sábado, 14 de abril de 2012

A PENHORA DA CACHORRA BALEIA

O Brasil atravessou várias fases da sua história cada uma delas caracterizada por um tipo peculiar de submissão a interesses que não eram exatamente os do povo brasileiro. Houve alguns desses períodos deprimentes da vida nacional em que chegamos mesmo a nos transformar numa espécie de quintal onde imperava a rapinagem  sem limites. Fomos colônia, e sobre essa condição subalterna Portugal deitava e rolava, daqui, levava tudo, e nos agrilhoava  através de uma legislação concebida para   impedir-nos  de instalar indústrias, de manufaturar o que aqui produzíamos.  Plantávamos cana, algodão, depois o café, sem poder fabricar o arado, a enxada, que tínhamos de comprar da Inglaterra, que, por sua vez, fazia da metrópole lusitana o seu quintal no continente europeu. Nos livramos de Portugal e  logo abrimos os portos, mas com exclusividade, só para os navios ingleses. Finda a Segunda Grande Guerra, o quintal americanizou-se. Em 1964, depois do golpe militar, quando os interesses norte-americanos mais solidamente fincavam pé no quintal, chegando a Washington como novo embaixador brasileiro, o general Juracy Magalhães  fazia a jornalistas uma desastrada afirmação que dava o rumo da nossa nova diplomacia desavergonhadamente submissa: ¨O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil¨.
Agora, finalmente, deixamos de ser o  devassado quintal onde os gringos faziam seu despudorado festim de bucaneiros,  escapamos da humilhação de não ter soberania sobre as nossas próprias riquezas,   mas ainda precisamos reagir  para que jamais nos tratem como se  continuássemos sendo quintal esquecido de um dono leniente. A resistência agora  é contra a  insânia argentária dos banqueiros, tanto os nacionais como os estrangeiros. Os lucros que os bancos exibem, sejam eles privados ou estatais, resultam de um sistema perverso, onde a força especulativa do dinheiro subjuga o potencial produtivo da economia brasileira.  A presidente Dilma, enojada, enfiou o dedo na ferida pustulenta, e exigiu a baixa dos  juros extorsivos,   o fim da agiotagem do mafioso sistema financeiro. A determinação da presidente  começa a dar resultados. Banco do Brasil e  Caixa Econômica  já baixaram os juros que cobram,  reduziram a extorsão   nos cheques especiais e cartões de crédito.  A banqueirada privada sentindo os efeitos dessa medida no mercado,  vai também reduzir os juros para deter a revoada dos clientes.
Domingo retrasado, a cidade de Nossa Senhora da Glória foi palco, no sertão sergipano, de um recorrente drama dos produtores rurais esmagados pela  criminosa indiferença dos bancos oficiais que liberam  crédito sob condições leoninas,  fazendo crescer astronomicamente o montante da dívida, como se ainda vivêssemos a ciranda inflacionária que para os agiotas institucionais ainda não acabou. Em Glória, convocados pelo deputado federal  pastor Heleno Silva e pelo deputado estadual João Daniel, aglomeraram-se mais de mil pequenos e médios produtores, na sua maioria com as propriedades ameaçadas de irem a leilão. Enquanto os países  europeus, os Estados Unidos, a China, o Japão, a Austrália, estimulam os produtores rurais com generosos subsídios, aqui, eles  recebem a visita  indesejada dos oficiais de justiça que fazem as penhoras ou anunciam os leilões.
O deputado pastor Heleno Silva gravou, para levar à Brasília, o clamor dos sertanejos desesperados. Houve uma mulher, uma viúva, fazendo a chocante revelação: quando foi tratar do paupérrimo inventário do marido, descobriu que o espólio já pertencia a um banco oficial,  perverso, ao ponto de caprichar no requinte da penhora de um cavalo e uma burra. Chegará brevemente a vez do jumento.
Graciliano Ramos, talvez o escritor brasileiro mais impregnado de nordestinidade, conta, em Vidas Secas, o sacrifício da cachorra Baleia, vivente companheira de uma família habitando uma tapera no chão ressequido das caatingas. Baleia adoeceu, parecia estar  ¨azeda ¨, contaminada pela perigosa doença que ameaçava o casal , às crianças, tão acostumados e apegados à cachorra. Fabiano, o pai de família, contrariando a  mulher Sinhá Vitória, fazendo ouvidos moucos ao choro lamurioso da filharada, carrega a espingarda de socar e sai ao terreiro   em busca de Baleia para  disparar o tiro fatal. Atira,  Baleia mal ferida arrasta-se para morrer  aos poucos, escavando a terra do curral, ¨sonhando com preás gordos ¨.
Hoje, antes de disparar a espingarda, Fabiano pensaria duas vezes, avaliando o risco de matar o animal e depois  acabar preso como depositário infiel. Baleia  poderia estar penhorada aos bancos oficiais.

A UNIVERSIDADE NO SERTÃO

Os municípios do semiárido sergipano entram na disputa para que possam sediar um novo campus da UFS. O deputado João Daniel acalenta uma ideia que vai discutir com o reitor Josué Passos. Ele  imagina uma Universidade voltada para as características do semiárido, geradora de conhecimentos, sobre a terra, o clima, a vegetação, o  armazenamento de água,  barramento de rios,  construção de açudes, perfuração de poços,  também, para pesquisas no campo da biodiversidade, enfim, a geração de tecnologias, todas elas voltadas para a convivência  com a seca. Entende o deputado João Daniel que a futura Universidade do Semiárido poderia ficar localizada em Poço Redondo, município com o pior IDH da região e que logo começaria a se transformar para melhor. João Daniel considera que o tema é delicado pois mexe com interesses de vários outros municípios, principalmente de Nossa Senhora da Gloria, considerada a  capital do sertão, mas, ele ressalta que na concepção do seu projeto todo o semiárido teria a ganhar, inicialmente, porque a Universidade criaria setores segmentados operando  nos outros  municípios, e os investimentos seriam  equitativamente distribuídos, da mesma forma os empregos. Em Poço Redondo o prefeito Roberto Araújo  já saiu na frente e reservou uma grande área de terra que poderá ser doada à UFS para a instalação do campus.

AS POLÍCIAS E AS NOVAS ¨VIVANDEIRAS ¨

Mais do que nenhum outro servidor público, o policial, seja ele civil ou militar, deve obediência rigorosa às leis, aos regulamentos da sua corporação. Isso por um tão simples quanto determinante motivo: o policial carrega consigo armas que a sociedade lhe entrega exatamente para que a proteja. No caso do policial militar as regras são ainda mais rigorosas, exatamente  porque o militarismo difere, em rigor, das regras habitualmente aplicadas aos civis. O fascínio pela farda e a vocação, fazem com que a carreira militar,  tanto nas forças armadas como nas corporações policiais, seja uma das mais disputadas pelos jovens. Há uma fila enorme  de pessoas dispostas a enfrentar os concursos, a admissão às escolas de onde sairão para cumprir uma tarefa, que sabem,  não será fácil nem destituída de sacrifício.   As policias de alguns estados diferenciaram-se pelo nível dos salários,  em Sergipe, por exemplo, mas, o Distrito Federal permanece no topo, até pelo fato de  ser  a administração distrital irrigada  generosamente com verbas federais.   Todavia, de Brasília, partem dos policiais aqueles exemplos desprimorosos de desprezo pela carreira, de desrespeito à farda que vestem. Os policiais de Brasília,  insatisfeitos, apesar de receberem os melhores salários, de estarem acima do que recebem os  integrantes   das  forças armadas,  sempre disciplinados e cônscios da responsabilidade que têm, do papel que desempenham.  Os policiais brasilienses fazem a  ¨operação tartaruga ¨ ,  em consequência,  crescem os  assaltos, os homicídios, e eles comemoram nas redes sociais, o que entendem  ser um sucesso do movimento.  É deplorável o espetáculo de desrespeito à lei e à sociedade, promovido por que mais deveria zelar pela disciplina, pela hierarquia, pelo respeito escrupuloso às leis. Pior do que tudo isso são as novas ¨vivandeiras¨ que cortejam os quarteis,  fazem tudo para agradar aos que lá vivem,   e até incentivam a indisciplina e a baderna, desde que disso retirem dividendos eleitorais.
PS-  ¨Vivandeiras¨,  na linguagem da caserna, eram aquelas mulheres,  na sua maioria meretrizes que acompanhavam os exércitos nas suas marchas.  Quando, na presidência da República após o golpe militar de 64 o marechal Castello Branco se viu ameaçado pela indisciplina que grassava no exército, marinha e aeronáutica, em virtude da disputa pelo poder, chamou de ¨vivandeiras ¨ os políticos que estimulavam a rebelião, e o fez com endereço certo para o jornalista e então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um homem que se habituara  a rondar os quarteis  na tentativa de sublevá-los,   e tirar proveito político. Vítima do próprio monstro que ajudara a criar,  Lacerda buscou reconciliar-se com a democracia, a civilidade política, e  criou a chamada ¨ frente ampla¨,  um movimento de resistência ao poder militar, reaproximando-se  de adversários que ele tanto vilipendiara, como Juscelino Kubitscheck e Jango Goulart.  Depois do Ato Institucional nº 5 em dezembro de 68, Lacerda foi cassado e preso, o mesmo acontecendo com Juscelino, que já perdera, em agosto de 64, o mandato de senador  depois que sobre ele despejou-se a ira dos militares, estimulada por Carlos  Lacerda.  Ele queria ter o caminho livre para disputar as eleições presidenciais em 65, que  não se realizaram.
Misturar armas com política, sempre foi uma imprevisível e arriscada  aventura.

¨DAR A VIDA É DAR À LUZ¨

Sempre o sergipano ministro a oferecer ao debate suas lapidares frases que, jurídica e  também poeticamente, sintetizam a essência  da razão nos argumentos que se entrechocam.  No julgamento  da questão dos fetos anencéfalos, ( descerebrados )  Carlos Ayres de Britto fulminou, sem perder a ternura, e  dando irrespondível consistência do que afirmava: ¨Dar à luz é dar à vida¨. Não  precisaria dizer mais nada.
Uma questão que envolve   saúde,  procedimentos médicos, onde, com precisão absoluta, a ciência comprova que não existindo o cérebro  não existe a vida, foi transformada num  conflito, com  as fortes e quase sempre irracionais marcas dos dogmas religiosos.  Surgiram argumentos  à sombra de uma visão que se  foi diluindo no crepúsculo da Idade Média,  quando as luzes do Renascimento começavam a clarear os caminhos  do humanismo.
No fundo da Idade Média, no cenário europeu, a vida era uma infindável celebração de rituais religiosos.  Dos sinos das igrejas as populações das aldeias recebiam os sinais que comandavam a existência, pontilhada pelas  constantes procissões, as missas repetidamente celebradas, os exorcismos para afugentar o demônio, visto frequentemente a rondar os cemitérios. Havia dois  grande momentos nas povoações isoladas: a chegada dos pregadores  e dos menestréis.
Ouvindo os pregadores, a multidão entrava em transe, debulhava-se em prantos convulsivos, e o sentimento dominante era  exatamente manifestado naqueles ritos expiatórios, onde  se amaldiçoavam os eventuais prazeres da vida, e até almejava-se encurtar o tempo da existência, para que se alcançasse a gloria do paraíso , a libertação daquele ¨vale de lágrimas ,¨ na definição de  Santa Tereza D`Avila,  que aguardava, esperançosa, o dia da própria morte. Paradoxalmente, a Igreja Católica que detinha o privilégio do conhecimento, com as bibliotecas que guardava nos seus conventos, e os seus  tradutores e copistas que preservavam e multiplicavam o saber , inclusive o científico, aquele Igreja beneficiária do clima e  mantenedora das concepções medievais, tornou possível o Renascimento, ao debruçar-se sobre  a cultura helênica e aceitar os ensinamentos dos seus filósofos,  a cosmovisão, que favoreceu a aventura dos descobrimentos.  Quando tornou possível a revelação do corpo humano e estimulou as artes, abrigando nos seus templos, aquilo que antes era visto como  sacrilégio e profanação, a igreja sepultou preconceitos e estimulou o  pensamento e a criação.
Hoje, tantos séculos decorridos, tantas revoluções acontecidas, tanto progresso social, tantas mudanças e transformações, há certamente que se fazer uma reflexão sobre os novos tempos, mas, sem que seja preciso ir buscar inspiração nas sombras da Idade Média, quando se levavam hereges e bruxas às fogueiras  para  ¨  queimar  o corpo e santificar a alma ¨.   E ainda se chama de cruéis e ímpios aqueles Caetés das praias alagoanas que degustaram as carnes do Bispo Sardinha.
Direitos civis, liberdade individual, ciência, não são temas que possam ser  tratados na restrita perspectiva dos dogmas. Esse caso específico  que acaba de ser decidido com lucidez  pelo STF,  autorizando o aborto para casos  de ausência de cérebro nos fetos, não interfere nas convicções religiosas.  Quem é católico, evangélico, ou seguidor de qualquer outra religião, não  fica obrigada a interromper a gestação, não há intromissão na liberdade religiosa, da mesma forma, não deveria haver intromissão das religiões  num Estado laico, como é o caso do brasileiro. De resto, querer impor a uma mulher que alimente em seu ventre, durante nove meses de dor e angústia um feto sem nenhuma possibilidade de vida, é algo cruel, desumano, um desrespeito à vida da própria mãe. Não se defende a vida, sacrificando-se  uma outra.

GILSON CAJUEIRO

Gilson Cajueiro de Holanda foi um dos mais destacados economistas da velha geração da antiga Faculdade Estadual de Economia. Cedo, assumiu a responsabilidade de planejar as finanças do estado, tarefa que lhe foi atribuída pelo ex-professor Aloísio de Campos. Lourival Baptista, no governo, tinha em Gilson um permanente consultor, e quando criou o Tribunal de Contas, lá o colocou para tratar de auditoria, ao lado de uma plêiade de  homens  que integraram a mais ilustre e honrada equipe até hoje formada naquele Tribunal. Gilson foi Secretario da Fazenda de João Andrade  Garcez,  num governo interino que deixou fortes marcas de boas ações e exemplos de  dignidade.  Professor, Gilson tornou-se Reitor da Universidade Federal de Sergipe, para depois recolher-se a um quase isolamento, onde permaneceu  até a sua morte ocorrida semana passada.

O MANGUE VAI REVIVER

Garante e promete o Secretário do Meio Ambiente Genival Nunes: o mangue da Treze de Julho não desaparecerá. A mais bela floresta urbana de Aracaju que assiste agora  o definhar de uma boa parte das suas árvores, será recomposta. A parte que morreu reviverá  como resultado de algumas ações que já foram iniciadas. Os que torcem pela qualidade de vida, por uma cidade convivendo com o verde, um marco de civilização, esperam que as ações iniciadas por Genival Nunes possam dar bons resultados.

AS CONTAS DO PREFEITO SUKITA

O prefeito de Capela, o famosíssimo Sukita,  não parece nem um pouco preocupado com a rejeição das suas contas pelo TCE. Ele não comenta a decisão dos conselheiros em público, mas, sabe-se que sobre ela tem muitas restrições a apresentar. Confiante na aprovação tranquila das contas pela Câmara de Vereadores, Sukita acredita que terá em mãos o instrumento legal que o absolverá de eventuais culpas.
Como empresário e político finaliza a montagem de três novas emissoras de rádio cujas concessões já recebeu,  uma delas, em Nossa Senhora da Glória. Quer montar ao lado dos negócios com veículos, também uma forte rede de comunicação.

OS CATAVENTOS E A PLATAFORMA

Chegam a  Sergipe até o final deste mês as peças que formarão os enormes cata-ventos da usina eólica de Barra dos Coqueiros, e também a plataforma fabricada na Finlândia, o mais moderno equipamento para combate a incêndios ,  capaz de debelá-los em edifícios com  mais de vinte andares.  Foi adquirido para o Corpo de Bombeiros com recursos provenientes do DETRAN.

A SOLIDÃO INCOMODA

O ex-senador Almeida Lima  na solidão em que vive hoje, afastado de todas as lideranças políticas do estado, figurando decepcionantemente nas pesquisas sobre a preferencia popular para prefeito de Aracaju, começa a dar visíveis sinais de angústia e decepção. Ele transforma frustração em ataques, e até imaginou uma reunião em que compromissos teriam sido assumidos para este ano, e 2014, passando também pelo Tribunal de Contas,  tudo avalizado pelo desembargador  Pascoal Nabuco.  Pascoal recorda que, de fato, antes de tornar-se desembargador,  presenciou,  e até avalizou importantes acordos políticos, mas hoje, aposentado, já se passaram duas eleições sem que ninguém sequer o houvesse chamado a opinar sobre alguma coisa. E ele acrescenta que está muito satisfeito assim.

UM TÍTULO , UMA HOMENAGEM

Foi, do sempre lúcido Josailto Lima, a ideia que ele transformou em primoroso editorial do Cinform .  Josailto fez um percurso pela vida de Luiz Antonio Barreto, sobre tudo o que ele já fez pela cultura sergipana, e entendeu, como justa, uma homenagem que a Universidade Federal poderia prestar ao intelectual agora enfermo, se lhe concedesse a rara honraria do título de doutor honoris- causa.  A ideia logo recebeu o aval pleno e irrestrito de todos os que formam a comunidade pensante sergipana. Pensante, e muitas vezes pensativa, sobre tantas injustiças que se cometem, inclusive, as  sofridas por Luiz Antônio Barreto.

SILVA LIMA PROFESSOR

Poucos sabem, mas o radialista Silva Lima,  estrela de primeira grandeza no rádio sergipano, nas décadas  de 50, 60 e 70, foi também professor de inglês na escola Normal Rui Barbosa. O professor e radialista Vilder Santos, incansável devassador de arquivos, encontrou o seguinte despacho  do Departamento de Educação  ao diretor do Instituto: ¨Comunico-vos  de ordem do Sr, Diretor, que o professor  Jose da Silva Lima, inscrito para exames de suficiência de Inglês ( 1 ºciclo) , nos termos do artigo 4 do Decreto- Lei nº 877, de 22 de janeiro de 1946, está autorizado a lecionar a disciplina nesse estabelecimento em 1951.
A presente autorização está condicionada ao pagamento no prazo de sessenta dias, em cheque à D.E se, da taxa de inscrição ( 100,00 por disciplina ). Atenciosamente, Adalberto Correia Sena, Chefe da SPDa.¨

O CANGAÇO NAS BATALHAS DA MEMÓRIA

O  escritor Antonio Fernando de Araujo Sá, professor do Departamento de História da UFS, lança, nessa terça – feira,  dia 17, o livro O Cangaço nas Batalhas da Memória. Os autógrafos acontecerão no Museu da Gente Sergipana a partir das dezenove horas.
Sobre o livro retiramos um trecho do que escreveu o professor e pesquisados Gil Francisco: ¨O Cangaço nas Batalhas da  Memória é uma prova de que ele ainda existe na memória popular. O autor discute os velhos mitos consagrados pelos historiadores oficiais e estudiosos, apresentando originalidade e pioneirismo nesse tipo de pesquisa. Por tudo isso, o livro do estudioso Antonio Sá será bastante útil para professores e estudantes de diversas áreas do ensino superior, tais como História, Letras, Comunicação, Sociologia, etc... Constitui, indubitavelmente, uma importante contribuição para a historiografia  brasileira ¨.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A FEIRA DA SULANCA, NOSSA INVENÇÃO ¨CHINESA ¨

Antes da invasão chinesa nós já havíamos inventado a sulanca,   que era e continua sendo uma espécie de feira volante,  por vezes  fixa,  vendendo confecções variadas, desde bermudas, biquines,  calcinhas, camisas, calças, até sapatos e bolsas,  também roupa de cama. Tudo resultante da informalidade, da fuga aos impostos. Pequenos empresários, com fabriquetas de fundo de casa, vendedores que usam de mil artifícios para driblarem o fisco.  E o resultado disso foi uma espécie de revolução no vestuário da grande massa de baixa renda. Antes da sulanca, a compra de uma camisa, uma bermuda, uma calça,   tornava-se sacrifício que o pequeno assalariado fazia vez por outra, e os que eram pobres andavam quase sempre esfarrapados.  Roupa, representava um item que pesava muito no orçamento das famílias. Era costume entre a classe média que estava apenas um pequeno degrau acima da classe C, comprar vestimentas no final de ano.  Em Aracaju havia o hábito de envergar  fatiota nova no dia primeiro de janeiro para assistir a procissão do Bom Jesus dos Navegantes e desfilar na Rua da Frente.
Depois da Sulanca tudo baixou de preço,  e muitas cidades do nordeste se transformaram em polos de confecções, oferecendo emprego farto, invariavelmente sem carteira assinada, e quase sempre se valendo do amparo político  que gerava a deliberada omissão do fisco. Tobias Barreto aqui em Sergipe, Itabaiana, e em menor escala Itabaianinha e outras cidades, cresceram produzindo e vendendo na informalidade, e a constatação óbvia,   é que, se não contribuíram para encher os cofres públicos, deram, de fato, um grande impulso à economia  em geral,  que se beneficiou do dinamismo daqueles polos que escapavam dos impostos, da burocracia, da rede atravancadora de exigências e encargos pesando sobre as empresas.
É claro que este não é um modelo a ser seguido numa sociedade civilizada e moderna. Nenhuma nação subsistiria, se todos resolvessem se tornar isentos do compromisso de destinar recursos para que os serviços públicos sejam mantidos. Mas devem existir limites razoáveis para o desempenho da máquina arrecadadora, e o sistema tributário brasileiro passa bem longe da razoabilidade.
Aqui,  a sulanca,  brasileiríssima invenção, entra, não como exemplo de sucesso com a fuga aos impostos, mas,  da capacidade empreendedora do brasileiro simples, do nordestino, estereotipado quase sempre como passivo, indolente habitante de um meio adverso, que ele não sabe, ou não se empenha em transformar. A sulanca   gera empregos em centenas de confecções espalhadas principalmente pelo interior, estabelece elos afinados entre quem produz e quem vende, e se mostra criativa na elaboração de modelos que tornam atraentes os seus produtos para as classes C e D , que antes não conseguiam vestir-se. Depois da sulanca, que surgiu bem antes da invasão chinesa, os esmolambados desapareceram das ruas. O Brasil tem  como resistir e manter suas indústrias produzindo, sem fechar as portas para a importação, desde que,  entre muitas coisas que precisam ser feitas, não se permita a excrescência de incentivos em alguns portos brasileiros para produtos importados. Enquanto pelo porto de Itajaí, em Santa Catarina, entram em profusão  toalhas, lençóis, cobertores de qualidade duvidosa,  tudo beneficiado com renuncia de impostos, industrias tradicionais catarinenses, em Blumenau, Joinville, pioneiras da  manufatura têxtil brasileira, estão sendo fechadas ou obrigadas a reduzir a produção, e despedindo mão de obra. Aqui em Sergipe, onde também se formou um parque têxtil moderno e competitivo a partir dos anos vinte do século passado, os efeitos da carga tributária pesada, da burocracia, de uma legislação trabalhista caduca, somando-se à ousadia descontrolada como agem os asiáticos, geram um perigoso cenário de desestímulo  e desalento.
Na medida em que se acentuarem as providencias agora iniciadas pela presidente Dilma, as ¨sulancas ¨ da informalidade,   hoje mantidas fora das estatísticas oficiais,  serão acrescentadas ao PIB brasileiro,  então, no ranking das  grandes economias, saltaremos da sexta posição que agora ocupamos, para a quarta, que de fato já somos, mas, sem o reconhecimento oficial, deixando para trás a França, a Alemanha, e sendo superados apenas pelos Estados Unidos, a China e o Japão. 
 Em 1964, quando  mais se radicalizavam posições, ninguém imaginaria  o que aconteceu esta semana, quando empresários e sindicalistas saíram juntos, carregando as mesmas bandeiras, vestindo as mesmas camisas, e foram protestar andando pela Avenida  Paulista, defendendo a indústria brasileira, os empregos que ela gera. A sulanca  pode transmitir, tanto  aos homens da FIESP, como às centrais sindicais, boas experiências de criatividade , organização, arrojo,  para que, sem duvidas com menor carga tributária , possam resistir e  superar os audazes competidores amarelos.

UM ¨OLHO GROSSO¨ SOBRE O MANGUE

 Tanto amaldiçoaram, tanto lançaram  condenações sobre o mangue da Treze de Julho que a mais bela mancha verde da cidade, a mais povoada de vida, perde a sua exuberância e vai morrendo. Já existe,  pelo lado voltado à curva do Iate Clube, uma extensa mancha escura formada pelas centenas de árvores que  morreram. E a mancha se vai ampliando, assim, de uma forma inesperada e rápida. Parece mesmo coisa de  ¨olho grosso ¨  daqueles olhares de seca pimenteira. O mangue, antes  tão  vistosamente verde, vai descolorindo, tornando-se cinzento.  Brevemente, sem espaço, as aves começarão a forçada migração. Perde-se assim uma peculiaridade que ali a cidade orgulhosamente deveria sempre apresentar: a simbiose quase perfeita entre a mansidão da natureza e a selva urbana.  Fortalece-se, então, a ideia sinistra que alguns acalentam,  que seria o aterro completo do manguezal, para, sobre o cemitério de árvores, fazer construir uma bem asfaltada e cimentada área de lazer. Enquanto vai se acelerando o desaparecimento daquele  mangue mais vistoso, um outro que nunca deixou de ser raquítico, o do Tramandaí, volta a dar sinais de enfraquecimento. As árvores se desfolham,  muitas já secaram completamente. Volta a acontecer o que há quase dois anos atrás a  Prefeitura de Aracaju evitou,  desassoreando canais e fazendo a maré outra vez entrar pelo mangue, a ele levando nutrientes e possibilitando-lhe a vida. Pode ser que também o mangue da Treze de Julho esteja a necessitar de algo semelhante. O prefeito Edvaldo Nogueira que marca este final do seu mandato com boas ações voltadas para a ecologia, poderia assumir a responsabilidade de salvar o mangue, se isso ainda for possível. Poderá ser útil, também, convocar um benzedor para  que ele venha esparzir sobre a mancha verde ( que felizmente não é aquela mortífera do Palmeiras) as suas orações salvadoras, capazes de afastar o olho grosso.

ATÉ JOÃO BEBE ÁGUA DEVE ESTAR TRISTE

Quando Inácio  Barbosa, presidente da província de Sergipe Del´Rei  começou a tramar com a plena aquiescência do Barão de   Maruim, grande proprietário de terras no sítio dos Aracajus, a transferência da capital, São Cristovão,  para os alagados , manguezais e dunas alvíssimas  ao lado direito do estuário do Sergipe,  esgrimia-se a forte alegação de que ali, naquele local de muitos cajueiros e verdes  papagaios, havia a possibilidade de ser construído um bom porto, justificando assim a ousadia da nova capital.  Contra o abandono da sua secular São Cristovão, batia-se um líder, gente simples do povo, um artesão, João Bebe Água. Ele não enxergou os interesses imobiliários que poderiam estar ocultos sob os argumentos favoráveis à transferência, mas,  prognosticava firme,  o fim causado pelas febres palustres de todos os que fossem viver naquela região  desconsolada e doentia de pântanos insalubres e infindáveis nuvens de mosquitos. Aracaju se fez vencendo todos os desafios, e os foguetes que João Bebe Água guardava, esperançosamente, para fazê-los subir e pipocar quando fracassasse a ideia do Aracaju, e todos voltassem à velha capital, nunca subiram festivamente aos ares. Simbolicamente,  espocaram os foguetes, quando Lourival Baptista, governador e com raízes sancristovenses, ali tendo iniciado a sua vida de médico, transferiu por três dias a capital para a velha cidade, que ele logo classificaria como a quarta mais antiga do Brasil, embora haja controvérsias. Marcelo Déda vem mantendo a tradição das solenidades simultâneas em Aracaju e São Cristovão,  no dia 17 de março, marco da fundação da capital nova, quando são relembrados os foguetes de João Bebe Água.
Agora, quando se quer levar uma parte de Aracaju de volta a São Cristovão, nem João Bebe Água no seu túmulo deve estar alegre. Ele era um sonhador, entusiasmado com o cenário da sua cidade encarapitada sobre morros, o que a tornou resistente às invasões estrangeiras,  mas, infelizmente hoje, a fortaleza antiga caiu, desmoronou, arrasada pela corrupção que ali tornou-se endêmica e agressiva, somando-se a ela a incompetência e os desmandos. Então, se quer devolver a São Cristovão, mergulhada num  caos, uma parte de Aracaju onde foram realizados pesados investimentos públicos, como no Santa  Maria, além do Mosqueiro e adjacências, e suas mansões e terrenos  valorizados que geram um belo IPTU. Há, separando os dois municípios, um largo curso d´agua , o Vasa Barris, e essas  ¨ fronteiras molhadas¨ sempre foram marcos naturais, os mais consistentes, a marcar a divisão de territórios.  A prefeitura de São Cristovão que não consegue sequer manter limpa a Praça São Francisco, com tanto sacrifício e luta transformada em Patrimônio da Humanidade, terá de fazer uma difícil ginástica logística para coletar o lixo na parte que será agregada ao seu território. Os caminhões deverão fazer a longa  volta ,  iniciando-a pela  rodovia João  Bebe Água,  chegando até a UFS, avançando depois pela Tancredo Neves, fazendo o entorno de Aracaju, indo até a Atalaia, chegando ao Mosqueiro ao Santa  Maria, num  trajeto de ida e volta com mais de cem quilômetros. Já se sabe o que vai acontecer: o lixo nunca será recolhido. Este é apenas um problema entre dezenas de outros que podem ser alinhados, contrapondo-se, todos, à decisão infeliz de devolver a São Cristovão  uma área de Aracaju que será inadministrável   pela Prefeitura daquele município, mesmo se ali existisse um poder municipal competente, o que absolutamente não é o caso.

O DESCASO DESASTRADO DAS TELEFÔNICAS

Prestam serviço ou desserviço essas telefônicas todas que operam em Sergipe ?  Se for feita uma pesquisa de satisfação entre os clientes de todas elas, numa arrasadora proporção, surgirá a maioria dos que irão considerar  calamitosa a atuação das teles. Nunca se chegou a fazer uma cobertura minimamente eficiente, abrangendo os municípios, e agora o descalabro  também chega a Aracaju. Parece  ter chegado ou até passado o tempo para uma ação firme da agencia reguladora,  que precisa passar um olhar sobre o que as telefônicas fazem em Sergipe, e delas exigir uma operação menos desastrosa e completamente indiferente aos sergipanos. Aqui, nem sequer põem funcionários com alguma dose de competência para que possam resolver problemas mínimos, as  vezes, um simples erro nas contas apresentadas. O desrespeito aos sergipanos é absoluto, tanto na operação, como, mais ainda, no atendimento aos clientes, sempre justamente revoltados.

JOÃO PISCA O OLHO PARA AMORIM

Parece que poderá ser reencetada   antiga ligação: a do ex-sogro, com  o ex-genro.  As circunstancias políticas produzem episódios que antes pareciam inimagináveis, inclusive a cura de velhas feridas pessoais. Depois de assistir a Via Sacra em Roma, de rezar em Fátima pedindo aos céus suporte aos seus projetos,  Edivan Amorim retornará a Sergipe sem os temores de uma nova Via  Sacra pessoal, repleta de renuncias, sacrifícios, e exigindo uma enorme dose de humildade, que seria a recomposição política por ele desejada agora com o ex-sogro, João Alves Filho, candidato a prefeito de Aracaju, e  liderando folgadamente as pesquisas.
Em recente entrevista, João teria dado um sinal verde,  espécie de piscar de olhos para o Grupo Amorim, controlador e mantenedor de nada mais nada menos do que 11 partidos. Isso aconteceu quando ele disse que não era homem de guardar ódios, e que somente não dialogaria com dois partidos: o PT,  por motivos óbvios, e o PC do B, por não gostar de comunistas, embora reconhecendo que os antigos foram idealistas, mas, considerando ladrões os atuais. Assim, Amorim chega mais sossegado para o reencontro, e hoje sem poder articular no seu  bloco uma candidatura competitiva em Aracaju, espera, colocando um vice na chapa do ex-sogro e novamente aliado, compartilhar o êxito de uma  muito provável vitória de João , da qual se tornaria oportuno partícipe.

MÍRIAN E A FIDELIDADE PARTDÁRIA

Num país onde partidos se  compram, se vendem e se trocam em qualquer esquina, onde até existem donos de partidos que os manipulam, com eles fazem negociações, misturando-se siglas de acordo com as conveniências, existe uma lei rigorosa sobre fidelidade partidária. Não se sabe se é exatamente uma lei, até porque não foi votada nas duas casas do Congresso, mas, enfim, é algo a ser obedecido. A diligente vereadora Mírian Ribeiro, uma das mais atuantes em Aracaju, deixou o PSDB quando o partido saiu do controle do seu amigo Albano Franco a quem dedica a mesma amizade e a mesma fidelidade política que a ligava também ao patriarca Augusto Franco.  Depois de vários convites, resolveu filiar-se ao PSD, partido para o qual Albano poderá encaminhar-se em futuro próximo. Foi enquadrada na tal lei de fidelidade partidária e teve o seu mandato ameaçado,   até recente decisão, lúcida, como tantas outras que nesse sentido vêm sendo adotadas pela Justiça Eleitoral. Entendeu a Justiça que ela não cometera infidelidade partidária ao deixar um partido que mudara de dono.

UMA MARCA EM 4 MESES

Razão tinha o senador Magno Malta quando disse que  se tivesse um suplente como Laurinho Menezes, lhe daria, pelo menos, um ano de mandato. O suplente do senador capixaba não deve ter ficado nada satisfeito, mas a homenagem a  Laurinho ficou registrada nos anais do Senado, não só a de Magno Malta como a de tantos outros senadores que vieram a Aracaju participando de um encontro da Comissão do Senado para o Nordeste. Foi um momento produtivo que Laurinho soube muito bem articular, e servir também de anfitrião aos senadores. No encontro realizado na Boa Luz o governador Marcelo Déda falou sobre o nordeste, e Sergipe em particular, e foi firmado um oportuno pacto de apoio ao projeto do Canal de Xingó, que é bom para a Bahia e excelente para Sergipe. Laurinho cumpriu os seus quatro meses no Senado com iniciativas, ações e sugestões que marcaram positivamente a sua passagem. O senador Eduardo Amorim, retornando de Roma,  reassume esta semana. Agora, o segundo suplente Cacá Andrade, companheiro de tour europeu, fica a aguardar a sua hora para também tornar-se senador, senador da República.  O senador titular Eduardo,  terá um outro joelho a operar, ou tomará uma licença completa por 4 meses ?

RECUPERAM-SE LUIZ ANTONIO E ALCINO

 Alcino Alves Costa, intérprete dos mais qualificados do sertão, lampionólogo entre os grandes pesquisadores do mundo do cangaço, sofreu um AVC há coisa de um mês. Andou dando um grande susto nos amigos, que são muitos, mas agora se recupera bem, e deve sair das agonias de um Centro de Tratamento Intensivo para um quarto, onde continuará sua convalescença, no Primavera.
Também  no Primavera,  chegou em urgência o mais prolífico dos intelectuais sergipanos, o historiador, sacerdote dos rituais da sergipanidade,  Luiz Antônio Barreto.  Atravessou um período crítico de problemas renais associados à complicações cardíacas, e a uma infecção. Mas o quadro já melhora, a infecção vem sendo debelada com o uso maciço de antibióticos e os rins dão sinais de recuperação. Luiz, por certo, tanto ele como Alcino, voltarão ao convívio dos amigos. Luiz é a própria memória de Sergipe, Alcino a memória do sertão. Os dois são imprescindíveis, e insubstituíveis.

O DESAFIO MUNDIAL

Em 1980 o escritor francês Jean- Jacques Servan- Schreiber escreveu o livro Le  Defi  Mondial, publicado e traduzido literalmente no Brasil ( O Desafio Mundial) no mesmo ano, pela editora Nova Fronteira. O livro já era sucesso no mundo, e aqui também tornou-se  disputado best – seller.  Daquele livro, extraímos  parte de um  capítulo intitulado O Cometa Brasileiro:   
  ¨Até meados dos anos 80  a ¨decolagem ¨  desse super-star dos países em desenvolvimento sobre  a qual tanto se apostou – e tanto se ganhou -, realizada à custa de uma infinita miséria campesina, da erradicação sangrenta dos adversários e da baixa efetiva do nível de vida de 70 milhões  de brasileiros em uma população de 130 milhões, valeu-lhe todas as indulgências. E todos os créditos.
Hoje, a situação do país parece tão comprometida que o craque bancário, temido no mundo inteiro, causa mais ansiedade no Brasil do que em qualquer outro país. Os quatro maiores bancos americanos emprestaram, cada um ao Brasil,  fundos equivalentes à totalidade do seu capital.
Ora, o Brasil deve atualmente mais de 57 bilhões de dólares. Soma colossal, que o obriga a pagar, como amortização aos seus credores estrangeiros, 13 bilhões de dólares por  ano ! Novos pedidos de empréstimos são quase inaceitáveis. Serviriam apenas para pagar  os juros das dividas anteriores.  ¨Malsão¨,  de súbito, para o capital estrangeiro, o Brasil, acuado, só tem uma arma: a chantagem. Chantagem com a explosão, que desestabilizaria o regime, substituído por um ¨nacionalismo  populista ¨ cujos chefes estariam prontos a renegar, pura e simplesmente as dívidas do país. O que, segundo o pudico eufemismo da revista inglesa The Economist, teria  ¨um efeito pelo menos interessante sobre o sistema bancário  ocidental¨.
A dívida global do terceiro Mundo atingiu, em 1980, a vertiginosa soma de 350 bilhões de dólares. Até 1974 os países tomadores, com raras exceções, sempre mantiveram em dia o serviço da sua dívida externa. Mas já não é  o caso ¨.
Transcorridos  32 anos, a História não deu saltos, mas revela mudanças substanciais.
O Brasil,  que se pendurava  na forca com uma dívida impagável de 57 bilhões de dólares e era obrigado a fazer humilhadas reverencias aos credores, tem hoje reservas que se aproximam dos 400 bilhões de dólares, não deu calote, pagou o que era devido, e inverteu as posições.
Os orgulhosos credores estão de pires não mão. A Europa pede ao Brasil e outros emergentes poderosos, como a China,  que lhe ajude a sair do atoleiro, destinando mais recursos ao FMI, aquele mesmo que mandava arrogantes agentes ao Brasil , que se imiscuíam nas nossas contas, também devassadas pelos banqueiros internacionais, impondo comportamentos, pingando ajudas pontuais à medida que nos submetíamos, submissos, às suas exigências.
 Aqueles que nos anos 70 e 80 ficavam a gritar abaixo o FMI, quase se perguntam: O que houve, aconteceu uma  revolução ?