terça-feira, 5 de abril de 2011

OS TRES MINEIROS


Três mineiros mortos, tiveram Brasília como palco apoteótico do último ato. Os três comoveram o país, e demarcaram, com as lágrimas do povo, três fases bem distintas e emblemáticas da História brasileira.
Juscelino Kubitscheck de Oliveira morre em um acidente na via Dutra quando viajava de São Paulo ao Rio. Morte suspeita, envolvida em mistérios. Corria o ano de 75, Geisel era o presidente, permitiu o sepultamento em Brasília, mas, negou as honras devidas a um ex-Chefe de Estado. Na cidade que ele criara o povo chorou sua morte e fez do funeral, um ato de protesto. Entre brados de indignação banhados a lágrimas passou a onda popular que começava a desafiar, e, depois, iria varrer a ditadura.
Quando JK deixou a presidência em 61 encerrava-se uma das mais florescentes etapas da vida brasileira. Logo começaria uma fase soturna de pessimismo e incertezas, tão bem simbolizada pela figura tragicômica de Jânio Quadros. O povo que foi às ruas aplaudir um morto, vencendo o medo, aplaudia também a liberdade.
 Em 1985 morria outro mineiro, Tancredo Neves. Presidente eleito, ele escondeu a doença que o abatia receando que, se não fosse ele a tomar posse, os militares não entregariam o poder.
Morreu sem colocar ao peito a faixa presidencial, e o seu longo martírio comoveu os brasileiros. Sarney já presidente, empurrado para a posse por Ulisses Guimarães, e sustentado pelo general Leonidas, Ministro do Exercito, providenciou as pompas fúnebres ao presidente não empossado, mostrando que os tempos começavam mesmo a mudar, e a mesquinhez insensível da ditadura fora substituída por sentimentos mais próximos à índole do povo brasileiro. O povo que saiu às ruas de Brasília para homenagear o defunto ilustre e pranteado mostrou, aos inconformados, que a Ditadura se tornara mesmo uma detestada defunta, sem a menor possibilidade de ressureição.
Um outro mineiro comoveu agora a Nação. O longo padecimento e a extraordinária resistência de Jose Alencar seriam suficientes para emocionar, para fazer dele o centro das atenções solidárias do povo Ele foi muito mais do que um mártir, até porque, recusou-se sempre, com coragem e otimismo a aceitar o papel de vitima. Mas, além do câncer e do homem que saiu da pobreza para construir um império econômico, o povo enxergava no político uma característica hoje tão escassa na vida pública: a dignidade. José Alencar foi um político digno, ético, foi um exemplo. As lágrimas que por ele o Brasil derramou, expressaram, para além do sentimento de perda, um outro sentimento: o de insatisfação com a indignidade que vai tomando conta da política.
No dia em que morreu Alencar, o governador Marcelo Déda inaugurando a rodovia São Cristóvão - Rita Cacete em clima de luto que o fez rejeitar música e foguetes, lembrou de um episódio que passou um tanto despercebido na crônica política brasileira. Foi o ano de 2005, quando, a pretexto do mensalão que era antigo, e foi retemperado para produzir escândalo, conspirou-se na surdina, para afastar o metalúrgico  do poder. Para boa parte das elites brasileiras, para uma grande parte da mídia que imagina-se muito mais competente para manipular a opinião publica do que  é na realidade, para essa legião de insatisfeitos, talvez pela perda de privilégios e ascensão do povo, chegara a hora exata para retirar do Planalto um operário que jamais poderia ter conquistado a faixa de presidente. Chegaram aos ouvidos do Vice- presidente da República as ladainhas golpistas, e ele, ao ouvi-las, soube imediatamente calar as vozes que imaginavam poder seduzir o menino pobre de Muriaé que se tornara grande capitão de indústrias, e, certamente, segundo os aliciantes, não resistiria à ambição de tornar-se presidente. Os que tramaram o golpe no Congresso, na mídia, ate nos tribunais, imaginaram que encontrariam um outro Itamar Franco, aquele mesmo que, vice de Collor, tanto excitou-se na idéia de substituí-lo que chegou a prometer aumento de salários para os militares. Mas Alencar não era Itamar, e Lula não era Collor. Os golpistas sabiam que retirar Lula do poder seria tarefa complicada, poderia desencadear reações populares imprevisíveis, mas, se obtivessem o aval exatamente do seu vice, as coisas se tornariam mais fáceis. Naquele momento, o Vice Jose Alencar revelava a grandeza, a dignidade, que fizeram dele um homem publico singular.
 Esse terceiro mineiro, ao morrer e causar comoção nacional marcou, com seus gestos, com a sua vida e a sua presença na política, uma etapa diferenciada na Historia brasileira. Aquela em que foi possível derrubar preconceitos, trocar a indiferença por ações que retiraram milhões de brasileiros da pobreza, fortaleceram o mercado interno e geraram desenvolvimento e emprego. Quando o empresário mineiro uniu-se ao metalúrgico pernambucano na mesma chapa, viu-se que era possível mudar o Brasil sem conflitos e tumultos. Por isso, Jose de Alencar, que se recusou a apunhalar Lula, entra, com ele, com os mesmos méritos, na nossa História.
Bela História a desses três mineiros, três brasileiros que engrandecem o Brasil.

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