A ESQUERDA NA ERA
PÓS- DILMA E PÓS – PT
Se o trabalhador que saiu das fábricas, o estudante que saiu
das faculdades, das escolas, o camponês
que encostou a enxada e foi pisar no asfalto, se aquele mar de gente que encheu
as ruas mostrando, sobretudo, que Lula não está morto, e que o impeachment não
é uma atitude a ser tomada sem riscos de graves ocorrências; se tudo isso não
adiantar, e um impeachment comandado por um degradado moral que se chama
Eduardo Cunha avançar, a presidente será afastada, mas, dessa forma o país não
terá paz.
Antes que isso se
consume e surja a ameaça concreta de gravíssimos tumultos, a presidente poderia
evitar o que seria uma desgraça para o país,
começando, na hora certa, a negociar uma
renúncia honrosa. E isso dependerá de uma iniciativa dela própria, movida pelo interesse
maior do país. Dilma deve iniciar um respeitoso
diálogo, democrático e republicano com todos os setores políticos, com
a sociedade, para traçar uma agenda de
retirada programada, antes , formalizando-se um pacto de honra pelo Brasil. Lula não poderá estar ausente desse processo, como
também os movimentos sociais, para que se
possa promover o entendimento e a pacificação nacional através de um
consenso que consiga refrear os
ressentimentos e diluir os ódios. Uma presidente que não consegue mais sequer
nomear um ministro, já está politicamente deposta, e não será bom para o Brasil
que a agonia se prolongue.
As ações contra a
posse de Lula têm motivações políticas, mas , num ambiente totalmente adverso Lula não terá muito o que fazer, na hipótese
improvável de vir mesmo a ser ministro.Todavia, as ruas nessa sexta já
demonstraram que ele conta com uma base social forte que não ficará inerte. Um
sensato desembargador federal ao cassar uma das
liminares, disse que não cabe ao Judiciário envolver-se em questões
político-partidárias e que a palavra final deverá ser do STF.
Agora, o que precisa
fazer a esquerda brasileira é começar a pensar o futuro,
na iminente era pós-Dilma. A
direita, tanto a civilizada quanto a absolutamente incivilizada, tipo Bolsonaro
e companhia, irá ganhar espaço, com a
aura de terem sido seus integrantes, os
protagonistas da queda de um governo e de um partido, marcados pelo estigma da
corrupção .
Os erros do PT,
permitiram a ressurreição do que pior
existe na política brasileira, e esse rebotalho surge com força, e dará muito
trabalho.
Em São Paulo, o PSDB troca o vereador Andrea Matarazzo,
efetivamente um social-democrata, pré-candidato a Prefeito da Capital, pelo enfatiotado janota João Dória, cujas
qualidades se resumem a ser um solícito valet de chambre, bem maquiado, da presunçosa e esnobe aristocracia paulista.
João Doria Junior, o dândi, filho de um ex-político paulista que se tornou mais
conhecido como João Dólar, vai ter de trocar as grifes, os relógios Rollex,
para começar a visitar a periferia paulistana, onde, se alguma vez esteve, foi
com o perfumado lenço de cambraia ao nariz.
O respeitado senador
Cristovão Buarque, nome que deve ser
referencial para futuros embates políticos, dizia, semana passada no Senado, que a derrocada de Lula e do PT, arrasta,
também, toda a esquerda para o limbo do desprezo, ou, pior ainda, da execração
popular.
É preciso começar a pensar num Brasil onde a clivagem ideológica agora se acentuou,
e até absurdos como a ¨ameaça comunista ¨ estão sendo revisitados, isso, enquanto os americanos desembarcam festejados em Cuba, e lá irão fazer bons
negócios. 26 anos transcorridos desde o fim da guerra fria, por aqui virou moda
alertar para o perigo de uma ¨invasão cubana ¨. A extrema direita se torna agressiva, e vai às ruas pedir ¨ intervenção militar, ¨ o fascismo adota as
cores do neo-liberalismo global, e um louco incendiário, Donald Trump, torna-se candidato à presidência dos Estados
Unidos, e poderá até vencer as eleições. O fascismo globalizado é rancoroso,
racista, intolerante, fanático. Aqui, pelo sul do país, trogloditas que têm a
suástica nazista tatuada ao corpo, andam a agitar a bandeira anti-brasileira do separatismo, a defender a odiosa tese da supremacia da raça
branca, o mesmo discurso nefasto de Adolf Hitler que levou o mundo à sua maior
hecatombe.
Na era pós-Dilma, a esquerda terá de passar por um aggiornamento , sem o
qual perderá o bonde da História. E a História demonstra, que, enquanto a
extrema direita produz ditadores e guerras, a esquerda, desde que não se
contamine pelo vírus da ambição patrimonial, ou da visão totalitária, é quem empurra
esse bonde pelos trilhos da modernidade.