sábado, 19 de novembro de 2016

COMUNICADO

Caros leitores,

Informamos que a partir da próxima semana, o Blog do Jornalista Luiz Eduardo Costa terá seus textos publicados através do Portal Infonet, no endereço eletrônico: www.infonet.com.br 

Informamos ainda, que em breve esta página será desativada.

Cordialmente,

Luiz Eduardo Costa

DITADURAS ESQUECIDAS E AGORA, ATÉ, DESEJADAS

Na Espanha, aquele outono de 1975 começara bastante friorento e mais intenso ainda na capital Madrid, sobre o altiplano onde se destacam as cumeadas da Sierra Nevada. No soturno e sombrio Palácio de El Pardo, o ditador Francisco Bahamonde Franco, depois de receber 38 litros de sangue para compensar a incontrolável hemorragia, começava a exalar um odor pútrido.   Um mês e meio antes, no dia da “Hispanidad”, 1º de outubro, ajaezou-se com o uniforme de capitão-general, envolveu-se num grosso capote e preparou-se para ir à Praça do Oriente, onde as hordas fascistas o esperavam para a comemoração. Já era quase um cadáver.

Ao preço sinistro de 600 mil mortos, a guerra civil espanhola terminara em 31 de março de 1939, com a vitória dos falangistas liderados por Franco, que tornou-se ditador, “caudillo por la gracia de Díos”, como logo foi intitulado.

O Papa Pio XII exultou com o banho de sangue, e telegrafou ao general vitorioso, associando indevidamente Deus, ao seu júbilo: “Erguendo o nosso coração para o Senhor, damos-Lhe com Vossa Excelência os nossos mais sinceros agradecimentos pela vitória da Espanha católica”. A “Espanha católica”, por obra e graça do seu ditador, com as graças de Deus, começou a ouvir dia e noite o detonar contínuo dos pelotões de fuzilamento, executando sumariamente mais de 150 mil prisioneiros.

Na Praça do Oriente soprava, vindo do norte, um vento gelado. O ditador tremia, os áulicos o amparavam, limpavam o catarro sanguinolento que lhe escorria da boca. A turba fanática uivava ao longo da praça extensa: “Não somos muitos, mas somos machos. Não queremos abertura, queremos mão dura”.

Pela última vez o feroz e vingativo ditador, ergueu o braço na saudação fascista, e, da curta arenga entrecortada pela tosse, conseguiu-se gravar de forma entendível, apenas uma frase: “Temos de exterminar a conspiração maçônico-esquerdista da classe política em contubérnio com a subversão terrorista e comunista”.

Três dias antes, 27 de setembro, o moribundo recusara-se a ouvir clamores do mundo e também um pedido do seu médico particular, o Dr. Puigvert, para que suspendesse a execução de cinco jovens, acusados de conspiração. Franco decidiu que seria daquela vez bonzinho, concedendo aos condenados o direito de escolherem como deveriam morrer: se pelo garrote vil (cruel instrumento medieval de tortura) ou por fuzilamento. Todos foram fuzilados. O “generalíssimo” espichou a sua vida infame até o dia 19 de novembro, quando a agência Europa Press anunciou ao mundo quase em euforia: “Franco morreu, Franco morreu, Franco morreu”.

Aquele bando desatinado que ocupou a Câmara dos Deputados, pedindo ditadura e implorando, a generais inexistentes, que cumpram a repugnante tarefa de instalar um regime de força, seria apenas um aglomerado grotesco e caricato, não fosse a lembrança aterradora de tantas tragédias que a História nos revela e, ao mesmo tempo, adverte.

Quando, na tarde azíaga de 13 de dezembro de 1968, o general-presidente Costa e Silva reuniu o seu ministério para anunciar a edição do Ato Institucional nº 5, um dos ministros, o coronel R/1 do Exército, Jarbas Passarinho, que era político, um homem culto e liberal, ao apoiar a edição do monstrengo, disse com ênfase: “Às favas com os escrúpulos”. Ou seja, admitiu que ditadura e dignidade humana são incompatíveis.

Mas há quem, até tendo escrúpulos, prefira em algumas ocasiões jogá-los ao lixo, ou às favas. O antídoto mais eficiente contra todas as formas de extremismo é a força da democracia. Todavia, para que exista essa força, os políticos, as instituições, se devem fazer respeitados.  Mas aí já é outra história.

O EQUÍVOCO NOSSO E A RESPOSTA DA CODEVASF

O jornalista Fernando Pires, diligente assessor de comunicação social da CODEVASF, enviou nota de esclarecimento a respeito de comentário aqui publicado, sobre aquela empresa e o pernicioso controle partidário eleitoreiro sobre ela exercido.

O equívoco foi em relação à nova presidente da CODEVASF, que identificamos como se fosse uma assessora do gabinete do senador Valadares. Na verdade, a servidora em questão foi sim, nomeada, mas, para exercer outro cargo que não a presidência.

Afirmamos também, que o senador, no período eleitoral, fez nomeações para aquela estatal de várias outras pessoas, inclusive de um cunhado seu, para cargo importante. Nomeou também familiares de cabos eleitorais que trabalhavam no comitê eleitoral do seu filho, então candidato a prefeito de Aracaju.

O equívoco, portanto, prende-se apenas ao caso específico da presidência, para a qual, segundo a nota, foi nomeada uma servidora de carreira, natural de Goiás. Ela é zootecnista, Mestre em Ciências Agrárias e Doutorada em Zootecnia. Tem, por conseguinte, as qualificações indispensáveis. Chama-se Kênia Marcelino e tornou-se a primeira mulher a dirigir a CODEVASF.

O senador Valadares, por ausência de quadros no seu definhante PSB sergipano, repetiu um resiliente procedimento da escolha sempre recaindo no agrônomo Paulo Viana, por sinal um técnico competente. Mas ele foi recusado, em virtude do veto a nome com filiação partidária. O que vem a ser, apenas, uma tola hipocrisia.

O lamentável é que o senador Valadares, representante de Sergipe, não tenha enxergado competência em nenhum gestor sergipano sem filiação partidária, para ocupar um posto no segundo escalão do governo federal, o que sempre, para nós, costuma sobrar.

Na nota elaborada pelo jornalista Fernando Pires, é destacado o trabalho realizado pela técnica da CODEVASF há 13 anos, a Doutora Kênia. Transcrevemos: “que lhe permitiu contribuir para transformar a realidade da população ribeirinha que habita os vales dos rios São Francisco, Parnaíba,  Itapecuru e Mearim, por meio de ações como as de revitalização hidroambiental das bacias, saneamento, desenvolvimento territorial e arranjos produtivos  locais”.

A propósito dessas ações citadas, lembramos que os ribeirinhos do baixo São Francisco estão a esperar que por ali elas cheguem, enquanto sofrem a falta de suprimento de água, convivem com esgotos despejados direto no rio e empesteando as suas águas, tudo isso, consequência de obras nunca concluídas corretamente pela errática CODEVASF.  

Os ribeirinhos do baixo São Francisco registram índices de desenvolvimento humano calamitosos, idênticos aos que existiam desde que, há 42 anos, foi criada a CODEVASF, que serve, sem dúvidas muito bem, a objetivos personalistas e eleitoreiros.

A CANSEIRA DO CAMINHO E O PESO SOBRE EDVALDO

Nessa sexta-feira, Jackson saiu da casa onde mora há mais de vinte anos na Atalaia e começou uma longa caminhada até o Mosteiro dos Frades Capuchinhos, no Bairro América. Percorreu quase doze quilômetros.

Foi uma exaustiva prova de resistência, em marcha quase acelerada, algo incomum para quem já ultrapassou os 70 anos. Perguntado por repórteres qual o motivo daquela áspera jornada, Jackson respondeu: “Faço uma prova que é para mim muito mais espiritual do que física, por isso, encontro forças. Estou pagando uma promessa que fiz a São Judas Tadeu, antes da eleição aracajuana, em que o povo nos deu a vitória, elegendo Edvaldo e Eliane. Vou ajoelhar-me durante a missa agradecendo a Deus por tudo o que tenho recebido e pedir que me dê forças para corresponder à confiança e generosidade dos sergipanos”.

No percurso, era saudado festivamente pelas pessoas, uma atitude espontânea, muito rara nesses tempos em que os políticos andam em baixa e quase só ouvem vaias, ou o espocar de foguetes, quando saem presos a caminho das penitenciárias.

O gesto público de Jackson faz recair sobre os ombros de Edvaldo responsabilidades ainda maiores. Ele não pode falhar, não pode decepcionar os aracajuanos, os que nele votaram, os que nele não votaram e os que anularam o voto, no protesto mudo contra a classe política.

Edvaldo, em quem a maioria dos eleitores acreditou, não pode ser apenas um prefeito razoável, muito menos medíocre. Terá de ser um excelente prefeito.

LÁ VEM DE NOVO O FMI NOS FISCALIZAR

Parecia que aqueles senhores e senhoras intrometidos, os técnicos do Fundo Monetário Internacional, nunca mais viriam ao Brasil monitorar as nossas finanças, bisbilhotar sobre a nossa vida. O FMI assemelha-se a um abutre que sobrevoa a terra buscando carniça. A economia brasileira apodreceu, e isso parecia há pouco tempo improvável.

Temos, porém, vistosas reservas em dólares e não estamos, ainda, próximos daquelas crises de quebradeira completa, que fizeram Fernando Henrique sair de pires na mão e com o apoio do colega presidente americano, Bill Clinton, conseguiu uma injeção de dólares do FMI, que aliviou as agruras imediatas.

Na condição de devedores e falidos, tínhamos mesmo que nos submeter às exigências do Fundo, que organiza tudo para que a elite financeira da agiotagem primeiro mundista, tenha assegurados os seus créditos.  

A turma do FMI vai imiscuir-se principalmente nos estados onde os cofres esvaziaram-se. Enquanto isso, fica suspensa a esperança da chegada de grandes investimentos estrangeiros ao Brasil. 

Ninguém virá investir num país onde a maioria dos integrantes da federação não consegue, sequer, honrar o pagamento da folha dos servidores e uma parte considerável da elite empresarial e politica está vendo o sol nascer quadrado. Por isso, nessa semana que começa, governadores irão ouvir em Brasília um discurso mais acessível aos seus pedidos de ajuda.

ALFABETIZANDO QUEM DEVE SER ALFABETIZADO

Mário Simonsen foi um homem de extraordinária capacidade intelectual, beirava a genialidade, e era também recordista no consumo de uísque e cigarros. Fatalista em relação à própria vida, não ligava muito para a perspectiva de morrer cedo. Para ele, a vida perdia a graça, sem o néctar escocês, os cigarros, sem ler e escrever livros, sem as óperas que ele também interpretava com voz forte de barítono.

Exemplar homem público, foi Ministro da Fazenda e, nesse tempo, grafou, em relação ao MOBRAL, a frase que estimularia controvérsias, limitada porém, ao espaço delimitado pela ditadura intolerante. Disse Simonsen: “Alfabetizar quem já gastou boa parte da vida, é um investimento sem retorno”.

O Secretário da Educação, professor Jorge Carvalho, deve concordar, em parte, com o que disse Simonsen. Por isso, está direcionando o esforço de alfabetizar, exatamente para escolas onde estão alunos entre seis e nove anos. Instalou nas escolas estaduais e municipais de 14 municípios situados na bacia do São Francisco, um novo sistema de alfabetização, conceituado como aletramento e numeramento.

São aplicadas técnicas da neurociência, para que o processo de aprendizagem tenha maior efetividade. O objetivo é fazer com que a criança, alcançando os nove anos, já saiba ler, escrever, interpretar textos, bem como elaborar corretamente as quatro operações fundamentais, e adquirir a base do raciocínio matemático.

O governo do estado espera começar a reduzir o espantalho assustador dos analfabetos funcionais, encontrados hoje até em faculdades. 

O GABINETE DO SENADOR AMORIM E A CODEVASF

Saiu do gabinete do senador Amorim a nota que informava sobre o cancelamento da visita que faria a Sergipe a presidente da CODEVASF. A nota explicava o motivo, alegando que a suspensão ocorreu em consequência de um acidente na BR101, causando a morte de cinco pessoas, todas elas de Propriá. Acrescentava a informação que a visita se tornaria imprópria no momento em que a cidade estava enlutada.

A senhora Kênia poderia perfeitamente vir, visitar os perímetros irrigados, verificar obras mal feitas ou paralisadas, sem necessidade de ir a Propriá.

Sobre a explicação emitida pelo gabinete do senador Amorim, o ex-deputado Jorge Araújo, com excelente memória para as ocorrências políticas de Sergipe, lembrou que, há uns dois anos, o então presidente da CODEVASF anunciou que viria a Sergipe com o senador Amorim.

O senador Valadares era então adversário do senador Amorim, com ele disputava prestígio e sentiu-se diminuído com aquela visita, até porque a CODEVASF em Sergipe era por ele controlada, sendo dirigida por Paulo Viana e a ele nada fora comunicado sobre a vinda do presidente.

Valadares era então aliado incondicional da presidente Dilma e foi ao Planalto reclamar, alegando que ele, e não o senador Amorim, é que deveria agendar a visita. A visita foi cancelada e Valadares, vencendo a parada, comemorou efusivamente o golpe aplicado em Amorim, para mostrar quem era mesmo o galo no terreiro de Brasília.

A CONSCIÊNCIA NEGRA A FORÇA DO CANDOMBLÉ

Dia 20, comemora-se o Dia da Consciência Negra. Vale uma reflexão sobre o ameaçador panorama mundial.

Trump, um histriônico perigoso, vai apresentando a sua assustadora camarilha, com nomes já anunciados só de brancos extremistas, entre eles um racista, cuja indicação foi festejada pela criminosa organização Ku-Klux-Klan, responsável, através da sua nojenta história, pelo assassinato de milhares de negros.

A Ku-Klux-Klan fará um desfile em regozijo pela vitória de Trump. A onda de extremismo de direita já percorre a Europa. A fascista Marine Le Pen, pode reeditar, na França, a tragédia política registrada nos Estados Unidos. Há nuvens tempestuosas e precisamos começar a nos precaver contra essa tormenta de ódios que se arma, ou já acontece. Não somos ainda, infelizmente, aquele país falsamente desenhado, onde todas as etnias, todas as religiões conviveriam em paz, num clima perfeito de compreensão e cordialidade. Episódios isolados acontecendo aqui e ali, demonstram que a intolerância existe e é ameaçadora.

Em Aracaju, um terreiro de Rita de Cássia, Mãe Tassitaôô que completava meio século, associou suas festividades e seus cultos à data da Consciência Negra e fez uma dupla comemoração.

As religiões afro-brasileiras, por não alimentarem intolerâncias, por não se intrometerem naquilo que fazem ou deixam de fazer as pessoas na intimidade dos seus corpos; que não se perdem em desvios preconceituosos, que pregam a solidariedade, a respeitosa devoção à natureza, talvez, por assim serem, se tornam alvos preferenciais da arrogância e violência dos que se deixam dominar pela irracionalidade do fanatismo.


O candomblé continua, infelizmente, sendo visto por uma parte da população desinformada, como algo maléfico, que deve ser combatido.

O HOSPITAL DO CÂNCER E AS MÁFIAS DA SAÚDE

Muito se tem discutido, muito se tem politizado ou partidarizado, o que é ainda um projeto: o Hospital do Câncer. A ideia surgiu em meio à comoção pela agonia de Marcelo Déda.

Nessa segunda-feira a OAB-SE promove um oportuno debate público sobre o câncer e os meios que o poder público disporia para enfrentar a doença insidiosa. É uma tentativa, também, de fazer um diagnóstico sobre o problema, apontar falhas e suas possíveis soluções.

Há quem assegure, com conhecimento de causa, que o câncer, além de problema grave de saúde pública, seria também um delito a merecer investigações da Polícia Federal. Suspeita-se que exista uma máfia envolvendo vários setores, faturando alto com os assombrosos preços de medicamentos e até fornecendo remédios a “pacientes” que já morreram, ou seja, haveria uma fraude imensa, contribuindo para tornar mais graves as consequências da doença.

Mas aqui tratamos apenas do caso do projetado hospital. A coisa começou mal, sendo de início politizada, alvo de disputas desnecessárias de prestígio, ou supostas autorias da ideia. Não se pensou ainda sobre o custo de um hospital que será frequentado também, por pacientes de vários outros estados.

No Recife, o Hospital do Câncer que já foi referência, está em crise. Outros semelhantes passam pela mesma situação. Sem desprezar a necessidade de melhorar o atendimento aos, cada vez mais numerosos, pacientes com câncer, talvez o debate pudesse tomar um caráter mais técnico, sobretudo, baseado em custos e a possibilidade de serem cobertos pelos cofres estaduais. Afirmam, técnicos, que a manutenção do hospital custará por mês algo em torno de 40 milhões de reais.

No HUSE, o tão criticado e eficiente hospital, já está concluído o sistema de tratamento nuclear, aliviando o drama dos pacientes sofrendo com as constantes panes nos equipamentos sucateados. Poderia ser instalado, no HUSE, um setor mais amplo, destinado somente ao tratamento oncológico. Seria, então, o passo seguro que poderíamos dar, com as nossas próprias pernas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

SOBRE JUIZES E "JUIZECOS"

O que espera a sociedade de um Juiz? A resposta é óbvia: espera, exatamente, que ele julgue com sensatez, coerência, responsabilidade absoluta, e que, em cada sentença, cumpra a sublime missão de efetivamente fazer justiça.

É essencial que a sociedade tenha firme confiança nos seus juízes. Que os chame sempre com firmeza de Juízes, jamais de "juizecos". Quando Juízes perdem a credibilidade, perpassa pela sociedade um sentimento de frustração, até de revolta, que pode corroer as bases da convivência entre as pessoas.

O juíz, que é em primeiro lugar um servidor público, deve ter um olhar para a realidade em que vive, para as circunstâncias que o cercam, para os dramas que afligem aquela massa humana de onde sai o dinheiro que paga os salários de todos os que exercem cargos públicos, dos mais simples aos mais qualificados e essenciais, como são as funções da magistratura.

A insegurança é hoje um crucial problema que afeta o mundo. Entre as ações terroristas e a bandidagem comum, se faz a crônica da violência assustadora, na qual o Brasil, desgraçadamente, figura em primeiro lugar. Aqui, ainda não temos atos precisamente caracterizados como terrorismo, todavia, mais de cinquenta mil pessoas morrem assassinadas a cada ano, as ruas são inseguras, há quadrilhas formadas por menores que matam, estupram. É comum bandidos portando fuzis e metralhadores nas periferias das cidades, em locais inacessíveis às forças policiais, e ali reinam absolutos os chefões do tráfico. 

Sergipe figura hoje num deplorável lugar: tornou-se o estado mais violento do Brasil. É terrível essa situação, que se equipara a uma guerra civil das mais sangrentas. Mas, ao que parece, há quem, podendo proteger a sociedade, prefere isolar-se numa redoma de vidro fosco, para não enxergar a realidade, e agir como se o que estivesse fora do seu universo pessoal,  miúdo e restrito, absolutamente não lhe interessasse. Isso poderia chamar-se egoísmo, omissão, ou conivência.

Um Juíz e uma Juíza em decisões que indignaram a sociedade, fizeram com que a expressão "Juizeco", utilizada pelo senador Renan Calheiros fosse muito lembrada nesses últimos dias. O Juiz, alegando estar no plantão noturno, e não enxergar urgência, recusou-se a decretar a prisão e a internação de dois bandidos, um maior, e outro menor, que juntos, cruelmente, mataram a tiros o jornalista e empresário Igor Faro Franco. 

Depois, um Juiz, Sérgio Lucas, que não deixa dúvidas sobre o seu procedimento, muito  menos se é Juíz ou "Juizeco", no seu plantão diurno, com urgência, decretou a prisão de um, e a internação do menor, os dois assassinos.

Por sua vez, uma Juíza, negou-se assinar mandado de prisão formulado pela polícia contra um meliante que assaltou e fugiu com o carro roubado, depois, enfrentou a tiros os policiais, e finalmente foi preso. A diligente magistrada produziu uma longa peça de controversos argumentos para concluir que o bandido não representava perigo para a sociedade, porque tinha endereço certo, trabalhava com carteira assinada, e poderia ficar livre apenas usando uma tornozeleira, com direito a percorrer Aracaju, e mais ainda Socorro, exatamente as áreas onde costuma cometer seus crimes, tendo "carteira assinada" e endereço certo. 

Foi mais longe ainda a magistrada: mandou repetir o exame de corpo de delito, alegando que o marginal poderia ter sido torturado pela polícia, porque, perto de um dos seus delicados cílios, enxergou um pequeno corte. E indo mais além nos seus zelos e cuidados: criminalizou os policiais que foram os alvos dos tiros do meliante, e arriscaram a vida para prendê-lo. É possível que a esta altura algum Juíz ou Juíza já tenha decretado a prisão do indivíduo, se ele ainda não fugiu com tornozeleiras e tudo, pronto a enfrentar a tiros outros policiais.

É difícil retirar a impressão que agora contamina os policiais civis e militares sergipanos de que o trabalho que fazem, como agentes da lei, se assemelha a um inútil enxugamento de gelo, desconstruído por juízes ou juízas que, amparando bandidos estimulam o crime, ressalvando, todavia, que respeitam os "direitos humanos".
  
E as vítimas, as suas famílias, os policiais, a sociedade em geral, não seriam pessoas humanas carentes hoje do manto protetor de algum direito, que alguns juízes, ou juizecos, andam a esquecer?


A FÁBULA DE ESOPO E O FANFARRÃO TRUMP

Esopo foi um escravo que conquistou a liberdade, sobretudo para pensar. Tornou-se escritor, e não se sabe exatamente como, exercendo ofício que alcançava apenas exíguo círculo de ilustrados, conseguiu transformar-se em referência histórica de literato, que persiste até hoje, decorrido algo em torno de dois mil e quinhentos anos. Esopo inaugurou um gênero literário: a fábula. 

Karl Marx,  em 'O 18 de Brumário' e 'Luiz Bonaparte',  um dos seus mais conhecidos livros, até porque, ao contrário da sua obra máxima, 'O Capital', é agradável de ler, faz referência a uma fábula de Esopo, comparando a fanfarronice do seu personagem ao comportamento demagógico e falastrão de alguns políticos que se excediam em promessas, ou em pretensões  falsas e irrealizáveis.

Contou Esopo: Na ilha de Rhodes um homem muito mentiroso e conversador, afirmava, insistentemente, que certa vez dera um enorme salto e voara sobre uma montanha, sempre  invocando a seu favor o depoimento de testemunhas que nunca apareciam. Um dia as pessoas o desafiaram: "Todos somos aqui possíveis testemunhas, então, diante de nós repita o seu grandioso salto, e estarão confirmadas as suas  afirmações". O fanfarrão emudeceu e sumiu.

Os Estados Unidos poderão se transformar na "ilha de Rhodes", quando, as fanfarronices populistas e demagógicas de Donald Trump se desfizerem, diante do testemunho de todos os eleitores que tanto lhe ouviram. Isso acontecerá à  medida em que o fanfarrão, desbastando a sua enorme ignorância, começar a defrontar-se com o tamanho dos complexos problemas da ultra-complexa sociedade americana.

Para o mundo é muito bom que isso ocorra, porque significaria um retorno do absurdo à sensatez. Se por infelicidade ele conseguir transformar as fanfarronices em ações concretas, os Estados Unidos que se cuidem, e o mundo que se prepare para a tragédia.

ROGÉRIO QUER A SAÚDE DE ARACAJU

O ex-deputado Rogério, presidente do agora anêmico PT sergipano, começou a dar explicações nas emissoras de rádio sobre os processos judiciais, nos quais está envolvido. Segundo explicou, ele na verdade não é réu, mas sim uma vítima. Teriam respingado  sobre ele, quando Secretário da Saúde, durante o primeiro governo de Déda, as consequências de desmandos que ocorreram no governo anterior de João Alves. 

Não se sabe exatamente como poderia ter acontecido esse fenômeno improvável e insólito de transferência de culpas, ou responsabilidades de um gestor para outro, porém, essa foi a explicação dada por Rogério. Vai daí, ele estaria se habilitando a receber um convite de Edvaldo Nogueira para ocupar um espaço na nova administração, proporcional à sua imaginária força política. 

Rogério, como constatou decepcionado e triste Marcelo Dáda,  tem  gosto e avidez pela área da saúde. Há sérias  questões a esclarecer sobre o desempenho de Rogério quando gestor das  Secretárias da Saúde do Estado e da capital. Por isso, ele teria na manga um Plano 2, que seria a indicação de um médico muito amigo e obediente para ocupar o complexo e sensível posto.

Qualquer sinal de influência próxima ou distante, clara ou disfarçada, exercida por Rogério na Secretaria Municipal de Saúde, segundo a opinião da maioria ampla dos médicos, geraria uma perigosa sensação de desconfiança, colocando sob suspeita um mandato logo no seu início.

O VÍCIO NOSSO DE CADA DIA

O veneno é sempre doce, disse Raul Seixas. Compositor e intérprete genial, o jovem, destemperado nos seus arrojos, bem entendia de venenos, e das suas doçuras. Extasiado pelo ¨doce veneno¨, dele precocemente morreu.

Os vícios são os venenos sociais e da alma humana. Mas eles andam a nos seduzir, protegidos uns, pelo arcabouço legal da sociedade, outros, malsinados e escolhidos como inimigos letais. O consumismo é um vício, mas que movimenta a máquina da economia. Uma simples coca–cola, ou um hambúrguer, transformam-se em vícios. O álcool, o cigarro são outros em potencial, e o cigarro, talvez seja um dos mais corrosivos objetos de consumo humano. Mas a sociedade os tolera.

Na maconha, comprovadamente muito menos perniciosa do que o fumo, constata-se, que um dos seus elementos, o canabidiol, tem enorme potencial curativo, e já faz parte de medicamentos que a ciência tornou disponíveis. Breve, com a descriminalização da maconha em vários países, agora mais ainda em vários estados americanos, o que era vício deletério se transformará em rendoso negócio.

E nós por aqui enfiando a cabeça no buraco para não tratar com objetividade e sem preconceito ou hipocrisia do gravíssimo problema social da droga, ficamos a pagar à policia para ela correr atrás de maconheiro, quando se sabe que as drogas pesadas cada vez mais estão se espalhando, agora sob o formato de produtos químicos, consumidos desbragadamente pelas baladas da vida. 

Com todo o aparato repressor, os americanos não conseguiram ainda que os seus narizes fossem tapados, e eles deixassem de ser os maiores cheiradores de cocaína do mundo, seguidos, bem de perto, pelos brasileiros.

Existe algo de errado nessa forma de combater um problema de saúde pública através exclusivamente da repressão, que termina quase sempre a associar-se aos traficantes, senhores de um negócio irresistivelmente atrativo. No mundo, o terceiro em movimentação financeira.

A ARACAJU QUE APODRECE

Está aumentando dia a dia a fedentina que começa na 13 de Julho e vai acompanhando o curso do Tramanday, entrando pela cidade a dentro. Há outros pontos de podridão em bairros diversos, inclusive na Atalaia, o cartão de visitas da cidade, da  qual já se disse um dia ser a ¨capital da qualidade de vida¨.

Não somos e nunca fomos, efetivamente, essa virtuosa cidade, mas poderemos sem dúvidas alcançar o cobiçado posto. É preciso porém arregaçar as mangas, começar a fazer o que é necessário. 

No caso da fedentina, pouco se alcançará se não for montado um mutirão do qual participem as pessoas, as instituições, para que se supere a vergonhosa situação. O presidente da DESO, o engenheiro Carlos Melo, parece já ter contratado uma consultoria que fará um conclusivo relatório sobre o problema da fedentina. Depois disso, é botar mãos à obra.

AS LEIS QUE O SENADO ESTÁ APRONTANDO

Comissões do Senado começam a aprovar leis que poderão causar grande impacto na vida dos brasileiros. Uma delas, a reforma política, não chegará a tanto, porque nasce tímida, mas, tem o mérito de colocar um freio nesse balcão de negócio em que se transformaram os chamados partidos nanicos, quase sempre controlados por malandros, picaretas, que deles se apossam como pregoeiros do indecente leilão de siglas. 

Uma outra lei é a legalização dos jogos de azar. Hipocrisia pura mantê-los proibidos, pois o Estado tornou-se, com as loterias oficiais, o grande dono da banca legalizada, enquanto proliferam os cassinos clandestinos, que não pagam impostos, e são controlados pelas redes criminosas. Legalizar o jogo pode ser uma forma de levar desenvolvimento a algumas regiões espalhadas pelo país, assim como fizeram os americanos no deserto, criando o monumental cassino que se chama Las Vegas.

Dona  Santinha, a esposa do general Dutra, de quem se disse que era mais feio por dentro do que por fora, mas, foi presidente eleito e cheio de poderes, pediu-lhe que atendesse às súplicas piedosas do Cardeal Leme, e proibisse o jogo, fechasse os cassinos do Rio, entre eles, o da Urca. 

O jogo acabou, e com ele morreu a movimentada noite do Rio de Janeiro, que era ainda a capital da República. Houve uma onda de suicídios de garçons, chefes de cozinha, cantores, humoristas, motoristas de táxis, vedetes, empresários da noite, todos levados à falência. Ou seja, comprovadamente, o jogo de azar gera empregos. 

A CANOA DA VOLANTE E DOS CANGACEIROS MORTOS

Adeval Marques é um comunicador, (tem um site movimentado) e é também historiador, dedica-se a fazer pesquisas no sertão onde vive, e agora resolveu descer de Canindé para Propriá, até a foz do minguante Velho Chico. 

Afirma então, ter evidências fáticas de haver encontrado a canoa grande na qual viajou a volante policial vinda de Piranhas até Poço Redondo, para que fosse montada a emboscada na qual perderam a vida Lampião, Maria Bonita, e a  maior parte dos temíveis cangaceiros.

Nessa mesma canoa foram levadas, ao lado alagoano, como troféus do tenente Bezerra, as cabeças cortadas dos cangaceiros. O sangue delas escorria ainda, e tingia a água que se acumulava ao fundo.

Não é nada, não é nada, mas de ¨nadas¨ às vezes se faz turismo, e a canoa poderia transformar-se em objeto de atração. Comprovar o fato é que parece complicado.

O RIO A CODEVASF E OS NOVOS CORONÉIS

Sobre o senador Valadares disse certa vez um saudoso e exemplar político sergipano, que dele foi adversário e também aliado: ¨O senador Valadares as vezes me parece não estar à altura do Senado, e eu o enxergo do tamanho do Pau de Leite, da Feira da Rôla e do Brinquinho, os povoados simãodienses onde ele passou a infância¨.

Semana passada esteve em Aracaju uma senhora cujo nome não é ainda bem conhecido. Ela veio para uma solenidade na sede aracajuana da CODEVASF. O ex-deputado Jorge Araújo, arguto observador notou que de Aracaju ela retornou a Brasília, não se dando sequer ao trabalho de ir ver de perto as instalações da CODEVASF, às margens do Velho Chico, para ali, constatar de perto tantos equívocos, tantos erros acumulados, que existem e devem ser consertados. 

A indigitada senhora, agora presidente da CODEVASF, não deve ter plena liberdade para agir, fazer, mudar, dar novos rumos a uma estatal problemática. Ela era uma funcionária do gabinete do senador Valadares, que agora, com o aliado senador Amorim, tomaram ares de coronéis da Velha República. Alçada a um posto que jamais esperaria alcançar, embora digam que teria bons conhecimentos de contabilidade, a funcionária  foi ao mapa para localizar onde ficavam mesmo o São Francisco e o Parnaíba, de cujos leitos e bacias teria de cuidar. 

Talvez, pensando em suprir essas deficiências, o senador Valadares providenciou contratar  um servidor  para dela ficar bem perto. O nomeado foi exatamente um cunhado dele, que, sendo sergipano, deve saber onde fica o São Francisco. Atendendo objetivos imediatos o senador Valadares providenciou, também, a nomeação para Brasília de pessoas ligadas aos cabos eleitorais que se dedicavam à campanha do seu filho.

Retirando recursos que deveriam garantir o funcionamento do campus do sertão da UFS, e também que viriam para a construção desse tão polemizado Hospital do Câncer, o senador Valadares presenteou o seu novo objeto de absoluta adoração, a CODEVASF, com cem milhões de reais. Não é dinheiro para Sergipe somente, irá quase todo para os sete estados que integram as bacias do São Francisco e do Parnaíba, rios dos quais cuida ou deveria cuidar a CODEVASF, uma estatal que necessita muito mais de uma avaliação criteriosa sobre as suas duvidosas realizações, do que de dinheiro para persistir nos mesmos erros. 

Por episódios assim, parece que a observação do saudoso político sergipano adquire plena verossimilhança.

JEFERSON PASSOS E A CRISE FINANCEIRA

O Secretário da Fazenda foi à Assembleia explicar aos deputados as nuances da crise sergipana. Fez então o que mais habilita-se a dizer e concretizar: falou em escassez, necessidade de cortes, restrições, apertos, renúncias, sacrifícios. Tudo isso sem dúvidas é necessário, mas falta o essencial que é encontrar saídas.

Com isso, parece não se preocupar muito o secretário. Tanto é assim, que dorme na sua gaveta, proposta feita por conceituada entidade para realizar um estudo técnico sobre tributação de petróleo e gás em Sergipe, que, como se sabe, deles é grande produtor. Estudos semelhantes já foram feitos em Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, que aumentaram consideravelmente suas receitas tributárias.

Por coisas assim, é que o Secretário Jeferson Passos já está sendo apelidado, justa, ou injustamente, de Jeferson dos Passos Curtos.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A BATALHA DE STALINGRADO E O ¨GENERAL¨ JACKSON BARRETO

A Batalha de Stalingrado foi a mais decisiva da Segunda Grande Guerra. A cidade não era apenas um local estratégico, era emblemática. Além do significado do próprio nome, o bastião fortalecido às margens do Volga marcava o ponto crucial, que se ultrapassado, abriria o caminho para os alemães chegarem aos grandes campos de petróleo, às infindáveis planícies férteis da Rússia.  Depois, seria fácil cruzar os Urais, avançar pelas estepes e chegar às praias da Sibéria asiática para fazer uma junção estratégica com os aliados japoneses. Hitler consolidaria o domínio da Europa, apressaria o projeto da bomba atômica, e se tornaria imbatível. A luta pela posse de Estalingrado, a valentia dos seus defensores, tornou-se sinônimo da resistência ao avanço do nazi-fascismo.

Durante a campanha eleitoral em Aracaju, um jornalista que gosta de fazer imagens assim grandiosas, associando o presente à episódios da História, riscou um panorama certamente exagerado, mas, bem acentuando as ressalvas: ¨essa disputa pela Prefeitura de Aracaju guardadas as devidas proporções, é  como se fosse uma batalha de Stalingrado¨. Pois bem, então, mal começava a noite de domingo, dia 2, quando os primeiros resultados da eleição foram divulgados, o jornalista telefonou para um amigo e disse- lhe: ¨Jackson é o general da nossa Batalha de Stalingrado¨.

Vencer a maior coalizão política já formada em Aracaju, parecia mesmo uma tarefa impossível. Parodiando a colunista Thaís Bezerra, diríamos que de A até Z, todas as elites políticas, e também facções (isso no sentido mesmo de agremiações delituosas) se juntaram, colocando à frente do camuflado projeto um jovem que poderia até alimentar ideias novas, mas, ficou prematuramente envelhecido, por conta do proposito consciente ou inconscientemente a representar. 

A Prefeitura de Aracaju, ou, mais especificamente, os seus recursos, os seus meios, seriam colocados à disposição de um projeto de poder individualizado, personalista, e em certos aspectos nitidamente patrimonialista. Para que se faça essa constatação basta que se verifique a biografia, ou o prontuário dos que, não podendo nele colocar a própria cara, buscaram uma face mais aceitável, e que tivesse a necessária esperteza política para esconder muito bem aquela parte dos seus mal embuçados apoiadores.

O ¨general¨ que venceu a batalha impossível, certamente, com sensibilidade política, irá retirar dela algumas indispensáveis lições, que assim poderiam ser resumidas: Reconhecer que o resultado duramente alcançado, as circunstancias difíceis do momento, não deixam margem para grandes euforias. Admitir que existe enorme insatisfação na sociedade, (os votos nulos e brancos revelam) impondo, assim, urgente readequação no governo, que chega aos dois anos assolado pela devastadora crise nacional.

Por fim, feitas essas óbvias constatações, e ultrapassada a fase dos desabafos naturais diante da carga exagerada de ofensas sofridas, o ¨general¨ da nossa Stalingrado, que se fez imbatível pelo carisma que ainda conserva, e pela sagacidade de farejador dos sentimentos populares, terá de  manter nos seus pés as sandálias da humildade,  e abrir um caminho de  pacificação dos espíritos, fazendo, da vitória, o instante da descoberta  de que Sergipe nada ganha  com  o radicalismo contaminando a nossa forma de fazer política. Deixando bem claros, todavia, os sentimentos que já expressou, de que, entendimento a favor de Sergipe não se pode confundir com projeto político idêntico.

Depois de vencida a nossa batalha de Estalingrado, ou simplesmente de Aracaju mesmo, que tentem, o ¨general¨ vencedor, e os ¨coronéis¨ derrotados, hastear as suas bandeiras brancas, simbolizando que  há o interesse público a ser preservado.

DE QUE RÍ MESMO ROGÉRIO

Num galhofeiro vídeo nas redes sociais após conhecidos os números da eleição em Aracaju o ex-deputado Rogério Carvalho aparece, dando gostosas e esfuziantes gargalhadas. As perguntas então que muitos fazem: ¨De que estaria rindo mesmo o Rogério? ¨.

Será que imagina ter alguma participação na vitória, quando se sabe que a maior preocupação dos que a construíram era exatamente mantê-lo afastado dos palanques e da mídia?

UM PROJETO E A AGONIA DO RIO SÃO FRANCISCO

Aracaju é a capital nordestina que tem maior segurança hídrica. São três instalações distintas: a mais velha, a da Cabrita, a recém-inaugurada do Poxim, e a adutora do São Francisco, construída há mais de trinta anos quando era Governador Augusto Franco.

Sem nenhum viés apocalíptico, diante de uma situação agora real, que nunca se imaginaria viesse a acontecer, se pode afirmar que o abastecimento de água para Aracaju poderá entrar em colapso. Essa possibilidade vem sendo analisada por uma equipe técnica criada pelo governador, formada pela DESO, COHIDRO, Secretaria do Meio Ambiente e Casa Civil, que estuda os problemas hídricos no semiárido, e nesses estudos incluiu a agonia do Velho Chico.

Nos próximos dias a CHESF deverá reduzir ainda mais a vazão do São Francisco. Diante da alternativa de manter a vazão e não produzir energia, não restaria outra solução a não ser o represamento maior no lago Sobradinho, que está no limite crítico, e assim a vazão na foz cairá para minguados 700 m³ por segundo. Assim, a conta que pode ser atribuída à natureza e também a desídia humana, deverá ser paga mesmo por quem vive no baixo São Francisco, no caso, sergipanos e alagoanos.

Como lembrou Frei Enoque no programa que tem na Xingó FM, as terças feiras, o rio, que antes encontrando o mar, o empurrava por quilômetros, hoje, despejando no Atlântico apenas um quarto do que fazia antes, está recuando da sua foz para dentro, invadido pela água salgada  que já alcança Penedo. Divergem os técnicos sobre até onde poderão avançar as marés, tendo em vista a reduzida elevação do nível do leito do rio, da foz para dentro.

Por isso, não se pode afirmar com precisão se a água salgada chegará, por enquanto, até o sistema de bombeamento da DESO, em Telha.  Se a vazão do rio continuar sendo reduzida, um dia a DESO será forçada a interromper o bombeamento. Não há mais uma garantia firme de que a adutora do São Francisco continuará operando normalmente.

O escrevinhador dessas linhas, renitente em meter-se em assuntos que fogem aos seus inexistentes conhecimentos técnicos, consultou especialistas, engenheiros civis, elétricos, hidrólogos, ambientalistas, verificou algumas experiências realizadas em outros países, e ousa afirmar que não  seria um projeto desligado da realidade  a construção de uma barragem de foz,  para, definitivamente, anular o risco do avanço das marés. Não é uma obra simples como são outras barragens, e exigiria um investimento elevado, bem longe das atuais possibilidades dos cofres públicos.

O engenheiro especialista em recursos hídricos, Ailton Rocha, também os engenheiros Carlos Melo, presidente da DESO e Marcelo Monteiro, técnico da empresa, admitem que é preciso, preventivamente, pensar em soluções viáveis para  que se evite um cenário pior a médio ou longo prazos. Eles não descartam a realização de estudos sobre a viabilidade de uma barragem de foz.

A obra só se poderia tornar-se viável através de uma Parceria Público Privada, com recursos certamente provenientes de financiamentos externos. Mas aí surge a necessidade de estabelecer de onde sairia o retorno do investimento.  A instalação de uma usina hidrelétrica na barragem não seria suficiente mesmo num longo prazo de concessão, porque, como observa o engenheiro elétrico Ivan Leite, diretor-presidente da SULGIPE, a capacidade de geração seria bastante limitada. Surgiria a necessidade de montar um leque variado para assegurar receitas, tornando o investimento atraente para os que assumiriam o risco de fazê-lo.

Se construída a barragem de foz, todo o baixo São Francisco teria garantido um volume de água permanente, com capacidade para abastecer cidades de Sergipe e Alagoas, e disponibilidade, também, para projetos de irrigação. Mas os outros trechos do rio, bem mais longos, estão a exigir rápidas providências regeneradoras.

O PT E A SUA DIFÍCIL RECRIAÇÃO POLÍTICA

Refundar o PT, hoje tão malsinada sigla, não será tarefa das mais fáceis. Os que fazem parte da elite rançosamente conservadora, nunca engoliram um partido que teve a ousadia de denominar-se dos trabalhadores. Isso, como se todos nós não fossemos trabalhadores, em qualquer atividade que estejamos a laborar.

O PT, apesar de tudo, tem história e tem importância na formatação do nosso modelo democrático, que não deve resumir-se apenas ao que pensa e fazem as classes dominantes. Mas o PT foi irremediavelmente marcado pela roubalheira, ultrapassando os níveis daquilo que era habitual, e até tolerado.

Em Sergipe, onde o partido foi destroçado após a morte de Déda, não haverá muito o que fazer,  permanecendo  o comando  nas mesmas mãos. A eleição de Eliane, a viúva de Déda, na chapa de Edvaldo, daria a ela a legitimidade para pleitear a liderança do partido. E viria a reconstruí-lo num modelo em que a ética prevalecesse.

Eliane poderia dar atenção maior aos segmentos intelectualizados com disposição para esquecerem os envelhecidos chavões, adaptando-se ao que os novos tempos exigem: uma esquerda que pense, que proponha, que aja como força responsável, transformadora e lúcida da sociedade, livre do viés de controle ou aparelhamento político do Estado.

UM SUSTO: TRUMP PODE GANHAR

Na etapa derradeira da conturbada eleição americana surge o espantalho de Donald Trump com a possibilidade de tornar-se o homem mais poderoso do mundo, senhor da guerra, detentor da capacidade de desencadear o apocalipse.
 
Faz medo. 

O QUE FAZER DIANTE DO CAOS QUE SERÁ HERDADO

Edvaldo venceu batendo na tecla segura da experiência que ganhou como prefeito, e por isso preparado para reorientar uma prefeitura onde o caos evidencia-se no primeiro Natal sem luzes, no Reveillon já cancelado, no lixo acumulando-se nas ruas, nas pessoas atulhando a tenda de emergência montada no HUSE pela diligente secretária Conceição Mendonça, tentando suprir a lacuna imensa dos serviços municipais paralisados. Nas escolas falta a merenda, as ruas mal cuidadas, duas praças, uma delas central, a Fausto Cardoso, a outra, a dos Expedicionários, cercadas há meses por taludes, e sem obras feitas.

Edvaldo não terá dias fáceis. Vai precisar logo agora passar a imagem de um gestor eficiente, e visível fora dos gabinetes. Poderia começar a percorrer diversos trajetos em ônibus, sentindo o que sofrem os passageiros a partir dos abrigos nos pontos de parada, feitos sem o menor respeito aos que os utilizam. Arriscar-se andando pelas nossas calçadas, visitar a periferia, vendo de perto o que o povo sofre e quer, percorrer o Mercado Municipal, constatar a sujeira, o abandono em que tudo se encontra.

Passear ao longo do apodrecido Tramanday, pela 13 de Julho, sufocando-se com  a pestilência do mau cheiro que exala daqueles depósitos de excrementos a céu aberto, e olhar o mangue que está morrendo. Não podendo vencer desafios imensos em curto prazo, que busque, então, mostrar um estilo novo de tratar o povo desta cidade.

A cidade pede um prefeito que vá aonde o povo está.

UMA FESTA DOS SESSENTA ANOS

Galdino Carvalho é um daqueles sertanejos que venceu adversidades para construir a vida.  Começou a construí-la menino, caminhando distancias ate á escola. Depois, o longo percurso feito em canoa de Canindé a Propriá, isso, para chegar até Aracaju, e tornou-se advogado. É Defensor Público, e nunca esqueceu a sua terra, a sua gente. Galdino faz sessenta anos, e festeiro como é, junta, família e amigos, para comemorar muito, exaltando a ventura da vida.

AS MEDALHAS DA MAÇONARIA

Criteriosa e austera nas homenagens que faz, procurando restringi-las a uns poucos, a Loja Maçônica Cotinguiba fixou em no máximo três as que são concedidas a cada ano. Nessa quarta–feira dia nove, quando a Loja Maçônica também comemora aniversário de fundação no dia 10, receberão medalhas Carlos Sattler, um ícone maçônico, exemplo e vida que chega aos 95 anos. 

Também serão homenageados dois sergipanos que Sergipe inteiro neles reconhece méritos suficientes para que sejam medalhados: o ex-governador Albano Franco e o Reitor da UNIT professor Jouberto Uchôa. O venerável Ibrahim Salim, convidando a família maçônica e a sociedade sergipana para juntarem-se à homenagem na Loja Cotinguiba a partir da vinte horas.

A CARTA ABERTA DE SAMARONE

O médico sanitarista e professor Antônio Samarone é também excelente fotógrafo e senhor de um texto que o qualifica muito, inclusive para embates políticos, porque, além de tudo, é culto e arguto observador. Já foi também vereador em Aracaju.

Estava ele posto na quietude plácida do seu canto, fazendo o que mais gosta: estudando, trabalhando, comandando o grupo da Expedição Serigy, fotografando, polemizando muito, quando foi insolitamente provocado pela campanha    virulenta do candidato Valadares Filho.

Agora, que a campanha terminou, e na qual Samarone resolveu participar intensamente, ele escreveu uma Carta Aberta ao senador Valadares, que considera responsável pelo rasteiro nível da campanha. Transcrevemos a Carta: ¨As eleições em Aracaju aposentaram dois tradicionais chefes da política sergipana. No primeiro turno João Alves, três vezes governador, duas prefeito, Ministro de Estado, foi avisado pelo eleitorado, que a sua hora do descanso havia chegado.

O segundo turno aposentou o antiquado senador Valadares. Essa foi a quarta derrota de Valadares para a Prefeitura de Aracaju. Em 1988, enquanto governador, todo poderoso, após ter cassado o mandato de Jackson Barreto, lançou o Dr. Lauro Maia para prefeito, numa das campanhas mais caras da história de Aracaju. Foi derrotado por Welington Paixão, candidato de Jackson. Em 2000 a segunda derrota, Valadares arriscou-se pessoalmente na disputa na eleição que Marcelo Déda saiu vencedor. O senador Valadares amargou uma terceira colocação com pouco mais de 50 mil votos. 

Em 2012 o senador sofreu a terceira derrota. Lançou o próprio filho para prefeito, perdendo para João Alves no primeiro turno, e agora o senador sofreu a quarta derrota, chegando a um inédito tetra. Dessa vez teve tudo a seu favor, o presidente Temer, ACM Neto, pastor Malafaia, o governador de São Paulo, os três senadores de Sergipe e quase 20 partidos. Mesmo assim o povo de Aracaju resolveu eleger mais uma vez Edvaldo Nogueira (PC do B) com Eliane Aquino, uma vice do PT, no momento de refluxo das forças da esquerda no país. 

Derrota com um detalhe cruel para o senador: o candidato que o derrotou foi mais uma vez apoiado por Jackson Barreto. Parece uma sina. Não tem como não entender o recado das urnas. Senador Valadares tá na hora do recolhimento e da aposentadoria. Mesmo eu tendo sido agredido com mentiras no programa eleitoral do seu partido, com o seu consentimento ou responsabilidade direta, não lhe desejo o mal. Que o senhor compre um bom pijama e uma boa rede, e que tenha uma tranquila aposentadoria. Antônio Samarone, médico sanitarista e professor de saúde pública da UFS.