sábado, 28 de março de 2015

CENAS DA DITADURA PARA QUEM NÃO A CONHECEU E A DESEJA DE VOLTA (2)



CENAS DA DITADURA PARA QUEM  NÃO
 A CONHECEU  E A DESEJA DE VOLTA     (2)
Com a chegada do coronel Tércio Veras, que simultaneamente assumiu em Sergipe dois comandos: o revolucionário e o do exército,   acabou-se o tempo do ¨vice-rei ¨ e, destronado,  o tenente Rabelo pediu transferência para a reserva no posto de capitão. 
O coronel Veras era um militar moderado e sociável, mas, tinha  irresistível atração pelo uísque.   Se  excedia quando os vapores do álcool lhe consumiam a sensatez, e  patrocinou algumas cenas lamentáveis, inclusive em residências de políticos e empresários que, mesmo sabendo das prováveis conseqüências,  faziam questão de convidar o coronel e homenageá-lo com todos os salamaleques dispensados  aqueles que podem, e mandam.
Puxar saco de militares tornou-se um contagiante hábito. Essa é uma das características das ditaduras, quando a sobrevivência ou a escalada na vida  ficam a depender, , da boa vontade dos donos  do poder. 
Houve um jantar em homenagem aos militares oferecido pelo presidente da Assembléia  Fernando Leite,  ameaçado de represálias porque era compadre do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Ele assumira por alguns dias o governo na ausência do governador Celso Carvalho.  O  ¨patriótico     ágape  ¨, como  o banquete foi denominado na linguagem sebosa de um redator  oficial, terminou causando  sérios constrangimentos. Um coronel,   do alto das suas estrelas, não aceitou sentar à mesa onde também participaria do jantar o comandante do minúsculo destacamento da FAB, que era apenas  suboficial.
Esses episódios ficariam apenas entre as bizarrices que o excesso de poder sempre provoca, e poderiam figurar no extenso ¨febeapá , ¨ o festival de besteiras que assolava o país, a antológica coleção da realidade cotidiana da ¨redentora ,¨ com a qual  o humorista Stanislaw Ponte Preta enriqueceu o seu mordaz acervo de anedotas. Stanislaw, o heterônimo de Sérgio Porto, ainda conseguia fazer humor, mas isso no Rio de Janeiro, escrevendo na Última Hora,   depois, no resistente Pasquim, enquanto ainda vivíamos aquele tempo que o jornalista  Élio Gaspari, chamou de ¨ditadura envergonhada ¨. Na periferia do Brasil, onde estavam cidades como a Aracaju acanhada,  na sua indigente carência de civilização, qualquer mequetrefe   achava-se no pleno direito de censurar .  Jornalistas e radialistas  conviviam com o medo,  exercitando a capacidade de  fazer  autocensura, sem a qual a sobrevivência tornar-se –ia impossível.
Os governadores do período autoritário,  participaram  da ditadura que nascera feroz, (período  de Celso de  Carvalho) depois, se aquietara um pouco, para encrespar em 68, com o Ato Institucional nº 5. Coube, tanto a Celso como depois a Lourival Baptista, este, em instante ainda mais traumático, contribuírem para o alívio das tensões e o abrandamento possível das  mesquinharias . Os outros, em períodos mais ou menos difíceis, João  Garcez, ( interino 9 meses ) Paulo Barreto , Jose  Leite,  Augusto Franco, general Djenal  Queiroz ( interino 9 meses) e João Alves, já  eleito pelo voto direto,  em plena abertura política de Figueiredo, tiveram  atitudes distantes dos radicalismos, e sempre  que possível, contemporizadoras.
 Em fevereiro de 1976 os torturadores chegaram a Sergipe.
Vieram fazer, nos porões do quartel do 28 º , cuja oficialidade foi afastada, a prática ignóbil da tortura aplicada a presos políticos,  suprema forma de covardia contra quem não aceitava pensar e agir  de acordo com o poder das baionetas, conquistado sob aplausos  de grande parte da sociedade. ( Continua)

LUCIANO BISPO E O FIM DAS SUBVENÇÕES



LUCIANO BISPO E O
 FIM DAS SUBVENÇÕES
 A vistosa verba  com  a qual os deputados se presentearam para fazer política social direta,  acabou, como se previa, em muitas dores de cabeça. As ações  movidas em conjunto pelo Ministério Público Federal  e estadual, chegando à Justiça , vão tirar, por muito tempo, o sono tranqüilo dos deputados reeleitos, e de duas ex-deputadas agora conselheiras. Diante de uma improvável, todavia possível  saraivada de punições, alcançando mais de  dois terços da Assembléia, recomendava o bom senso que se desse fim, rápida e decididamente, ao discutível ¨direito¨  do uso, entendido como  abuso,   de um milhão e meio de reais.    O   MPF apontou erros, inúmeros e graves. Com culpas ou sem culpas, era  necessário que se fizesse um gesto em direção ao que   recomendaram, tanto o Ministério Público como o Tribunal de Contas.
 Ressalta nisso tudo a imensa hipocrisia daquela exigência da prestação de contas dos recursos utilizados nas campanhas eleitorais, quando se sabe que cada vez mais o voto se torna objeto de negócio, e para obtê-lo é preciso gastar o que se tem e o que  se obtém , seja entre os ávidos agiotas que ficam  a bater às portas dos  eleitos,  e, principalmente, dos não eleitos; seja por qualquer outra forma possível. Essa é  a face horrorosa da nossa democracia, que nenhuma maquiagem de inócua legislação tem, até agora, contribuído para torná-la menos    feia.
 Numa hora difícil, num momento  delicado,  o presidente Luciano Bispo, com aquele jeito de itabaianense tímido, que sabe negociar e convencer,  foi ao cerne da questão, que consistia, basicamente, em reconhecer o erro das subvenções  e nelas por um fim. Conversou longamente com todos os envolvidos no problema, conseguiu vencer as resistências  demonstrando que era necessário aplacar a indignação causada pelas denuncias, satisfazer aos órgãos fiscalizadores e à opinião pública. E assim foi feito. Restam agora nos cofres do Legislativo  os 36 milhões. Pensou-se, inicialmente, em destiná-lo a um novo prédio para a Assembléia, entende-se  agora que  melhor seria atender às agruras maiores, destinando a bela quantia para o  Hospital do Câncer, e a  obras essenciais, como um novo IML, ou o projetado Centro de Referencia para Portadores de Necessidades Especiais. Com a habilidade que tem para tratar com problemas difíceis, como já ficou constatado, Luciano  poderá formar um consenso em relação à aplicação da dinheirama.   

ALBANO, O AGRICULTOR.



ALBANO, O AGRICULTOR.
 Ao fim de uma exposição de animais  no parque João Cleofas,  onde não ia desde que deixou o governo, Albano Franco andou a passear, do meio da tarde até a noite. Estava acompanhado do filho  Ricardo, da nora e dos netos. Viu bois e principalmente cavalos. Sua nora era expositora e ganhou prêmios. Festejado pelas pessoas que  lhe pediam selfies, Albano,  mal comparando,  parecia ¨pinto no lixo ¨, de tão curioso e interessado que estava, olhando tudo.
 Dizem estar  o ex- governador, homem  urbano e cosmopolita, que tanto preza o roteiro  Aracaju, Rio, São Paulo, Brasília , Paris,   agora,  motivado pelos netos,   querendo  buscar  mais sossego numa fazenda, desfazendo aquela impressão de que , pastos e lavouras nunca estiveram nos seus planos, onde indústria e comunicação foram sempre preferidos.
Para tornar-se  fazendeiro e desfrutar mais da presença dos filhos e netos, em clima mansamente bucólico, longe de festas e badalações, a  Albano restaria  optar entre  praia  agreste ou  sertão.
Vão começar a chover-lhe as ofertas.

O DIAGNÓSTICO CONFIRMADO



O DIAGNÓSTICO CONFIRMADO
O diagnóstico do   professor Jorge Carvalho sobre a educação sergipana está rigorosamente certo. Quem  manifesta concordância com as constatações tornadas públicas pelo Secretário de Estado da Educação é o político peemedebista Zezinho Guimarães, um deputado estadual com a preocupação  aliás rara,  de dedicar-se à análise dos problemas  de Sergipe. As cifras da educação sergipana são desanimadoras, estamos na desenxabida posição de  quase o último entre os piores.
Zezinho , sendo  político, concorda   com o professor Jorge  quando ele destaca como indispensável uma ação voltada para evitar a invasão da escola pelos interesses político-eleitorais. Concorda também  com a ênfase que deu Jorge   à necessidade de remodelagem do ensino publico,  que  será feita através de um compartilhamento de responsabilidades entre o poder público, os pais e os professores. O atual vice – governador Belivaldo Chagas, durante o seu período como Secretário da Educação, da mesma forma que o ex-Secretário professor Jose Lima, resistiram,  o quanto foi possível,  à intromissão nas escolas dos interesses políticos, e enfrentaram também um difícil período em que a visão de  ¨escola popular e democrática¨  posta a serviço de objetivos também políticos, se sobrepunha ao que é obvio: não pode haver escola popular nem democrática, nem elitista, ou conservadora, enquanto não houver prioridade para o que é essencial, que consiste em fazer da escola o instrumento eficaz para transmitir o conhecimento. Se isso for feito a escola  se tornará popular e democrática,  porque estará evitando que a permanência do analfabetismo ou dos semi-alfabetizados, mantenha uma sociedade esclerosada , com cidadãos de terceira classe  incapazes de pensar,  de agir, e reagir aos engodos.
Tanto Jorge como o governador Jackson Barreto têm plena consciência do desafio. Quando  deputados começam a  se somar ao projeto a tarefa se torna mais fácil.

OS NONAGENÁRIOS



 OS NONAGENÁRIOS  
O arcebispo metropolitano emérito de Aracaju Dom Luciano Cabral Duarte chegou aos 90 anos. Também 90 anos completou o empresário Roberto Vieira. São dois sergipanos longevos que  percorreram caminhos diversos. Cada um deles, olhando o passado, constatam que  deixaram marcas de uma existência produtiva. Dom Luciano, impedido pela  enfermidade de  continuar criando, motivando e  participando, atitudes que foram a essência da sua vida. Roberto Vieira ainda presente, acompanhando o evoluir do grupo econômico que desenvolveu a partir da base deixada pelo pai,  Constancio Vieira, que ousou ser industrial quando a enxada era ainda o principal instrumento de trabalho dos sergipanos. Coube a Roberto a diversificação e ampliação do parque industrial, seguindo uma filosofia de trabalho que prioriza o investimento produtivo, como faz agora o grupo Constancio Vieira associando-se à multinacional Saint Gobain.
Dom Luciano como padre, começou a ser a personalidade que  influenciou a vida sergipana ao longo de 3 décadas.   As marcas da sua vida extremamente produtiva e dedicada ao serviço da coletividade, estão em diversos setores, principalmente o cultural, quando o padre doutor graduado com mérito na Sorbonne, voltou a Sergipe para lançar as sementes da Universidade,  criando da Faculdade Católica de Filosofia. A obra do religioso, do homem de cultura, do escritor, do pensador, do orador extraordinário, do professor,  do servidor público,  deverá ser entendida melhor com o correr do tempo, quando forem superadas  incompreensões surgidas a partir dos grandes choques ideológicos que marcaram os anos 60.