O SENADOR E O BANQUEIRO
Prender político no Brasil já
se tornou quase uma tarefa corriqueira. Os operosos agentes da PF devem
andar cansados de mostrar mandados de prisão expedidos contra vereadores,
deputados, prefeitos, e agora o exibiram a um Senador da República e, antes
disso, sem mandado mesmo, alegando flagrante, já conduziram um governador para
a cadeia. Tudo isso em pleno exercício do mandato desses representantes do
povo. O próprio Senado teve, recentemente varejados pela Polícia
Federal, alguns dos seus mais vistosos e poderosos gabinetes. Nessas
prisões ou conduções coercitivas nunca deixou de haver o carimbo de um
magistrado, ou de um ministro do STF.
Há quem proteste diante
do furor midiático que sempre acompanha ou dá sequência a essas prisões,
considerando mesmo que o Poder Judiciário estaria exorbitando, indo além das
suas prerrogativas.
Alguém poderia imaginar um
Senador americano, um Senador da República Francesa, sendo preso e
conduzido a uma cela com oito metros quadrados, e sem direito a um
banheiro privativo?
Isso não seria a
deslegitimação do pilar base da arquitetura democrática, que é a força e
a intangibilidade da manifesta vontade do povo?
Nos Estados Unidos , durante a
onda de repressão do ¨macartismo¨, detentores de mandatos populares com
âmbito federal sofreram o constrangimento de depor diante da feroz comissão de
investigação presidida pelo fanático Senador, que a ela emprestou o seu
deplorável nome. Mas, nenhum deles foi preso.
O que estaria então a acontecer
no Brasil ?
Não é fácil produzir uma
resposta diante de um processo que tem história alongada, e um labirinto
de implicações econômicas, sociais, que se estendem muito além do campo
específico da política.
Mas, de início, surge a
evidente constatação de que o terreno nobre da política vem sendo, desde a
redemocratização em 1985, ocupado por uma massa de aventureiros destituídos de
qualquer idéia que não seja o enchimento dos próprios bolsos.
Marx e Engels criaram,
para definir um certo tipo de escória social, a expressão em alemão : ¨
Lumpen Proletariat ¨. Seria uma camada indolente e indiferente do proletariado
imersa na própria apatia, ou desesperança, à margem das lutas sociais, da
política, não se identificando como classe.
Estamos a necessitar de uma
definição para esse tipo de escória que ocupou vastos espaços da política
brasileira, ao ponto, até, de um líder sindicalista que surgia no
ABC paulista chamado Lula, ter dito que essa escória estava representada pelos
400 picaretas dentro do Congresso Nacional. Não se trata de uma escória
indiferente nem muito menos apática. É uma escória ativa, participante, que até
adota um estilo agressivo, assim , tipo Eduardo Cunha. Que
tanto pode estar na direita, como na esquerda. Zé Dirceu, Delcídio Amaral,
e Demóstenes Torres , são bons exemplos de comportamentos mafiosos que vão
além das ideologias, ou, o que é pior, através delas tentam se
justificar.
A escória que invadiu a
política brasileira desconhece completamente o que vem a ser ¨ interesse público¨
, e opera exclusivamente com o único intuito de privatizar para cada um, aquilo
que poderá parecer intangível, todavia, que se expressa clara e fisicamente em
reais ou dólares, e que é chamado, tão inapropriadamente , de ¨coisa
pública ¨. A escória da qual falamos, especializou-se em devastar a ¨coisa
pública ¨. Essa escória transita no Congresso Nacional, nas
Assembléias, está enquistada em todos os poderes, em todas as camadas
sociais. E continuará assim, enquanto estivermos a conviver com um modelo
político que é estímulo aos mafiosos. Se esse modelo permanecer , a
escória fica nele agarrada, enquanto não houver a iniciativa cívica e
regeneradora da República representada na Convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte, com o objetivo especifico de elaborar as reformas , entre
elas a reforma política. Mas que venha a ser constituída por
quem não tenha mandato, nunca os haja exercido, e com o compromisso de,
cumprida a tarefa constituinte, nunca mais ser candidato.
A nossa política anda
assim, a tal ponto desmoralizada, que a prisão do desastrado Delcídio
foi quase ignorada no exterior, embora seja ele um Senador da República.
Mas o banqueiro Daniel Esteves, dono do Pactual, foi noticia em todo o
mundo. Afinal, prender banqueiro não é coisa corriqueira, ainda mais quando o
seu banco tem ativos da ordem de 300 bilhões de dólares. A escória
invasora, não se classifica pela renda, muito menos pela ideologia.