domingo, 31 de julho de 2011

AS TEORIAS SELVAGENS


 A luta pela sobrevivência  que Charles Darwin identificou no mundo animal foi o processo responsável pela evolução das espécies.  Aquela guerra  começou no pântano, onde amebas, primitivas formas de vida, se foram agrupando em novas células, formando organismos mais completos, que, bilhões de anos depois, já eram  anfíbios, vertebrados, herbívoros, carnívoros, finalmente o homo sapiens. A implacável disputa onde os fortes sobrepujavam os mais fracos
foi transposta pelos pensadores da direita extremada    para o terreno das ciências políticas e sociais. O nazi-fascismo então surgiu como a ferramenta  de manipulação na prática política daquelas teorias selvagens O manifesto  de ódio e insanidade divulgado pelo terrorista norueguês  Anders Breivik,  é mais uma página repugnante que se junta ao calhamaço imenso de  outros escritos que motivaram tantas pessoas fanatizadas a saírem pelo mundo cometendo atrocidades
A supremacia  da raça branca é o eixo central de uma ideologia de intolerância. A coisa vem de longe, mas foi Adolf Hitler quem  transformou em ação política essas teorias selvagens. Ele nunca escondeu o ódio aos judeus, a necessidade do “lebensraum”,  espaço vital onde os arianos alemães, exemplares puros dos seres humanos perfeitos deveriam viver depois de conquistados às raças inferiores. Hitler contou tudo na ” bíblia” nazista  Mein  Kampf
 que ele teve tempo para escrever durante o período que passou sendo muito bem tratado, na prisão de Landsberg, após o fracassado golpe de Estado, em Munique. No livro traduzido para o português com o nome de Meu Credo, ele antecipa as conquistas que faria quando chegasse ao poder.  Revela, sem constrangimentos  ou metáforas, que os povos eslavos do leste europeu deveriam ser transformados em “escravos do Reich alemão”, e que os judeus,   “üntermensch”, raça inferior, teriam de ser exterminados. A Alemanha, país culto, berço de grandes filósofos, cientistas, músicos, escritores, não se indignou com o que Hitler escrevera, pelo contrário, o livro registrou enormes tiragens, e era, depois de l933, quando os nazistas chegaram ao poder, leitura obrigatória   dos escolares alemães. É interessante assinalar que Hitler não tomou o poder pela força,  embora as tropas dos seus rufiões truculentos estivessem a espalhar o medo pelas ruas. Ele  tornou-se Primeiro Ministro depois que o seu partido conquistou a maioria no parlamento. Ou seja, os alemães cultos, industriosos, tementes a Deus, acolheram majoritariamente as teorias selvagens  de Hitler, e o fizeram líder absoluto.
As idéias estapafúrdias, a exaltação da violência ,  do crime, da intolerância, sempre encontram guarida numa minoria patologicamente insatisfeita, pronta a  ungir personalidades salvadoras, para mudar um mundo, que, na sua visão deformada estaria podre, e isso justificaria todas as violências, como aquela chacina cometida pelo norueguês desatinado.
Há pessoas que estão a ler e a concordar com o xaropada produzida pelo terrorista loiro Anders Breivick.  Alguns se dedicam a imprimir a insanidade ou a espalhá-la pelo mundo, na Internet. O racismo seduz principalmente a brancos europeus , norte-americanos, australianos, canadenses, zelandeses, que vivem em sociedades prósperas e se  sentem ameaçados pela aceitação do multiculturalismo , com o desgosto, para eles, que se acham superiores, de uma forçada convivência com africanos, eslavos, árabes, turcos, ciganos, hispânicos, ou seja, exatamente aquilo que  do alto do orgulho da sua condição étnica, consideram a escória, o rebotalho da humanidade. E é essa gente  de países que em sua grande maioria foram  colonizados, que chega às antigas metrópoles  trazendo suas tradições, suas religiões, seus hábitos, toda uma cultura diferente, que agora, em tempos de crise econômica se torna, na interpretação dos intolerantes, um pesado e desconfortável fardo.    Se esses migrantes são tangidos pela miséria e falta de oportunidades em seus países, muito se deve essa situação ao colonialismo que avançou sobre suas riquezas e os impediu de desenvolver-se. Portugal  não permitia cursos superiores nas suas colônias. Quando Angola e Moçambique se tornaram independentes em 1974, não havia naqueles dois grandes países africanos uma só Universidade, e pouco mais de 20 angolanos e moçambicanos   podiam exibir um diploma de curso superior. Enquanto havia prosperidade econômica, farta geração de empregos, esses grupos agora tão perseguidos eram tolerados como mão de obra necessária, principalmente para a execução de serviços considerados pesados ou insalubres.  
O racismo e a intolerância religiosa  são , infelizmente, duas desgraças que acompanham a trajetória da humanidade desde as primitivas civilizações, provocando  ódio e morticínios.
A desnaturada idéia de que  negros ou mestiços, formam um  grupo humano biológica e intelectualmente inferior, foi defendida com muita ênfase por muitos intelectuais.  No Brasil há nomes tão reverenciados que se declararam abertamente racistas, ou foram,  de certa forma, contaminados pelo preconceito, do qual não escapou nem mesmo um escritor genial como Euclides da Cunha, ou, aqui mais por perto, um Sílvio Romero.  O Conde Gobineau, quando embaixador  da França no Brasil, vivia a sugerir a Dom Pedro II que abrisse as portas  para os europeus a fim de reduzir a influencia  do sangue africano. Ele chegou a predizer o fim  da nossa civilização tropical, levada à degenerescência pela miscigenação. O norueguês genocida repete essa mesma arenga, quando aponta o Brasil como um país de mestiços preguiçosos e ladrões. Ele deveria ser melhor  informado, para saber que aqui, entre os grandes quadrilheiros que têm invadido o poder para assaltar os cofres públicos, a predominância absoluta é de gente de pele branca, alguns até loiros como ele.

A POSSE DE ANGÉLICA E A FALA DE DÉDA


A presidente da Assembléia, Angélica Guimarães, governa Sergipe por 10 dias. Ela não é a primeira mulher  no governo de Sergipe, como se chegou a afirmar. A memória parece curtíssima, pois, há menos de 6 anos   Marília Mandarino era   vice-governadora da Sergipe, e assumiu diversas vezes durante as numerosas e movimentadas viagens de João Alves ao exterior, também, durante um curto período em que o governador esteve enfermo.  Outras mulheres também exerceram  a “curúl  governamental”, como gostava de escrever, um tanto barroco, o jornalista e promotor público Marques Guimarães, incansável ocupante da Secretaria de Imprensa em sucessivos governos. Estiveram  ainda comandando Sergipe por alguns dias, as desembargadoras Clara Leite Resende e  Marilza  Maynard Salgado. Luiz Antonio Barreto,  Gilfrancisco, Ibarê Dantas e outros sergipanólogos de escol , ficam desafiados a esclarecer qual a primeira vez e quantas vezes aconteceu essa prática de transferência do poder ao Legislativo e ao Judiciário, como gesto de deferência.
Essa passagem do governo aos presidentes da Assembléia  e também do Tribunal de Justiça, é uma usual gentileza  dos governadores que se licenciam, e dos vices que não assumem, como forma de homenagear os poderes Legislativo e Judiciário.  Dessa vez, a posse da deputada Angélica Guimarães carrega outros simbolismos de natureza política, que foram, aliás,  bem explicitados  na fala do governador Marcelo Déda.
 Déda   quis  desfazer a impressão de que andaria às turras com o chamado “Grupo dos Amorins”,  uma  vistosa coligação de partidos arquitetada pelo empresário Edvan Amorim e seu irmão  Eduardo Amorim,  recordista de votos  na disputa pelo Senado. No dia seguinte ao das eleição , ele, já era  apontado como o mais forte concorrente à sucessão de Déda.
 Déda,  com espírito leve e veia humorística, perguntou se alguém que estivesse desconfiando de um aliado, que com ele vivesse a se desentender, e dele quisesse distancia, chamaria uma deputada pertencente a esse mesmo grupo e lhe entregaria o governo,  fazendo isso  em perfeita sintonia com o vice Jackson Barreto que, providencialmente, tomou férias e viajou a Europa.
Depois, fez considerações sobre o significado das alianças, das coligações partidárias, da necessidade de construí-las e  de saber conservá-las. Mostrou que um projeto político ,   numa sociedade como a brasileira,   onde não há uma clara clivagem ideológica,  um projeto político somente se torna apto à conquista do poder se conseguir formar alianças abrangentes. Considerou natural a disputa interna pelo poder, e perguntou mais ou menos nesses termos: “Existe hoje em Sergipe alguém que se considere mais legitimamente merecedor de chegar ao governo, mais favorecido pelas circunstancias do que o vice Jackson Barreto”?
Para logo em seguida acrescentar: “Dizem que o senador Eduardo Amorim está de olho na minha cadeira.  Quem disse que eu me importo? Pelo contrário, acho natural,  acho saudável, acho politicamente correto, até porque, confesso que eu também estou de olho na cadeira dele lá no Senado.”
Déda  ironizou ainda as  especulações indicando um distanciamento dele com o prefeito Edvaldo Nogueira, que, bem perto, era só sorrisos.
O que se pode concluir de concreto dessa simbologia da posse de Angélica, dos fatos e versões nela registrados,  da fala do governador e suas habilidades retóricas?
Simples, bem simples. O governador está interessadíssimo em garantir sem arranhões mais profundos, a sua aliança com o grupo dos Amorins, a sintonia até agora perfeita com Jackson Barreto. Mas, certamente, esperaria que tanto Jackson  e Amorim chegassem a um entendimento, e as chapas majoritárias fossem formadas , com ele, Déda, Jackson e Amorim, e todo os aliados trocando fortes apertos de mão, num clima de consenso que abrangesse também o forte grupo do senador Valadares, e não estivessem tão desencontradas as tendências que formam o PT. Um político presente à solenidade, registrou, com estranheza, a ausência  tanto do senador Valadares como a do deputado federal Valadares Filho,  Os dois descartavam ontem qualquer aparência de hostilidade numa ausência que, segundo eles, ocorreu apenas  pelo fato de não terem sido convidados para a solenidade.
Um outro político presente, revelando pendores de futurologista, adiantava a chapa majoritária para 2014: Eduardo Amorim, governador, Jackson Barreto vice, e Marcelo Déda Senador,
  ou o deputado federal Valadares Filho como vice na chapa de Eduardo Amorim e Jackson assumindo o governo, isso porque, há uma interpretação da lei eleitoral que tornaria inviável a candidatura de Jackson a vice, permanecendo no governo. O mesmo político não afastava a hipótese de um rompimento do grupo do senador Valadares, e ele então se tornaria candidato ao governo com o apoio de João Alves, provavelmente de Albano, e somando ainda mais alguns grupos descontentes, inclusive da esquerda. E era admitida também, a hipótese segundo o político nada improvável, de uma candidatura de Jackson ao governo e Marcelo Déda ao Senado, com Valadares Filho na vice, o que significaria,  então, um improvável afastamento do grupo dos irmãos Amorim.

JOÃO, O TEMPO, A PREFEITURA E MARIA


João Alves será candidato mesmo a Prefeito de Aracaju. Durante a campanha ele fará um solene juramento:  Eleito, não pensará em candidatar-se a governador em 2014. Será prefeito por 4 anos e depois encerrará a carreira política, dedicando-se unicamente à  atividade de escritor.   Seria emblemático para ele terminar a vida pública  eleito para o mesmo mandato que exerceu, nomeado pelo governador José  Leite em 1975, sem precisar  do sufrágio popular. João tem, indubitavelmente, uma trajetória política repleta de êxitos.   Governador com três mandatos, ( até agora o único em Sergipe ), e também Ministro do  Interior do presidente Sarney por quatro anos. Nesses  36 anos de vida pública e sucessivas disputas eleitorais, perdeu três delas: em 98 para Albano, em 2006 para Déda , e, novamente Déda em 2010. Mas as derrotas não abalaram muito a sua liderança.  Mantem-se politicamente vivo, sem mandato . E essa sobrevivência  foi conseguida quase sem  suporte partidário, pois o seu pêfêlê, agora DEM quase  derreteu. João tem hoje apenas dois deputados que o defendem solitária e aguerridamente na Assembléia: Venancio Fonseca, líder da oposição,  filiado ao PP, e Augusto Bezerra, ainda do DEM, por falta de alternativas. Na Câmara Federal tem a fidelidade a toda prova do genro Mendonça Prado, agora voando solto com as próprias asas. No Senado, a mulher  recuperando-se de uma longa enfermidade.   Com a saúde restabelecida, Maria do Carmo pensará em disputar   em 2014,  um terceiro mandato.  João, prefeito, poderia ser um excelente suporte para a candidatura de Maria.  Se o conselho do deputado  Augusto Bezerra for levado em conta, João não deixará de ser candidato a prefeito e, se eleito apoiar a candidatura ao governo do senador Eduardo Amorim.
 Amigos mais próximos de João adiantam  a tática que ele deverá seguir.  Repetiria Lula  apresentando-se como  João Paz e Amor, limitando-se a desfilar idéias e projetos criativos para  a capital,  identificando nossos principais problemas e lembrando sempre que a capital ainda precisa de muita coisa antes de adotar o slogan de Feliz Cidade, mas, evitando  críticas pessoais a Edvaldo Nogueira, e até chegado a dizer que, se eleito, procuraria manter um excelente relacionamento  com a presidente Dilma, com o governador Marcelo Déda,  a quem, logo  após a eleição, solicitaria  audiência para uma visita protocolar. Ele desejaria assim acabar a  agressiva combatividade política que foi uma forte característica do seu último mandato, quando marcou a ferro e brasa aqueles que identificava como inimigos.    Buscaria então um entendimento com  a esquerda,  retiraria da cabeça, para sempre, aqueles tratores que derrubaram, impiedosos, barracos do MST no sertão.  Tentaria  reeditar,  numa situação bem diversa,   o ano de 1985, quando caminhou em direção à esquerda, fazendo    proveitosa aliança com Jackson Barreto, com o Partido Comunista.  Tudo isso seria até mais fácil,  pois,   não alimentaria   quaisquer ambições políticas, desejando,  somente, cumprir um último mandato num clima de paz que lhe permitisse trabalhar sem maiores obstáculos.    A depender das circunstancias, há quem garanta,  para tornar mais fácil sua vida na Prefeitura, João até  poderia apoiar ao governo um candidato situacionista, e  abster-se de apresentar  candidato ao Senado, alegando que seria  imenso sacrifício pessoal para Maria enfrentar uma campanha  eleitoral, e, se eleita, exercer outro mandato de 8 anos com as idas e vindas entre Aracaju e Brasília.

NO CABARÉ O SENADOR SUGERE QUE O SEDUZAM


 Ir ao cabaré, escrito assim mesmo sem o t final da palavra francesa era hábito arraigado entre grande parte dos políticos sergipanos. Chegamos a ter um governador interino que ia aos redutos das chamadas “ mulheres de vida fácil, “acompanhado de ajudantes de ordens da PM, no veículo oficial , chapa preta, número um, que tinha sobre o para-lama dianteiro a bandeirinha de Sergipe tremulando. Houve até um senador que chegou a comparar o cabaré com o céu.
Muitos entendimentos  e também muitas explosivas e até sangrentas  desavenças entre políticos aconteceram em torno de uma mesa animada de movimentados cabarés. Ilustres integrantes do Poder Judiciário eram assíduos freqüentadores dos lupanares, digamos assim, de elite, e um deles, figura rotunda,   exibia-se feliz tendo ao colo a mais cobiçada entre as damas da noite.  
Talvez os jornalistas que criaram um sério fórum de debates em um bar  da 13 de Julho, o  Templo Gelado, e a ele deram o nome de Cabaret, assim, com o t  francês, nem saibam da estreita relação entre política e prostituição, já  que não podemos dizer no bom  sentido, digamos então, literalmente,   que existiu por muito tempo em Sergipe de forma escancaradamente ostensiva.  Dessa forma, o nome é sob todos os  aspectos fortemente emblemático. Ou sugestivo.  Há, toda semana, uma reunião informal no Cabaret,  juntando jornalistas e radialistas que desejarem participar.  É sempre convidada uma personalidade pública para ser entrevistada, ou, melhor dizendo, bombardeada com perguntas absolutamente livres,  desvencilhadas de qualquer cerimônia. O entrevistado da semana que passou foi o senador   Valadares. A entrevista vem recebendo uma profusão de elogios postados nas redes sociais, exatamente porque o senador deu ênfase aos problemas  do Brasil, concentrou sua fala na análise da realidade brasileira, acentuou a importância de medidas  exigidas agora em face do crescimento rápido da nossa economia, que ele atribuiu em grande parte a um eficaz projeto de erradicação da pobreza.
 Mas, evidentemente,  Valadares  não poderia deixar de falar sobre política, então, a respeito de uma  possível candidatura dele ao governo, disse: : “Depois de 20 anos fora do governo e de 3 mandatos de senador, só se houver uma recaída. Se pintar um novo amor, se eu for seduzido, até poderei disputar as eleições de 2014 “.
Quem se dispõe a seduzi-lo?

AMY WINEHOUSE BATENDO À PORTA DO CEU


Chegou,  batendo à porta do céu, a cantora inglesa precocemente morta pelo ávido consumo de um coquetel de drogas. Cantando, parodiava o trecho de uma música de Bob Dylan:  Knock, knock,  knockin’  on heaven’s   door,  assim: “ Crack, crack,  crackin’ on  heaven’s door..”.......