sábado, 12 de janeiro de 2013

DEPOIS DA SECA O DILÚVIO



DEPOIS DA SECA O DILÚVIO
Depois da seca sempre vem o dilúvio. Nada a ver com a frase famosa de veracidade  duvidosa atribuída a Luiz XV:   ¨Après moi le deluge ¨, depois de mim o dilúvio.  No caso do rei francês, ele demonstrava a sua absoluta despreocupação ou total irresponsabilidade com os destinos do país que governava, no caso nosso,  aqui, incrustados neste sofrido semiárido nordestino, o final  do ciclo de estiagem é, quase sempre, literalmente  um dilúvio.  O ribombar dos trovões e o clarão dos relâmpagos sinalizam ao sertanejo que chegou o tempo das trovoadas, e, com ele,  se vai a seca, e as águas caem descomedidas,   as enxurradas  ganham força pelos declives pedregosos,   arrastam árvores, casas, estradas, alagam cidades, os leitos secos dos rios transbordam,  e encharcam as caatingas. As estiagens mais longas quase sempre findam dessa forma que pode ser alvissareira ou também desastrosa. Durante as secas,   fica-se a esperar o dilúvio,  que é uma espécie de salvação e também castigo. Agora, o final  da estiagem com o cenário apoteótico de trovões e raios anunciando a tempestade tão aguardada, ao que tudo  indica,  este ano não irá acontecer. Na manhã de quinta-feira dia 11, o Secretário do Meio Ambiente Genival Nunes, na sala  de situação agora  up  to  date, ou seja,  dotada  do  fino da tecnologia disponível,  e a sua equipe de técnicos liderada pelo meteorologista e também atormentado sertanejo,  Overland Amaral,  mostravam a quantas anda a temperatura nos oceanos que circundam o nosso continente, Atlântico,  aqui junto, Pacífico,  às nossas costas,  bem longe, todos marcados por extensas manchas  azuis, o que, explicava  com charme feminino e precisão cientifica  a meteorologista Aline Moura, é o pior sinal para quem vive  a ansiosa espera da chuva. 
Aquelas manchas indicam águas frias, locais de onde não saem os ventos e a umidade que viriam se transformar em aguaceiros aqui pelo nordeste. As previsões são decepcionantes. A seca vai continuar. Por conta dela,  a farinha, nosso tão básico e popular alimento, já chega aos sete reais o quilo, antes,   comprava-se o insubstituível produto da suculenta mandioca por menos de dois reais. E farinha sempre foi o sustento do pobre. Pelo sertão contam-se às dezenas de milhares  o gado e as miunças  mortas. Pelas estradas já fazem protestos jogando ossos dos  animais perdidos. Rubem Braga,  lembrado vagamente agora no seu centenário, escreveu sobre promessas feitas por prefeitos cariocas para acabarem as inundações, e o fato de  que elas acabavam mesmo,   quando as chuvas terminavam.  Se o cronista, da sua clausura de Ipanema onde contemplava com olhar de gênio o resto do mundo, houvesse passeado os olhos pelo nordeste em tempo de seca, teria escrito  sátira semelhante.
Olhando as imagens tão vivamente coloridas, e ouvindo as previsões,  estavam o vice –prefeito de Canindé,  Avelar  Feitosa,  e o professor Chico Dantas, enviados pelo prefeito Heleno Silva para se inteirarem do comportamento dos ventos, das temperaturas, da umidade, das nuvens, das águas do oceano, todos aqueles elementos que formam a complexidade do clima, tudo aquilo a ser traduzido em duas simples palavras: seca, ou chuva. E o que ouviu Heleno, na outra ponta da linha em Brasília, foi: Seca. Ai, continuou mais insistentemente a sua jornada de pedidos ou quase súplicas pelos ministérios, lembrando-se daquelas  promessas de ajuda emergencial,   recursos, projetos, ações consistentes, que,  de uma vez por todas nos livrem dessas secas que não têm fim, dessas secas sem   a cena final do dilúvio. No dia seguinte, pela manhã, reuniam-se em Canindé todos os prefeitos do semiárido, o secretário da agricultura Zezinho Sobral, os deputados Valadares Filho e João Daniel. Formavam um afinado coro: eram as vozes da seca. A reunião terminou com  o anuncio da criação do Conselho do Semiárido, formado pelos prefeitos, presidido por Heleno Silva, secretariado pelo ex-prefeito Frei Enoque. As vozes da seca vão ganhar amplitude.

MÁRIO JORGE UMA MANHÃ DE SOL E OS ¨PARAISOS ¨ DO POETA



MÁRIO JORGE  UMA MANHÃ DE
SOL E OS  ¨PARAISOS ¨ DO POETA
 Ele carregava em si a  centelha da genialidade. E aqueles que são privilegiados e torturados por aquela iluminação, costumam ser coerentemente inconsequentes, ou vice versa.  Costumam   descrer,  contestar valores, na sofreguidão criativa de aposentá-los e fazer nascer,  no lugar  das convenções impostas e aceitas,  o consenso  alcançado pelas consciências livres.    Os inconformados iluminam o caminho das utopias. Em 1964 havia um menino imberbe, sentindo que algo de trágico acontecera,   rabiscava  cadernos a anunciar o nascer da revolta e do poeta,  tatuado  pela réstia da centelha que logo iria crescendo,   e lhe incendiaria a mente, no tempo curto entra a adolescência,  a puberdade, e a juventude exígua até os 27 anos. Naquela manhã  de janeiro, bem cedo, e já tão  ensolarada,  todas as inconsequências e todas as coerências se juntaram, e ele acelerou o fusca, sempre em direção ao mar e aos horizontes da Atalaia. Sobre a ponte, o choque, o corpo de quase tísico estendido ao chão de asfalto. Paulo Barbosa,  derramando lágrimas sobre a bata branca, onde não havia uma só mancha de sangue, outras pessoas chegando, numa estrada  por aquela época, dos anos setenta,  quase deserta, e alguns perguntando: Quem é esse menino ? . Por que ele morreu assim ?  A resposta seria fácil, mas   teria de ser precavidamente sussurrada, e seria esta:  -De uma forma ou de outra, as ditaduras sempre assassinam.
 Por ali,  naquela hora, passou alguém que ia  ao Aeroclube fazer um  vôo matinal,  sonhando com  os ares translúcidos  que uma chuva madrugadora lavara. Ajudou Paulo Barbosa a retirar o corpo da estrada,  depois,  sobrevoava a ponte.  Quase encadeado pelo sol ainda mais forte, pareceu enxergar o morto adejando por perto,  tocando   flauta,  saindo dos seus ¨paraísos ¨,  e pedindo passagem para ingressar no outro, com certeza, limpo de alma. Distraiu-se, o piloto, ou deixou-se ficar absorto, o motor andava a 1500 rotações, era preciso acelerar.
O corpo estirado, morto, depois,   aquela espécie de anjo, ou querubim, já flutuando e flauteando pelos espaços,  era o poeta Mário Jorge. Agora,  faz 40 anos que ele morreu.  Sua criação instiga os estudiosos, motiva teses acadêmicas, seu modo de viver, sua trajetória libertária, adorna uma biografia contemporânea de um tempo  que era triste e ameaçador, mas também,  explosiva, irreverente,  e , mais ainda, desafiadoramente criativo, demolidor de valores caducos, inspirador de¨ sacações ¨ que germinavam no tédio oleoso  da opressão e se  corporificavam, fosse em Woodstock, nas ruas de  Paris, nas marchas dos cem mil no Rio de Janeiro, ou nas noite ébrias da Atalaia.  Procurem,  na poesia de Mário Jorge, nos desenhos, nos textos de Mário Jorge, e irão encontrar  a metáfora ou o epigrama daquele tempo.
Ana Lúcia, irmã de Jorge  se fez, como tantas outras pessoas,   - Ilma Fontes destacadamente entre elas,-  curadora da obra,   organizou  eventos , percorreu as quatro décadas desde que se foi o poeta, cada vez mais vivo na sua obra concluída naquela manhã de sol de janeiro, lá se vão,  40 anos.

APRENDENDO COM O MST



 APRENDENDO COM O MST
 O Movimento dos Sem Terra com suas ocupações, suas brigadas um tanto agressivas exibindo foices e facões,   incendiando pneus pelas estradas  ou invadindo prédios públicos,  é  o cenário preferido pela mídia para  ser exibido nos seus noticiários, tudo,  invariavelmente, acompanhado de comentários negativos sobre as ações de um grupamento de indivíduos agindo à margem das leis. A opinião pública é, assim, diariamente  trabalhada para reagir a esses que desrespeitam os fundamentos do Estado Democrático de Direito.
O MST seria então um movimento de usurpadores,  de gente desocupada e anárquica, ( antes eram subversivos) que não respeita os sagrados direitos de propriedade . Estariam a perturbar a paz dos que há séculos se apoderaram das terras e das gentes, desde quando  a Nação se formava,  depois,  à sombra do Império cúmplice, da Velha República parceira,  indo além, até a revolução de 30, transformando o ímpeto mais atabalhoado do que modernizante dos ¨tenentes ¨ em   inação e condescendência.  Assim, foram sobrevivendo os  ¨coronéis ¨do latifúndio, e do atraso,  eternizando-se  a pobreza e o desemprego nos campos, onde não chegara a atualidade das leis trabalhistas, os mais comezinhos direitos. No Engenho Galileia, em Pernambuco, formou-se o embrião do que seria tocado à frente com o nome de Ligas Camponesas, de Francisco Julião. O golpe de 64,  identificou nos esfarrapados camponeses, inimigos perigosos que era preciso esmagar. Formaram-se as milícias   de  pistoleiros e agentes da repressão,  e surgiu um episódio ainda obscura da nossa História que a Comissão da Verdade precisa desvendar para que surja uma página esclarecedora sobre quem mandou e quem executou camponeses, no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, nos massapês do nordeste, onde senhores de engenho se fizeram, mais uma vez, senhores da vida e da morte. Faz 26 anos surgiu em Sergipe o MST. Quem agora fizer uma incursão pela história desse período, vai constatar avanços  sociais, transformações econômicas, que desfazem inteiramente aquela imagem que a mídia poderosa inculca na cabeça desavisada das pessoas. Os estudantes, os intelectuais, todos os interessados em modernizar Sergipe, têm muito a aprender com  a luta dos  Sem  Terra. No Congresso, o vigésimo sexto,  realizado semana passada, se fez um balanço  das ações , se fez, sobretudo,  um elenco de  ações já consolidadas,  de projetos em execução ou a executar, sobretudo, daqueles ligados à relação dos assentamentos com o meio ambiente, o combate ao uso indiscriminado dos venenos agrícolas, a recuperação das matas, a preservação das nascentes, a proteção aos rios,  a formação de quadros politizados e  tecnicamente qualificados, a erradicação do analfabetismo no interior daquilo que os  preconceituosos denominam de ¨Quadrado Burro ¨ ,numa alusão desprimorosa à geometria dos assentamentos.
João Daniel, Esmeraldo, Gileno, Careca, Dilma,   Vanessa,  e tantos outros dirigentes e militantes, deram aulas de organização, de ação política coerente, que deveriam ser analisados com maior atenção pelos doutorados ¨embieis¨,  que tratam de mercado, competitividade, políticas corporativas, buscando caminhos para a sobrevivência do capitalismo. Talvez, no MST, eles pudessem encontrar a síntese entre concepções que se chocam, até hoje sem remédio: a do livre mercado  fora de controle,  e a da estatização que vira as costas para a liberdade de iniciativa .

TRÊS VOTOS EM SERGIPE



TRÊS VOTOS EM SERGIPE
 Candidato á presidência do Senado, Renan Calheiros deve receber os três votos dos senadores  sergipanos. Tanto Valadares, como Maria do Carmo e Amorim, já teriam sinalizado apoio ao colega alagoano.

NEGANDO E QUERENDO



NEGANDO E QUERENDO
 O deputado federal Almeida Lima continua insistentemente negando que esteja pavimentando o retorno ao PMDB e ao convívio pacífico com o primo, o vice-governador   Jackson Barreto.  Os desentendimentos que levaram os dois  a momentos de fúria, estariam sendo amenizados através das ações de amigos comuns.  Marcélio Bonfim, o ¨Velho¨ aguerrido e impetuoso militante, quase manipulador de bombas subversivas, nos tempos perigosos, hoje aquietado chacareiro, ainda cultivador de sonhos, imagina alianças que livrem Sergipe de um perigo próximo, e que ele tão bem identifica. Amigo de Almeida ele não o enxerga fora dessa construção, onde estaria a esquerda e os conservadores não indiferentes aos interesses de Sergipe.