EDUARDO CUNHA É O
PRIMEIRO MINISTRO
Dilma conseguiu não ser nem presidenta nem
presidente.
Nem se sabe agora se temos mesmo um regime
presidencialista, parlamentarista, nem mesmo se somos um Estado laico ou já nos
teríamos transformado em algo parecido com uma teocracia-corporativa e, dela, o
deputado Eduardo Cunha seria o mais poderoso aiatolá. A dúvida seria se
ele encarnaria melhor a figura do sacerdote supremo ou do ¨capo de tutti
capi ¨. Digamos porém que ele de fato estaria sendo uma espécie de primeiro
ministro, enquanto a presidenta encolheu, e, encolheu tanto que correu a
socorrer-se nos seus braços esquivos e pegajosos, que não sustentam, e
também não soltam, e nisso vai completando o seu propósito que é exatamente o
de dessangrá-la para que o seu poder real de Primeiro Ministro fictício de um
parlamentarismo inexistente, mais e mais se torne concreto, efetivo, e
dele faça o melhor instrumento para o atraso social e político do
país, e a expansão maior ainda das suas infinitas ambições pessoais.
Dilma se reduz, assim, a uma presidenta ou
presidente, que somente não é algo parecido com a rainha da Inglaterra
porque, diante da soberana que não manda em nada o Primeiro Ministro
cumpre o protocolo, e a reverencia. Já o Eduardo Cunha não cospe em Dilma,
talvez, porque entenda que estaria a desperdiçar saliva.
Cunha leu, na Câmara, o ritual a ser seguido caso
se instale o processo de impeachment, mas, fez a ressalva de que não cabe a ele
dizer se crimes supostamente cometidos em governos anteriores dariam motivação
legal para um impeachment agora. Cunha parece com uma daqueles médicos
assistentes dos carniceiros que torturavam presos políticos. Permitiam o
ritual da pancada até um limite extremo, antes que o torturado
apagasse de vez.
Cunha não quer matar Dilma, por um motivo muito
simples: Com Temer , ele não continuará sendo o Primeiro Ministro
de um presidente subjugado. Até porque, o vice, substituindo Dilma, logo se
abrigaria numa sustentação bem mais ampla do que a do seu próprio partido, e a
primeira aliança seria com o PSDB, depois, viriam o DEM, PSB, PPS, e tantos
outros.
Por tudo isso, parece até que não seria apropriada
a imagem de um Eduardo Cunha como um todo poderoso primeiro ministro, uma
espécie de Marquês de Pombal
a desfrutar das fraquezas e tibiezas do rei
Dom Jose.
Quem poderia imaginar que uma presidente que quer
ser presidenta, não seria nem uma coisa nem outra, e, eleita duas vezes pelo
Partido dos Trabalhadores, com a sustentação de uma frente quase ampla de
esquerda, dos movimentos sociais, chegaria à condição de náufraga, agarrada à
corda traiçoeira a ela lançada pelo chantagista – mor da República, por
ele ameaçada.
Estamos mais próximos da imagem de uma tribo
castigada pela infelicidade de ter muitos pajés, que fazem, cada um, as suas
pajelanças, e absolutamente não se entendem. E nisso, a tribo toda se vê
desamparada.