agora Conselheiro.

COMBLIN, UM MANSO E CORAJOSO CRISTÃO


Sobre o padre Comblin que morreu quase silenciosamente, sem que a mídia lhe registrasse a vida que foi exemplar, um outro cristão também exemplar, que, como ele, anda palmilhando os sertões, enxergando suas dores e misérias, deblaterando quando é preciso contra os homens, e sempre rezando aos céus, o discípulo Frei Enoque, escreveu o texto que reproduzimos:
No último dia 27 de Março, de manhã, num local chamado Recanto de Transfiguração, perto de Salvador, em Simões Filho, com 88 anos de idade, faleceu o Pe. José Comblin. Nasceu em Bruxelas e desde 1958 estava no Brasil. Expulso durante a revolução pelo regime militar em 1971, padre Comblin se exilou no Chile durante 8 anos, de onde também foi expulso em 1980, pelo general Pinochet, e, voltando ao Brasil, passa a morar na Paraíba. Ultimamente estava morando na cidade de Barra, acolhido pelo bispo Frei Luis Cappio.
E então? Comblin dedicou sua vida ao povo e à igreja da América Latina, e em centenas de assessorias por todos os países. Padre Oscar Beozzo, sociólogo e Teólogo, assim sintetiza sua atuação: perdemos um mestre e um guia inquieto e exigente como os velhos profetas, denunciando sempre nossas incoerências na fidelidade aos preferidos de Deus: o pobre órfão, a viúva, o estrangeiro. Trabalhou por uma igreja profética a serviço destes últimos nas nossas sociedades. Comblin, meu professor e que me ajudou a pensar, foi velado e festivamente sepultado (ou plantado?) ao lado do túmulo do Pe. Ibiapina, arrodeado por 6 bispos, mais de uma centena de padres, missionários (as), religiosos (as), pastores evangélicos, e sobretudo milhares de pobres e jovens. Dom Jaime, bispo de Campina Grande e um dos celebrantes, foi claro: Pe. José, por amor a igreja, a queria cada vez mais seguidora de Jesus, no serviço aos empobrecidos. E assim foi! Seu amor aos preferidos de Deus o levou a ser sofrido e até incompreendido pelo poder religioso. Poço Redondo, Delmiro Gouveia, os assentados, acampados... eram alvo de sua dedicação e preferência. Uma bandeira do MST, uma bandeira da CPT, inúmeras coroas de flores e até uma placa do Governo da Paraíba marcaram a coerência de sua vida.
 Frei Enoque Salvador de Melo
Poço Redondo, SE, 31 de Março de 2011.

MARCELO DÉDA, O CACIQUE


Cena rara, quase inusitada, um governador desembarcando de precária canoa na ilha de São Pedro. Com seus cocares coloridos, suas maracás barulhentas, corpos vistosamente pintados, os Xocós acompanhavam o desembarque. Mas, o ritual das vestes e dos cantos não era de guerra. Eles agora eram os anfitriões na terra que duramente conquistaram. E aquele governador que chegava, fora o quase menino que estivera ali, há tantos anos, acompanhado por outros estudantes, seguindo os ensinamentos e os passos de um grande bispo, Dom José Brandão de Castro, dando força para uma resistência que era desigual, vista na ocasião com todos os preconceitos que ainda cercavam a luta dos índios, a luta dos negros. E ainda mais: Vivíamos sob uma ditadura que tinha visceral mau humor a tudo o que se relacionava com movimentos sociais.
Na igreja restaurada, Déda fez emocionado discurso. Logo depois ele era feito cacique. Sobre sua cabeça os chefes tribais colocaram, solenes, o cocar e lhe entregaram a borduna de chefe. E Déda dançou o Toré sob os olhares que pareciam ser de aprovação de Dom Mário, o Bispo de Propriá. Acompanhavam a cena, velhos e novos lutadores pela dignidade humana, o deputado estadual João Daniel, líder do MST, o deputado federal ambientalista, Márcio Macedo, o prefeito de Porto da Folha, Manoel de Rosinha, que tinha naquele dia motivos de sobra para sorrir, pois seriam muitas as inaugurações de obras no seu município, começando por aquela igreja. Segundo o professor Luiz Alberto, zeloso guardião do patrimônio histórico, trata-se de uma das mais antigas construções no baixo São Francisco, felizmente preservada. Ao seu lado, estão ruínas que datam do século dezesseis.
Depois, enquanto partilhavam o peixe e a galinha de capoeira que prepararam para os visitantes, os índios lembravam da luta que travaram até viverem agora com dignidade. Hoje, têm escola, posto de saúde. Alguns deles, formados, voltaram para junto do seu povo, trabalham e ajudam dia a dia para que tenham maiores conquistas. Os Xocós aparentam viver felizes, plantam, colhem, pescam, cuidam de preservar as matas, as águas do rio, e, politizados, discutem, são informados, sobre as suas casas há antenas parabólicas, alguns, têm internet. Os mais velhos não perdem a memória do passado, o trabalho que tiveram para manter os seus ritos, conservar seus cânticos, sobretudo vencer os preconceitos de uma Justiça que os humilhou e prendeu, dando claros sinais de que não era assim tão cega, quando se tratava de privilegiar  poderosos.
Os mais velhos conservam bem vivos na memória, os cadernos que sempre acompanhavam a professora Beatriz nos seus estudos, ao mesmo tempo, militância; o bigode farto que o estudante Déda exibia as alpercatas enlameadas e gastas do Frei Enoque, e do dia em que seus representantes foram chamados, e estiveram em palácio. Lá, souberam que um governador,  grande empresário e dono de terras, Augusto Franco, contrariara a corrente conservadora, e desapropriara as terras da ilha, retirando-as dos coronéis proprietários para devolve-las, ainda que não mais integras, aos seus ancestrais verdadeiros donos.

A TSUNAMI E AS FAZENDAS MARINHAS


Depois do terremoto e da grande onda, a tsunami que varreu parte do nordeste japonês, ficou-se sabendo que ali estava grande parte das fazendas marinhas do país. E que, daquelas fazendas saiam quase oitenta por cento dos peixes e crustáceos produzidos na região. Os japoneses descobriram nas grandes fazendas marinhas uma forma de compensar a queda na produtividade dos seus mares, há tanto tempo freqüentados por uma frota pesqueira cada vez mais eficiente na capacidade de capturar, e hoje sendo desativada pela  redução dos cardumes.
O Japão, é coisa ínfima, se comparado às dimensões continentais do Brasil, à extensão dos nossos rios, das nossas costas, dos nossos lagos. Mas por aqui apenas surgem algumas tímidas experiências de produção de peixes e crustáceos cultivados. Paulo Afonso, aqui bem perto, tem uma bem sucedida experiência na produção de peixes em tanques rede no lago de Xingó. Nas margens sergipanas não existe nada. Temos quatro grandes barras e largos estuários, do São Francisco, do Sergipe, do Vaza Barris, do Piaui- Pìauitinga, e mais a barra menor do Japaratuba. Mas apenas temos uma pequena, todavia bem sucedida experiência de cultivo de ostras. Ha largos espaços aquáticos para o surgimento de fazendas marinhas, mas, por enquanto só camarão vem sendo produzido, assim mesmo, gerando polemicas, por ser apontado como causador da mortandade de caranguejos nos mangues, o que ainda não está comprovado.
No passado, tínhamos uma grande quantidade de viveiros e, nesta época de quaresma deles saiam toneladas e toneladas de curimãs, robalos, pescadas, bagres, tainhas. Os viveiros acabaram, e no mar a pesca escasseia. Está na hora de empresários pensarem em implantar fazendas marinhas, seguindo o exemplo japonês. E aqui, felizmente, não se corre o risco de sofrer com terremotos e tsunamis.  O Instituto Xingó anuncia que conseguiu reproduzir pitús em cativeiro. Poderá ser atividade mais rendosa até do que a pesca e industrialização da lagosta.

ISABEL E AS SUAS AÇÕES

Isabel Nabuco vai passar só nove meses à frente do Tribunal de Contas antes de aposentar-se. Mas quer deixar marcas da sua passagem. Por onde andou, sempre foi uma batalhadora pela eficiência no serviço público, e agora sua preocupação é fazer do Tribunal que fiscaliza, também, um exemplo de racionalidade. Quer deixar implantado o sistema de cargos e salários, porque o considera imprescindível para que se façam aos servidores às exigências indispensáveis à operacionalidade. Além disso, vem desenvolvendo ações que entende como modernizadoras, e tem recebido o indispensável apoio dos colegas conselheiros.

APRENDENDO COM OS PARDAIS


Esse episódio das lombadas eletrônicas e dos pardais que geram multas para a população, e, mais do que isso, dúvidas, muitas dúvidas, poderia não ter alcançado as proporções que tomou, caso a Prefeitura de Aracaju houvesse, tempestivamente entendido, que nenhuma ação administrativa chega a bom termo quando bate de frente com a opinião pública, e, ainda pior, quando não chega a ser explicada com um mínimo de esforço para esclarecer e convencer. Há, naturalmente, aquelas ações, aquelas atitudes, que devem ser tomadas sendo ou não agradáveis, até porque, se assim não fosse, nem precisaríamos eleger ninguém.
Mas os pardais não se tornariam tão detestados, nem chegariam a servir de munição eleitoreira como estão sendo agora, se, ao serem instalados, ficasse estabelecido que o valor das multas por eles gerado, e o destino do dinheiro seriam todos os meses revelados transparentemente e divulgados para que todos soubessem quanto se arrecadou e quanto se gastou. Paralelamente, uma campanha de educação para o trânsito poderia ser deflagrada, demonstrando ainda, a queda nos acidentes a partir do sistema punitivo de radares abelhudos. Além disso, seria indispensável a comprovação de que o dinheiro arrecadado  servia para o planejamento racional do tráfego na cidade, ou seja,  demonstrando-se que as multas estavam, efetivamente, servindo ao interesse público.

PIADA DE PORTUGUES


Quando passou recentemente por Portugal, em férias, o conselheiro do Tribunal de Contas, Clóvis Barbosa ouviu de amigos lusitanos, que, em todas as estradas portuguesas, em todas as ruas das cidades, havia um replicante sistema de radares, ou seja, milhares e milhares dos nossos pardais. Clovis, surpreendido, disse: então, eu recebi uma infinidade de multas. Tenho dirigido pelas estradas sempre a mais de 120 por hora e não vi nenhum limite de velocidade.
E então, ouviu do interlocutor português: O senhor trafegou por auto-estradas, nelas, o limite de velocidade as vezes vai além dos 140 por hora, para isso existem as boas rodovias.
 Mas, e a sinalização?  Eu não vi nenhuma, disse Clóvis.
Explicou o português: O limite é estabelecido no início de cada trecho de estrada ou rua, e os radares ficam espalhados por todo o trajeto. Não é assim que fazem lá no Brasil?.
Clóvis explicou: Não, não, lá é obrigatório um aviso antes de cada radar.
E o lusitano vingou-se: E pois, pois, não é lá que os senhores fazem piadas com a burrice dos portugueses?.