DEPOIS DA LAVAGEM EXISTIRÁ
A REPÚBLICA?
A República andava
podre, contaminada por vícios, maus costumes. A República era um contubérnio de
interesses escusos, talvez, melhor definindo, um valhacouto onde cevavam-se grupos
que disputavam a conquista do acesso aos
cofres.
Não usemos, todavia,
o tempo pretérito. A República não mudou com esse impeachment, o segundo, num
período de 24 anos. Existe, agora, a constatação de que nada foi corrigido a
partir de 1992, e que uma infinidade de coisas terão de ser feitas para que
algo mude, para que a República se endireite. Não será este impeachment que
causará a transformação, nem será a Lava Jato que nos criará um ambiente
político isento à contaminação do desmando e do crime.
Evidente que a Lava
Jato é um marco, um alerta, uma satisfação que a sociedade merecia ter.
Todavia, não resvalemos mais uma vez no erro de imaginar que homens
providenciais serão capazes, sozinhos, de corrigir definitivamente os
descaminhos inúmeros da República.
Dirão: Mas o Juiz Sérgio
Moro, os Procuradores, os Policiais Federais, agem com o respaldo firme da
opinião pública amplamente favorável à Lava Jato. E a mídia também maciçamente
os apóia.
No caso da grande
mídia isso é relativo, o apoio existirá até quando alguns interesses específicos
não forem ameaçados. Em relação à sociedade, nela destacando-se os setores
empresariais, a classe média sempre inquieta e insatisfeita, e também uma parte
do sindicalismo urbano, o apoio hoje existente sofrerá as mesmas variações
apontadas no caso da mídia. As ações presentes da Lava Jato e outras idênticas,
ao longo do tempo ficarão a depender das Instituições, dos políticos, (a menos
que eles sejam retirados de cena, e no lugar deles viria o pior: as baionetas).
O Brasil precisa de reformas que este Congresso jamais irá realizar e que Temer
não irá fazer, devendo limitar-se a algumas medidas imprescindíveis no destroçado
campo da economia, e a pontuais remendos, aceitáveis pelas facções que comandam
o Congresso, das quais Eduardo Cunha surge como símbolo maior.
Percamos pois as
ilusões de que a Lava Jato corrigirá o Brasil, embora, por certo, aponte para um caminho correto, desde que
destituída do sentimento salvacionista ou ingênuo, erradamente assumido pelos
seus integrantes.
A Lava Jato faz
exposta a República nas suas mais purulentas feridas, revela as suas vísceras,
e essa parte, nunca em tempo algum, deixou de exalar seus odores
característicos.
Não nos enganemos, e,
por outro lado, não nos concedamos, egoístas, o direito de engavetarmos a
esperança.
Como uma virtuosa
Tocha Olímpica, a esperança deve ser conduzida através da História, e só nesse
tempo, no tempo histórico, as utopias se tornam quase alcançáveis.
Para que a Tocha da Esperança prossiga o seu
trajeto é preciso que haja sobretudo, democracia, livre debate, liberdade plena
de expressão, respeito aos que divergem, Justiça equidosa, normalmente incluída
nos nossos hábitos, deixando de ser a excepcionalidade
que gera manchetes; eleições livres e continuadas, redução de privilégios em todos
os setores, partidos políticos consistentes, e não apenas balcões de negócios.
Se isso fosse feito,
teríamos uma República aproximando-se daquilo que Platão imaginara (tolerando,
todavia, a existência de escravos).
Assim, dito de forma
tão sintética, parece até fácil de fazer. Mas o sonho da “República virtuosa” é
acalentado pelos séculos, e até agora, não houve ainda quem o realizasse.
Mas é preciso
insistir nele. Assim, por que, no nosso caso, não pensarmos numa Assembléia Nacional
Constituinte, dela excluindo todos os que estão no Congresso, ou nas Assembléia
e Câmaras?
Só uma Constituinte
independente poderá restituir credibilidade aos políticos e à política, e
construir uma nova República, sobre os escombros desta, que desmoronou.