quarta-feira, 26 de junho de 2013

O POVO SAI ÀS RUAS E A POLÍTICA É ATROPELADA



 O POVO SAI ÀS RUAS E
A POLÍTICA É ATROPELADA
Razão tinha o senador Roberto Requião quando disse, no plenário do Senado Federal, que as vaias recebidas pela presidente Dilma na abertura da Copa das Confederações não eram somente para ela, mas,  para toda a classe política brasileira.
Algum político brasileiro já experimentou  repetir o trajeto diário do trabalhador  que mora nas grandes cidades? Se o fizesse teria de tomar um trem no subúrbio por volta das 4 da manhã, para bater o ponto às 7. Sair do trabalho às 18 horas , para,  se tudo correr  sem maiores contratempos, ir chegando em casa por volta das 22. Isso é a rotina na vida das grandes cidades. Dirão alguns: -É, mais agora existe um carro para cada 5 brasileiros, quase todo trabalhador qualificado tem um automóvel ou uma moto, são 40 milhões de pessoas que nos últimos 10 anos saíram da pobreza extrema e viraram classe média. O número poderá não ser exatamente este, mas houve, de fato, um acelerado processo de ascensão social, sem paralelos,  que mudou a face da sociedade brasileira. Talvez a classe média não dê importância a isso, mas, milhões de pessoas deixaram de passar fome, e neste país a fome era muita, mas sempre foi escondida.
Se todo aquele  que possui um veiculo o utilizar para ir e voltar do trabalho, a rede viária das nossas grandes cidades,  projetadas ainda quando automóvel era um sonho inalcançável para mais de 90% da população, ficaria irremediavelmente entupida. Os que insistem em ir e voltar de automóvel  se estressam nos infindáveis congestionamentos, mas, pelo menos, livram-se do ferro-velho em que se transformaram  os trens e os ônibus. Os muito ricos compram um helicóptero, e sobrevoam o caos urbano. São Paulo já superou Nova Iorque que tinha a maior frota de helicópteros do mundo. Assim,  o povo na rua a pedir redução nos preços das passagens deveria exigir com maior ênfase a melhoria da mobilidade urbana, que requer pesados investimentos e também a superação dos obstáculos de uma burocracia que emperra e atrasa o andamento das obras.    A maior parte do custo das passagens  do trabalhador recai sobre os empresários e o poder público, através do Vale Transporte. Os estudantes, na maior parte das cidades têm direito à meia passagem. Mas houve redução de impostos federais tanto para passagens como para produtos da cesta básica e não se viu a  baixa correspondente no preço final.
Governar é gerar expectativas, ensinava Maquiavel no alvorecer do Renascimento, ou   seja,  no século XIV.  Esperança pode ser um bom sinônimo para esse tipo de expectativa que o político necessita gerar. Uma nova classe  no cenário social,  mais ainda a classe média, sempre vitima de inexplicáveis ressentimentos, uma juventude felizmente inconformada e querendo mudar,
necessitavam  de um novo combustível para que pudessem alimentar a chama sempre cambiante do otimismo. Ai veio a crise internacional bater à nossa porta, ainda sem a calamidade do desemprego, mas os preços, que andavam há muito tempo estáveis,  subiram, o dólar aumentou, e ai a viagem ao exterior, a roupa de grife, o carro a ser substituído, foram ficando mais difíceis, enquanto, para a grande maioria, o ônibus, o trem, continuavam martirizando;  a educação pública desacreditada; os hospitais inacessíveis, e a bandidagem deixando todo mundo com medo.  Nesse curto e desalentador espaço de tempo, a expectativa dominante, imaginaram, estaria presente na Copa do Mundo, e nas Olimpíadas. Pelo meio, a Copa das Confederações, a Jornada da Juventude, megaeventos que seriam  feitos à custa de  alguns bilhões de dólares, e  projetariam a imagem do Brasil no mundo,  deixariam como herança permanente a mobilidade urbana fortalecida nas cidades sedes, a segurança publica aperfeiçoada, milhares de pessoas qualificadas para o trabalho que seria exigido. De fato empregos foram gerados em quantidade, mas as suspeitas de corrupção acompanharam cada obra, os custos extravasaram,  e ai veio a pergunta: Por que não um grande hospital em vez de uma arena ?
Os escândalos sucessivos, a corrupção impune, ou a teatralização de julgamentos à luz de holofotes,  e tantas coisas mais,  anularam expectativas e desfizeram esperanças. O processo de corrosão é longo, mas o desfecho foi rápido, quase estonteante. A grande mídia, posta a serviço dos interesses mais sórdidos da especulação financeira global em aposta contra o Brasil, contribuiu para ampliar a  insatisfação , mas logo assustou-se quando viu as ruas cheias e o povo a gritar palavras de ordem, contra  ela mesma,  inclusive.  Mudou o discurso, veio com panos quentes temendo também sair queimada da fogueira.
No inicio das manifestações alguns setores do governo saíram com a explicação: ¨Isso é coisa da direita¨. E por acaso a direita não faz, como a esquerda e o centro, parte inseparável do espectro político de todos os países democráticos?
O povo nas ruas não parece estar movido por inspiração ideológica, e muito menos por adesão a algum partido político. No meio dessa massa onde predomina uma  juventude vibrando com a experiência nova,  excluindo os marginais, que nela se infiltram, há, seguramente, algo novo surgindo no cenário político-social brasileiro.
A classe política, toda ela, sem exceção, que já foi atropelada pelo povo nas ruas, precisa, se quiser sobreviver, tratar de recuperar-se do tombo sofrido, e uma boa forma de fazer isso, será ouvir o que dizem os manifestantes, as frases escritas nos seus cartazes, e depois de tirar suas próprias conclusões, tratar rapidamente de mudar de rumo.  Mais ainda, de comportamento.

UM SENTIMENTO QUE SAI DAS RUAS



UM SENTIMENTO QUE SAI DAS RUAS
Desde  quando, rompendo-se o dique opressor da  ditadura,  houve  o desaguar dos sentimentos reprimidos e se fez em Aracaju o gigantesco  Comício das Diretas, nunca  tanta gente ocupou as ruas da cidade como na quinta –feira. E os manifestantes deram uma demonstração de que o povo em marcha não pode ser confundido com os desordeiros e marginais  que destroem e saqueiam. Da estimulante novidade do povo nas ruas, num país e numa cidade com uma população que parecia até poucos dias atrás indiferente ou conformista e acomodada, é possível, sem maior dificuldade, identificar algumas causas da inquietação popular. A que mais  aflora é a distancia entre povo e poder. O ritual democrático do voto já não parece suficiente para preencher o sentimento de cidadania.
Num país como o nosso, onde, como disse Nelson Rodrigues,  ¨se vaia até minuto de silencio¨, quando uma autoridade passa num lustroso carro preto acomodando as nádegas no lado direito do banco traseiro, o povo nas ruas quase sempre segue o veiculo com os olhos e o inseparável coro: ¨ Lá vai  mais um sacana ¨.  Terno escuro, gravata, carro preto, e o Vossa Excelência prá cá Vossa Excelência pra lá, são, entre nós, formalidades  que o povo enxerga como ridículas.  Antes, um prédio público suntuoso até podia ser motivo de orgulho para a comunidade que nele identificava um patrimônio de todos, agora, onde não houver simplicidade, despojamento, o povo logo critica a ostentação, o gasto desnecessário. Obra pública, de um modo geral, é sempre vista com grande desconfiança. O povo não entende porque a comida que se come nos palácios é diferente do bife e do feijão com arroz de cada dia ,  e pergunta: ¨Por que a gente tem que pagar esse luxo ? ¨
 Gestos identificados como vaidosos ou arrogantes,  de ocupantes de cargos públicos, por mais insignificantes que sejam, logo alimentam o arsenal de piadas. Há, aqui mesmo em Aracaju,  autoridades com direito a carros pretos, que exigem dos motorista motor e ar condicionado ligados  com muita antecedência,  para que, ao chegarem,  a refrigeração esteja no ponto ideal.  Nos locais onde os carros ficam a desperdiçar gasolina, e dinheiro,   circulam servidores que sobrevivem com  salário mínimo.  Não se sabe  porque,  tais  despreocupados gestores ainda não sentiram queimar-lhes as orelhas. O povo não quer tapinhas nas costas, mas, como as ruas estão a demonstrar, exige respeito,  espera que neste país  ainda muito desigual, apesar de figurar como sexta ou sétima economia, os ocupantes de cargos públicos, sejam eles vitalícios ou temporários, se comportem como servidores públicos. Como tanto gosta de repetir o governador Marcelo Déda: ¨Servidor público é pago pelo povo é empregado do povo ¨¨. A juventude que enche as ruas das cidades nessas manifestações que alguns já identificam como a  ¨primavera brasileira¨ embora  estejamos no inverno, lamentavelmente, faz uma baixíssima avaliação de todos os que ocupam cargos  públicos, a todos classificando como vorazes beneficiários das facilidades do poder.
Esse é um sintoma perigoso, ate mesmo ameaçador  para a estabilidade de qualquer regime democrático. Nada mais oportuno do que uma reflexão e uma cuidadosa autocrítica ,  para que se tente restabelecer a sintonia perdida entre povo e poder.

SEM PARTIDOS E SEM POLÍTICOS




SEM PARTIDOS E SEM POLÍTICOS
O professor e advogado Chico Dantas, homem que tem história na luta pela redemocratização, olhando,  do apartamento onde mora,  a passagem da juventude de repente em festa cívica, lembrava que a omissão de tantos anos estava acabando, e esse era um bom sintoma, mas fazia, experiente, algumas observações. Para Chico, o repúdio aos partidos e à politica, de um modo geral, é  sentimento, a ser tratado com muita sensibilidade, para que não se transforme em equivocada visão totalitária.  Quando se desqualificam todos os partidos, abrem-se as portas para a ditadura,  para os regimes autoritários do partido único.  Surgem também a reboque da negação de tudo,  do niilismo, os aventureiros que de repente podem ganhar, equivocadamente, a simpatia do povo. Assim surgiram Hitler, Mussolini, e tantos outros. Sobre os cacos das instituições, candidatos a ditadores sempre fizeram  sua dança macabra.

SE HOUVESSE INTERNET EM 64



SE HOUVESSE INTERNET EM 64
No começo da noite de 31 de março para primeiro de abril de 64,  já se sabia que tropas do exército rebeladas em  Minas Gerais ,  começavam a se deslocar para ocupar o Rio de Janeiro, onde estava o presidente João Goulart. Brasília  era a nova  capital, mas no Rio o presidente ainda tinha um Palácio,  e   parte da administração federal  continuava funcionando na antiga capital . Naquele tempo, em Aracaju, ao telefone muito mal se falava dentro da própria cidade. Notícias do sul, só através de emissoras de rádio  precariamente sintonizadas. Marcélio  Bonfim deve ter ainda viva na memória a lembrança do que foi a corrida de casa em casa dos companheiros, convocando a todos para  reunião no prédio da Leste Brasileiro, onde se pensava em resistir. E nem chegavam a mais de 200. Quem imaginaria naquele tempo as facilidades de comunicação que existiriam, quando fossem inventados o celular e a Internet ?
 O grande veículo de mobilização popular é, hoje, indiscutivelmente a Internet, a maior arma contra as ditaduras, pode ser também  o melhor instrumento para a revitalização   das democracias. O historiador Erick Hobsbawn que já está bem velhinho e cada vez mais lúcido, não tem muita simpatia pela Internet, achando que as pessoas perdem demasiado tempo a trocar mensagens bobas e inúteis nas redes sociais, mas, ele não desconhece que o ritmo da Historia acelerou a partir da entrada em cena da Internet, embora ele próprio não frequente as redes.
Quem liderou a organização da marcha popular pelas ruas de Aracaju? A resposta é:  ninguém, e todos.  Todos os que começaram a trocar mensagens sobre a  mobilização para uma passeata, depois, a fixação  do dia e da hora, em seguida, a convocação. Na manhã da quinta =feira,    32 mil pessoas se diziam dispostas a ir  às ruas. Sem a Internet a manifestação  que juntou bem mais de 20 mil , dificilmente chegaria a mil manifestantes.

A NOVIDADE ESTÁ NAS RUAS



 A NOVIDADE ESTÁ NAS RUAS
Assistindo à impressionante passagem da multidão que conduzia cartazes e gritava palavras de ordem, um político  sem mandato, dizia a um jornalista que estava ao seu lado : ¨Eu quero ver, depois disso, se a  a turma dos 11 partidos de Edivan Amorim, ainda vai ter coragem de dizer que o senador Eduardo Amorim é a grande novidade na política sergipana.¨