terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

OS TELEFONES DIA A DIA PIORANDO



As telefônicas que operam em Sergipe estão unidas, identificadas pelo mesmo propósito de servirem muito mal à população. A ligação é sempre precária, até mesmo dentro das sedes municipais, onde nem todas as operadoras chegam. Nas estradas as ligações se tornam difíceis ou impossíveis. Cresce o numero de usuários, amplia-se a febre coletiva dos celulares, mas, os aparelhinhos hoje indispensáveis para todos, a cada dia se mostram mais ineficientes. A demanda cresceu exponencialmente, há em Sergipe mais celulares do que sergipanos, e as operadoras não acompanharam a onda impressionante da demanda, realizando, paralelamente, os investimentos necessários. Estamos agora nos aproximando perigosamente do ponto de colapso.
 

O ROUBO DIMINUI, A ÁGUA CHEGA


O ROUBO DIMINUI, A ÁGUA CHEGA

Neste período de seca em muitos municípios sergipanos, mais intensamente na região sertaneja, agrava-se a falta de água. Descobriu-se que em muitos casos a água some em consequência de ligações clandestinas. Furar o chamado cano grosso, como são conhecidas as adutoras, tornou-se um hábito criminoso desviando a água que deveria ser levada às comunidades. O presidente da DESO, Bosco Mendonça, coloca agora em prática ações conjuntas com a polícia para localizar os pontos onde são feitas as ligações e responsabilizar aqueles que cometem o crime de roubar a água, um crime que no sertão seco torna-se hediondo.
    

UMA FERROVIA RECUPERADA PARA O TURISMO


UMA FERROVIA RECUPERADA PARA O TURISMO

Em Piranhas, município alagoano que faz parte do Polo Turístico do Lago de Xingó, uma ferrovia construída por Delmiro Gouveia está tendo um trecho recuperado, o que vai do centro histórico da cidade até o atracadouro à beira do São Francisco. A prefeita Melina Freitas quer criar assim mais um atrativo turístico no município. Piranhas tem tido a sorte de uma sucessão de prefeitos modernizantes, e hoje a cidade criou uma infraestrutura que já lhe permite receber um crescente fluxo turístico. A iniciativa da prefeita reforça os equipamentos necessários para a expansão do polo turístico de Xingó, que abrange Canindé do São Francisco, Poço Redondo em Sergipe, Piranhas em Alagoas e Paulo Afonso na Bahia. A integração entre esses municípios e as secretarias de turismo dos estados, fortalecerá o projeto. Em Canindé o prefeito Orlandinho Andrade anuncia a construção do aeroporto a ser iniciada este ano, enquanto a Rota do Sertão, construída em Sergipe há três anos, chegando até a divisa com a Bahia, se junta agora ao trecho baiano, inteiramente recuperado, da divisa até Paulo Afonso.
    

O BARBEIRO DE ITABAIANA


O BARBEIRO DE ITABAIANA

O senador Eduardo Amorim cultiva hábitos itabaianenses, mantem sempre vivas as raízes da sua terra. Nunca deixou, por exemplo, de cortar cabelo na barbearia interiorana do mesmo fígaro que frequenta desde a juventude, quando o dinheiro era escasso e a vida muito difícil.
O corte custa magros oito reais, mas o senador sempre faz questão de pagar o que cobram salões aracajuanos ou brasilienses. Quando não consegue ir  a Itabaiana Eduardo deixa o cabelo crescer mais um pouco, até poder cortá-lo no lugar de sempre.
 

PORQUE PARAM AS OBRAS PÚBLICA


PORQUE PARAM AS OBRAS PÚBLICA

Certa vez Jorge Amado (este ano faria 10O anos) disse que se lhe fosse permitido voltar ao passado não mais escreveria o seu livro de estreia, O País do Carnaval, menos, certamente, por não enxergá-lo como obra literária publicável e, mais provavelmente, por desacordo com aqueles que se aproveitaram do título do livro para relembrá-lo sempre em todas as ocasiões em que, por preconceito ou ausência de brasilidade, colecionavam defeitos atribuídos ao Brasil e ao seu povo.
Hoje, tranquilamente, Jorge Amado verificaria que o título de seu livro longe de significar um demérito para o Brasil, transformou-se mesmo numa espécie de exaltação da força, da criatividade, da capacidade de organização, e também de luta, de espírito empreendedor do povo brasileiro, de valorização das comunidades, e tudo isso feito com muita alegria, exatamente o diferencial que nos caracteriza em relação aos demais povos.
Coloque-se de um lado a Octoberfest grande celebração da alegria do povo alemão, e do outro uma escola de samba na Marquês de Sapucaí , então, a diferença ficará bem evidente.
    

A MEMÓRIA APAGADA NO MONUMENTO EM RUINAS


O cenário é desolador. No centro da praça um monumento em ruinas, ao lado, o edifício da estação da antiga ferrovia Leste Brasileiro abandonado. A Praça dos Expedicionários não merecia um destino tão inglório, exatamente porque deveria ser aprazível e bem cuidado logradouro a evocar uma das páginas da História que mais nos dignificam como povo: a participação brasileira na Segunda Grande Guerra Mundial. O monumento ou memorial foi construído pela Prefeitura de Aracaju em parceria com a Associação dos Ex- Combatentes. Nas suas paredes de mármore branco, cinza e negro, foram afixadas placas de bronze contendo os nomes de todos os sergipanos mortos, integrantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Os marinheiros eram mais numerosos, foram mortos durante o afundamento de diversos barcos da Marinha de Guerra; os integrantes da Força Expedicionária Brasileira, Divisão do exército que combateu na Itália, vinham em seguida. Da Aeronáutica só um sergipano, o tenente-aviador Aurélio Resende, morto em combate quando atacava ferrovias no meio- norte italiano. Hoje, as placas desapareceram, resta uma, a dos marinheiros, devastada pelo tempo e pelo abandono, e nela os nomes estão quase ilegíveis.
A Associação dos Ex- Combatentes quase já se extinguiu, até porque restam apenas vivos dois ou três dos seus antigos integrantes. Não há mais um major Aloísio, um capitão Juca Teófilo, e tantos outros que zelavam pelo monumento, comunicavam ao prefeito quando um vândalo o lambuzava de tinta, quando era necessário algum reparo, e ficavam a cobrar providências.
Não há mais as escolas que levavam seus alunos para visitas ao memorial, ao mesmo tempo, para que visitassem também a nossa História, com as explanações que os professores faziam sobre o mundo nos tempos conturbados da Segunda Grande Guerra. Ficavam então sabendo que a participação do Brasil foi modesta, num conflito onde só o chamado Exército Vermelho, da União Soviética mobilizou mais de dez milhões de soldados para derrotar as tropas nazistas na frente oriental. A contribuição brasileira limitada pelos nossos parcos recursos, pela má vontade e até sabotagem dos que no governo e nas forças armadas inclinavam-se pelo nazi-fascismo, justamente por isso, se tornou um exemplo de superação e heroísmo.
O monumento foi feito para preservar a memória daqueles dias, e exaltar a coragem dos sergipanos que atravessaram o Atlântico para irem à guerra, que patrulharam, em navios e aviões os nossos mares, que pilotaram aviões de combate nos céus italianos, e em combate morreram.
Não honramos a memória dos nossos combatentes, não reverenciamos a nossa História deixando, agredido pelo descaso e abandono, o monumento aos ex-combatentes sergipanos, os nossos mortos na Segunda Grande Guerra.
O que pensariam os franceses se um dia a Mairie de Paris deixasse de providenciar os buquês de lírios lilases e as fitas tricolores para colocá-los nos locais reverenciados onde morreram os combatentes da resistência?
    

O ALCAIDE E A AL QUAEDA, COISAS DO BOLE- BOLE E SARAMANDAIA


Houve um jornalista que, há coisa de uns quinze anos passados, fez uma sugestão tanto a Jose Ribeiro, o Cabo Zé, como a Jerônimo Reis, ferrenhos opositores, integrantes dos dois grupos em que se divide a política lagartense, o Bole Bole e o Saramandaia. A sugestão era para que, todos os anos, eles viajassem a Paris, cada um com a sua comitiva de seguidores e lá fizessem, juntos, uma grande festa de confraternização. Ergueriam taças de champagne em homenagens recíprocas, brindes trocados pelo sucesso e felicidade de cada um dos que em Lagarto se apresentam como inconciliáveis adversários. A razão para essa comemoração que a primeira vista pode parecer absurda, simples e facilmente compreensível. Tanto os bole-boles como os saramandaias dividem o poder, desde que desapareceram as lideranças do coronel Acrísio Garcez e de Dionízio Machado. Eles deixaram sucessores do velho antagonismo, inicialmente, Rosendo Ribeiro Filho, e Artur Reis, Seu Artur do Gavião. Quando a novela de Dias Gomes fazia grande sucesso, os grupos receberam a denominação que hoje ainda conservam. A polarização no município já foi total, houve casos em que casamentos foram desfeitos, porque marido e mulher tinham preferências políticas diferentes, ou casamentos que se tornaram impossíveis, porque o noive era Bole- Bole e a noiva Saramandaia. Repetiram-se em Lagarto episódios semelhantes ao drama de Romeu e Julieta, personagens célebres do não menos famoso Shakespeare, os integrantes das famílias dos Montechios e Capuletos, poderosos aristocratas que se enfrentavam na Florença do século XVI. Em Lagarto as diferenças nunca se resolveram com suicídios conjuntos, ou a fio de espada, até mesmo porque a arma já caíra em desuso, e felizmente, os Colt ou Shmidt-Wesson calibre 38 que eram sempre exibidos nas cinturas dos chefes políticos nunca foram usados. Trocavam-se muitos desaforos, muitos xingamentos, agora radiofonizados, depois que os dois grupos se tornaram proprietários de emissoras de rádio, mas a violência política sempre se limitou a algumas esporádicas trocas de sopapos.
Não se chegou a uma radicalização extrema como no povoado de Cruz do Cavalcanti em Ribeirópolis, onde havia dois minúsculos cemitérios, um, para famílias do PSD, outro, para famílias da UDN. O PSD daquele tempo não é este de agora, presidido pelo pacífico Jorge Araujo. Apesar disso, juram, fanáticos integrantes dos dois grupos que, se um seu aliado descambar para uma aliança com o adversário, nunca terá o seu voto. Assim, por obra e graça das paixões despertadas e que dividem o município em parcelas que sempre se equilibraram quase com a mesma dimensão eleitoral, por causa exatamente disso, os líderes saramandaias ou bole-boles nunca ficam inteiramente afastados do poder. Perdem a prefeitura, elegem deputados, fazem oposição ao governo, mas controlam o município, ou vice- versa. E se vão perpetuando no centro da cena política sergipana. Razão tinha então o jornalista quando sugeriu a confraternização parisiense.
No meio desse cenário repartido em dois, entrou um novo personagem, havido como intruso. Chegou sem laços políticos consistentes, seja com o Sarmandaia ou o Bole Bole. Fez uma aliança com o Saramandaia Cabo Zé, colocou um filho dele como vice, e elegeu-se prefeito. Era o Valmir da Madeireira, que agora, rompido com o Cabo Zé, tenta a reeleição, e é chamado de Bole-Bole Paraguaio. Os dois grupos tradicionais se reorganizam e partem para o enfrentamento, enquanto Valmir busca manter uma terceira via com todos os obstáculos que isso representa em um eleitorado polarizado. Cabo Zé, com o mesmo temperamento impulsivo que o acompanha desde quando, aos 23 anos tornou-se deputado estadual, isso nos idos de 1962, faz, quase diariamente na sua Rádio Eldorado, fortes criticas ao prefeito a quem resolveu chamar usando a velha denominação de alcaide. Era alcaide para lá alcaide para cá, até que chegou na Eldorado uma convocação para que Cabo Zé fosse a Anatel dar explicações. Lá chegando, soube que o prefeito o havia denunciado por estimular possíveis atos de represália dos americanos ou mesmo de Israel contra ele. É que confundiram alcaide com a organização terrorista Al Qaeda, a alcaida.
O desconhecimento até se justifica, mas o desinteresse em consultar o dicionário, o velho pai dos burros é algo inconcebível.

QUANTOS UM PRESIDENTE MATA


QUANTOS UM PRESIDENTE MATA

Os biógrafos dos ex-presidentes norte-americanos, mesmo aqueles que fogem do faccioso modelo laudatório, nunca se preocuparam em revelar a cifra, ainda que aproximada, das mortes causadas pelas decisões guerreiras de todos os que ocuparam a Casa Branca desde que o país deixou de ser colônia da Inglaterra. A independência americana foi feita ao preço de muitas vidas, os combates com as tropas inglesas que ocupavam o país foram longos e sangrentos. Os presidentes, numa sucessão sem exceções, foram todos eles comandantes em chefe de tropas envolvidas em guerras por eles também decididas. Assim, cada um tem uma cota de mortes causadas ou sofridas por tropas sobre as quais exerciam a sua prerrogativa de comandantes supremos. Depois veio a guerra civil, a luta travada entre o norte industrializando-se e o sul escravagista e agrário que pretendia separar-se. Na formação das nacionalidades não há como escapar da necessidade de uma argamassa de sangue para alicerçar a independência.
Houve ainda o extermínio sistemático dos índios, genocídio, aliás, comum em todas as Américas. Desse morticínio de indígenas resultaram heróis cinematográficos, e nenhum sentimento de culpa. O rápido desenvolvimento do capitalismo com a avidez pela conquista de mercados e de territórios deu ao país a feição imperialista que agregou definitivamente a presença do poderio militar no século dezenove, com a ação das canhoneiras que singravam os mares, fazendo o exato roteiro dos interesses das corporações nascentes.
A Doutrina de Monroe, aquela que preceitua: A América para os americanos, traduz exatamente a dimensão da visão expansionista de uma potência que definia como área exclusiva da sua dimensão geopolítica as vastidões de dois continentes, indo da Terra do Fogo ao Alasca. O México encolheu, a América Central virou fazenda da United Fruit, que criou as bananas republics, o Canadá, colônia inglesa, tornou-se também quase uma extensão dos Estados Unidos. No Brasil, a elite cafeeira-açucareira dominante entendeu que era hora de começar uma troca de bandeira, e as companhias inglesas não receberam o suporte que esperavam, ao sentirem que o Tio Sam chegava com a disposição de assenhorear-se do mercado que Dom João VI, desde a abertura dos portos, havia submissamente reservado para desfrute exclusivo da Inglaterra. Esse controle de toda a extensão da América espanhola e portuguesa se fez, quase sempre, com o uso da força bruta. Os marines, onde desembarcavam, vinham garantir a sobrevivência de ditadores títeres, ou por ordem na casa, quando um governante se tornava pouco susceptível aos interesses dos gringos, e era preciso submetê-lo pela força das armas. Theodore Roosevelt, presidente caçador que exterminou uma boa parte das onças pintadas do Pantanal, e veio várias vezes aqui para mapear nossas riquezas minerais, ainda ganhou uma homenagem: um rio no Mato Grosso que leva o seu nome. Na Casa Branca ele pôs em prática a doutrina do porrete, o big stick. Por esse tempo, os yankees já achavam pequeno o seu quintal da latino-américa, e se expandiam pelo mundo. Cada presidente daquele período tem a seu favor na contabilidade sinistra que se faz sempre com números na casa dos milhares, muitas mortes em decorrência das operações com o envolvimento direto das suas tropas, ou usando mercenários locais nas empreitadas em busca sempre de maiores lucros. Não há, desde a fundação dos Estados Unidos, um só presidente que tenha concluído o mandato sem fazer uma guerra, sem levar morte a alguma parte do mundo.
Jimmy Carter que perdeu a reeleição por ter o grave defeito de ser pacifista, teria sido o único, se não houvesse autorizado a operação de resgate dos reféns que os militantes agressivos dos aiatolás iranianos mantinham na invadida embaixada americana em Teerã. Os helicópteros sobrevoando em baixa altitude o deserto foram surpreendidos por uma tempestade de areia, muitos caíram e vários soldados morreram. Por muito pouco Carter não conseguiu a proeza de durante o seu mandato não ter havido aquela cerimonia quase corriqueira, dos caixões envolvidos pela bandeira de listras e estrelas carregado aos ombros de cadetes engalanados. Os outros enterros, aqueles, dos mortos pelas tropas americanas, esses, jamais são mostrados, acontecem longe das câmeras de TV ou das lentes de fotógrafos, que, naquelas ocasiões, nunca estão por perto, e se estão, a mídia raramente acolhe suas imagens.
Só para lembrar os mais recentes presidentes, se poderia tentar saber quantos soldados americanos, quantos estrangeiros foram mortos durante os mandatos de Kennedy, Lyndon Johnson, Ford, Nixon, Ronald Reagan, Bush pai e Bush filho. Contando-se os mortos no Vietnam, Camboja, Laos, naqueles bombardeios aéreos usando-se o napalm ou o veneno terrível do agente laranja, a impiedosa destruição de cidades como Hanói, Bagdad, a mortandade chega facilmente a alguns milhões de mortos. No Vietnam ainda hoje morrem pessoas, nascem crianças deformadas, vitimas retardatárias da ação demolidora da guerra química. Mas no Japão também nascem ainda, passados 66 anos, crianças com as marcas dos efeitos da radioatividade das duas bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasáki em agosto de 45. Alguém dirá: s americanos estavam em guerra com o Japão, foram agredidos pelos japoneses que começaram a guerra e ainda resistiam duramente.
Quando ordenou o lançamento das bombas, o presidente Truman tinha outros motivos além daquele imediato que seria a rendição do Japão. Na geopolítica americana que abrangia todo o planeta, o poder atômico se tornava o diferencial estratégico que precisava ser exibido, principalmente aos russos que haviam colocado as botas sobre a Europa do leste e chegado primeiro a Berlim.
Se morreram 200, 300 mil ao longo do tempo, nunca se chegou a uma estatística perfeita. Bush filho, com certeza, matou muito mais.
Barack Obama que até acenou com a chegada de tempos pacíficos, ampliou a guerra no Afeganistão, também matou na Líbia, e tem a seu favor um cartel de algumas centenas de soldados americanos mortos, e uma quantidade bem maior de inimigos abatidos. Dissemos tem a seu favor porque a sua reeleição já está quase garantida, depois que ele, repetindo Bush, vestiu a farda de guerreiro.
 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

AS GARÇAS DE NORONHA E O CONCURSO DO BEBÊ JOHNSON

AS GARÇAS DE NORONHA E O
CONCURSO DO BEBÊ JOHNSON

No domingo, dia 5 de fevereiro,o Fantástico mostrou uma curiosidade em Fernando de Noronha,  pequeno paraíso a 300 milhas da costa nordestina. O arquipélago foi invadido por uma profusão de garças vaqueiras.  São aves de uma família de origem africana, dizem os biólogos, que há alguns anos elas começaram a chegar ao Brasil e hoje se multiplicam desmesuradamente.  Na ilha principal onde está o aeroporto, uma limitada pista que termina num precipício sobre o mar, as garças, chocando-se contra os aviões, quaseprovocaram acidentes.  Resolveram então acabar com elas. Fosse isso há40 anos atrás a solução seria facílima. Contratavam-se cinco ou seiscaçadores , cada um  com uma espingarda calibre 12, e eles logo exterminariam as garças.  Hoje, há que se respeitarleis  proibindo a caça no Brasil, com exceção para o Rio Grande do Sul, onde,  durante um período do ano  é permitida a prática da ¨nobre arte cinegética¨, como a denominava o professor Franco Freire, caçador exímio e militante comunista, elegante tal e  qual um  lordinglês.    Ao longo desses 40 anos formou-seuma consciência ecológica que repele qualquer forma de agressão ao meio ambiente, e isso desqualifica a ¨nobre arte cinegética  ¨ , derrubando-a ao nível de atividade proscrita, inaceitável violência do homem contra os demais seres vivos, colegas  habitantes do mesmo maltratado planeta. Há nisso uma inevitável mistura de boa vontade com hipocrisia.  Criminaliza-se a caça com o argumento de que se trata de uma ação cruel e prejudicialaos ecossistemas, mas a pesca que tem importância econômica e supre uma boa parte da necessidade de proteínas dos 7 bilhões de comedores,  claro, é absolutamente livre, e não se diga que a captura do peixe é algo menos cruel do que o abate  a tiros de uma ave. Os oceanos estão sendo devastados, peixes como o bacalhau,atuns tubarões, são espécies ameaçadas que caminham rapidamente para a extinção. Mas não se toca nas baleias ou nos golfinhos, bichos que conquistaram o privilégio da simpatia humana.   De resto,os 7 bilhões ávidos por comida, transformam o mundo num gigantesco matadouro. Todos os dias, de norte a sul, de leste a oeste, milhões de animais mugem, berram,cacarejam, coaxam,  grasnam, bodejam, grunhem, latem, relincham, roncam. São os bois, porcos, peixes, cabras, carneiros, rãs, galinhas, patos, gansos, marrecos, búfalos, até cavalos e cães, levados ao sangrento holocausto cotidiano nos matadouros, carne para 7 bilhões de barrigas, uns dois bilhões  delas fartamente cheias, o restante, com aquela sensação permanente de fome insatisfeita, ou absoluta.
E o que tem a ver a garça de Noronha com tudo isso ?
É que,na brancura daquela ave,  na verdade  um urubu disfarçado que adora monturos, se elegeu a imagem perfeita para simbolizar uma responsabilidade ecológica que nada mais é do que uma fantasia para encenação televisiva.  Para o combate às garças convocaram dois falcoeiros que foramàs ilhas com os seus falcões, o nosso gavião europeizado.  Treinadas, as potentes aves de rapina caem sobre as garças,ferram-lhes as garras e o bico, dominando-as. Depois, chegam os domadores dos falcões, iguaizinhos ao nosso Percílio,aqui das serranias de Itabaiana, recolhem a ave, depositam-na numa caixa ; vem um veterinário e nela aplica uma injeção letal , tudo muito bonitinho, muito bem encenado para demonstrar zelo, cuidados que o continente leva ao arquipélago,  no roteiro de um nova ética ecológica   que inclui   o trato caridoso com os animais para poupar-lheso sofrimento. Como se as garras e o bico dos gaviõesque se lançam  sobre as aves a mais de 40 quilômetros por hora, fossem para elas prazerosas carícias.
A farsa sobre as garças de Noronha faz parte daquele pacote de mentiras convencionais, um conjunto de disfarces, de escapatórias,das quais a sociedade se vale para que possa ostentar ,  como observou Max Nordeau, aquele tintura de civilização, que hoje se intitula politica ou ecologicamente correta.
O conteúdo do embrulho não importa,o que vale é a embalagem.  Se for feita sempre como se fora para presente, melhor ainda.
 Faz mais de 40 anos aJohnson-Johnson promovia um concurso de robustez infantil para a eleição anual do Bebê Johnson. A multinacional dominava o mercado de produtos pediátricos, óleos, talcos, fraldas, mamadeiras, bicos. Num país onde a mortalidade infantil atingia índices alarmantes, exibia-se a criança campeã de robustez, invariavelmente branca, de preferencia com a face rechonchuda emoldurada por olhos azuis.  A televisão apenas começava, mas, folhetos, vitrines, consultórios médicos,jornais,  revistas, calendários, exibiam a criança  como se fora um troféu da raça,  demonstração de perfeição eugênica,  disfarçando o racismo oculto, que não dava lugar para pretos ou pardos, até porque, pretos e pardos invariavelmente pobres, nunca tinham filhos robustos a exibir.
 Ficava-se então a contemplar a exuberância física de um privilegiado bebê, quase sempre filho de pessoas da classe média,esforçando-se, todas, para que  as suas crianças se aproximassem do ideal de perfeição que a Johnson e Johnson apregoava aos brasileiros,  certamente, para  que continuassem esquecidas aquelas outras crianças, as que conseguiam sobreviver longe dos padrões do Bebê Johnson, exibindo desgraciosas figuras esqueléticas,  os olhos estufados no rosto  esquálido, prova contundente da subnutrição, da fome. O Bebê Johnson era a exceção propagandeada.  A enorme maioria dos sobreviventes, bebês esqueléticos, essa,a ninguém interessava exibí-la.
Sergipe teve,em 1967, lembra o guardião do baú de reminiscências Vilder Santos, um Bebê Johnson. A criançanordestinavitoriosa no certame nacional era bem branquinha, mas  quebrou a rotina do concurso que quase só elegia bebês  loiros, descendentes de alemães, lá no sul do país. Naquele tempo, Sergipe era um dos estados recordistas em mortalidade infantil, e os números da tragédia se tornavam imprecisos, parque era elevada a quantidade de recém - nascidos que morriam e eram sepultados sem a emissãodas certidões de óbito.
As mentiras convencionais que ocultam o lado real da sociedade desafiam o tempo.


 FEVEREIRO,MÊS DO TENENTE MAYNARD
 Augusto Maynard Gomes foi, seguramente, omais destacado ator político do século passado em Sergipe . Fechado e taciturno, ele nãoconstruiu uma liderança política convencional. Criou em torno de sua personalidade forte,seguidores  embevecidos pelas façanhas do tenente revolucionário que começou a vida rebelde ainda cadete, participando da revolta da vacina no inicio do século passado. Na tumultuada década dos vinte, liderou todas as revoltas militares ocorridas em Sergipe.  Passou pelos presídios da Velha República, foi desterrado para a distante ilha oceânica da Trindade, até que a revolução de trinta o levou ao poder. Otenente revolucionário ascendeu rapidamente, major, coronel, Interventor de Sergipe por duas vezes, totalizando mais de dez anos no poder. Quando tenenterevolucionário, preso, ameaçado de perder a farda com a expulsão do exército, teve a defendê-lo o advogado Luiz Jose da Costa Filho. Naquele tempo o defensor assumia quase os mesmos riscos que corria o réu. Passaram os anos.   Em 1945, na interventoriado então coronel Maynard Gomes,  é preso o jornalista e promotor público  Paulo Costa, que, por requinte  maldoso de perseguidores vingativos, foi jogado num cubículo da Penitenciária.  Maynard mandou que ele fosse transferido para o Quartel dos Bombeiros, mas a soltura somente se deu por decisão do Supremo Tribunal Federal. O Sergipe-Jornal não parou de fazer oposição ao interventor, e ao que ainda restava da ditadura getulista. Costa Filho, o ex-advogadodo tenenteirredento na década dos vinte,do Rio, onde residia, mandou ao interventor um telegrama mais ou menos assim redigido: ¨Com a prisão do meu filho o tenente antes perseguido deve ter mudado de posição,  devo considerar agora recebidos os honorários que tive a honra de não cobrar pelo patrocínio de uma causa da liberdade ferida¨.  Maynard, que afinal era interventor de uma ditadura, hesitou entre permitir a prisão do jornalistaou deixar que a  tolerada liberdade de expressão fosse interpretada na capital federal como sintoma de que a sua autoridade já se esvaíra. Meses depois, fora do poder, procurou no Rio o velho advogado Costa Filho e devolveu-lhe o telegrama,dizendo-lhe que o  guardara como se fora um peso na consciência. Dona Lígia Maynard Garcêz,esposa de Jose Garcez, filha mais velha de Maynard, costumava dizer que o pai, com a cara sempre carrancuda, não era homem de vinganças nem ódios, e pedia a Paulo Costa, amigo do casal, que dele também não guardasse rancor. Um dia, ao governador Arnaldo Garcez coube a tarefa de reconstruir a paz entre os dois homens que a ditadura pôs em campos opostos. Na época, Maynard era Senador da República, único mandato eletivo que exerceu.
Maynard, como todos os tenentes revolucionários da sua época, foi no poder,a expressão de uma revolução burguesa modernizante, que viveu as contradições próprias de um movimento sem rumos ideológicos definidos, em tempos conturbados, quando se entrechocavam em todo o mundo os totalitarismos fascista e comunista. Os sonhos dos tenentes se perderam com a aliança indesejadaque os juntou aos ¨carcomidos¨, seculares representantes da oligarquia agrária-exportadora. Depois, para muitos, os sonhos se reconstruíram na adesão ao integralismo fascista ou ao comunismo. Maynardmanteve sempre uma cuidadosa distancia dos dois extremos, e  foi fiel a Getúlio até o final do Estado Novo, quando também foi deposto da interventoria.Ficou na História de Sergipe como um ousado rebelde, e rigoroso gestor do dinheiro público.
 16 de fevereiro é a data do nascimento de Augusto Maynard, e o Palácio Museu o homenageia. Dia 28 acontecerá a homenagem. Liginha,neta do tenente,  advogada, empenhada na luta meritória pelo amparo ao deficiente, esposa de Matias Paulino, veterinário pernambucano que se sergipanizou,  vai falar sobre o avô, como pai de família, tenente rebelde, interventor, e político  mal adaptado às espertezas da política.Liginhaguarda do avô ilustre um imenso acervo.  Pensa em doá-lo ao Palácio Museu. A História de Sergipe lhe agradecerá.

DÉDA DÁ PESO AO ACORDO


A princípio pensou-se numa solenidade simples, a assinatura do acordo entre aVale e a Petrobras a ser efetuada na sede da estatal petroleira no Rio. O governador Marcelo Déda não concordou com a reduzida dimensão que seria dada a um ato da maior importância estratégica para o desenvolvimento do Brasil, e pelo qual ele vinha se empenhando desde meados do ano passado.  A presidente Dilma logoconvenceu-se  de que, afinal, um acordo que vai possibilitar um investimento de quatro bilhões de dólares para que seja montada uma nova planta de produção do potássio em Sergipe, seria algo a ser devidamente dimensionado. Ficou resolvido que a presidente virá a Aracaju para presidir a solenidade. Para Sergipe será um dia quase tão importantequanto aquele, nos idos de 63, quando jorrou pela primeira vez petróleo  de um poço em  Carmópolis .

LAURINHO, UM ESTREANTE VETERANO
O senador suplente Laurinho Menezes chegou ao Senado para exercer um mandato de quatro meses em virtude dalicença solicitada pelo titular Eduardo Amorim. O estreante começou assumindo a desenvoltura de um veterano. Transitar pelos gabinetes de senadores e ministros tornou-seuma tarefa facilitada pelas relações que já tinha feito antes em Brasília, onde os caminhos para ele não eram estranhos. Na condição de senador o transito lhe foi ampliado, e ele vem tendo participação intensa em comissões, levado problemas ao debate, colocando Sergipe no centro de muitas discussões. Os quatro meses de estreia revelaram umhábil homem público veterano, com disposição e criatividade para firmar-se no cenário político sergipano.
CONVERGENCIAS E IDENTIDADES

A aliança pré-eleitoral que foi consolidada entre o governador Marcelo Déda, candidato à reeleição e o grupo dos irmãos Amorim, onde o deputado federal Eduardo Amorim despontava como candidato ao Senado, terminou revelando-se benéfica para as duas partes.  Houve, no percurso até a eleição de outubro, percalços que surgiram e foram sendo pacientemente vencidos. Candidato à reeleição, o senador Valadares entendeu que poderia sair prejudicado com a ascensão de Eduardo, edo improvável crescimento de Albano, que estava isolado em um só e quase despedaçado partido. Depois de alongadas conversas, ficou assentado que ele e Eduardo formariam uma parceria de interesses que beneficiaria aos dois. Surgiram, também, incontáveis desconfianças que contaminavam com facilidade osgrupos recém aliados, sobretudo,  porque lhes faltava a afinidade que surge com o tempo de convivência, coma experiência acumulada de outras campanhas disputadas lado a lado.
Marcelo Déda, Jackson Barreto,Edivan Amorim, entraram em campo para apagar no nascedouro, possíveis focos de incêndio, e chegou-se ao final com um resultado que a todos favoreceu.  Edivan e Eduardoforam depois eliminando as  rusgas com Valadares, e agora surgem como parceiros firmes de um projeto pelo qual igualmente se empenham.
O grupo étodavia  muito vasto,  contempla variadas tendências, e também mantem arrefecidas, mal disfarçadas antipatias entre alguns que o integram, e que se vão tolerando para que não se entredevorem. Isso acontece em alianças amplas, é canibalismo comum, também na área mais restrita dos partidos. Não é,por conseguinte, nada inusitado, ou inédito.
No grupo onde estão Déda, Valadares ,   Eduardo e Edivan Amorim, Jackson Barreto,  e muito brevemente, também Edvaldo Nogueira e Albano Franco, há uma avassaladora convergência de interesses.  Faltaconstruir uma convergência de identidades.
Se ele não fosse um personagem autossuficiente,por isso mesmo desinteressado em negociações políticas,  se poderia dizer: eis uma tarefa para o super-homem.

UM IMPACTO ATENUADO

Na Assembleiahá quem  garanta que já estaria atenuado o choque do impacto que teria provocado a notícia de que os deputados haviam decidido antecipar a eleição para a escolha da Mesa, reelegendo a  presidente Angélica Guimarães e toda a diretoria. No jantar oferecido aos deputados o governador Marcelo Déda não teria dado o mínimo sinal de ressentimento ou desgosto,nem sequer se referiu à eleição antecipada. Acredita-se que o diálogo, a participação nos entendimentos do líder do governo deputado Francisco Gualberto para que fique claro ao governador que a antecipação da escolha não significaria nenhum ato de hostilidade, deixaria o caminho desimpedido para que a eleição se faça sem causar um tsunami político, ou, nem sequer, um arremedo de terremoto.
O SOCRÁTICO SACRIFÍCIO DA GRÉCIA
Há semelhanças entre o lento,irreversível desmoronar da Grécia, e o sacrifício de Sócrates. O filósofo peripatético que muito ensinou,acompanhado por discípulos,  fazendo o estirado caminho entre Atenas e o porto doPireu,   nada deixando escrito, teve a crônica da sua morte voluntária descrita por Platão,  seu predileto e privilegiado discente.  Sócrates, por imposição de Atenas, tomou um cálice de cicuta, inescapável veneno, cujos efeitos progressivoslhe foram , no virar da ampulheta, exaurindo o corpo,  entorpecendo a mente.
A Grécia vai sorvendo oreceituário fatal prescrito pelo FMI, pela Comunidade Europeia, tendo à frente a orgulhosa e rediviva Alemanha,  um Sarkozy  constrangidamente forçado a  contracenar com a Angela  Merkel, impiedosa na sua ortodoxia monetária, fazendo  sobre a prostrada França  e  uma submissa Europa a sua triunfante Cavalgada das Valquírias.  Richard Wagnere a sinuosa historia da Alemanha sempre se encontram, em algum momento.
Sócrates poderia não ter tomado a cicuta,e optado pelo exílio. Os seus algozes deram-lhe a oportunidade de morrer pelas próprias mãos.
A Grécia pode recusar-se a tomar a sua cicuta, o pacote recessivo, quase uma condenação à morte, pode optar pelo exílio da Comunidade Europeia, mas a solidão também lhe seria fatal.
Por isso, a Grécia segue resignada, enquanto a revolta toma as ruas. É o preço fatal por ter quebrado regras fiscais, julgando-se imune às consequências.
Sócrates imaginou-se além da mesquinhez dos seus detratores, entendeu ser possível libertar-se do seu tempo.
Enquanto o veneno inexorável o consumia, sentindo que as pernas lhe faltavam, adormeciam, ainda encontrou forças para pedir a um dos discípulos: ¨Lembre-se de pagar um galo que eu devo a Alscépio¨.
A Grécia moribunda ainda terá de pagar os bilhões de¨galos¨ que deve.

ARACAJUPITORESCO VENDE MAIS

A segunda edição ampliada do livro de Murilo Mellins,Aracaju Pitoresco que Vi e Vivi,  é recordista de vendas entre publicações de autores sergipanos. Por enquanto, antes do lançamento festivo na UNIT, que patrocinou a edição junto com a empresa Bomfim, o livro está sendo vendido apenas na livraria Escariz,lojas dos Shoppings Rio Mar e Jardins.
O livro de Mellins, um prodigioso memorialista, querevive fatos, circunstancias, imagens, personagens e tramas, é um passeio cheio de surpresas pela história da Aracaju dos anos 30, 40 e 50. Vale bem mais do que o seu preço.
 ARENA DA CULTURA NO SERTÃO
Aconteceu em Nossa Senhora da Glória. A Prefeita Luana Michele Oliveirafez a segunda edição da Arena Cultural. Um encontro, festival, simpósio, ou simples e oportuna abertura para que as pessoas envolvidas com a cultura se juntem,se falem, se escutem, comemorem muito, exaltem acontecimentos e também méritos. Coisas assim demonstram que existe um vivo fazer cultural no sertão, apesar das vicissitudes do dia a dia, causadas agora, principalmente, pela chuva que seanuncia  emoldurada por raios , trovões, nuvens benfazejas, logo seguidamente dissipadas, sufocando a esperança. Os municípios da região acorreram a Glória para o evento. Na primeira edição o homenageado foi o escultor sertanejo, também chamado de artesão, Veio. Além de trabalhar a madeira ele trabalha mais abrangentementecom a cultura, e  faz muito pela preservação da memória sertaneja. Este ano o homenageado durante a Arena Cultural foi o escritor, compositor e pesquisador Alcino Alves Costa, o laborioso fazedor cultural de Poço Redondo. As bibliotecas já guardam muitos livros por ele escritos;a história do cangaço,  dos conflitos sertanejos, da sociedade sertaneja, através dos  livros de Alcino vem sendo revelada.

A BIBLIOTECA RECUPERADA

Construída no governo Paulo Barreto, portanto lá se vão quase 40 anos,a Biblioteca Epifânio
Doria só passou até hoje por duas obras parciais de manutenção. Nem é preciso dizer que, por isso, encontra-se em condições lamentáveis.  Para este ano se anuncia um trabalho mais completo de recuperação. A Secretária Eloisa Galdino conseguiuno ministério da Cultura o dinheiro necessário para que as obras sejam feitas.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

PRESTEM ATENÇÃO A CARLOS BRITTO

  O  ¨livrinho ¨, como o chamava o marechal – presidente Eurico Gaspar Dutra, ( o pequeno opúsculo desde então cresceu , tornou-se alentado e minudente volume regulador da  nação)  o ¨ livrinho¨,  agora quase  um cartapácio, preceitua,  no artigo 142, paragrafo 3º inciso IV : ¨Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve¨.  
A vedação é terminante,  clara,  concisa, insofismável. Militar não pode fazer greve.
Greve equivale a sublevação, motim, porque fere a disciplina, subverte a hierarquia desrespeita a lei maior do país. Por estarem de armas nas mãos, armas que a Nação lhes confia, o militar, mais do que qualquer outra categoria, deve ser rigorosamente submisso à lei.  Quando o desrespeito à lei se torna  procedimento coletivo, ficamos a beirar  os modos da selva. E essa proximidade com onças  tacapes e canibais, destrói o conceito de civilização. Os policiais baianos não fazem ¨apenas¨ uma greve, eles afrontam o estado democrático de Direito, e o afrontam da maneira mais absurda e imprudente: exibindo armas, destruindo patrimônio público,  interrompendo vias públicas, como se confundissem a farda honrada de uma corporação  com o capuz das gangues urbanas de baderneiros.
As cenas exibidas na TV foram deprimentes, pior ainda, as gravações das falas de incitação à desordem.  Líderes, ( seriam mesmo ?)  mandando incendiar veículos e interromper estradas.  A sociedade baiana abandonada, viu proliferar a violência, os assaltos, as depredações, e muitas  mortes. O  rombo na economia   foi enorme, todos aqueles que em maior ou menor quantidade contribuem para que sejam pagos os salários dos policiais sofreram prejuízos, ou tiveram de chorar pelos mortos que poderiam estar vivos, se não lhes houvesse faltado o aparato da segurança que sumiu, dando lugar à bagunça.
No instante baiano de Somália, era preciso que uma voz  respeitada viesse em socorro do conceito de autoridade, da preservação da lei. E ela saiu do Supremo Tribunal, a fala firme e sensata de um jurista poeta, o ministro Carlos Britto.  Sufocado o poeta pela crueza da realidade, surgiu o cidadão que a toga só fez fortalecer.  A sensibilidade faz nascer o poema, e também a indignação. O ministro Carlos Britto,  constitucionalista por sapiência e atitudes, lembrou   da proibição  contida no ¨livrinho¨, traçou o caminho legal a ser seguido, mostrou que o desrespeito à lei não deveria ser tolerado, e que as forças armadas poderiam ser chamadas a desempenhar o papel que constitucionalmente lhes está reservado.
Teria mudado a visão democrática, a vocação para o entendimento e o diálogo que fazem parte da formação ideológica do ministro? Pelo contrário.  A Constituição de 88 foi elaborada para dar sustentação ao Estado democrático que surgia após os descaminhos do autoritarismo e do arbítrio.  Ela é a síntese que  resultou da soma convergente  dos ideais do povo brasileiro, é o consenso a que chegou a Nação pelo trabalho persistente dos seus constituintes. Não pode ser esquecida pelos que detêm parcelas de autoridade, nem pisoteada nas ruas, paradoxalmente, pelos que fizeram um juramento de respeito às leis, e receberam armas para garanti-las. No STF, o Ministro Carlos Britto cumpre,  exemplarmente,  a tarefa que lhe cabe de defender a Constituição.
 A Nação espera que a voz do ministro   sergipano  tenha sido ouvida, principalmente no tumulto de reivindicações que são justas, todavia, ilícita e deploravelmente conduzidas.

A PMS DESDE O OITÍ AO CAPITÃO SAMUEL

No tempo em que todo o efetivo da Polícia Militar de Sergipe cabia, com folga, no pátio do quartel central,  dizia-se que era impossível manter uma formatura nos meses em que os oitizeiros  frutificavam. Se a tropa estivesse formada e começassem a cair do alto das frondosas árvores aquelas insípidas frutinhas amarelas, era como se  houvesse sido ordenado um fora de forma. A fome era tanta que a soldadesca corria para disputar os oitis caídos ao chão.  As formaturas, na verdade, não se desfaziam por causa dos oitis, mas,  era comum ver-se soldados dentro do quartel catando no chão e comendo com certa avidez os disputados oitis.
Pelo sim pelo não, quando o governador Lourival Baptista ampliou o velho quartel, construindo o prédio anexo, as árvores frondosas foram inapelavelmente derrubadas, e ninguém mais fez a associação maldosa entre a fome,  os oitis, e a impossibilidade de ser mantida a ordem durante as formaturas. Polícia, naquele tempo, era um precário e mal treinado aparato de força sempre a serviço dos governantes, e, por extensão, também    dos chefes políticos do interior aliados do governo. Não se fazia política sem o uso faccioso da polícia, tanto a civil como a militar, do fisco,  da rede pública de educação. A polícia serviu para depredar a sede da usina Várzea Grande, do usineiro Pedro Ribeiro,  mal visto pelo governo; para demolir e tocar fogo nas casas e fazendas da família Ceará; para  assassinar a tiros de metralhadora o deputado federal Euclides Paes Mendonça e seu filho o deputado estadual Antonio Mendonça; a polícia servia, enfim, dócil e obedientemente para a prática de  inumeráveis  tropelias, que davam aos que dela participavam, fossem comandantes ou comandados, a certeza de que seriam recompensados com  promoções sucessivas, que levaram praças a se tornarem coronéis. Militares, também como hoje, envolviam-se  diretamente com a política partidária, mas  não se tem noticia de um só que conseguisse se eleger contando maciçamente com os votos dos policiais.  A polícia dividia-se em muitas facções. Houve um coronel, Hermeto Feitosa, que até figurou como vice na chapa do médico Edelzio Vieira de Melo, que disputou sem sucesso o governo do estado. Todos, naquele tempo,  ganhavam  humildes salários, de desembargador a  serventuário, mas os policiais historicamente, sempre foram os mais miseravelmente remunerados, todavia,,  como eram umbilicalmente ligados aos chefes políticos, recebiam favores pessoais que os aquietavam, por isso, coletivamente, nunca se faziam reivindicações consistentes.
A policia atual, embora com efetivo ainda insuficiente para cobrir as necessidades do estado, assumiu as características de uma verdadeira corporação militar, e não desempenha mais a função desabonadora de guarda costas  de políticos atrabiliários.
O capitão Samuel elegeu-se quando as  sombras dos oitizeiros já nem mais  existiam, foi ele, talvez, o único que conseguiu conquistar um mandato quase exclusivamente com o apoio dos colegas de farda. Tem,  por conseguinte, um compromisso forte de representa-los.  Ele  vem procurado facilitar a interlocução da tropa com os poderes, e isso põe em andamento algumas propostas.  A polícia de Sergipe tem hoje uma situação salarial  invejável em relação às demais corporações, inclusive  mais numerosas, como as do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Não há, na tropa sergipana, insatisfações acumuladas no mesmo nível das existentes   nas policias  da Bahia, do Rio, de Alagoas. Há  diversas situações a ajustar, e isso pressupõe a necessidade da intensificação do diálogo.  Nesses tempos de exacerbação de ânimos e de incitamento à indisciplina, um peso maior de responsabilidade recai sobre as lideranças.

O VELHO EMPURRAR COM A BARRIGA


Não são novas as insatisfações nas policias, não é novidade a greve de policiais.  Tanto se fala em segurança pública e pouco se faz para realmente construí-la. Há projetos dormitando no Congresso, há propostas indefinidamente em análise, há ideias nunca colocadas em prática.
Nesse clima de  muita conversa e diminutas ações, se vai também empurrando com a barriga, em muitos estados, o grave problema da baixíssima remuneração  que a tropa percebe. Sabia-se, tanto na Bahia como no Rio de Janeiro , como se sabe em São Paulo, em Minas Gerais, que a soldadesca e a oficialidade das PMs estão inconformados com os salários  reduzidos.  No Rio de Janeiro onde a polícia é mais  exigida para os confrontos frequentes com a bandidagem, um soldado  sobrevive com  miseráveis salários.  Trata-se de uma situação que desafia o tempo. A defasagem salarial acumulou-se tanto, que se torna agora impossível resolver a curto  prazo um velhíssimo problema.  Nunca se tratou de elaborar um plano consistente de recuperação salarial, de se estabelecer, nacionalmente, um plano estratégico de segurança pública, que requer, de inicio, a existência de policiais dignamente remunerados. Tramita na Câmara desde 2008 a  famosa PEC-300, aquela que criaria um piso salarial único para todas as polícias. Em torno da proposta se tem feito muita demagogia e excessivo palavrório, uns a defendem para execução imediata, mas, falam sem a responsabilidade de gerir os cofres.  Outros, presos aos compromissos com o governo, que enfrenta as limitações de recursos, preferem protelar. Melhor seria a apresentação rápida  de um plano exequível a médio prazo para a questão salarial, em seguida, o esboço de uma estratégia nacional de segurança. Não será com policiais quase amotinados ou com  uma diminuta Força Nacional e o recurso extremo às forças armadas, que por sinal também não  ganham o que merecem, que se irá solucionar o cada vez mais grave problema da insegurança,  da violência que chega aos níveis de uma guerra civil. Basta o  numero de  assassinatos na Bahia nesses últimos dias com a polícia rebelada, para que se  tenha a assustadora dimensão do imbróglio.
 Empurrando-se assim com a barriga, chegará o dia em que um soldado amotinado dirá a quem for prendê-lo em nome da lei: - eu transgrido a lei porque meus filhos estão passando fome.
E ai, quem terá autoridade para prendê-lo  ?

O POETA O CORVO E OS MAUS PRESSÁGIOS

Depois que Edgard Allan Poe escreveu  O corvo, ( The Haven )  a ave sempre portadora de maus presságios,  entrou, definitivamente, para o mundo das sensíveis,  metafóricas ou cifrantes elucubrações poéticas. O corvo,  com seu crocitar sinistro ( seria crocitar mesmo a voz do corvo ?) tornou-se simbolicamente presente  na vida política brasileira durante os tumultuados anos do inicio da década dos  sessenta, anos prenhes de ideias conflitantes,  que produziam memoráveis embates, num cenário político dominado pelo protagonismo de figuras que os superados cultores do clássico denominariam ¨varões de Plutarco¨. Seixas Dória, falecido mês passado, foi um daqueles  ¨varões¨, Carlos   Lacerda, polêmico, impiedosamente cáustico, contraditório, foi, seguramente, o personagem de maior visibilidade naquele  privilegiado palco de eminencias . Um dia, a Ultima Hora,  porta-voz das causas populares, estampou em primeira página, um grotesco corvo. O traço criativo do chargista combinou magistralmente o rosto caricato de   Lacerda com o corpo da ave, e daí em diante o corvo passaria a simbolizá-lo. Talvez,  para  que se esquecessem  do corvo e da associação que ele despertava,   Lacerda, mestre em marketing,  palavra desconhecida na época, resolveu dar projeção a um pássaro não castigado pela fama de ser o preferido de bruxas e duendes.   Perfeccionista criador de passarinhos, ele  trouxe de Portugal um mainá,  ave de canto mavioso. Então, o  todo poderoso governador do estado da Guanabara,   usou até cronista social para fazer  do seu mainá  uma celebridade. Mas o pássaro famoso morreu, e a Ultima Hora, outra vez, colocou o corvo em primeira página, com a cara de Lacerda, enfiando as garras e devorando o infeliz mainá lusitano.
 O jornalista Paulo Francis então militante de esquerda e no melhor da sua forma de polemista,  escreveu, também na Ultima Hora, sucessivas verrinas  contra Lacerda, inspirando-se no  poema de Allan Poe, e dele fazendo traduções  oportunísticas,   para ilustrar a pancadaria. O diabo é que o poema nem fala em corvo, dele, só leva o nome.
  Em The Raven, a ave  atemoprizante é sujeito oculto, poeticamente escondido.  A visita que bate à porta na madrugada sombria, e repete as batidas, é angústia avassaladora em um escuro mês de dezembro. São os medos, os pesadelos, a solidão opressa, e todos os terrores na alma atormentada do poeta.
Poe morreu, não se sabe até hoje, com certeza, se durante um monumental porre,   álcool,  ópio, ou envenenado por inimigos solertes.  Seus contos de terror o celebrizaram, mas The Raven,  seria a  criação maior, que persistiria no tempo, a instigar sucessivas gerações de outros poetas.
Jozailto Lima,  embriagado pelo jornalismo,, cachaça à qual se  aferra,  viciadamente,  esmerando-se em magistrais textos, todos os dias desperta poeta, e dorme poeta, mas, o labor  da redação o obriga, a, somente indormido, ,   dar consequência ao imperativo de poetar. Assim,  saídos da insônia, já nasceram 4 livros. Com eles consagrou-se o poeta. Agora, ele prepara o lançamento do quinto,  Viagem na Argila. Concluído o livro, neste início de ano em que tempestades se formam,  Jozailto, mais um a inspirar-se em Poe, e no seu subjetivo,  sinistro corvo, escreveu Farsa da Calmaria,  que lhe pedimos licença para transcrever:
                                                            enquanto o corvo
                                                             num bem longealém
                                                             repousa  e never  
                                                               nada ousa
                                                             contra  a lisa lousa
                                                                 da  alegria,
                                                            a garça daqui pousa
                                                            na tropical graça deste dia.
                                                           mas cuidado, meu
                                                           irmão  meu desigual,
                                                          com  as garras
                                                          do repouso: tudo é farsa:
                                                          nada é calmaria.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE PEDE DESCULPAS


 Alexis Charles- Henri- Maurice Clérel de Tocquevile, aristocrata francês, servidor destacado do Velho Regime, foi um escritor e pensador com olhos voltados para o futuro, e conseguiu ir além do seu tempo. Hoje, ele seria considerado um cientista político. Esteve na América e impressionado com o sistema de governo do novo país, os Estados Unidos, escreveu Da Democracia na América, livro que, mais de 200 anos depois é considerado uma referencia para quem quiser compreender o modelo de vida americano.  Tocqueville  previu os problemas que surgiriam com a escravidão, e  a miséria do racismo. Viu como positiva a moral religiosa juntando-se à  ética política, e sem considerar a democracia americana como produto de exportação, nela, contudo, identificou inúmeras virtudes. Hoje,   Tocqueville estaria profundamente arrependido. A democracia americana é uma contrafação do que ele imaginara.  A atual campanha,  depois da degenerescência do período marcado pelo gangsterismo da quadrilha petroleira de George Bush, sinaliza para a completa decadência da democracia americana. Afrouxaram-se os mecanismos de controle ao poder econômico, desencadeou-se, com o Tea  Party,  a visão obscurantista de grupos ultraconservadores religiosos . O sempre atento procurador aposentado, intelectual e melômano Darcilo de Melo Costa chama a atenção para uma matéria publicada na Carta Capital de 8 de fevereiro sobre a campanha politica nos Estados Unidos. Há pérolas de estupidez, como a constatação de que o  fascistoide  Mitt Romeney é,  para grupos bem mais à direita do que ele, um americano duvidoso, isso porque viveu algum tempo na França, e até fala francês.....

UM CICLO DE ESTUDOS EM 1972

O professor e radialista Vilder Santos guarda com cuidado um pequeno folheto, ele contem as conclusões do 1º Ciclo de Estudos Sobre o Aproveitamento dos Recursos Minerais de Sergipe, realizado em 1972 sob a coordenação do economista Aloisio de Campos, assessor do governador Paulo Barreto para assuntos minerais. No item 16 está escrito: ¨Que, apesar de haver superprodução mundial de potássio, se justifica a urgente exploração das jazidas de Sergipe, considerando-se que todo fertilizante contendo K20 consumido no Brasil é importado, com o dispêndio anual de 20 milhões de dólares, além de representar, o nosso país, um mercado ativo de grande dimensão, o que garante uma produção em escala econômica, em torno de 500 mil toneladas ano, inicialmente.¨
  O potássio seria explorado 10 anos depois. Numa segunda etapa, hoje, quando o mercado interno absorve uma quantidade bem maior de fertilizantes, o governador Marcelo Déda tomou a iniciativa de desatar o nó que impedia o entendimento entre a Petrobras e a Vale, para que se iniciasse uma nova etapa na produção sergipana de potássio. Sai finalmente o esperado acordo.  Serão 4 bilhões de dólares em investimentos e centenas de empregos gerados.

A SABE COMEÇA A PRODUZIR


                        O laticínio SABE do grupo Albano  Franco, começa a produzir comercialmente no decorrer do próximo mês de março. Localizada em Muribeca,  a nova indústria, segundo seu diretor Ricardo Franco, já emprega 160  trabalhadores e  gera uma grande movimentação no mercado de laticínios. Hoje, o preço  do leite no balde do produtor já é bem melhor.

NO CALOR DO SERTÃO O AR CONDICIONADO

Canindé do São Francisco, que continua gerando boas notícias, será  o primeiro município em Sergipe a transportar todos os estudantes e professores da rede municipal em ônibus e micro-ônibus novos, e todos com ar- condicionado. São mais de 40 veículos que já estão enfileirados na entrada da cidade.  O prefeito Orlando Andrade  mandou que fossem treinados os motoristas, que são todos de Canindé, para trabalharem com os estudantes de forma segura e atenciosa. Os carros serão postos a rodar a partir da terça-feira dia 14. Antes, desfilarão pela cidade, e haverá também a inauguração da SMTT do município que já dispõe de uma guarda treinada, iniciando um processo de educação no transito. Na mesma data a Câmara Municipal entrega títulos de cidadania ao desembargador Luiz Mendonça, ao procurador geral de Justiça Orlando Rochadel,  ao  Juiz Diógenes Barreto, aos promotores Deijaniro Jonas Filho, Fábio Viegas Mendonça de Araujo e ao  empresário Antonio Manoel de Carvalho Neto, Manoel Foguete.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A HORA E A VEZ DE UM HOMEM

Naquela tarde de primeiro de abril de 1964, os que  em Aracaju  sonhavam com um Brasil novo, estavam atordoados diante de um tumulto contraditório de informações.  Havia o prenuncio de cheiro de pólvora no ar. Na noite anterior, os generais Guedes e Mourão Filho, ajudados pela Policia Militar mineira que o governador Magalhães Pinto mobilizara, puseram em movimento uma precária Divisão Motorizada, que descia,  sacrificadamente  pela estrada, varando montanhas, em direção ao Rio de Janeiro. Era o golpe militar que se punha em marcha. No  então estado da Guanabara o governador Carlos Lacerda entrincheirara-se em seu palácio,  enquanto civis armados e policiais tomavam conta das ruas. Da Vila Militar saíram tropas que enfrentariam os sublevados mineiros. As informações desencontradas chegavam de emissoras de rádio captadas com dificuldade. A  Mayrink Veiga, que liderava a Cadeia da Legalidade, dava a versão do governo aos fatos. A sublevação era localizada, em pouco tempo as tropas do Primeiro Exército venceriam os insurretos, o presidente Jango Goulart tinha pleno controle da situação.  Transmitindo de dentro do Palácio da Guanabara, outras emissoras davam versões diferentes. Carlos Lacerda resistia, tropas do Primeiro Exército que aderiam ao golpe puseram para correr os fuzileiros navais do almirante Cândido Aragão. O presidente já havia fugido.
Pela manhã, logo cedo, (ele sempre foi madrugador) o governador de Sergipe, Seixas Dória, chegou ao Palácio das Laranjeiras ( naquele tempo a administração federal ainda dividia-se entre  a antiga e a nova capital). Foi conversar com o presidente Jango e reafirmar sua solidariedade. Dele, Seixas recebeu uma missão: No retorno a Aracaju passar em Salvador e conversar com o governador Lomanto Junior, tentar convencê-lo a ficar ao lado da legalidade. Um Avro da Força Aérea foi colocado à disposição de Seixas para a viagem. No deslocamento, do  Laranjeiras   ao aeroporto Santos Dumont, Seixas constatou que o jogo estava perdido. A polícia de Lacerda já controlava as ruas, e não havia sinais de resistência. Em Salvador, Lomanto hesitou em recebê-lo,  e quando o fez,  foi para convidá-lo a assinar um manifesto de apoio  ao golpe, que já trazia redigido nas mãos. Seixas respondeu-lhe com rispidez e retornou ao Avro.
No aeroporto de Aracaju, por volta das quatro da tarde, um grupo de políticos, estudantes e sindicalistas, estava a esperá-lo. Falava-se numa possível resistência armada, contando com uma parte da polícia e a distribuição de armas com o povo.  Acreditava-se que pelo Brasil a fora, naquele momento, estivessem prontos para o combate diversos focos de resistência ao golpe. Seixas desembarca, vai ao fundo do aeroporto com os que o esperavam e faz um relato sucinto e realista da situação. Descreve o que vira no Rio de Janeiro, informa que Jango já deixara a antiga capital, talvez seguindo para Brasília ou o Rio Grande do Sul; acrescenta que o II Exército comandado pelo general Kruel, amigo e compadre de Jango já aderira ao golpe, e que as tropas do I Exercito, posicionadas na baixada fluminense, haviam desistido de combater os revoltosos mineiros. Transmitiu ainda outra noticia: Em  Recife, o governador Miguel Arrais já fora preso pelo IV Exército. Desencorajou a todos os que pensavam em resistência armada e disse que iria ao Palácio reassumir o governo.  Lá,  como era seu dever, aguardaria o desenrolar dos acontecimentos. Era  começo de noite quando ele chegou ao Olímpio Campos. Conversou com Dona Meire, acariciou  os dois filhos pequenos e  retornou ao amplo salão onde estava o vice-governador Celso Carvalho , muitos políticos e alguns militares do exército. Reassumindo o governo, Seixas reuniu-se com  Celso Carvalho, o deputado general  Djenal Tavares, e o comandante interino do 28 º BC, dele ouviu um relato dos acontecimentos,  que não o surpreenderam, e o apelo para que fizesse uma manifestação, aconselhando os sergipanos a permanecerem em calma, e  assegurando que os militares estavam agindo em defesa da ordem e da democracia.
Seixas Dória  tinha 45 anos, uma vida de participação intensa como parlamentar e líder nacionalista. Era um nome nacional,  referencia da esquerda, tendo evoluído ideologicamente do conservadorismo que o fez porta-voz, no primeiro mandato de deputado estadual, das teses mais ortodoxas do catolicismo.  No governo, adotou um comportamento de asceta. Controlador de gastos, deslocando-se numa Rural quase sucateada, hospedando-se no Rio e em Brasília em  apartamentos de amigos,  para não gastar o dinheiro publico que economizava  até com exagerada parcimônia.  Vivia batendo às portas dos ministérios, buscando recursos difíceis para um estado que naquele tempo era  miseravelmente pobre.
 Diante dos coturnos que já ressoavam no piso do palácio com a desenvoltura de novos senhores,   Seixas deve ter feito um rápido retrospecto da sua vida. Não é fácil construir-se um nome, firmar um conceito, ter credibilidade, agir coerentemente, ser leal a princípios, ter e manter o sentimento de honra pessoal. São coisas subjetivas, e cabe a cada um avaliar-lhes a importância. Há quem as despreze, preferindo a vantagem imediata, a acomodação,  até mesmo a pusilanimidade do apego ao poder,  outros, não as trocam pela vida, e esses são poucos, e a esses poucos a Historia costuma registrar-lhes    o gesto, a dignidade, a altivez. Mas, quem pensa na consolação do reconhecimento histórico, quando a vida está ameaçada, quando tudo em volta desaba, quando o destino da própria família é uma incerteza?     Naquela noite de primeiro de abril de 64, Seixas Dória viveu a sua hora, o seu grande momento.  Falava-se até em pelotões de fuzilamento. Gregório Bezerra, líder comunista, amarrado a uma corda havia sido arrastado pelas ruas do Recife, chicoteado por um coronel; o paradeiro de Arrais era desconhecido, depois que militares o retiraram do Palácio das Princesas.
Seixas Dória  ouviu calado o que lhe disse o major Silveira,  em seguida,  chamou alguns assessores, entre eles João Oliva,  e Jose Rosa de Oliveira Neto.  Pediu-lhes que redigissem uma proclamação ao povo sergipano, reafirmando sua fidelidade à Constituição, seu compromisso com a legalidade, sua afinidade com o presidente João Goulart, fez acréscimos do próprio punho. Em seguida convocou o diretor da Rádio Difusora,  Sodré Junior,  disse-lhe para ler a nota , o que foi feito por volta das vinte horas. Sabia que assinava a sua própria sentença, mas, tinha a convicção de que cairia com honra. O pequenino  Seixas Dória, agigantado pelo gesto, assistia à sua volta, por todo o país, multiplicarem-se os pigmeus da adesão e do oportunismo covardes.
 Foi dormir, antes recomendando à sua Casa Militar que instruísse a guarda do Palácio a não resistir  quando chegassem as tropas do Exército. Sabia que seria preso. Em Salvador o coronel Humberto Melo, chefe do Estado Maior da Sexta  Região Militar, que se tornara desafeto de  Dória, andava inquieto,  transmitindo sucessivas mensagens pelo rádio ao comando do 28º BC. Ao ser informado de que o governador reassumira e encontrava-se em palácio, que era também residência, determinou que fossem  prendê-lo, em seguida, viajou a Aracaju em avião militar, e ficou no aeroporto aguardando a noticia da prisão. Os militares chegaram de madrugada, e não respeitaram sequer os aposentos privados do governador, onde ele dormia com a esposa. Quase derrubaram a porta. Seixas só teve tempo  para vestir-se e despedir-se da mulher e dos filhos. Foi metido num Jeep e levado a Salvador. O comandante do batalhão comunicou-se com o coronel Humberto para perguntar-lhe se deveria levar o preso ao aeroporto, e ouviu a resposta mesquinha de uma personalidade raivosa e vingativa: ¨ para ele viajar comigo, no avião? Nunca, ele vai  no Jeep mesmo.¨

 Para os brasileiros humilhados, perseguidos, presos, cassados, demitidos, Seixas Dória passou a encarnar a força moral da resistência pacífica ao arbítrio. Levado a Fernando de Noronha, lá, um militar que se identificou como representante do comando revolucionário lhe ofereceu a liberdade em troca da renúncia ao mandato,  e ouviu a resposta: ¨Coronel, se eu renunciar, a liberdade que me será concedida não apagará da minha consciência a mancha da covardia¨. O militar o olhou com respeito  e apertou-lhe a mão.  Em Aracaju, cercada  pelo exército, a Assembleia cassou o mandato de Seixas Doria, um Ato Institucional lhe retirou os direitos políticos por dez anos. Começou, para uma brava mulher, dona Meire Mesquita Dória, a luta pela liberdade do esposo. No escritório do jurista Nelson Hungria, quando lhe perguntou quanto custariam os seus honorários para patrocinar a defesa do marido, dele ouviu que o pagamento seria a honra de ter lutado pela liberdade de um homem digno.                                 
 Vasculharam a administração de Seixas e nada encontraram que moralmente o desabonasse, e isso os próprios militares reconheceram.
Seixas Dória morreu nessa segunda-  feira,  dia 31, aos 94 anos. A vida longa lhe possibilitou sair do silencioso desespero de um cubículo imundo, para retomar a vida, voltar à politica e a exercer cargos importantes.   Aos 90 anos  veio a glória da reparação plena das injustiças sofridas.  Recebeu em Aracaju, numa solenidade pública, das mãos do presidente Lula, a Medalha do Mérito, maior condecoração da república brasileira. No sepultamento, as honras militares de chefe de Estado, as homenagens do governo e do povo, a expressividade da oração fúnebre feita por Marcelo Deda.
  O grande sergipano, o grande brasileiro, despediu-se, tranquilo e recompensado pela vida.  Completou o sonho.  Lutou, resistiu,   fez História, ajudou a erguer os alicerces de uma Nação livre.

O PEDIDO NÃO ATENDIDO

  Quando Seixas Dória era  transportado preso para Salvador, por volta das cinco da manhã o Jeep que o conduzia chega ao posto fiscal na divisa, em Cristinápolis. Naquele tempo, nos postos havia uma corrente que  era baixada por um funcionário do fisco toda vez que passavam os raros veículos.   Dos caminhões, ele cobrava os impostos. Ao aproximar-se, o servidor público sonolento avistou Seixas que estava no banco traseiro entre dois soldados. Começou a fazer um relatório do seu trabalho e aproveitou a oportunidade para lembrar ao governador de um pedido de remoção  que lhe fizera. Seixas ouviu e respondeu:  ¨Como você está vendo, agora vai ser difícil atender  ao seu pedido.
O funcionário não entendeu nada.

O CUSCUZ EM PALÁCIO


Antonio Carlos Mota, economista ,  diretor da EMSURB, é sobrinho de Carlos Oliveira,  um engenheiro , professor e intelectual capelense, que era muito amigo de Seixas Dória e o assessorava em questões  técnicas no tempo em que ele estava engajado na  campanha ¨O petróleo é nossso¨.
 Quando Jânio Quadros foi eleito, Seixas,  que   deu-lhe mão forte na  campanha imprimindo um  tom nacionalista ao discurso, tornou-se um dos políticos mais prestigiados pelo presidente. Seixas então indicou Carlos Oliveira para dirigir os escritórios de representação da Petrobrás em Paris e Londres. Quando Dória elegeu-se governador, conta Antonio Carlos, duas tias suas, orientadas por Carlos Oliveira,  foram procurá-lo . Chegaram bem cedo ao Palácio. Seixas  fazia a refeição matinal  com a família, e as convidou para participarem. Elas alegaram que já haviam tomado café e ficaram na sala,   ao lado da mesa.  Depois de conversarem com o governador, quando retornavam a Capela, uma delas perguntou à outra: ¨Você viu aquele bolo amarelo bonito que estava sobre a mesa ?
E a outra rindo muito: ¨bolo o que, aquilo é cuscuz.¨
E ela: ¨Cuscuz nada, você acha que  governador vai comer  coisa de pobre ¨.

DE ¨MARINETE¨, NA ESTRADA

Lembra o jornalista e advogado João Oliva que foi Secretário de Imprensa de Seixas Dória.
No inicio do governo,  Seixas  convocou a ele e ao coronel João Machado, chefe da Casa Militar, para acompanhá-lo numa viagem que faria a Itaporanga. Naquele tempo não havia uma só estrada asfaltada em Sergipe.  Saíram   numa Rural enfrentando  estrada péssima e muita poeira. No meio do caminho a Rural Willys enguiçou, e não houve esforço do motorista que fizesse o motor funcionar.  Não havia como comunicarem-se  com o Palácio tentando um socorro, e então Dória pediu ao coronel que fizesse parar qualquer veiculo que passasse em direção a Aracaju para pedir  carona. A estrada era quase deserta, e poucos carros por ela transitavam. Aparece uma velha marinete ( como eram chamados  na época os ônibus). O coronel hesita em chamá-la, e Dória o apressa: Coronel, mande  parar. A marinete  se detém, e Seixas vai subindo,  chamando os que o acompanhavam. O carro estava lotado e sujo, havia perus e galinhas ,  até porcos, sendo transportados próximos  aos passageiros. Alguns  se levantam e oferecem seus lugares ao governador. Seixas ,  baixinho, esticando-se para segurar no estribo, agradecia, e assim, conversando muito, viajou de volta a Aracaju, no ônibus velho e sacolejante ,  onde todos  que ali estavam jamais imaginariam ter ao lado, como passageiro, um governador do estado.

POLÍCIA FAZENDO GREVE ?

 A Constituição Federal proíbe expressamente. Mas, as polícias militares ou setores delas, começaram a descumprir flagrantemente a  determinação constitucional. Agora é a PM da Bahia que em parte paralisa suas atividades. Quando militares  descumprem a lei e saem armados às ruas, há uma situação clara de rebelião. Em Salvador instalou-se o caos. Assaltos, depredações, só num dia vinte assassinatos. A polícia sumiu das ruas. O efetivo da PM com menos dois mil que entraram em greve, não é suficiente para garantir a ordem em todo o vasto território baiano.  A sociedade paga o preço da indisciplina, da quebra da hierarquia. A polícia baiana é mal remunerada, sem dúvidas, mas não será com a afronta ao Estado democrático de direito, que as reivindicações justas poderão ser atendidas. Quem cobrirá os prejuízos, as vidas  perdidas ?  Com a economia afetada, o carnaval que é fonte de recursos ameaçado, como os cofres públicos terão recursos para cobrir as despesas com a folha de pagamentos  ?  Saberiam os policias grevistas que é o povo que lhes paga os salários ?

PORQUE PARAM AS OBRAS PÚBLICAS

 Numa reunião jantar realizada no Quality Hotel,  os empresários, pequenos e médios da construção civil,  transmitiram ao governador Marcelo Déda as suas preocupações diante dos obstáculos  que impedem o andamento normal das obras. Eles apontam na forma como é exercida a fiscalização federal,  o  fator responsável pelo atraso e interrupções. O presidente da associação dos empresários, o engenheiro Luciano Barreto, traduziu com objetividade a forma preconceituosa como age a maioria dos responsáveis pela fiscalização, que tratam empresários e gestores como se todos fossem ladrões, e mostrou o equivoco nos critérios adotados. Luciano disse que a fiscalização é imprescindível,  que as irregularidades devem ser rigorosamente punidas, mas o açodamento e a ânsia de detectar erros, muitas vezes inexistentes, fazem com que as obras sejam paralisadas , o poder público, segundo Luciano, as vezes pensa em  fazer economia ¨gastando um milhão para economizar cem mil¨. O governador Marcelo Déda mostrou o volume de obras planejadas ou em execução este ano, solidarizou-se com os empresários, sugerindo  que se estabeleça um amplo diálogo entre o Tribunal de Contas da União, a Controladoria Geral da União, o Ministério Público, os gestores e empresários, visando aperfeiçoar os instrumentos de fiscalização, evitando-se os prejuízos aos cofres públicos. Um exemplo desses obstáculos que se criam,  desnecessariamente, foi a suspensão pelo TCU das obras da BR-101, que  ficaram paralisadas por  quase dez anos, e, quando reiniciadas, custaram três vezes mais do que o orçamento inicial.