terça-feira, 31 de maio de 2011

RETRATO DO POETA QUANDO NU


Vadeiam anjinhos barrocos com glúteos bem rechonchudinhos pelas igrejas do mundo todo. O barroco brasileiro deu a eles uma certa sensualidade tropical,  precavidamente disfarçada naquela feição, - já que tratamos deles - necessariamente angelical, que é inseparável atributo de todos os querubins.  Na capela Sistina pelo interior dos austeros muros do Vaticano há nus esteticamente explícitos. Perderia a arte, perderia o mundo, se a romana e católica igreja, seus papas e cardeais, não houvessem absorvido aquele sentimento de admiração pelo belo, pela cultura, que, apesar dos purificadores churrascos inquisitoriais, sobreviveu no mecenato aos artistas, no zelo pelos códices, pelos velhos manuscritos gregos, árabes. E nos murais das igrejas, nas bibliotecas dos conventos, o renascimento ganhou força. O homossexualismo grego elevou à perfeição as linhas masculinas. E o ideal apolíneo é a estética sensual dos machos helênicos, que, como recomendava Platão, se tornavam melhores combatentes quando integravam falanges guerreiras de amantes, fortes, musculosos, ágeis e apaixonados.
Tudo isso soa estranho, até repulsivo para outra categoria de machos que identifica a beleza na estátua de Apolo, mas só sente uma coceira de excitação olhando  os peitinhos, as coxas  juntas, delineando uma vagina tímida e adornada pela geométrica poesia de uma bunda maciamente rígida,  proporcionalmente carnuda, assim, nem faz falta a cabeça perdida da Vênus de Milo. Trata-se aqui de gostos estéticos idênticos, mas de preferências sexuais distintas. E nesse terreno que é um tanto inconsútil se faz indispensável à plena aceitação da diversidade.  O Supremo Tribunal Federal acaba de dar proteção legal à opção sexual de cada um ao reconhecer a união estável entre casais do mesmo sexo, ao mesmo tempo, a presidente Dilma Roussef  não permitiu que nas escolas públicas se distribuísse um material supostamente de advertência contra a homofobia, mas, que acabava por fazer apologia à opção homossexual.  Nesse sensível quesito da diversidade, há que se ter olhos atentos para que se evite uma derrapagem do bom senso. Há uma diferença de bom tamanho entre senso comum e bom senso. Para que exista avanço, progresso, desafio, superação de preconceitos, o senso comum que quase sempre carrega o hálito pesado do conservadorismo reacionário terá, sem escapatórias, de ser enfrentado, algumas vezes derrotado, posto à margem, esquecido. Mas é indispensável que exista o bom senso para que se faça com sucesso essa jornada, espécie de desvendamento do futuro. Aos revolucionários, que juntaram a poesia ao fuzil, como fez Guevara, ou aos poetas somente, embriagados no devaneio dos versos, dos álcoois e da loucura, sempre coube um papel precursor. Aos que quiseram revolucionariamente construir, não houve alternativa a não ser o apego tático, ou a rendição ao bom senso. Mas há os poetas sonhadores, insatisfeitos, anárquicos, embevecidos no desvario da transcendência da arte, que pouco se dão trabalho de consultar os manuais vezeiros e useiros das regras aceitas do senso comum, também, aos escaninhos da mente onde se escondem vestígios do bom senso. Um poeta assim é Araripe Coutinho, a boteriana figura de uma nudez não inteiramente desvendada, no ensaio palaciano que lhe rendeu fama, e não apenas de uns parcos quinze minutos. No caso de Araripe, monstro de criatividade e intimidades reveladas, há ainda, além de tudo, aquela avassaladora ânsia, uma espécie de furor das entranhas, na manifestação agressiva de uma talvez insatisfeita homossexualidade. Isso o fez buscar o cenário do Olímpio Campos para um ensaio fotográfico, onde exibiu, quase exibiu, não fossem os cafonérrimos raminhos de flores, todas as reentrâncias ou protuberâncias adiposas de um corpo obeso.  E o pior de tudo é que o rosto crispado, quase austero, parecia uma tentativa de imitar as feições carrancudas de alguns ocupantes antigos daquele palácio, que ali fizeram bons ou mal sucedidos ensaios como figurantes no cenário cambiante do poder. Faltou ao poeta, quem sabe, um vasto bigode, suíças, ou afilados cavanhaques. Se os tivesse, se tornaria o clone despido de algum presidente do Estado de antes da revolução de 1930.  Em si mesmo, o ensaio fotográfico foi um desastre estético que em nada condiz com a preciosidade dos textos em poesia ou prosa que Araripe produz.
Vivesse na década de vinte de um século que já se foi, o gesto de Araripe estaria alinhado na criação niilística de Tristan Tsara, o poeta do dadaísmo.  O dadaísmo encantou a Salvador Dalí, que até pintou, por puro exibicionismo egoísta, ou não, a sua Gala. Mas Gala era a sua mulher, com a qual ele anunciava ter relações tão intensas, finalizadas depois com aquele balbuciar primevo da infância: dá, dá, dá. O dadaísmo, o nada, que a tudo servia, até mesmo para o gozo sexual e o abstracionismo da sua arte e da sua vida. O nosso dadaísta, - sem nenhum trocadilho infame- Araripe Coutinho, é artista atemporal, ele se permite cometer, ou aventurar-se por aventuras insólitas, neste século onde a poesia some sufocada pela pragmática objetividade que a realidade exige. Há de admitir o poeta, todavia, que o governo cujo titular pode até compreender essas ousadias, a elas não poderia ser indiferente. Por dever legal está preso a um juramento, cujo conteúdo em grande parte é determinado pelo senso comum, exatamente aquilo que inspirou revolucionários ingleses. Tendo executado um rei antes que os franceses o fizessem, eles resolveram elaborar e seguir normas não escritas para a boa convivência democrática, que serviram de modelo a uma boa parte do mundo.
Além do mais, há quem garanta que no dia ou na noite em que se fez o apressado ensaio, ao ver o seu palácio invadido por quem ele chamaria de pederasta, o general interventor Mainard Gomes se pôs a gritar para o seu companheiro de rebeldias revolucionárias: Soarino, Soarino, pegue um rebenque, corra ali e dê umas bordoadas naquele moleque desavergonhado.  Depois se fez o silêncio. O general Interventor voltou à sua realidade, entendeu que estava em outro plano.
Mas, sem os compromissos do ritual, das liturgias do poder que exigem e impõem respeito aos símbolos do Estado e da República, sejamos condescendentes com o poeta, autor de tantos livros, ele mesmo, junto com outro poeta, Mário Jorge, que se foi aos 27 anos, os dois únicos sergipanos primorosos fazedores de poesia, que estão a merecer, como personagens centrais, duas teses elaboradas por doutorandos na UFS e na UNIT.
Façamos então uma subscrição pública para que o poeta Araripe, no auge da fama de homossexualismo performático por ele iniciada, possa ir a Paris. Lá encher os lábios de um untuoso e resplandecente carmim, e no cemitério Père Lachaise deixar gravado no mármore branco do túmulo de Oscar Wilde o seu comovido beijo, repetindo um gesto que centenas de milhares de pessoas já fizeram, homenageando o gênio homossexual vítima dos preconceitos do seu tempo.              

AS LIÇÕES DA CHUVA


Aquilo que acontece todos os meses no sofrido verão paulistano ocorreu, surpreendentemente, agora em maio na nossa Aracaju tão desacostumada com calamidades dessa natureza.  Não tivemos felizmente mortes a lamentar, maiores danos nas áreas da periferia, onde quase sempre coisas assim provocam efeitos devastadores. São poucas as nossas favelas, são mínimas as nossas áreas de risco, penduradas em encostas deslizantes.  Houve os avisos da Defesa Civil, alertada pela previsão quase sempre correta do meteorologista Overland, mas a intensidade da chuvarada superou todas as expectativas. Garantem que foi o maior temporal já desabado sobre Aracaju nos últimos trinta anos.
A Prefeitura atuou rápido e com eficiência. Dessa forma parece que só teríamos então que comemorar a superação de um momento que poderia nos ter trazido gravíssimas consequências. Até se poderá fazer essa discreta comemoração, mas, é preciso retirar lições da forte chuva, da inusitada inundação. A cidade está crescendo um tanto despreocupada e desordenadamente. Multiplicam-se as áreas pavimentadas, os edifícios, ocupam-se áreas conquistadas ao mar ou aos alagados. Há poucas áreas verdes, não tem havido a preocupação em criar cada vez maiores espaços para a absorção das águas. Veja-se então o que aconteceu com os Jardins, um exemplar caso de imprevidência na ocupação urbana. Contra a conurbação que só nos trará no futuro mais e mais problemas, é preciso traçar com urgência uma política nova de aproveitamento do espaço urbano, com mais praças, mas parques extensos, mais árvores plantadas, muito mais terrenos livres para a absorção das águas, novos canais, desobstrução dos existentes, enfim, algo mais intensivamente voltado para a prevenção de calamidades, que, parece, de agora em diante se tornarão mais e mais frequentes. Fortalecer a qualidade de vida em Aracaju significa também criar uma cidade capaz de resistir bem às intempéries. É preciso aprender boas lições com a chuva.

RETALHOS DE UMA VIAGEM (1) O URSO CALORENTO E O AFFAIR DOMINIQUE


Um urso polar branquinho junta-se aos filhotes e à sua ursa, e todos se aglomeram sobre  pedras à sombra de um alto muro no  Jardim  Zoológico de  Raúna . Protegem-se do calor de dezesseis graus positivos, coisa rara naquelas latitudes extremas, alguns quilômetros abaixo dos sessenta e seis graus e trinta e três minutos, marca do paralelo que delimita o início do círculo polar ártico.  Ainda não é verão na Laponia, mas um sol precoce anda a estimular os finlandeses a anteciparem festivamente a chegada da estação em que o sol, mesmo descambado pelo horizonte, quase nunca desaparece. Por perto da espaçosa residência dos ursos brancos, dormitam quietos ao sol outros ursos marrons, ainda encontrados nas florestas entre a Finlândia e a Rússia. Aproveitam o calor, acumulam energias para hibernarem depois durante o longo tempo do gelo. Há linces também, que cochilam deitados sobre as costas, pernas abertas como querendo que o sol lhes penetre por todo o corpo peludo. O Zoo de Raúna é um dos poucos especializados, que junta toda a fauna escassa do ártico.
 O verão mesmo só começa no dia 22 de junho, quando o solstício de verão fará o sol brilhar a meia noite. Mas os dias já são longos.  O Joulupukki, Papai Noel em finlandês, ainda está em férias primaveris. Retorna ao trabalho dia primeiro de junho, na sua casa quase em cima da linha imaginária do círculo ártico, nas proximidades de Rovaniemi, a pequena capital da extensa Laponia, quase despovoada. São apenas cento e sessenta mil lapões que convivem com duzentas mil renas, bichos importantes. Atraem turistas e têm carne e pele valorizadas. Fazem parte, com destaque, da economia de uma região inóspita que, todavia, exibe uma inigualável qualidade de vida. A carne da rena deve agradar apenas ao finlandês, que se alimenta com uma comida rica, todavia insípida.  Apenas num cardápio assim, desgraciosamente neutro para as papilas, uma carne tão macia quanto destituída de sabor, pode ser considerada atrativa.
 O Jolupukki, (pronuncia-se iôulupuqi) atende no verão e durante todo o inverno. Explica um folheto do Centro Ártico que o Papai Noel, fica ali no topo da terra por uma questão logística: Dalí fica mais fácil descer no seu trenó puxado pelas renas, (ou seriam chifrudos alces?) e fazer seu trabalho natalino, atendendo a toda a criançada do hemisfério norte. Talvez seja por causa dessa logística preferencial que boa parte das crianças do hemisfério sul nem tenha notícia do Joulupukki do norte rico, que os esquece, ou fica longe demais para atendê-los com eficiência.
 No dia que se espicha, há tempo para um roteiro a ser feito bem mais ao norte. Chegando além de Sodankilya, cidade acima do paralelo sessenta e oito, onde o sol da meia noite é mais visível, e também as auroras boreais, numa temporada  que, todavia, só começa a partir de outubro chegando a março. Mas elas, fenômeno de uma luminescência fantasmagórica  iluminando  os céus hibernais sombrios, andam escassas, quase onze anos rareando por falta de intensidade na coroa  do sol, que, em explosões gigantescas, equivalentes a milhões de bombas atômicas, expele uma energia, o chamado vento solar. Nos polos, em contato com a atmosfera, geram o espetáculo de cores cambiantes e movediças. Diz a lenda finlandesa que uma raposa ártica se põe a correr naquelas noites outonais e de inverno, e remexendo a neve com seu rabo peludo, produz fagulhas de luz que se espalham pelos céus, as auroras boreais.
Entrando por Sodankilya começa a estrada do sol da meia noite. Está deserta, é apenas uma rota vicinal, sem acostamento, mas, num canto é possível parar nas meias luas que se formam ao longo da estrada modesta. São vinte e três horas e quarenta minutos. Sopra um vento frio vindo do fundo do ártico, lá das lonjuras da Sibéria. Começou varrendo os campos vastos das tundras, agora se esbate sobre a taiga. É o bóreas.  As árvores imensas, cuneiformes, que formam a floresta característica, a taiga gelada, se curvam e produzem um som que lembra motores de aviões distantes. No horizonte nuvens esparsas e negras encobrem o sol que ainda aparece, e se formam cores que sugerem a presença de bruxas e duendes. Passa pela memória a lembrança de um texto da velha Crestomatia do curso primário, escrito por Jose de Alencar, sobre o entardecer. Mas é um entardecer tropical. Ali, em plena noite, os pássaros cantam, fazem contraponto com o vento numa polifonia estranha que lembra as sinfonias de Sibélius. Aliás, ele, um nórdico, ali se deve ter inspirado. Escurece um pouco mais e, na volta, quase às duas e trinta da madrugada, ressurge o sol, que faz um trajeto estranho, uma espécie de montanha russa pelo horizonte polar.
Em Paris, no que é talvez o mais simpático e acolhedor 3 estrelas da cidade, o Mayflower, bem junto ao Champs Elisées, um porteiro bem falante saúda  brasileiros lembrando o sucesso do presidente Lula. Ele é socialista, diz então, baixinho, para que não chegue aos ouvidos do chefe de direita, eleitor da filha de Le Pen, que a França agora, nessas eleições, vai votar num socialista como aconteceu antes com François Mitterrand, e repete o que dizem nas ruas grupos de manifestantes: Sarkô a la merde. Para ele o escândalo que envolveu o ex-dirigente do FMI, o francês Dominique Strauss Khan, é pura armação de interesses contrariados dos norte americanos e ingleses. Onde já se viu humilhar um homem daquele jeito, algemá-lo como se fosse um bandido? E completa: Dominique é um francês elegante, bonito, rico, acostumado a aventuras extraconjugais que sua mulher tolera, e não iria perder a cabeça diante de uma mulherzinha americana, loirinha, com rostinho bonitinho e corpo de lagartixa. Ainda que fosse uma brasileira afrodescendente, com aquelas ancas bonitas, fazendo voluteios enquanto arrumava a cama do apartamento.

Mulheres resgatam identidade cultural da restinga


Araçá, araticum, cambuí ou cambucá. Você já ouvir falar? Popularmente conhecidas como frutas do mato e pouco encontradas no meio urbano, essas são algumas espécies frutíferas, ao lado das mangabeiras, que compõe o bioma da restinga, região geográfica definida por marés, mangues e dunas e que pode ser encontrada em municípios como Pirambu, Indiaroba, Barra dos Coqueiros, Japoatã, dentre outros.
O rico ecossistema da região da restinga garante aos moradores destas comunidades duas principais fontes de renda: o manejo de mariscos e a cata e comercialização de frutas. No entanto, diante do processo de modernização do campo, muitas espécies frutíferas nativas de locais da restinga como Aguilhadas (Pirambu) e Pontal (Indiaroba) foram perdendo o valor de comércio e o manejo da mangaba foi um dos poucos que resistiram aos processos de mecanização da agricultura.

O Projeto das Mangabas


Foi a partir de um diagnóstico desta realidade que a Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai) em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS,) articularam o projeto Catadoras de Mangaba gerando Renda e Tecendo Vida em Sergipe, aprovado em outubro de 2010 pelo Programa Petrobrás Desenvolvimento e Cidadania.
Ao percebermos o impacto com que a cata da mangaba articulava e unia as mulheres da restinga em torno da identidade das catadoras, demos início a um trabalho que tem como um dos objetivos o resgate cultural dos sabores pertinentes ao ecossistema onde a mangaba está inserida, explica a Profa.Dra. Sônia Meire Azevedo de Jesus, coordenadora do projeto na UFS.    
A perda de práticas tradicionais ocorre, principalmente, em detrimento do processo de modernização do campo que caracteriza-se por uma organização do trabalho em agricultura baseada na monocultura que esgotam os recursos naturais, distinto daquele praticado nos sistemas agrofamiliares. A imposição cultural de valores urbanos no meio rural também propaga um estilo de vida distante da realidade dos moradores daquela região, estimulando valores culturais que produz consequências na organização de vida dos moradores da restinga.
Uma das implicações deste modelo produtivo é a desvalorização de características locais e a desqualificação dos conhecimentos tradicionais. Prática antagônica aos sistemas agroflorestais e familiares que privilegiam a diversidade e especificidades do local onde os produtos são plantados e mantem um relacionamento sustentável com o meio onde está inserida a cata da fruta.
O trabalho com sistemas agroflorestais pode possibilitar a criação de resistências nas comunidades e, ao mesmo tempo, estimular novas práticas sustentáveis e o sentimento de pertença. Pode-se citar, além da Ascamai e o projeto Catadoras de Mangaba gerando Renda e Tecendo Vida em Sergipe, o Movimento das Mulheres Catadoras de Mangaba de Sergipe, além de outros grupos organizados que vem defendendo as próprias áreas de reserva, dentre outros, que são exemplos de organização popular e tem apresentado contra-proposta, ao modelo de produção agrícola imposto na restinga.

A necessidade da organização dos moradores da restinga


Atenta para não deixar cair no esquecimento saberes culturais tão ricos e característicos do nosso Sergipe, a Ascamai, através de uma das linhas de ação do Projeto, tem buscado promover o reconhecimento, por parte dos moradores da restinga, da importância cultural do ecossistema e dos saberes culturais pertinentes à sua região.
Através de oficinas de agroecologia, mais de 600 mulheres catadoras de mangaba de sete municípios sergipanos - Indiaroba, Japoatã, Barra dos Coqueiros, Estância, Itaporanga D´Ajuda e Pirambu, tem discutido a importância e o valor que a cata da mangaba, prática cultural e econômica das mulheres, tem para a manutenção de um modelo agrícola sustentável. Nas oficinas, as mulheres são encorajadas a olhar para suas comunidades e reconhecer o valor desaberes tradicionais como, por exemplo, a época certa para a cata de frutas, como o araçá e o ariticum, o artesanato, a pesca, dentre outros. Explica o engenheiro florestal e instrutor em agroecologia RamSashi.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

BOSCO MENDONÇA NA DESO


O psicólogo Bosco Mendonça assume a presidência da DESO alterando uma rotina de engenheiros que sempre compunham a diretoria da empresa. Bosco, ex-deputado, ex-vereador, político experiente, é também um administrador tarimbado, e já demonstrou qualidades de gerente eficaz em outros cargos por onde passou e que nada tinham a ver com a sua formação profissional. A DESO é, sem duvidas, um imenso desafio que exigirá do psicólogo e talentoso político, o pleno exercício de todas as suas múltiplas competências.

FERRARI E OS PREFEITOS


A recém criada Secretaria que cuida do desenvolvimento urbano chefiada pelo engenheiro Sergio Ferrari transformou-se na meca que os prefeitos freqüentam cada vez mais assíduos e numerosos. Todos, de lá invariavelmente saem sem poupar elogios à forma como são recebidos por Ferrari e à objetividade e presteza com que são tratadas as reivindicações que apresentam.

JACKSON E O TRIBUNAL DE CONTAS


O vice-governador Jackson Barreto não se limitou, na interinidade, a tocar o governo de forma discreta e cuidadosa. Ele foi mais longe, entendendo que tinha obrigações institucionais a cumprir,e para isso seria necessário superar obstáculos, deixar para trás uma etapa da sua vida política caracterizada pela luta e pela impetuosidade verbal. Recebeu em palácio a visita atenciosa, diplomática e sobretudo protocolar, da presidente do Tribunal de Contas Isabel Nabuco de quem já fora amigo e depois desentendeu-se por conta dos atropelos da vida política. Jackson comportou-se rigorosamente como mandaria o figurino da elegância e do respeito institucional. Fez as devidas homenagens à mulher que hoje comanda com eficiência o Tribunal de Contas. Dois dias depois, Jackson entrava no Tribunal de Contas após um período de mais de vinte anos, para prestigiar a posse do conselheiro Clóvis Barbosa nomeado para ocupar o cargo de Ouvidor da recém criada Ouvidoria do Tribunal de Contas.
De Isabel e Jackson ficam os dois gestos a serem registrados nos anais da civilidade política.

REQUIÃO LÁ AUGUSTO BEZERRA AQUI


A destemperada e preconceituosa agressão do deputado Augusto Bezerra ao jornalista Célio Nunes é coisa bem pior do que a truculência do deplorável senador Roberto Requião, despejada no plenário do Senado contra um jornalista que apenas tentava dele ouvir uma resposta. O senador agiu certamente por um impulso, um reflexo do seu caráter intolerante e autoritário. Poderá, depois, dizer que agiu num momento de irreflexão. Já o deputado Bezerra ao tuitar, escreveu, por conseguinte pensou , repensou, teve tempo suficiente para meditar sobre a barbaridade que cometeria. Escreveu o deputado a respeito de Claudio: “Dizem que você é viado e eu nunca o destratei e sempre lhe respeitei”.
O infelizmente representante do povo sergipano com a grosseria deseducada, chula e repugnante, postou no tuiter a própria imagem deplorável do seu caráter.

QUANDO MATARAM PITITÓ ( as repercussões )


A propósito de matéria aqui publicada domingo antepassado sobre a execução de Pititó, na sua época um homem temido e ágil no gatilho, recebemos algumas manifestações de pessoas que o conheceram e que acrescentaram informações ao que sabíamos sobre aquele que construiu uma fama de valentia e coragem pessoal, até ser morto pela polícia sergipana.
Do economista Antonio Carlos Mota. Diretor da EMSURB, capelense, portanto conterrâneo de Pititó recebemos o seguinte e-mail:” Li com atenção seu artigo sobre Pititó. Ainda menino o conheci em Capela, cidade que ele freqüentava sempre e onde tinha amigos. Costumava fazer ponto no Bar de Napú. Era o local de encontro dos mais endinheirados da cidade, e porque todos eram bem tratados pelo propietário, Napoleão Goes Barreto. Algum tempo depois esse bar foi batizado por Ary Cabral Vieira, o Ary do Proveito, como Bar Organização do Serviço. Era que Napú ao dialogar com qualquer pessoa, sempre falava: “OLHA A ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO “, principalmente se umas cervejas já tivessem subido para a cuca. Lembro que, certa feita, o chefe do destacamento policial, se não me engano o tenente Erivaldo, ao saber que Pititó estava no bar do Napú, afirmou que iria prendê-lo. Que fez o destemido ao saber. Chamou um monte de crianças, colocou-as dentro do seu carro e passou a dar voltas e mais voltas pela então praça 15 de novembro, centro comercial, com o carro sobre o passeio da praça. Foi um Deus nos acuda, a polícia sem coragem de enfrentá-lo, e, o mais preocupante, não podia atirar, já que os meninos estavam a bordo. Eu quase levei um puxão de orelhas da minha mãe ao chegar em casa chateado por não ter conseguido entrar no carro. Ao que me recordo, em Capela, Pititó sempre tratou a todos bem, porém era realmente muito temido.”
A vereadora Mirian Ribeiro telefonou para dizer que conheceu Pititó quando ele ainda era muito jovem e aparentava ser calmo, sem demonstrar qualquer tendência para a vida de violências pela qual depois enveredou. A família da vereadora e advogada Mirian Ribeiro era amiga da família de Pititó, e o pai dele, o pecuarista e usineiro Pedro Ribeiro era padrinho de batismo de Mírian.
O memorialista e escritor Murilo Mellins conta episódio que viveu e do qual Pititó foi participante, para com isso demonstrar o outro lado pacífico do homem que se tornou conhecido e temido em todo Sergipe. Conta Mellins que no final da década dos cinqüenta vivia numa casa na rua de Estancia, entre Sirirí e Simão Dias. Na sua casa estava hospedado o músico Pinduca, que se preparava para ir ao aeroporto tomar um avião com destino ao Rio de Janeiro. Não havia telefone e para ir até a “Praça de Automóveis “ a distancia não era pequena. Além de tudo, a mala de Pinduca era pesada e volumosa. Foi quando apareceu Pititó, que era amigo de Mellins e com ele freqüentador da noite aracajuana. Sabendo do problema não hesitou, colocou a mala sobre a cabeça e convidou Pinduca a acompanhá-lo até a Praça Fausto Cardoso onde ficavam estacionados os carros de praça. Assim, o músico pode viajar e chegar ao Rio a tempo de atender aos seus compromissos artísticos.
De Shirley Ribeiro, recebemos o e-mail: “Sou Shirley Ribeiro, sobrinha neta de Pititó. Sempre rondaram na minha família as histórias deste tio-avô e suas peripécias. Gostei muito de saber um pouco mais da passagem dele pela terra. No texto você cita Paulo Costa como jornalista e promotor público. Lendo com a minha avó, ela me relatou conhecer bem o homem citado na reportagem e ficou muito curiosa em saber se o escritor do texto, você, com o mesmo sobrenome Costa, tem algum parentesco com o Paulo.
Aguardo resposta.
Resposta: O Costa de Paulo, tem tudo a ver com o Costa do escrevinhador. Ele é meu pai.

O QUE É ISSO COMPANHEIRO?


Chico Dantas, o professor e advogado, conceituado no exercício das duas dignificantes profissões, é também militante político, ex- discípulo atento de Brizola, coerente nas suas posições de esquerda sem perder o sentido da modernidade e da evolução. Hoje, depois de passar pela Câmara de Vereadores de Aracaju, continua sendo um quadro político que incorpora ação e pensamento. Foi ele um dos responsáveis pela adesão do pastor Heleno Silva, líder sertanejo, ao projeto que levou Marcelo Déda ao poder. Administrador experimentado, Chico Dantas chegou no momento exato para superar problemas que no governo Albano Franco rondavam a SEGRASE, e depois a Prodase. Comandando aquelas estatais saiu-se com honra, dignidade e comprovação plena da sua capacidade como gestor eficiente. Ocupa hoje, exatamente por essas qualidades tão reverenciadas por Marcelo Déda, a Secretaria de Governo, sendo um dos mais próximos e atuantes auxiliares do governador. Antes , no primeiro mandato, foi diretor –presidente do DETRAN, uma repartição que até mesmo pela abrangência e complexidade da sua atuação, se transformava em objeto de escândalos, forjados ou não. Chico Dantas atravessou quatro anos `a frente do DETRAN sem que um só ato desabonador lhe tisnasse a administração. Nesse período transferiu ao Estado mais de cinqüenta milhões de reais dos cofres sempre fornidos do Departamento de Transito.
Chico Dantas é homem digno, e isso é plenamente comprovado num estado onde pela sua pequenez todos se conhecem tão bem. Fica estranho, agora, o açodamento como se comportam alguns, talvez em busca de um espaço de notoriedade na mídia, forjando acusações vazias e investigações sem nexo.

ALBANO DANDO TEMPO AO TEMPO


Gosta o ex-governador Albano Franco de guardar frases para ele transformadas em sábios aforismos, e que sempre lhe chegam pontualmente à memória em exatas ocasiões nas quais cada uma delas melhor se encaixa. Anda agora a martelar a cabeça de Albano uma das frases ditas por Augusto Franco, e que ele relembra com o carinho que sempre acompanha todas as lembranças relacionadas ao seu pai. A frase: “Mais importante do que o negócio é o sócio no empreendimento “. Política, evidentemente, não deve ser confundida com negócio, mas, correligionários, parceiros na mesma empreitada partidária podem ser enxergados como uma espécie de sócios especiais. Com eles se compartilham projetos, se definem posições, até se dividem sonhos. E os “sócios “ tucanos de Albano andam a causar-lhe ultimamente sérios dissabores. O PSDB em Sergipe de fato sofreu uma intervenção, e essa interferência se fez sem que Albano, fundador do partido, nele há dezoito anos, sequer merecesse uma simples explicação. Contemporizador, Albano procurou a cúpula tucana. Conversou com o senador Sérgio Guerra, com o senador Aécio Neves. Dos dois ouviu justificativas e foi alvo de gentilezas, mas eles deixaram bem claro que o minguante PSDB é inseparável companheiro de jornada do destroçado DEM . As duas siglas terminarão fatalmente por se juntar, e estarão assim unidas nas eleições do próximo ano e na de 2014. Trata-se de um projeto estratégico para a oposição que enfrenta agora uma síndrome de debandada dos seus integrantes, e dessa forma a intervenção em Sergipe se processou para que se consolide, a adesão a qualquer candidatura que João Alves pretenda disputar, seja em 12 ou em 14. Foi exigido de Albano um rompimento imediato com o prefeito Edvaldo Nogueira, mas isso seus mais próximos amigos como a vereadora Mírian Ribeiro e o dirigente da Funcaju Valdoilson Leite não admitem sequer colocar em discussão.
Albano tem um corredor de partidos para percorrer, e todos lhe oferecem nítidas e palpáveis vantagens políticas, O presidente do PTB em Sergipe, ex-governadopr do Amapá Gilton Garcia, assegura que as portas do seu partido estão abertas para Albano, de quem foi Secretário da Casa Civil e da Segurança Pública. Já o deputado federal Heleno Silva que foi secretário da agricultura no segundo governo de Albano, afirma que o melhor caminho para ele seria o PSD, onde abrigaria sem maiores problemas a vereadora Mírian Ribeiro, que faria o transito partidário sem riscos de perda de mandato. Heleno não vai para o PSD, porque, sendo pastor da Igreja Universal, teria recebido do seu bispo a recomendação para permanecer no PRB, todavia, se diz um aliado entusiástico do governador Marcelo Déda, integrado ao seu projeto político, muito próximo hoje do vice –governador Jackson Barreto, e acrescenta ainda que ao iniciar-se na vida política, sem qualquer consistencia ideológica, embora em outro partido, o PT foi, na verdade, a sua escola política onde começou a estabelecer diferenças entre projetos que incluem o povo e os que não sabem exatamente o que é o “povão.” Já o prefeito da Estancia, ex-tucano, o engenheiro Ivan Leite, com um pé fincado no PSD, entende que aquele partido seria o desaguadouro natural dos insatisfeitos com o PSDB, e nele poderia acomodar-se com todas as honras devidas o ex-governador Albano Franco.
Albano, como é do seu estilo, continua dando tempo ao tempo, talvez em busca da razão que surge com a sucessão dos dias ou dos meses , e, depois de uma rápida viagem a Lisboa e a Paris, no retorno, anunciará a decisão. Sem ter contudo qualquer ojeriza a João Alves, de quem já foi tanto aliado como adversário, Albano, pelas circunstancias, não o enxerga mais como um aliado a ditar seus rumos políticos.

O BRUCUTÚ DO PARANÁ E O BANALIZADOR DO MARANHÃO


O Senado Federal já viveu dias bem melhores. E menos indignos. Comissão de Ética era formada por senadores que podiam retirar sem embaraços uma folha corrida, fosse na Justiça ou na polícia. O Senado “era o céu” como certa vez emblematicamente o definiu um senador sergipano. A Câmara Alta naqueles tempos estava reservada quase sempre a encanecidos senhores no ápice de uma vida pública trilhada com irretocável correção. Assim, antes de baixarem à sepultura, se descrentes na possibilidade de lhes serem abertas as portas do paraíso, esforçavam-se, e muito, para poder transpor os umbrais austeros de um belo edifício que ficava ainda no Rio de Janeiro, na confluência da Avenida Rio Branco com a Praça Paris, um dos caprichos mais bem elaborados do renovador prefeito Pereira Passos. A transferência para Brasília, lá, envolvido agora pelas linhas revolucionariamente modernas de Niemayer, não causou o abastardamento do Senado. Não foram as imensidões do cerrado goiano que o distanciaram dos sentimentos e dos padrões de comportamento majoritariamente usuais da sociedade brasileira. A Casa que “era o céu” criava e tolerava alguns privilégios, que eram até diminutos se comparados a um Parlamento onde um parlamentar substitui a palavra, o diálogo, alicerces da civilidade e da democracia, pela brutalidade da força que é a forma covarde de defesa ou fuga dos arrogantes. O senador Roberto Requião, o brucutu do Paraná, ao agredir o jornalista e perpetrar o desprezível gesto de desrespeito à liberdade de expressão, foi acobertado pelo quase completo silencio conivente dos seus, - seriam ilustres ou deslustrados pares?- que assim, parecem fortalecer aquela generalizada impressão de que aquilo que “era o céu” vai deslizando perigosamente ladeira abaixo,- se é que ao céu se sobe ou dele se desce por caminhos escarpados- e poderá chegar o dia em que o povo definitivamente o veja como um prostíbulo. Se isso acontecer a democracia estará em perigo, pois ela não sobrevive por muito tempo se os representantes do povo continuarem a fazer um strip-tease da credibilidade.
Depois do brucutu das araucárias, entra o banalizador dos babaçuais. Sarney, o vitalício presidente, justifica o gesto de Requião e o define como” sintoma de um temperamento forte.”
Sarney é, sem favores, o grande banalizador de todos os absurdos. Como presidente da República ele banalizou a tsunami avassaladora da inflação que o seu governo inerme permitia ultrapassar os cem por cento ao mês. Agora, banaliza o gesto estúpido, inadmissível, de um Senador da República que se transforma em beleguim intolerante, e arranca um gravador das mãos de um repórter, não pede desculpas depois, pelo contrário, se vangloria da insanidade e insulta o jornalista e a imprensa. Sarney banalizou o gesto, como banalizou e continua a banalizar tantos escândalos, inclusive a tragédia social do “seu” Maranhão.
Assim, de banalização em banalização, terminará aparecendo quem tenha saudade daquele autoritarismo extremo do general Newton Cruz, e até sugira erguer-lhe uma estátua insultuosa à democracia, com o rebenque nas mãos no dia inglório em que expulsou os representantes e cerrou as portas do Congresso.

A LISTA FECHADA E AS REAÇÕES


A propósito do artigo aqui publicado no domingo passado, quando entendemos como positiva a adoção da lista fechada como meio de reduzir a compra de votos, recebemos um grande número de manifestações, quase todas discordando e condenando a idéia da elaboração prévia pelos partidos de uma relação com os nomes que seriam levados aos eleitores.
O desembargador aposentado Pascoal Nabuco, um estudioso do processo eleitoral, sempre em busca de soluções para as nossas volumosas mazelas, faz sérias restrições `a lista fechada, e resume todo o seu desencanto, fazendo seu, o ceticismo crítico de Miguel Arrais exposto no seguinte episódio: Um deputado muito entusiasmado com a idéia da lista fechada, tentava transformá-la num projeto de lei, e sabendo que Arrais não era muito simpático à iniciativa foi tentar convencê-lo e conseguir sua adesão, que seria importantíssima naquele momento. Depois de gastar por muito tempo seu precioso latim, enquanto Arrais absolutamente mudo apenas balançava a cabeça, o deputado imaginou que aquilo seria um gesto de aprovação e concluiu a arrastada arenga, perguntando: Então, governador, posso contar com o seu apoio?
Arrais que quase cochilava, se recompôs rápido, endireitou-se na cadeira e perguntou com um meio sorriso nos lábios: ”Tudo bem deputado, e quanto vocês vão cobrar de cada um que fizer parte da lista? “
O desembargador Pascoal mostra-se descrente em relação ao controle da influencia do poder econômico no processo eleitoral. Aplaude, todavia, as idéias práticas que possam contribuir para reduzir a influencia do dinheiro na caça ao voto. Lembra que tanto se fala em financiamento público de campanha, sem que se leve em conta que a maior parte das despesas legais já são custeadas ou asseguradas pelo poder público através da propaganda eleitoral gratuita, do tempo reservado aos partidos para a propaganda partidária, do fundo partidário, que é em dinheiro vivo, havendo, além de tudo isso, uma legislação quase draconiana a limitar os gastos com a campanha. Mesmo assim, diz o desembargador aposentado, ainda corre livremente o caixa 2, porque ninguém pode com eficácia conter a ânsia por dinheiro dos vendedores de votos, e da vontade de comprá-los de quem é candidato e consegue recursos para efetuar a compra. Trata-se pois, de uma doença grave que foi contaminando o organismo político, e cuja cura exigirá educação, conscientização política desenvolvimento econômico e social, enfim, um processo de aperfeiçoamento que só se consolida ao longo do tempo e do continuado exercício democrático.
O ex-deputado Jorge Araujo, hoje numa das principais assessorias do governador Marcelo Déda, é crítico até contundente da lista fechada, que ele considera antipática até pelo nome. Segundo Jorge, a escolha das cúpulas partidárias definirá a eleição, sendo beneficiados aqueles que forem antecipadamente bafejados pela preferência dos caciques e colocados nos primeiros lugares das listas. Não se reduzirá, no entender do ex-deputado, a influencia do dinheiro, que poderá acontecer antes, dentro dos partidos, e. da mesma forma depois, no decorrer da campanha. O eleitor, ou quem os “lidera” e se dispõe a vender-lhe os votos, irão procurar exatamente os primeiros da lista em busca da “estrutura “de campanha, - esse eufemismo que disfarça a compra e venda- e caso recebam uma negativa, irão, da mesma forma percorrer as outras listas, até conseguirem o que desejam e assim, a eleição continuará da difícil para quem não for rico ou receba o apoio forte de quem tenha dinheiro para garantir-lhe a eleição.
Diversos outros políticos se manifestaram contundentemente contrários à lista fechada. Todos eles, contudo, concordavam no mesmo ponto: a coincidência das eleições, é a melhor e mais objetiva providencia para reduzir a influencia do poder econômico na conquista do voto.

OS SAVEIROS DA COTINGUIBA


Saveiros eram embarcações de madeirame forte. Tinham perfeito formato hidrodinamico , sendo impulsionados pelo vento que enchia suas duas velas. A principal, num longo mastro, era erguida e baixada correndo pelas adriças, ao invés de suspendidas inteiras com em outras embarcações do mesmo porte. O saveiro usualmente era tripulado por três marinheiros. Um ficava ao leme, outro cuidava das velas, erguia e baixava as bolinas laterais, e um terceiro ajudava nas manobras de atracar e desatracar empunhando uma longa vara que movimentava o saveiro tocando ao fundo, enquanto as velas não se enchiam. Saveiros em grande quantidade navegavam pelo rio Sergipe, viajavam ao longo da região da Cotinguiba indo e voltando com cargas quase sempre destinadas ao Mercado de Aracaju. Transportavam alem de cargas, animais e passageiros, ligando Aracaju à Barra dos Coqueiros, Santo Amaro, Laranjeiras, Maruim, e chegavam até Riachuelo, onde o Sergipe se estreita e torna-se bem raso. Os saveiros enchiam-se de caixas de açucar durante a moagem dos engenhos da Cotinguiba e vinham trazê-las aos navios à vela, depois aos vapores que ficavam ancorados nas proximidades de Santo Amaro. Sem o assoreamento que hoje impede a navegação, os saveiros eram, junto com o trem de ferro, os mais utilizados meios de transporte. Durante a procissão de Ano Novo dezenas de saveiros formavam o séquito fluvial, conduzindo a imagem do cáis de Aracaju até as proximidades da foz, a depender das condições do mar. Saveiros havia que transpunham, audazes, a barra sempre difícil do Sergipe, e aventuravam-se pelo oceano apesar de serem embarcações sem coberta. Iam à Estancia, Pirambú, avançavam pelo São Francisco, juntando-se às canoas de tôlda, numerosas, de velas laterais , paralelas, ideais para as condições do vento sempre de popa, enquanto subiam o grande rio. Talvez, depois do Recôncavo baiano fosse o rio Sergipe onde mais numerosos singravam os saveiros. Mas essas embarcações desapareceram completamente. Segundo o velejador Jorge Luiz Carvalho, que andou a procurá-las ao longo da Cotinguiba, os saveiros aqui não mais existem. Deles não resta um só exemplar ancorado em algum local, ou abandonado sobre as areias de uma praia remota. Ninguem se deu ao trabalho de cuidar da preservação de um só dos saveiros da Cotinguiba.
Melhor sorte tiveram, no baixo São Francisco, as canoas de tôlda. O Frei Enoque, prefeito de Poço Redondo, faz algum tempo, empenhou-se em salvar a última delas que quase já se desfazia pelo tempo de abandono. O ex-prefeito de Piranhas e hoje deputado estadual Ignácio de Loyola, que é por sinal fiel torcedor do Confiança desde os seus tempos de estudante em Aracaju – e é preciso mesmo muita fidelidade para torcer por esses capengantes clubes sergipanos – pois bem, Ignácio recuperou a canoa de tôlda que restava. Hoje ela até transporta turistas que visitam Piranhas. Nos dias festivos de fim de ano, a canoa novinha em folha, fica ancorada em frente à cidade presépio com as velas fulgurantemente iluminadas em várias cores.
Agora, em defesa da preservação dos saveiros do recôncavo, sai o empresário e velejador baiano-sergipano,Sempre engajado nas boas causas, Julival Góes. Ele envia a amigos o e-mail: “A Revista Horizonte Geográfico n 134 chegando às bancas esta semana com a capa, Agua Vai Faltar, presta homenagem ao nosso saveiro de vela de içar, na figura do Sombra de Lua, em reconhecimento ao seu valor histórico e cultural representado pelo tombamento de um exemplar pelo IPHAN. O ato beneficia todos os saveiros, uma vez que eles construíram, juntos, esta história de lutas, glórias e depois ostracismo, mas agora, sendo resgatados e colocados em seus devidos lugares no cenário náutico da Bahia.
Axé, com diria nosso querido Malaca. “
Por aqui, pelas águas sergipanas, onde os saveiros foram tão numerosos, já não se pode encontrar um só remanescente da outrora grande flotilha. Mas fica o nosso desafio e convite para quem se dispuser a procurá-los, e, achando algum ainda em condições de ser recuperado, quem sabe, até se poderia fazer uma campanha para que a restauração acontecesse.



COQUETEL À IMPRENSA 2


Consoante havíamos anunciado, foi oferecido quinta-feira próxima passada no salão principal do Imperial Unaite Clube, um coquetel à imprensa local.
Com a presença dos representantes de todos os jornais diários desta capital e os representantes das revistas Alvorada e Coquetel, teve início a festividade, usando da palavra o Sr.Nelson Bitencourt, gerente do cassino, para saudar os homenageados.
Agradecendo em nome da imprensa falou o confrade João Aguiar representante do Correio de Aracaju. Ao som de afinado “Jazz “foram servidas bebidas finas e sanduiches, proporcionando uma noite alegre aos representantes da imprensa ali presentes e ao seu crescido número de freqüentadores”.
Naquele tempo jornalistas freqüentavam mesmo cabarés autênticos. Eram homenageados pelos empresários do lenocínio e a eles dedicavam textos repletos de reverencias.

COQUETEL OFERECIDOL À IMPRENSA


Hontem à tarde esteve nesta redação o Sr, Nelson Bitencourt, na qualidade de representante do Cassino Imperial, afim de convidar este matutino para tomar parte no coquetel que será oferecido à imprensa da capital pelo propietário do aludido Cassino, amanhã, quinta-feira às 23 horas.
Esta homenagem significativa que o melhor “dancing “de Sergipe prestará à imprensa sergipana é uma demonstração do quanto de organização possui aquela casa de diversões, reunindo em seu amplo salão todos os representantes dos jornais desta capital que certamente não faltarão para com suas presenças, emprestar maior realce ao gesto de delicadeza prestado pelo seu digno proprietário.
Agradecemos de antemão a honra do convite e nos faremos representar.

OS JORNALISTAS NO CABARÉ


Um grupo de jornalistas aracajuanos, criativos e dominados pela inquietante ânsia da notícia, consolidaram uma prática que se revela fértil, extraindo informações dos políticos, principalmente, reunindo-se com eles num espaço a que deram o sugestivo nome de Cabaré. Assim, os mais importantes políticos sergipanos, os mais destacados empresários já foram ao Cabaré. O grupo de jornalistas está dando tratos à bola para descobrir a melhor forma de convidar o Arcebispo de Aracaju, superando o constrangimento que seria, para ele, a reunião em local com nome, no caso, tão inadequado, embora no ambiente possam circular com absoluta tranqüilidade as mais cândidas das freirinhas, se o nome não as afugentasse, todas fazendo o sinal da cruz.
Mas, como revela o pesquisador primoroso e escritor prolífico Murilo Mellins o hábito de freqüentar cabarés verdadeiros e ainda transformar em destacada noticia a ida às casas de tolerância, era comum entre os jornalistas aracajuanos lá pelos anos quarenta, cinqüenta e sessenta.
Destacamos trecho de uma matéria publicada até com cerimonioso texto, no jornal Correio de Aracaju de 1949, a propósito de um “coquetel oferecido à imprensa” pelo famoso empresário de bordeis Nelson Bitencourt, mais conhecido como Nelson de Rubina. A noticia da recepção aos jornalistas no cabaré de Nelson fará parte do novo livro que Mellins está concluindo sobre fatos pitorescos da vida aracajuana.

2 BI PARA O PROJETO CARNALITA


o deputado Estadual Zeca Silva garante que está muito satisfeito por ter trocado a assembléia pela Secretaria da Indústria Comércio e Desenvolvimento. Segundo ele, essa satisfação resulta da possibilidade que está tendo de participar de um momento que considera estratégico para o desenvolvimento econômico de Sergipe. Ele ressalta o investimento de dois bilhões de reais que está sendo realizado agora pela Vale, a fim de iniciar um novo projeto em Sergipe, a produção do potássio através do aproveitamento da carnalita. A atual mina de potássio continuará operando no município de Rosário do Catete, enquanto um outro complexo já está sendo montado em Japaratuba , utilizando um sistema diferente da mina de Taquari- Vassoura onde o potássio é extraído através de imensos tuneis escavados a 400 metros de profundidade. A extração da carnalita se fará de forma diferente, com a perfuração de poços para a injeção de água e gás. O Secretário Zeca Silva diz que outros projetos importantes estão sendo consolidados, tais como a Zona de Processamento de Exportações, o Parque Eólico e o Parque Tecnológico. Segundo Zeca Silva, que na terça-feira entregou ao governador o esboço de alguns projetos, brevemente Marcelo Déda poderá fazer o anúncio aos sergipanos de importantes investimentos com alta capacidade para gerar empregos.

VALMOR E AS ESTRADAS SERGIPANAS


O engenheiro Valmor Barbosa, Secretário da Infraestrutura, assegura que dentro de dois anos Sergipe terá a mais completa rede viária do país. Todo o reduzido espaço territorial sergipano estará cruzado por estradas, algumas de primeira linha, outras de boa qualidade. Ele lembra, à maneira de Lula, que, “ nunca antes na história deste estado foram realizados tantos investimentos simultâneos dos governos estadual e federal, para recuperação ou construção de novas estradas e pontes. “ Assegura que a ponte de Porto do Cavalo que vai reduzir o tempo da viagem entre Aracaju e Salvador ficará pronta este ano, e lembra que aquela ponte será a mais extensa de Sergipe. Nos próximos meses, anuncia o Secretário, estarão sendo inauguradas pelo governador novos trechos de rodovias, entre elas a que liga a BR-10l ao porto, inteiramente recuperada e reforçada para o transporte seguro de cargas pesadas, a Umbauba- Cristinápolis, Frei Paulo – Alagadiço, e trechos inteiramente recuperados de estradas ligando municipios da região do São Francisco. serão iniciados novos trechos como PirambÚ- Pacatuba, Itabaiana-Itaporanga e outros.
Segundo Valmor, dificilmente um outro estado brasileiro superará Sergipe na interligação perfeita com estados vizinhos e na ligaçao entre os seus municípios.

E-MAIL RECEBIDO ---------------------------------------------


“A Aliança Francesa mais uma vez, agradece a este ilustre jornalista e grande amigo pela sua crônica sobre o povo Gaulês.
De escrita tão hábil quanto o traço encantador de Uderzo, grande criador dos célebres Asterix e Obelix, Luiz Eduardo Costa nos proporcionou uma primeira viagem para começar a entender um pouco mais sobre este povo. “
Elódia Caldas Barros
Diretrice des Cours

JOÃO ALVES QUER VOAR COMO TUCANO


João Alves saiu temporariamente da cena política. Deixou o palco e acomodou-se no proscenio a espera de tempos mais favoráveis. A mudez é estratégica, ou, como diz o provérbio: “ É tempo de murici, cada um cuide de si “. E João está cuidando dele. Por aqui, acredita que já tem a força eleitoral necessária para voltar a enfrentar uma eleição quase certamente a de prefeito em 2012. E cuidar dele mesmo, agora, entenda-se, é encontrar bons caminhos que lhe facilitem a caminhada de retorno ao poder, desvios alternativos que o distanciem desse processo de desmonte do DEM, que parece irreversível a partir do instante em que Bornhausen deixou o partido que ajudou a criar, e do qual se tornou o porta-voz acreditado da sua ala mais ainda à direita. A saída de Bornhausen e a debandada catarinense são episódios emblemáticos. Agora, só faltariam Marcos Maciel, ACM Neto, Ronaldo Caiado seguindo o mesmo caminho daquele Salazar catarinense, para que se identifique o instante derradeiro em que alguém terá de apagar a luz. João não quer desempenhar esse papel sem nenhuma glória. Esperar até o fim, pressionar o botão e deixar que as sombras recubram os restos certamente mumificados do antigo pêfêlê. Ele, e de resto todos os remanescentes hoje pefelistas ou demistas, daquela ARENA que, segundo Francelino Pereira era o “maior partido do ocidente” já não alimentam mais qualquer dúvida sobre o final inglório do moribundo DEM. João Alves todavia não quer participar da cerimônia derradeira, as exéquias de um partido em fase terminal. Também não se dispõe a entoar o canto doloroso das carpideiras. Por isso, há muito tempo já começou a mover-se em outras direções, e está inteiramente absorvido pelo ritual da emplumação, esperando brevemente ensaiar o vôo dos tucanos.
Quando a cúpula do PSDB imiscuiu-se numa simples e rotineira eleição para escolha do novo dirigente partidário em Sergipe, frontalmente atropelando Albano, era porque João a todos convencera que ele é, na oposição, o único capaz de tirar o PSDB da letargia onde parece mergulhar sem qualquer chance de recuperação, exatamente porque lhe falta uma identidade, uma marca qualquer que o defina como um partido capaz de traçar metas, ter objetivos e poder alcançá-los. A retórica de João e dos seus liderados, entre eles o deputado Mendonça Prado e principalmente o ex-deputado Jose Carlos Machado, não poderia deixar de causar efeitos no momento exato em que o tucanato nacional também é atingido pela síndrome de debandada que assola o aliado DEM. Albano não parece muito preocupado com o que está acontecendo, tanto assim, que exatamente hoje, deve estar com um grupo de amigos reunido em um movimentado jantar no La Coupole, em Paris, antigo reduto de um grupo muito especial de freqüentadores da rive-gauche, formado por artistas, intelectuais, políticos, escritores. Lá festejando o aniversário de Thais Bezerra, a crise no PSDB, o esfacelamento do DEM, para ele certamente serão encarados com a mesma singularidade com que o francês costumava classificar tudo o que acontecia depois do Equador, ou seja: À La bàs. Lá embaixo, distante, irrelevante.
João, ao contrário, político ferrenhamente político, faz disso uma questão de vida ou morte, de iluminação ou eclipse. A João caberá quase certamente a tarefa desafiadora de dar consistência oposicionista e dimensão física ao PSDB. Não será fácil, mas ele entende que sua performance eleitoral andando quase sozinho, lhe dará fôlego para uma tarefa que não é difícil apenas em Sergipe, mas, já se torna duríssima em antigos redutos do PSDB, como São Paulo, onde o prefeito Gilberto Kassab, criatura saída do complicado tacho das alquimias de Jose Serra, está a alvoroçar o bando até então posto em sossego do tucanato. João Alves será certamente o novo líder tucano, e com ele o partido agora exclusivamente formado por um pequeno grupo, inteiramente fiel a Albano, tomará outra forma, vai ter a feição do pêfêlê. Ganhará a adesão imediata de Jose Carlos Machado, poderá atrair um ou dois prefeitos e até ganhar uma senadora, Maria do Carmo, e um deputado federal, Mendonça Prado, caso, desabrigados com uma possível extinção do DEM , se vejam obrigados a procurar outra morada. E se houver a possível fusão, para os que têm mandato o transito poderá ser feito sem problemas. Enquanto isso, Albano poderá, certamente com a plena aquiescência de Déda, instalar-se no PSD. Se esse caminho que parece ser o preferido pela vereadora Mirian Ribeiro, por Valdoilson, e até Fabiano Oliveira, que afastou-se da política mas não deixa de dar opiniões, não for o escolhido, Albano terá a possibilidade de optar por uma das várias portas que diversos outros partidos lhe oferecem.
Tanto para João Alves como para Albano, surpreendentemente aos setenta, parece que se abre uma nova etapa na alongada vida política, onde os dois não mais irão conviver com cenários eleitolrais onde se abraçam e festejam como antigos aliados, ligados por sólidos laços de amizade, ou se engalfinham, como se fossem eternos desafetos.
Para a senadora Maria do Carmo, se isso acontecer, será um alívio, pois não precisará mais tanger e escorraçar Albano, naqueles momentos delicados e incertos em que o seu marido com ele tenta fazer alianças.

A MORTE DE BIN LADEN UM “FAROESTE” AMERICANO


Existe, arraigadamente na cultura americana, um traço forte dos velhos costumes do far-west que o cinema levou ao mundo, de certa forma agregando um glamour que contracenava com a maldade e a violência. John Wayne nunca estava acompanhado apenas do cavalo, dos revólveres e do rifle 44. Sempre havia um salão, mulheres atraentes que dançavam can-can deixando entrever as pernas, enquanto agitavam as saias estufadas por camadas espessas de entretela . O alongado beijo na boca era o happy-end invariável, mas isso depois que o sheriff trazia, amarrado e atravessado sobre a sela o corpo do bandido morto. Assim, sempre a morte era o corolário inseparável da Justiça, a afirmação do primado da lei e do bem. E surgia também o herói, o homem corajoso justo e justiceiro que arriscava a vida enfrentando os fortes e desalmados, para proteger os fracos inocentes e indefesos.
Nada representaria tão bem a realidade americana como essa metáfora do far-west, o bem vencendo o mal, sempre com a providencial ajuda do gatilho.
Com a crença dos puritanos fundadores a incendiar-lhes as almas, os americanos construíram um império sem nunca tirar o dedo do gatilho, e confiantes que o mal , isto é, os seus inimigos, inapelavelmente terminariam abatidos com as pernas e cabeça balouçando sobre o dorso de um cavalo, para demonstrarem, mortos, que houve a vitória e se fez a Justiça. Exterminaram os índios e espalharam rebanhos e campos cultivados pelas grandes planícies, depois, saíram com seus clippers, veleiros rápidos de bucaneiros, que logo virariam canhoneiras pelos mares do mundo, subjugando e exterminando. Fizeram guerras infindáveis invadindo países, mas sempre sob o lema da liberdade, da democracia, da Justiça. Enriqueceram, foram lutar na Europa e decidiram a Primeira Guerra, quando suspeitaram que os países dessangrando-se no longo morticínio , todos, seus credores, terminariam por falir antes de se aniquilarem mutuamente. Entravam em cena os grandes banqueiros e os poderosos mercadores da morte, os magnatas da indústria bélica. Depois, salvariam a civilização, quando ajudaram a extirpar do mundo a peste do nazi-fascismo. E então deram uma mãozinha para que o aliado inglês perdesse suas colônias, e logo desapareceria o império onde o sol nunca se punha.
A “guerra fria” foi um grande negócio . Nunca os Estados Unidos ganharam tanto dinheiro e nunca se fizeram tão poderosos. Depois, com o desmoronar da União Soviética, surgiram como a única e incontestável potencia hegemônica. Acabando o confronto, nada seria pior para o complexo industrial militar do que uma era de paz. A boa notícia, para eles, foi o surgimento dos Bin Ladens, gente ensandecida e disposta a matar indiscriminadamente, atiçada pelo fanatismo. Aparecia a oportunidade, um outro pretexto para ganhar dinheiro: a guerra contra o terror. Mas aí tiveram a surpresa de constatar que esses loucos que lhes abriam a perspectiva de grandes lucros, poderiam ser incontrolavelmente perigosos. Por trás deles estava o enorme manancial de ódio que a arrogância do Império espalhara pelo mundo. Gente humilhada, espezinhada, vítima de ditadores e de sistemas opressivos que o Império sustentou; gente desalojada das suas terras e que a elas não podem voltar porque o Império arma e garante quem os desalojou.
Na noite em que Bin Laden foi executado jovens americanos encheram as ruas em clima de euforia, exaltando o seu país, encantados com o sucesso da operação que exterminou o “”grande inimigo,” depois de uma longa caçada de mais de dez anos. Quando desmoronaram as torres gêmeas atingidas pela precisão calculada de um fanatismo ao mesmo tempo ensandecido e eficaz, outros jovens clamaram por vingança. Naquele instante ninguém se perguntou onde estariam, efetivamente, as causas motivadoras de todo aquele ódio assassino. Falaram em vingança, em guerras, e logo os jovens que lamentaram a catástrofe estariam como buchas de canhão morrendo em outros palcos, onde a certeza da eficiência do gatilho os levou a lutar e a morrer, no Iraque, no Afeganistão. Lá caçaram terroristas, lá prenderam alguns infelizes e os torturaram sadicamente no campo de concentração de Guantánamo, uma réplica quase exata de outras prisões que os nazistas construíram. Depois de tudo isso, onde estava o homem mais perigoso do mundo, o terrorista que valia premio de cinqüenta milhões de dólares, quando chegaram, descendo de helicópteros, os comandos de elite que o mataram? Bin Laden, desarmado, dormia em espaçosa cama estendido entre suas duas mulheres. Nem havia a proteger-lhe um pelotão de combatentes. A casa bem visível, destacando-se entre construções simples, estava, não nos ermos de uma montanha, mas numa cidade paquistanesa, bem ao lado de uma base militar e a pouca distancia da capital. Nela escondia-se quase desprotegido e isolado, valendo-se de um moto-boy para comunicar-se com o mundo, o homem tão procurado. Até encontrá-lo, consumiram-se trilhões de dólares, em duas sangrentas guerras; transformaram o mundo num campo de manobras guerreiras, pisaram sobre os direitos humanos, fizeram pouco caso de fronteiras e da soberania de vários países.
Naquela retardada e facílima ação que resultou na morte de Bin Laden, encontraram o que faltava para encher de orgulho patriótico uma população que foi trabalhada para acreditar que os Estados Unidos estão acima do bem e do mal, e que seus exércitos espalhando a morte substituem a ira divina, voltada contra a maldade, a injustiça e a opressão. Nas cerimônias fúnebres dos seus militares mortos pelo mundo a fora, sempre lembram que eles merecerão o céu, porque morreram lutando pela liberdade. Nada muito diferente dos mulás fundamentalistas, que prometem o paraíso povoado por voluptuosas virgens a todos os que se explodem em nome de Alá.
Por que um homem como Bin Laden, rude, fanático, primitivo, conseguiu atrair tantos adeptos, tanta gente disposta a se transformar em mártires de uma causa que consideram santa?
Se conseguissem uma resposta consistente e sábia para essa pergunta, os Estados Unidos nem precisariam fazer duas guerras, gastar bilhões numa caçada, armar tropas de elite onde cada homem super treinado, dispara uma média inacreditável de 400 tiros por dia.
É o excesso da crença no gatilho, e o desprezo da razão. O far-west sem nenhum glamour da realidade americana.