A luta pela sobrevivência que Charles Darwin identificou no mundo animal foi o processo responsável pela evolução das espécies. Aquela guerra começou no pântano, onde amebas, primitivas formas de vida, se foram agrupando em novas células, formando organismos mais completos, que, bilhões de anos depois, já eram anfíbios, vertebrados, herbívoros, carnívoros, finalmente o homo sapiens. A implacável disputa onde os fortes sobrepujavam os mais fracos
foi transposta pelos pensadores da direita extremada para o terreno das ciências políticas e sociais. O nazi-fascismo então surgiu como a ferramenta de manipulação na prática política daquelas teorias selvagens O manifesto de ódio e insanidade divulgado pelo terrorista norueguês Anders Breivik, é mais uma página repugnante que se junta ao calhamaço imenso de outros escritos que motivaram tantas pessoas fanatizadas a saírem pelo mundo cometendo atrocidades
A supremacia da raça branca é o eixo central de uma ideologia de intolerância. A coisa vem de longe, mas foi Adolf Hitler quem transformou em ação política essas teorias selvagens. Ele nunca escondeu o ódio aos judeus, a necessidade do “lebensraum”, espaço vital onde os arianos alemães, exemplares puros dos seres humanos perfeitos deveriam viver depois de conquistados às raças inferiores. Hitler contou tudo na ” bíblia” nazista Mein Kampf
que ele teve tempo para escrever durante o período que passou sendo muito bem tratado, na prisão de Landsberg, após o fracassado golpe de Estado, em Munique. No livro traduzido para o português com o nome de Meu Credo, ele antecipa as conquistas que faria quando chegasse ao poder. Revela, sem constrangimentos ou metáforas, que os povos eslavos do leste europeu deveriam ser transformados em “escravos do Reich alemão”, e que os judeus, “üntermensch”, raça inferior, teriam de ser exterminados. A Alemanha, país culto, berço de grandes filósofos, cientistas, músicos, escritores, não se indignou com o que Hitler escrevera, pelo contrário, o livro registrou enormes tiragens, e era, depois de l933, quando os nazistas chegaram ao poder, leitura obrigatória dos escolares alemães. É interessante assinalar que Hitler não tomou o poder pela força, embora as tropas dos seus rufiões truculentos estivessem a espalhar o medo pelas ruas. Ele tornou-se Primeiro Ministro depois que o seu partido conquistou a maioria no parlamento. Ou seja, os alemães cultos, industriosos, tementes a Deus, acolheram majoritariamente as teorias selvagens de Hitler, e o fizeram líder absoluto.
As idéias estapafúrdias, a exaltação da violência , do crime, da intolerância, sempre encontram guarida numa minoria patologicamente insatisfeita, pronta a ungir personalidades salvadoras, para mudar um mundo, que, na sua visão deformada estaria podre, e isso justificaria todas as violências, como aquela chacina cometida pelo norueguês desatinado.
Há pessoas que estão a ler e a concordar com o xaropada produzida pelo terrorista loiro Anders Breivick. Alguns se dedicam a imprimir a insanidade ou a espalhá-la pelo mundo, na Internet. O racismo seduz principalmente a brancos europeus , norte-americanos, australianos, canadenses, zelandeses, que vivem em sociedades prósperas e se sentem ameaçados pela aceitação do multiculturalismo , com o desgosto, para eles, que se acham superiores, de uma forçada convivência com africanos, eslavos, árabes, turcos, ciganos, hispânicos, ou seja, exatamente aquilo que do alto do orgulho da sua condição étnica, consideram a escória, o rebotalho da humanidade. E é essa gente de países que em sua grande maioria foram colonizados, que chega às antigas metrópoles trazendo suas tradições, suas religiões, seus hábitos, toda uma cultura diferente, que agora, em tempos de crise econômica se torna, na interpretação dos intolerantes, um pesado e desconfortável fardo. Se esses migrantes são tangidos pela miséria e falta de oportunidades em seus países, muito se deve essa situação ao colonialismo que avançou sobre suas riquezas e os impediu de desenvolver-se. Portugal não permitia cursos superiores nas suas colônias. Quando Angola e Moçambique se tornaram independentes em 1974, não havia naqueles dois grandes países africanos uma só Universidade, e pouco mais de 20 angolanos e moçambicanos podiam exibir um diploma de curso superior. Enquanto havia prosperidade econômica, farta geração de empregos, esses grupos agora tão perseguidos eram tolerados como mão de obra necessária, principalmente para a execução de serviços considerados pesados ou insalubres.
O racismo e a intolerância religiosa são , infelizmente, duas desgraças que acompanham a trajetória da humanidade desde as primitivas civilizações, provocando ódio e morticínios.
A desnaturada idéia de que negros ou mestiços, formam um grupo humano biológica e intelectualmente inferior, foi defendida com muita ênfase por muitos intelectuais. No Brasil há nomes tão reverenciados que se declararam abertamente racistas, ou foram, de certa forma, contaminados pelo preconceito, do qual não escapou nem mesmo um escritor genial como Euclides da Cunha, ou, aqui mais por perto, um Sílvio Romero. O Conde Gobineau, quando embaixador da França no Brasil, vivia a sugerir a Dom Pedro II que abrisse as portas para os europeus a fim de reduzir a influencia do sangue africano. Ele chegou a predizer o fim da nossa civilização tropical, levada à degenerescência pela miscigenação. O norueguês genocida repete essa mesma arenga, quando aponta o Brasil como um país de mestiços preguiçosos e ladrões. Ele deveria ser melhor informado, para saber que aqui, entre os grandes quadrilheiros que têm invadido o poder para assaltar os cofres públicos, a predominância absoluta é de gente de pele branca, alguns até loiros como ele.