SUBDESENVOLVIMENTO A PALAVRA
ESQUECIDA E AINDA TÃO ATUAL
Subdesenvolvimento já foi palavra
da moda. Ela apareceu nas discussões acadêmicas, nos acalorados embates
políticos em meados da década dos
cinquenta. Gunnar Myrdal, economista
sueco escreveu livro que se tornou a
bíblia dos que, pelo mundo, e aqui entre
nós com tanto fervor de mudança se
debruçavam sobre as causas do atraso
econômico que confrangia o chamado terceiro mundo. A teoria da causação
circular, miséria gerando miséria num inescapável círculo
fechado, foi vista inicialmente com
muitas reservas porque desfazia o argumento da espoliação
imperialista como causa central da pobreza
dos países periféricos, predominante no pensamento marxista. Josué
de Castro, teve a atitude para
aquele tempo heroica de revelar a dimensão da fome no mundo. Ele criou de forma aparentemente tão prosaica a
expressão ¨ciclo do caranguejo ¨,
assim, antecipou, estudando, as condições sub- humanas das favelas
recifenses sobre os manguezais, a
miséria literalmente alimentando-se dela própria.
O Instituto Superior de Estudos
Brasileiros, o ISEB, havia publicado o livro referencia do escandinavo Gunnar Myrdal, Teoria
Econômica e Regiões Subdesenvolvidas, com prefácio
avalizador de Álvaro Vieira Pinto, sinalizando aos
pensadores da esquerda que as ideias do economista nórdico precisavam
ser levadas a sério.
A criação da SUDENE pelo presidente Juscelino
Kubistcheck para romper o círculo da
pobreza nordestina, colocou na agenda de todos os governos da região o problema
crucial do subdesenvolvimento. Em Sergipe o governador Luiz Garcia criou o
Conselho do Desenvolvimento Econômico de Sergipe, CONDESE. O professor Aloísio
de Campos recebeu a tarefa de planejar o
desenvolvimento do estado. Estado
planejador era uma novidade, e também, motivo de furiosas críticas vindas de economistas ultra- ortodoxos que endeusavam a intocável virgindade do mercado, disciplinadora única e decisiva do comportamento
da economia.
Começou-se então a sair das
formulações teóricas para as ações objetivas, e no nordeste ganhou força a industrialização ,
reduzindo-se a constrangedora distancia que nos separava de outras regiões,
embora, no conjunto, o país continuasse anos a fora a merecer a
desanimadora classificação de subdesenvolvido.
Transitando entre períodos de
euforia e de desencanto, até chegamos a esquecer, ou a ocultar, a nossa condição de país subdesenvolvido. No
nordeste, taxas estimulantes de
crescimento alcançadas nos últimos anos fizeram a região superar os complexos de
inferioridade que não eram poucos.
Talvez nos tenhamos equivocado ao arquivar ou retirar de cena o significado
forte da palavra subdesenvolvimento, estigma do qual não nos libertamos
definitivamente.
Vez por outra nos deparamos com a
presença de um daqueles sintomas decepcionantes de atraso econômico que se
mostram bem visíveis depois de derretida a maquiagem dos programas sociais .
O economista Ricardo Lacerda que se tem
dedicado a um trabalho consistente de análise e descortínio de
perspectivas para a economia sergipana, acaba de revelar números confrangedores
do que nos resta, até de forma insuspeitada
do malsinado subdesenvolvimento.
Em Sergipe existem hoje 117. 928
servidores públicos espalhados
pelas administrações, estadual, federal
e pelos nossos 75 municípios. Isso corresponde a mais de 30 % da população economicamente ativa. É um
número preocupante, demonstrando a extrema fragilidade da nossa economia.
O inchaço que se registra principalmente
nas prefeituras, contribui fortemente para o descomunal aparato dos empregos
públicos. E o que é pior, o inchaço
observado mais acentuadamente no interior, resulta,
exatamente, da extrema pobreza vigente
no interior, da ausência completa de
oportunidades num inexistente mercado de trabalho. Surge então o poder público
municipal como único gerador de empregos,
e aí, se poderia configurar exatamente aquele ¨círculo vicioso da pobreza ¨a
que se referia o economista Myrdal. O
mercado não oferece empregos, a
prefeitura surge como empregador maior, assim, consome-se
a maior parte das receitas municipais com a manutenção de uma massa inútil
de servidores em excesso ou parasitas. O município não investe. A economia
permanece estagnada.
Fecha-se o círculo. A pobreza
permanece.
Mas há casos que surgem bem
diferentes. São as prefeituras que se
diferenciam daquelas extremamente pobres, e que fazem a mesma deplorável política do
empreguismo recheado com festas. Pouco pão para alguns e o circo para todos os que curtem.
Assim, com essa fórmula medíocre e
oportunista em todos os sentidos, o tempo passa, e a pobreza, todas as formas de carências continuam.
O subdesenvolvimento carrega como
características identificadoras, uma variada
composição de fatores, entre eles, a incapacidade administrativa, ou o
simples desleixo, que se tornam ainda mais devastadores quando aliados à
voracidade patrimonialista.