CENAS DA DITADURA PARA QUEM
NÃO
A CONHECEU E A DESEJA DE VOLTA (2)
Com a chegada do coronel Tércio Veras, que simultaneamente
assumiu em Sergipe dois comandos: o revolucionário e o do exército, acabou-se o tempo do ¨vice-rei ¨ e,
destronado, o tenente Rabelo pediu
transferência para a reserva no posto de capitão.
O coronel Veras era um militar moderado e sociável, mas,
tinha irresistível atração pelo uísque. Se excedia quando os vapores do álcool lhe consumiam
a sensatez, e patrocinou algumas cenas
lamentáveis, inclusive em residências de políticos e empresários que, mesmo
sabendo das prováveis conseqüências,
faziam questão de convidar o coronel e homenageá-lo com todos os
salamaleques dispensados aqueles que
podem, e mandam.
Puxar saco de militares tornou-se um contagiante hábito. Essa
é uma das características das ditaduras, quando a sobrevivência ou a escalada
na vida ficam a depender, , da boa
vontade dos donos do poder.
Houve um jantar em homenagem aos militares oferecido pelo
presidente da Assembléia Fernando Leite,
ameaçado de represálias porque era
compadre do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Ele assumira por alguns dias o
governo na ausência do governador Celso Carvalho. O
¨patriótico ágape ¨, como
o banquete foi denominado na linguagem sebosa de um redator oficial, terminou causando sérios constrangimentos. Um coronel, do alto
das suas estrelas, não aceitou sentar à mesa onde também participaria do jantar
o comandante do minúsculo destacamento da FAB, que era apenas suboficial.
Esses episódios ficariam apenas entre as bizarrices que o
excesso de poder sempre provoca, e poderiam figurar no extenso ¨febeapá , ¨ o
festival de besteiras que assolava o país, a antológica coleção da realidade
cotidiana da ¨redentora ,¨ com a qual o
humorista Stanislaw Ponte Preta enriqueceu o seu mordaz acervo de anedotas. Stanislaw,
o heterônimo de Sérgio Porto, ainda conseguia fazer humor, mas isso no Rio de
Janeiro, escrevendo na Última Hora, depois, no resistente Pasquim, enquanto ainda
vivíamos aquele tempo que o jornalista
Élio Gaspari, chamou de ¨ditadura envergonhada ¨. Na periferia do
Brasil, onde estavam cidades como a Aracaju acanhada, na sua indigente carência de civilização,
qualquer mequetrefe achava-se no pleno direito de censurar . Jornalistas e radialistas conviviam com o medo, exercitando a capacidade de fazer autocensura, sem a qual a sobrevivência
tornar-se –ia impossível.
Os governadores do período autoritário, participaram
da ditadura que nascera feroz, (período
de Celso de Carvalho) depois, se
aquietara um pouco, para encrespar em 68, com o Ato Institucional nº 5. Coube,
tanto a Celso como depois a Lourival Baptista, este, em instante ainda mais
traumático, contribuírem para o alívio das tensões e o abrandamento possível
das mesquinharias . Os outros, em
períodos mais ou menos difíceis, João Garcez, ( interino 9 meses ) Paulo Barreto ,
Jose Leite, Augusto Franco, general Djenal Queiroz ( interino 9 meses) e João Alves, já eleito pelo voto direto, em plena abertura política de Figueiredo,
tiveram atitudes distantes dos
radicalismos, e sempre que possível,
contemporizadoras.
Em fevereiro de 1976
os torturadores chegaram a Sergipe.
Vieram fazer, nos porões do quartel do 28 º , cuja
oficialidade foi afastada, a prática ignóbil da tortura aplicada a presos
políticos, suprema forma de covardia
contra quem não aceitava pensar e agir
de acordo com o poder das baionetas, conquistado sob aplausos de grande parte da sociedade. ( Continua)