domingo, 18 de setembro de 2011

OS OUTROS ¨11 DE SETEMBRO¨

Na  noite de 3 de março de 2003 o mundo esperava o começo de uma nova guerra. E ela aconteceu. Em tempo real, assistiu-se o bombardeio inclemente de uma cidade de seis milhões de habitantes. Na tela da televisão o espetáculo era fantástico. Clarões imensos subindo dos alvos espalhados por toda a extensão da grande metrópole. Acompanhado de um matraquear intenso  as balas  traçantes  da artilharia antiaérea subiam  erráticas,   buscando  no céu inexistentes alvos   . A sofisticada tecnologia bélica dos Estados Unidos surpreendia as defesas
iraquianas.  Não eram aviões que desfechavam a primeira onda dos ataques que se prolongariam até o amanhecer. Bagdad estava sendo atingida por mísseis.  Vinham de dois pontos diferentes,  disparados desde navios e submarinos nucleares americanos  concentrados no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico.  Na sequencia, vieram os bombardeiros. De grande altura, despejavam suas bombas, estreavam uma delas,  especial, denominada  ¨bomba inteligente¨.  Guiada diretamente ao alvo,  serviria para perfurar e explodir no interior da rede de instalações militares de Saddam Hussein. Durante todo o tempo que durou o feroz bombardeio as luzes da grande cidade permaneceram acesas. Diante da supremacia tecnológica dos Estados Unidos, os iraquianos sabiam que de nada adiantava fazer um ¨black-out¨. E assim, o mundo que acompanhava o episódio em tempo real, assistiu tudo com nitidez absoluta,  aquele desenrolar do metódico, ordenado e sistemático  massacre,  transmitido  por uma rede de TV americana, a CNN. O correspondente da rede televisiva  fazia a narração do extermínio de uma cidade, da população de uma grande metrópole, como se estivesse a descrever uma emocionante partida de beisebol. Enumerava os objetivos que deveriam ser atingidos,  quase elogiava a precisão dos disparos, e explicava que as bombas e os mísseis choviam sobre alvos militares,  e evitavam, cuidadosamente,  atingir áreas civis. Quando os primeiros raios de sol desciam sobre a portentosa cidade da mesopotâmia,  na vasta planície fértil onde há três, quatro mil anos, surgiram as primeiras grandes civilizações, era possível  avaliar,  com maior precisão, o tamanho da catástrofe humana provocada pela maior potencia militar e econômica dos tempos modernos, um civilizadíssimo país, os Estados Unidos da América. As luzes já não estavam mais acesas, as centrais elétricas fumegavam em escombros. Incêndios  grassavam por toda a cidade, pontes, viadutos, estações ferroviárias, prédios, também escolas, hospitais, fábricas, estavam  reduzidos a montões de  destroços.
Nunca se fez um balanço preciso das perdas em vidas humanas causadas, apenas, naquela primeira noite de intenso bombardeio. Outros vieram, por dias seguidos. Depois, dizia-se  que haviam morridos três mil, cinco mil, quarenta mil. Nunca se soube ao certo, e dificilmente ainda se poderá saber. Completada a obra de destruição vinda do céu, vieram por terra as tropas de uma chamada coalizão formada por países que, aliados aos Estados Unidos, se esmeravam na tarefa de esmagar um povo. Era a segunda etapa da vingança depois do 11 de Setembro. O Afeganistão, onde estaria Bin Laden, começou a pagar o preço logo em outubro, apenas um mês depois. Em Bagdad , caiu a estátua  ridícula de um ditador estúpido. No convés de um porta-aviões americano,   




 George W. Bush, então festejado genocida,   fazia  cinematográfica chegada.  Desembarcou de um caça-bombardeiro  para anunciar a vitória, a vingança consumada. Mas a vingança contra quem? Saddam Hussein não tinha nada a ver com  a destruição das torres do World Trade Center. O  Iraque,  com tanto petróleo não passaria despercebido, não o deixariam em paz as ávidas quadrilhas petroleiras  às quais serviam seus cães de guerra, Bush, e seu vice Dick Chenney.
 Consumou-se um   outro 11 de Setembro. Este, nunca será comemorado. A mídia não o enxerga, seus mortos são anônimos, não irão merecer placas, nunca serão lembrados em memoriais.
 Esmagado o Iraque,  os saqueadores que chegaram prenderam um acovardado Saddam  Hussein enfiado num buraco, fedido  e cheio de piolhos. Eram seus escassos pertences: um dentifrício, um  pente,  e uma escova de dentes.
Noham Chomsky escreveria depois: ¨ Ali  estavam as armas de destruição em massa que ameaçavam o mundo.¨

A BOCA DEGRADANDO A POLÍTICA

A palavra é a ferramenta essencial da política, sem conversa não há articulação, não há entendimento. A palavra é fundamental para aproximar, para reduzir ou acabar desconfianças, para construir  afinidades. Nesse sentido, a palavra ou o ¨ olho no olho ,¨ é bem mais eficiente do que a escrita. A fala desperta emoções, mexe com os sentimentos, atiça  entusiasmos.  A palavra  é flamante, queima, agita,  arrasta. Dificilmente alguém produziria uma escrita incendiária que gerasse imediatas adesões ou ódios repentinos. A carta testamento de Getúlio  Vargas transformou-se em explosivo documento no instante em que foi lida aos microfones da  
 Rádio Nacional. A  comoção indignada do locutor, logo provocaria naquele agosto de 1954 uma explosão social poucas vezes registrada na História deste país.  As ruas se encheram com as multidões vingadoras.  Depredavam, caçavam aqueles responsabilizados pelo suicídio do presidente. A palavra  carrega consigo uma força que tanto pode ser construtiva como demolidora. Por isso, é preciso dosá-la, lapidá-la com todos os cuidados que exigem a civilidade.  O limite para o uso adequado da palavra, é,  em primeiro lugar, estabelecido pelo bom senso de cada um. Mas, há também o respeito às convenções,  isto é,  ao conjunto de regras que a evolução social permitiu construí-las, e são elas o ornamento da democracia. Quando  um político, deliberada e continuamente viola essas regras, em última análise ele se mostra inadaptado  a um confronto que, para não se transformar  em insanável conflito, porta aberta para o descambar da violência, deve ser conduzido com uma indispensável dose de respeito ao adversário. A palavra, no debate político,  poderá ser candente, cáustica, jamais insultuosa.   Quando esses parâmetros para a convivência  entre contrários se perdem, perde-se, também, a  função precípua da política,  que é a de permitir o transito sem acidentes pelos caminhos mais desencontrados das divergências.

 Se a ação política torna-se ineficaz, surgem duas situações antípodas:   o caos de uma absoluta anarquia social ou a  degradante ordem do totalitarismo absoluto. Uma Somália desgovernada ou uma Coreia do Norte com excesso de ordem, de ordem unida.
Não há  como esperar muito da politica ou dos políticos,  se esses conceitos são desprezados, por ignorância, ou   também  pelo excesso de um individualismo presunçoso, que transforma  alguns em equivocados martelos da ética, da correção, da decência, enquanto os adversários se tornam alvos das pancadas, reduzindo-se  tudo a  questões pessoais,  a uma ânsia insatisfeita de achar, nos outros, todos os defeitos, todas as iniquidades, enquanto cercam a sí mesmos com um manto  hipocritamente luminoso de uma inexistente santidade.
Quando o verbo descarrila o desastre se propaga nas instituições.
 Semana passada o  ex-deputado João Fontes dizia a amigos que estava meditando, de boca fechada, sobre   um quase aforisma que ouviu do também ex-deputado e agora rei da noite aracajuana, Fabiano Oliveira : ¨João, você é mais eloquente quando cala do que quando fala¨.
Já o deputado federal Almeida Lima......
No Sermão da Sexagésima,  diz o senhor da língua e da palavra, o padre  Antônio Vieira:  ¨Palavras sem obras, são tiros sem bala, atroam, mas não ferem ¨.

CABRAL, MÁRIO CARTAS ABERTAS

Vem, outra vez,  Marcelo Ribeiro a publicar mais um livro. Marcelo é um escritor que não apenas publica mais um livro.  Pelos caminhos das letras que tem palmilhado, ele se foi tornando um mestre. Começou com poemas, fez um depoimento político, quase um libelo como ex-deputado  que  cedo desencantou-se.   Poderá merecer pertinentes contestações, mas, ninguém retirará dele a autoridade moral que tem para produzir critica, até para se permitir ser contundente.
Mas essa é uma página definitivamente virada. O médico que fez uma breve opção pela política, deu consistência a uma   outra vocação, esta, que o acompanhará por toda a vida: a do fascinante ofício do fazer literário. Nisso, ele encontra a prazerosa alternativa de plena realização existencial. Ganham os leitores, cresce a tradição cultural de Sergipe que anda a tentar reerguer-se. O novo livro de Marcelo Ribeiro, Cabral, Mário Cartas Abertas, é algo que ele doa para essa obra de agiornamento sergipano.
Interessante constatar que a admiração  por Mário Cabral, o imenso afeto que uniu duas famílias, a de Cabral bem mais idoso, a dos Ribeiro, ai representada por Marcelo e seu irmão Wagner , o helênico poeta, nasceu a partir de um desencontro, de uma indignação.   Jose da Silva Ribeiro Filho,  pai de Marcelo,  publicou uma ácida carta Aberta a Mário Cabral, protestando contra o que entendeu como ofensa a seu pai, honrado comerciante, que construíra  vistoso prédio, depois transformado em lupanar imenso, e ao qual o aracajuano sarcástico, logo passou a chamar de Vaticano. A ofensa estava contida no livro Roteiro de Aracaju,  ou¨ livrinho¨,  como o classificou um magoado Silva Ribeiro. O leitor encontrará então, no livro de Marcelo sobre Mário,  o desenrolar de uma exemplar recomposição, de atávica  e constrangedora desavença numa amizade plena de convergências,  culturais, humanas,  uma visão de mundo  forjada ao longo do tempo na parceria de dois irmãos ainda jovens, e um  velho, com seus tormentos, suas ânsias, decepções, sonhos, e muito mais esperanças.  Tudo isso se corporifica em cartas, naquele esquecido hábito epistolar, que resiste ainda ao celular e à Internet, cartas, trocadas entre Mário e Marcelo. O livro tem essa beleza, por não deixar de ser poesia, enquanto fluem depoimentos, excertos biográficos,
 opiniões,   história, estórias. E, sobretudo,  vida.

VALADARES, A FARINHA E O CAVIAR

 Sai daquela farinha, daquele bucho, das coisas mais  baratas que o povo come, uma boa parte dos impostos que vão  para os cofres públicos. O pobre, o assalariado, aqueles que modestamente ou até miseravelmente levam a vida, também as três categorias da classe média, todos esses não conseguem escapar   dos impostos, seja através da renda que desfrutam, ou, mais ainda, em todas as compras que fazem. O alimento, por mais simples que seja, é um bom exemplo  de como a carga tributária recai perversa e desigualmente, até sobre a cesta básica. Já aqueles que podem tranquilamente consumir um  caviar  pagando mais de cem reais o grama, um  vinho de cinco mil dólares, trufas raras das terras escuras e untuosas  dos bosques franceses ou italianos,  coisa assim, batendo acima dos  três mil dólares, essas preciosas e inacessíveis sofisticações  gastronômicas, parte do cotidiano dos muito  ricos, são, sem duvidas, pesadamente taxadas, mas, os não amedrontados com o elevado preço que pagam, certamente,  seriam beneficiados pela leniência fiscal que privilegia os muito ricos. Ou então, seriam sonegadores. Alguém dirá, mas esses, assim tão endinheirados, são geralmente empresários bem sucedidos, e suas empresas recolhem muitos impostos, geram empregos. O ente jurídico, a empresa, paga impostos,  quando não desfruta de generosas isenções, enquanto a pessoa física, o empresário, os executivos,  algumas vezes acumulam fortunas, fazem sempre uma bem sucedida alquimia que os livra até das garras implacáveis do imposto de renda. Acumular patrimônio,  usufruir  do que o dinheiro proporciona, até dissipar em  coisas supérfluas  a fortuna amealhada, nada disso é ilegal, embora o bom senso e a realidade social em que vivemos recomendem um estilo de vida menos ostentatório,    mesmo para os que podem despreocupadamente levar a vida a torrar dinheiro, o que aliás não faz parte do comportamento de bilionários sensatos.
Discute-se agora a ideia de taxar milionários. Warren Buffett, um ricaço americano, publicou um artigo no qual pedia para que ele e os demais magnatas  fossem finalmente considerados contribuintes,  como todos os demais americanos. Foi George W. Bush, um energúmeno, (ou seria mentecapto?)  que isentou a plutocracia americana da corriqueira obrigação de pagar impostos como qualquer um dos mortais. Hoje, os Estados Unidos assistem o crescimento da pobreza, o desemprego em alta.   Para muitos analistas não passam agora de um colosso em decadência e agonia, e os seus estertores  contaminam o mundo, globalizam a crise. 
Depois  de Warren Buffett foram surgindo outros  endinheirados a oferecer-se para pagarem impostos. Na França, na Alemanha, a iniciativa também está partindo dos  bilionários.  São poucos,é verdade, uma pequena parcela dos mais ricos, todavia, a simples denuncia de um inconcebível privilegio, já surge como prenuncio de uma mobilização pela equidade fiscal,  revelando a contrafação  de uma iniquidade que um mundo em crise , com a miséria aumentando, não poderá tolerar. O presidente  Nicolas Sarkozy, apenas com o aumento  de três por cento no imposto sobre as grandes fortunas vai fazer o tesouro da França arrecadar mais quase trezentos milhões de dólares por ano. É muito pouco ainda, principalmente para um pais  hoje sem preocupações com a agressividade dos vizinhos,  que reduz a assistência social, mas mantem os imensos gastos com um aparato bélico incompatível com as suas possibilidades, o que, de resto, é um  acinte contra  os seus próprios cidadãos, praticado por quase todos os países de uma Europa em estado pré-falimentar. Além da França,  Portugal já taxou em 2,5 % quem ganha mais de 153 mil euros por ano. Na Itália, o gangster Berlusconi, derrubou uma proposta de taxação de 5% dos que ganham acima de 90 mil euros por ano. Na Inglaterra, berço do capitalismo, quem ganha mais de 150 mil libras por ano( cerca de 430 mil reais ) é taxado em 50%.  Os Estados Unidos que conservam os ricos imunes aos impostos, que colocaram as petroleiras rapaces num nicho de privilégios, têm hoje, nas suas cidades, mais de 15 milhões de pessoas que passam fome, e os pobres já se aproximam dos 50 milhões.  Para os republicanos, que vêm o miserável como um incapaz ou preguiçoso, nem pensar em tirar um pouco dos muito ricos para reduzir a miséria.
No Brasil ,  até agora, não apareceu nenhum rico querendo pagar mais impostos, a não ser  Eike Batista, que já disse ser justa a taxação das grandes fortunas. Espera-se, porém, que a reação ao projeto agora apresentado pelo senador Valadares, não seja algo tão irracional, tão furiosamente denunciado como  ¨coisa de comunista¨.  O projeto de Valadares  segue a corrente  dos que, evidentemente, não querem  sufocar o empresário,  extinguir a riqueza, mas, diante da configuração da nova realidade mundial entendem que, mais do que nunca, é preciso perder alguns anéis para  que possam ser preservados os dedos.
A Constituição brasileira de 1988, prevê  um imposto sobre as grandes fortunas. Transcorridos 23 anos desde a promulgação da  Carta, o Congresso nunca se moveu para  fazer a regulamentação.

O VOO DE PÁSSARO DE DOM LUCIANO

Carminha Duarte,  em nome do Instituto Dom Luciano Duarte, está anunciando uma festa de livros nessa  quinta-feira, dia 23 ás 17 horas, na sede do Instituto. Será o lançamento da coleção contendo os depoimentos que fez durante suas muitas viagens pelo mundo, o hoje aposentado Arcebispo Dom Luciano Duarte. Ele era, naquele tempo, um padre inquieto em busca de devassar horizontes. Horizontes das gentes, horizontes da espiritualidade, horizontes do conhecimento.  Para isso, cruzou muitas fronteiras, algumas delas, como a da Hungria, foi para ele uma experiência difícil, que traduziu numa narração honesta, apesar das suas  convicções, que o levavam a enxergar no comunismo a negação da ideia de justiça e liberdade. Dessas viagens, resultaram os livros: Europa, Ver e Olhar, Índia a Voo de Pássaro, Hungria: Relato de Viagem e Viagem aos Estados Unidos.  A edição do conjunto de livros é primorosa, acentuando a capacidade técnica da Gráfica J. Andrade e o cuidado dos organizadores. Na capa do estojo que contem os 4 volumes, escreveu a professora e poeta Carmelita Fontes:  ¨Se o mundo fosse maior, ele o teria percorrido. Se o tempo fosse mais rápido, ele o teria ultrapassado. Se a vida se prorrogasse, ele a faria  infinita.
Procurando Deus ¨.

ARACAJU, CAPITAL DAS MULHERES

De 44 a 28 deste mês Aracaju será a capital das mulheres. Aqui, vai se realizar pela vigésima sexta vez o Encontro nacional dos Women`s  Clubs.  Ou  seja, virão para Aracaju mulheres de todo os estados da federação e mais do Distrito Federal, além de algumas representantes de países estrangeiros. Os temas, nesses tempos de rápida e benvinda ascensão das mulheres,  são variados, atuais e consistentes. Os dias serão tomados por reuniões, conferencias,  debates, também viagens, por vários municípios sergipanos.   A professora Maria Jose Mendonça à frente de um grupo dinâmico de mulheres organiza o evento.
O tema central é atualíssimo: O poder da Mulher e a Mulher no Poder.
Poderosíssimas.

O QUE SE ESCONDE NA BAGUNÇA DOS ARQUIVOS

Não se pode afirmar que sem a existência de arquivos organizados seja impossível percorrer-se a História, mas, se pode, com boa dose de convicção, dizer que a inexistência de arquivos ou a bagunça que neles reina,  é, quase sempre, o resultado de uma  deliberada conspiração  contra a verdade histórica. Quem faz essa instigante observação é o técnico arquivista Gilson Reis, que integra a equipe do professor José Carlos, um gaúcho especialista em arquivos  que foi trazido  a Aracaju pelo então Secretario da Casa Civil, Oliveira Junior, para executar uma parte do trabalho de organização do Palácio Museu Olímpio Campos.
Agora na Secretaria de Planejamento e Gestão, Oliveira Junior dá sequencia a uma das ações do governo Marcelo Déda que apresentaram resultados mais consistentes: a recuperação da memória histórica de Sergipe. Isso se fez com a  restauração de vários prédios, como  o palácio Olímpio Campos, o Atheneu Sergipense, o auditório  do Colégio Ateneu,   além de obras semelhantes no interior, entre elas, as mais importantes em São  Cristovão  e Laranjeiras. Agora, à recuperação da memória mais caracterizada como arquitetônica, se junta um trabalho de preservação documental.  Para isso, está sendo criado um  sistema de gerencia  dos arquivos, tendo como foco central o Arquivo Público do Estado, que deverá ser reformado.
 Não se dirá,  depois, ter-se permitido a degradação dos arquivos para que, carente deles, a nossa História desaparecesse, como quase desapareceu, infelizmente, durante um longo período que vai do início da colonização ao Império. Teria sido o resultado de uma bagunça das sucessivas administrações, ou algo conscientemente feito, para que não ficassem evidentes, para a História, tantos erros, tantas atrocidades?

SÉRGIO GUERRA BRINCANDO DE MANJA

Sérgio Guerra parece ser um tucano  que embora maduro, aprecia brincadeiras infantis.  Ele agora está brincando de manja.   Até as crianças hoje, já esqueceram daquilo, estão todas  estáticas em frente a um computador, ou manejando um joy-stick. Por isso, o mundo hospeda agora tanta gente obesa. Brincar de manja era um esconde-esconde. Um  saia a correr, escondia-se em algum lugar, e os outros saiam a procurá-lo, quando encontrado o escondido, ele então ia então fazer parte do grupo dos que procuravam. Sérgio Guerra, o presidente do PSDB que ainda continua brincando de manja, passou algum tempo a esconder-se de Albano. O ex-governador logo compreendeu o jogo, e como não é dado a correrias, aquietou-se. O empresário Adierson  Monteiro revelou o desejo de tornar-se presidente estadual do PSDB. Ele pretenderia disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, e um partido sob seu comando lhe daria maior visibilidade.  Adierson é um cidadão decente, homem ainda não afeito as artimanhas da política. Tem boa fé, acredita na palavra dos outros, porque se esmera em cumprir a sua própria palavra. Ouviu de Sérgio Guerra que o partido ficaria em suas mãos, desde que fossem cumpridas algumas exigências. Adierson   aceitou as condições, e ficou a esperar a anunciada vinda a Sergipe do dirigente tucano. Ele disse que vinha, e não veio. Pediu para Adierson procurá-lo em Brasilia.  Ele foi. Chegou na hora exata para o encontro. Esperou horas na antessala. Sergio Guerra não o recebeu, estava conversando com o ex-governador João Alves e o  ex-deputado Jose Carlos Machado. Os dois demistas  exigem acrescentar uma sigla ao PSDB, para que ele fique assim: PSDB do DEM. Dessa forma, fica difícil para Adierson,  que não aceita submissões,  porque entende perfeitamente o que significa ser aliado.  Albano, descrente, já procura outro ninho. A vereadora Mírian Ribeiro deixa tranquilamente o partido que ajudou a construir e a manter por tantos anos em Sergipe, e espera, pelo menos,  merecer dos tucanos que ficam, a gentileza de declararem que ela poderá buscar outra sigla, sem o risco de perda do mandato.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

NÃO QUEREM MARCHAR E A SOCIEDADE DANÇA


Repetindo a costumeira bateria de ameaças, lideranças dos policiais civis e militares aproveitaram a proximidade do dia 7 de Setembro para, mais uma vez, externar as costumeiras insatisfações e traçar o roteiro dos protestos que poderiam fazer. Tolerância Zero seria um deles, mas, não se imagine que a intolerância anunciada se voltaria pesadamente contra bandidos, nada disso, seria apenas uma espécie de operação padrão ou corpo mole; uma outra seria a recusa de participar do desfile da independência. Este ano os professores de Aracaju se negaram a colaborar. Por isso, as escolas municipais ficaram fora da parada de 7 de Setembro, como antes se chamava o desfile do Dia da Pátria. Não se trata aqui de evocar coisas do passado para enfeiar o presente, muito menos de descrer do futuro. Não há pessimismo ou saudosismo quando se relembram episódios que eram marcantes, que motivavam a sociedade, e em torno deles existia uma intensa e espontânea mobilização.
Não havia menino ou menina estudante que não quisesse sair no desfile, que era à tarde, depois do militar de manhã, logo cedo. Os pracinhas, ex-combatentes, dez, quinze anos depois da guerra, ainda marchavam com o mesmo ímpeto forte daqueles jovens que atravessaram o Atlântico para derrotar o nazi-fascismo. Eram ovacionados pelo povo. E isso ocorria em tempos democráticos, sem aqueles absurdos de um patriotismo impingido goela abaixo durante os períodos autoritários. Naquele tempo, era constrangedor comparar o fardamento lustroso, as armas reluzentes do 28 BC, com a penúria da nossa Polícia Militar, objeto tantas vezes de chacotas do público ou de cáusticas observações feitas depois  pelos jornais oposicionistas, que sempre culpavam o governo pela deplorável imagens dos policiais  vestindo fardas desbotadas, calçando coturnos em frangalhos, portando armas que  fariam boa figura como peças de museu.
Mesmo assim, a carreira de policial militar nunca deixou de atrair os jovens, principalmente do interior, e há municípios, como é o caso de Porto da Folha, de onde saíram tantos que chegaram ao coronelato da PM.
 As duas polícias eram vítimas da contaminação dos interesses eleitoreiros, e nelas sempre eram encontrados os esbirros valentões, prontos a cometer todas as barbaridades a mando de chefes políticos truculentos.
Desse aspecto deplorável do passado é pedagógico lembrar, porque desconhecê-lo ou ocultá-lo seria também negar toda uma sequência de ações realizadas para que fossem corrigidos erros e modernizado o sistema policial.
Nos últimos quatro anos os policiais tanto militares como civis, alcançaram um patamar de remuneração que os fazem invejados por quase todas as outras categorias de servidores públicos. É bom não esquecer que existem economistas, engenheiros, contadores, jornalistas, agrônomos, que se aposentam com vencimentos inferiores e mil e quinhentos reais. Por isso, quando lideranças dos policiais anunciam protestos, a sociedade não os vê com bons olhos, a sociedade se põe a perguntar por que está ainda tão exposta à violência, que não é só um problema sergipano, mas, com o qual ninguém quer conviver como se fosse inevitável e terrível maldição. Se salva, sem dúvida, a reputação da polícia, porque não cessam de ocorrer exemplos de eficiência, apesar dos episódios que,tantas vezes repetidos, produzem descrédito e decepção. São sempre lembrados nomes como ode alguns que já se foram, o coronel Barreto Mota, o tenente Aragão, (assassinado por um bandido) os delegados Clélio Lins Baptista, João Sacramento, Chico Vilanova, entre tantos outros.
 Agora mesmo um trio de delegadas mostra agilidade e competência no episódio da prisão de um bandido que carregava às costas o peso de onze assassinatos. As mulheres mais uma vez estão em destaque, exatamente numa área que, faz pouco tempo, era exclusivamente reservada a quem usasse cuecas. Aliás, os homens precisam se cuidar, porque é voz geral entre os que procuram delegacias, que se sentem melhor atendidos onde as mulheres são as titulares.
Nos últimos dias ganhou especial destaque o nome de um jovem delegado, André Baronto. Ele comandou diligências que resultaram na prisão de um e a morte de dois dos integrantes de uma quadrilha que andava pelo sertão fazendo mais volumosas suas aterrorizantes folhas corridas. Em Itaporanga, relatam moradores que o delegado Baronto limpou o município de meliantes no tempo em que por lá esteve. Há delegados assim, que deixam por onde passa um rastro de ações valorizando a polícia. E estes não ganham mais do que os outros. Não vamos aqui escolher nomes como se fossem eles os únicos merecedores de reconhecimento, porque há inúmeros que igualmente mostram zelo e eficiência. Constata-se assim, através de casos individuais, que é possível fazer muito mais, desde que cada um demonstre entusiasmo com a profissão que escolheu.  No interior, onde ocorrem assaltos frequentes, há delegacias que não funcionam nos finais de semana, deixando a população com um certo sentimento de abandono. Lá, são muito lembrados nomes como o de um policial militar que durante algum tempo desempenhou as funções de delegado, o subtenente Cardoso. Apelidado de Satanás pela bandidagem, ele limpava o sertão com uma eficiência incomum. Hoje, respondendo a processos, embora não seja um atrabiliário, apenas rigoroso, deixou de receber as promoções que mereceria pelos serviços prestados à sociedade. Há sempre boas referências a delegados como Antonio Passos, Kledson Ferreira, e tantos outros. Na PM, quando se trata de enfrentar bandidos perigosos e subjugá-los, logo surge o nome do coronel Yunes. Quando se precisa de um negociador hábil para evitar confrontos com os movimentos sociais, sempre é lembrado o coronel Luiz Fernando. Os que agem, fazem, são operantes, demonstram que a eficiência é uma meta capaz de ser atingida, desde quando se esteja interessado em persegui-la. Não se quer dizer, com isso, que o aparato policial do estado seja omisso, mas, sem duvida, essa cantilena repetida de reclamações, de ameaças, faz com que o povo que trabalha, que paga impostos, que ganha baixíssimos salários, e espera pelo menos ter segurança, se sinta menosprezado e até agredido. Aquela sensação de que alguém não marcha e, por isso, nós dançamos.
Certamente se os bons exemplos de dedicação e eficiência se espalhassem por todo o aparato da segurança pública, ficaria mais suportável o peso carregado penosamente pelo Secretário João Eloy e pelo coronel Rezende.

TERNO, GRAVATA E DESERTO

Quem assistiu pela TV ao eletrizante show da Esquadrilha da Fumaça no dia 7 de setembro, em Brasília, na manobra final, quando foi desenhado um coração no espaço, deve ter notado que naquele céu sem nuvens e intensamente azul, a figura rapidamente desfez-se, com a fumaça dissipando logo, em virtude da extrema secura dos ares. Todo o planalto central brasileiro, a enorme região centro-oeste, os sertões nordestinos nesta quadra em que as chuvas estão ausentes, em alguns casos, há mais de cem dias, exibem nos higrômetros índices alarmantes de baixa umidade do ar,  as vezes rondando os dez por cento, nível inferior aos observados no deserto de Atacama,  o mais seco do mundo. Além da baixa umidade, há o calor, e tudo isso causa uma sensação de desconforto, de sufocamento. Mas em Brasília, templo maior da protocolar burocracia brasileira, estão todos os personagens desse cenário tropicalista, absurdamente envergando o traje que o protocolo impõe: terno invariavelmente escuro, pescoço apertado com o colarinho rígido, e a gravata inseparável.
Na América Latina somos o único país de clima quente que usa esse figurino. Em todo o Caribe reina a goyabera, vestimenta leve, uma calça e blusão folgado, sempre de tecido branco. Aqui, quem veste branco é cafona ou pai de santo. Na Venezuela, em Cuba, na Colômbia, no Peru, Equador, veste-se a goyabera, tanto para ir a um palácio como ao cabaré. Sem dúvidas, em qualquer um desses locais as pessoas sentem-se mais confortáveis, suam menos, produzem melhor.
Jânio Quadros usava um blusão semelhante à goyabera, começou a ser imitado, mas a experiência durou tanto quanto o efêmero mandato do caricato presidente.
Somos macaqueadores de hábitos europeus. Quando a fugitiva corte portuguesa desembarcou mareada no Rio de Janeiro em 1808, tratou logo de livrar-se dos piolhos e das vestimentas pesadas que aumentavam a transpiração e exalavam o insuportável fortum de europeus nos trópicos, que tanto  repugnava aos indígenas, sempre nus e prontos a mergulhar em todas as águas límpidas que encontravam.
O português tão bem se adaptou aos calores tropicais porque se esqueceu das vestes da sua terra fria. Meteu-se naquela camiseta com os sovacos à mostra.
No parlamento de Israel, país bem menos quente do que o nosso, os representantes do povo nem precisam de tanta pompa e circunstancia, e muitos jamais usaram paletó e gravata.
Tanto gostamos de imitar, que, conta Euclides da Cunha em Os Sertões, as tropas do exército brasileiro durante a Guerra de Canudos, enfiando-se pelas caatingas do Raso da Catarina, exibiam coloridos uniformes, como se fossem granadeiros austríacos, e foram alvo fácil, vistoso, mostrando-se no matagal desfolhado para a jagunçada entrincheirada no topo de morros pedregosos que ia dizimando os batalhões com suas lazarinas, sem serem localizados, porque a intensa luminosidade e o ar seco impediam a formação de fumaça.
    Se os ingleses nos houvessem colonizado, estariam agora os nossos magistrados, os nossos senadores, suando debaixo daquelas ensebadas perucas brancas que usam os aristocratas da Câmara dos Lordes. No deserto das nossas irrealidades o protocolo goza de precedência sobre bom senso.

O SEXAGENÁRIO BIQUÍNI

Faz agora sessenta anos. Na praia de Saint- Tropez, a primeira francesinha ousada apareceu vestindo um maiô de duas peças. Era o biquíni, ainda excessivamente grande, mas os umbigos ficavam à mostra e isso causou escândalo. Brigitte Bardot logo aderiu, e ela que não precisava mostrar nada além do que os lábios sensualmente carnudos, generosamente exibiu muito mais. O estilista que cortou pelo meio em dois pedaços o conceito antigo de maiô inteiro deu à novidade que surgia o nome de uma ilha perdida no pacífico sul, arrasada por uma bomba atômica experimental que lá os americanos fizeram explodir. Quase sumiu do mapa o Atol de Biquíni, mas o nome nunca mais seria esquecido, e espalhou-se pelo mundo, ou melhor, foi vencendo aos poucos a tenaz resistência da masturbação conservadora. Mostrar o corpo com o biquíni tornou-se, para as mulheres de boa parte do mundo, uma forma de demolir a opressão do preconceito, o castrador puritanismo dos castos hipócritas.
 Em Copacabana,e na Ipanema que começava a aparecer, o biquíni foi tomando novas formas em dimensões ousadamente minúsculas. No país tropical os corpos se desnudavam em sintonia com o clima, e tanto minimizaram o biquíni que o transformaram em tanga, depois, no antiestético fio-dental.  Jânio Quadros proibiu o biquíni e conseguiu apenas ser ridicularizado, mas isso já foi em 61, dez anos depois da estreia em Saint-Tropez. 
 Na praia de Atalaia em Aracaju, o biquíni fez sua avant-première no verão de 57/58. Foi uma linda e suave jovem que mostrou o seu corpo escultural num biquíni timidamente discreto. Era uma manhã ensolarada, e ali, bem em frente ao antigo balneário, hoje um prédio em ruinas, havia um cais de cimento protegendo um pedaço da orla recentemente asfaltada das ondas que às vezes vinham nele quebrar fortes. Vinte a trinta jovens curiosamente cúpidos, aglomerados sobre o cais, fitavam embevecidos a musa bronzeada embaixo, sobre a areia da praia, fingindo alheamento ao frisson causado à sua volta. No dia seguinte, o promotor público e cronista social Carlos Henrique, o Bonequinha, comentava em seu programa na Rádio Liberdade: Silvinha Simões exibindo um biquíni azul tornou ainda mais azuis o céu e o mar da Atalaia.
 Na península ibérica, onde dois soturnos ditadores, Franco na Espanha e Oliveira Salazar, em Portugal, disputavam o troféu do obscurantismo, o biquíni foi ferozmente combatido. Suecas, inglesas, francesas, que vinham aquecer-se ao sol do Estoril, da Costa Brava, da Biscaia, eram obrigadas sob ameaça de prisão, a cobrirem os corpos com uma toalha. Depois, os interesses de uma já expressiva indústria do turismose sobrepuseram ao moralismo dos dois energúmenos, e o biquíni venceu a vigilância da PIDE portuguesa e dos Raquetés  espanhóis.
 Foi recentemente lançado no Brasil um volumoso livro, Salazar uma Biografia Definitiva, escrito pelo historiador português Filipe Ribeiro de Meneses.  Há nele uma passagem curiosa e também elucidativa sobre o monástico e ferre o Presidente do Conselho de Ministros. Uma escritora francesa, Cristine Garnier, pouco conhecida, mas atraente e sensual nos seus trinta anos foi incumbida de fazer uma biografia de Salazar.  Teve a concordância do ditador, que pretendia exibir ao mundo uma imagem mais palatável. Cristine viajou várias vezes a Portugal, hospedou-se nas residências oficiais e venceu as resistências pudicas de um Salazar envelhecido, certamente cansado das secretas fornicações com  Maria,a sua  dedicada  e desgraciosa governanta . O biografado apaixonou-se pela biógrafa, mulher moderna, emancipada, que já andava pelo quarto casamento. A ela deu presentes, de ananases dos Açores, a vinhos do Dão, até um anel de brilhantes comprado em Paris, que custou 450 dólares, Muito dinheiro para a época. Cristine escreveu Vacancesavec Salazar, que em Portugal virou best-seller, e nele conta o episódio.  Estava hospedando Forte de Santo Antônio junto às areias alvas da praia do Estoril. Tomava sol no terraço quando chegou Salazar que se pôs a olhar a praia com um binóculo. Depois, virando-se para ela com voz de desgosto exclamou: - Ah, essas carnes, essas carnes pecaminosas!  Cristine acrescenta: Olhou depois para mim. Eu estava de biquíni. Não trocamos uma palavra, mas soube o que pensava. Nunca mais voltei a usar roupa de banho no terraço do Forte de Santo Antônio.
Quem enxerga carnes pecaminosas na volúpia do corpo revelado de uma mulher, certamente verá sempre o biquíni como a vitrine exígua e satânica do pecado imenso.
 Piedade, para eles.

PARA ENTENDER O VOTO DO ARACAJUANO

 Em A Sociedade Afluente, marco de uma época, que teve sua primeira edição com muito atraso no Brasil somente em 1987, John Kenneth Galbraith, no capítulo intitulado A Posição da Pobreza, afirma: Com a transição dos muitos pobres de uma posição de maioria para uma relativa minoria, houve uma mudança em sua posição política. Qualquer tendência de um político em identificar-se com os indivíduos das classes inferiores geralmente recebe a reprovação dos ricos. Logo surgem suspeitas de oportunismo político ou demagogia. Porém, aquele que era motivo destas suspeitas gozava da vantagem compensadora de estar ao lado da grande maioria. Hoje, qualquer político que fale em nome dos muito pobres estará falando para uma pequena minoria geralmente sem expressão. Como resultado, o político liberal moderno, se alinha não com os membros miseráveis da comunidade, mas com as pessoas mais numerosas que recebem uma renda muito mais afluente, sejam os trabalhadores sindicalizados ou os intelectuais. Os reformadores se preocupam agora com as necessidades das pessoas relativamente bem de vida. 
Isso foi escrito na década dos 50, quando os Estados Unidos em plena ascensão pós- guerra já se transformava numa sociedade afluente. Mas é, sem duvidas, um texto para ser lido e meditado pelos políticos interessados na eleição em Aracaju.
 A capital sergipana é caso especial, que merece ser historicamente analisado para que, em sintonia com as circunstancias do dia a dia político-administrativo se possa fazer um diagnóstico das mutações pelas quais passou a massa de cidadãos votantes. Se estamos ainda bem longe da sociedade afluente que Galbraith identificou nos Estados Unidos há mais de 50 anos, passamos sem duvidas por transformações, desde o início da exploração do petróleo e dos outros minérios, até a mobilidade social registrada forte nos últimos dez anos. Os muito pobres foram substituídos por uma classe média baixa que cresceu muito, e essa categoria estreante, junto com a classe média intermediária e o reduzido segmento da alta, incorporam novas aspirações, são menos receptivas ao discurso ideológico e tendem muito mais a privilegiar o lado prático da vida. Assim, para esse segmento social em forte expansão, o trânsito que flui desimpedido, a segurança publica eficiente, o lazer facilitado, o acesso à moradia de bom nível, a indústria chegando, o emprego se expandindo, a escola dando resultados, são fatores bem mais importantes do que a cesta básica distribuída na periferia para os que ainda passam fome. Nessa nova classe, começa até a ser identificado um certo preconceito em relação aos programas sociais mais abrangentes, vistos como ferramentas disseminadoras da preguiça. Visão sem duvidas deplorável, mas que existe e precisa ser adequadamente abordada.
O discurso da esquerda que teve eco quando disparava contra as elites, os donos do poder, que vocalizava as esperanças e as revoltas de pessoas extremamente pobres e desesperançadas, precisa ser revisto, atualizado, até porque, em grande parte, as mudanças sociais que aconteceram, passando por FHC, e muito mais fortes e abrangentes na era Lula,  são resultados práticos daquelas políticas públicas que a esquerda sempre defendeu. A esquerda parando de culpar as elites, e de cutucar o passado recente, precisa convencer que assume a paternidade dessas transformações. E aguardar para ver se dá certo.

UM HONRADO SERVIDOR PÚBLICO

Faleceu semana passada o servidor público Manoel Celestino Chagas. Viveu sempre em Simão Dias, onde casou com Zilda, filha do jornalista e escritor Carvalho Déda, e teve cinco filhos. Na sua terra, era homem benquisto, cidadão respeitado, referencia como pai de família. Tudo o que na sua vida de homem simples ele mais queria. Devia ter um imenso orgulho dos filhos, uma sensação reconfortante do dever cumprido, de ter completado aos 86 anos, uma útil trajetória pela existência. Sobre Manoel Celestino disse um dos seus filhos, Marcelo Déda: Não só os que têm cargo e poder dão exemplo. Polícia Fiscal, ele tomava conta de corrente nos postos de fronteira. Criou cinco filhos sem faltar comida, sem faltar livro para estudar, sem atrasar uma prestação. O homem simples que deixou este plano, gostaria de ter podido assistir algo inédito na história da democracia. Ter um filho presidindo o Executivo e outro o Judiciário, já que o desembargador Cláudio Déda irá presidir o Tribunal de Justiça no próximo ano.
O desembargador Edson Ulisses, genro de Manoel Celestino, casado com a advogada Maria do Carmo, disse sobre o sogro: Era um homem dedicado à família e teve total sucesso naquilo que se propôs, proporcionando aos filhos o acesso aos livros, à cultura, ao ensino superior. Como servidor público, pai e cidadão Manoel Celestino nos deixa belos exemplos.

DONA CACILDA, UMA TABELIÃ DE ALAGOAS

Cacilda Damasceno Freitas faleceu semana passada depois de quase dez anos imobilizada por um AVC. Quem falar no nome de Dona Cacilda, a titular de um único Cartório em Piranhas, ouvirá dos interlocutores por toda a extensão do sertão sanfranciscano, referências carinhosas a ela como mulher forte, como uma liderança que nunca buscou a política para ter mandatos, mas sempre agiu decisivamente, mobilizando o povo para que votasse nos candidatos que ela considerava melhores para a sua terra.  Ouvirá também que ela junto ao marido, companheiro de toda a vida, o fiscal de rendas Rosalvo Damasceno Freitas, souberam construir uma família forte, unida, filhos que alcançaram elevadas posições em Alagoas.
Dona Cacilda é mãe do desembargador Washington Luiz, que foi antes promotor e também deputado estadual, do atual deputado estadual, o agrônomo, advogado e historiador Ignácio de Loyola, que já foi 2 vezes prefeito de Piranhas, do engenheiro civil Welington, ex-prefeito de Olho D´àgua do Casado. Dona Cacilda é avó de Melina Freitas, prefeita de Piranhas; é também sogra de Kátia, ex-deputada, e de Heloisa, ex-prefeita de Piranhas. Há quem garanta que todo esse sucesso político tem suas origens no carisma da respeitada e querida matriarca.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MISÉRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA


Uma empresa de consultoria inglesa a Economist   Intelligence  Unit,  faz  projeção da economia mundial para os próximos 20 anos   desenhando um ranking das maiores potencias na próxima década dos 30. O Brasil  figura em quarto lugar, com um PIB de 7 trilhões e 340 bilhões de dólares,  caso mantenha um crescimento médio de 3,9 ao ano.   Quando se analisa  o quadro dos países líderes em riqueza, não  se pode deixar de sentir um  desalento. A China, em primeiro lugar, terá um PIB de 41 trilhões e 600 bilhões; os Estados Unidos, desbancado da liderança mundial,  ficará bem atrás, com 31 trilhões e 930 bilhões. Mas a Índia estará a nossa frente com uma boa folga, ficando com 11 trilhões e 320 bilhões.    A Índia, onde as vacas ainda param o transito nas ruas  tendo  tanta gente quanto a China,  uma população de miseráveis duas vezes superior à população brasileira,   será a terceira potencia econômica mundial, parque investiu forte na formação de uma numerosa elite de cientistas e tecnólogos. Não se pode ter aquele país,  onde são gigantescas as desigualdades sociais, como  parâmetro a ser seguido, não se pode, enfim, admitir como desejável um modelo de  crescimento econômico  à semelhança de uma desabalada corrida, atropelando a própria população , na ânsia de cifras, lucros, e envenenando o planeta.
 Todavia, um  país como o Brasil, onde não há terremotos, vulcões, ciclones, regiões inóspitas,   grandes desertos, imensas montanhas ou  invernos gelados, conflitos  religiosos ou étnicos, ameaça de vizinhos belicosos; que tem as imensas riquezas naturais das quais nos ufanávamos sem delas tirar proveito; que, único no mundo, pode colher quatro safras em regiões diferentes ao longo do ano, um país assim, sendo suplantado folgadamente pela Índia, deve refletir sobre as razões desse evidente fracasso. Não há outro motivo a não ser a nossa negligencia em relação à educação.  Somos importadores de tecnologias, pagamos muito caro pelo know-how alheio que utilizamos. Nossa primeira universidade surgiu na segunda década do século passado, os Estados Unidos já haviam criado  Havard e mais tantas outras ,    um século e meio antes. E quando fizemos faculdades,  nos contentamos com a cultura bacharelesca,  relegamos a técnica a um patamar inferior.  Se tivéssemos hoje, espalhadas pelo país, ilhas de excelência como o ITA a  Embrapa,  seguramente a Índia não nos estaria  ultrapassando. Desde 1957 produzimos  veículos, até hoje, porém, não conseguimos projetar com sucesso um automóvel brasileiro. Na área de computadores  nos reduzimos a uma linha de montagem. Os principais componentes dos aviões que a Embraer fabrica com tanto sucesso, vêm do exterior. Naquelas poucas áreas onde avançamos em tecnologia, as nossas empresas disputam com êxito o mercado internacional, como é o caso da Petrobrás na exploração de petróleo em águas profundas, das grandes construtoras. A Índia gera tecnologia, suas universidades, seus centros de pesquisas transformam teoria em prática O mercado brasileiro está sendo invadido agora por carros fabricados na India, na  Coreia , na China, com tecnologia de ponta gerada naqueles países.  Por aqui não conseguimos sequer formar professores minimamente capacitados a transmitir conhecimento numa sala de aula. A rede pública de ensino,  cada dia que passa, vai revelando suas  inacreditáveis mazelas. São alunos da ultima série do fundamental que não sabem as quatro operações, não conseguem elaborar um simples, prosaico cálculo de um troco, ao efetuarem um pagamento, na maior parte, se mostram incapazes de fazer a interpretação de um texto, ou de escrever um simples bilhete. Quando foi estabelecida a exigência de titulação para os professores, espalharam –se  pelo Brasil, aquelas faculdades que fabricavam diplomas de licenciatura,  sem que o MEC exercesse a indispensável fiscalização, e o que se vê hoje é uma profusão de professores absolutamente incapazes.
 Se for feito, em Sergipe por  exemplo, um teste com professores de inglês da rede pública, se chegará à triste constatação de que, pelo menos setenta por cento deles não saberão se expressar na língua que ensinam. Por aqui, e em quase todos os outros estados, ainda se ensina gramática inglesa nas escolas públicas, enquanto nos cursos particulares essa prática já foi abolida com a adoção de métodos modernos que habilitam efetivamente o aluno a falar , escrever e traduzir textos. em inglês. Há em Sergipe  o professor Valdemberg,  abnegado mestre, que vive a descobrir talentos para a matemática. Já encontrou verdadeiros gênios, quase todos saídos de famílias muito pobres, aos quais foram proporcionadas condições para estudar.  Todos,  precocemente, se transformarem em mestres e doutores.  Deles ,  muitos já deixaram o Brasil, atraídos por ofertas de trabalho que aqui inexistem. Ao contrário do que se convencionou  admitir, o brasileiro não tem ojeriza às ciências exatas, o problema é que as escolas públicas  fingem que ensinam física, matemática, química, e nelas raramente existem laboratórios, e a matemática, rançosamente ensinada, se torna um enfadonho e inútil aprendizado.  Enquanto  o ensino publico se desconstrói, deteriora-se, estamos contaminados pela ideologização, pelo uso politiqueiro da rede escolar. Fala-se muito, como se isso fosse solução para os nossos males, em “ democratização da escola”, em eleição direta dos gestores, mas, não se trata de fazer a indispensável avaliação do rendimento escolar, unidade por unidade,  não se traçam metas pedagógicas, não se exige do professor a atualização permanente, a reciclagem de conhecimentos,  o treinamento prévio em salas de aula,  como estágio, antes de receberem a titulação, exatamente o que  fazem escolas de rede particular, que se transformam em referencias de ensino eficiente. Nas escolas particulares um professor recebe invariavelmente remuneração menor do que os colegas da rede pública. É obvio que não se pode admitir como justo um piso salarial como o que temos, e do qual andava a orgulhar-se uma gestora da educação em Minas Gerais. Mas a responsabilidade do professor decorre do juramento que fez,  da carreira que escolheu, e não pode  aumentar ou diminuir de acordo com o valor do salário.  Geralmente, os pais  dos alunos das escolas publicas têm salários bem menores do que recebem os professores. A maior parte deles nem sabe o que é fazer uma greve, mas, todos esperam que os seus filhos, nas escolas, mereçam um mínimo de atenção. Democratizar a escola é, em primeiro lugar,  torná-la um instrumento válido de ascensão social. Sem que os mestres se conscientizem e assumam a parte que lhes cabe nesse desmoronar da educação pública, vamos continuar no mesmo ramerrão de aulas repetidas e iguais, como se fosse  ritual cansativo de uma obrigação burocrática a ser cumprida.
Certamente haverá quem diga: esse é o velho discurso reacionário da direita.
Rotular sempre foi a saída mais fácil. Enquanto isso, vamos ficando,  desenxabidamente,  na rabeira da índia.