UMA EDUCAÇÃO PARADA NO TEMPO
Reproduzimos um diálogo entre um jornalista curioso para saber a quantas anda a nossa
educação, e um estudante de 13 anos cursando o 9 º período de uma
escola no interior do estado.
- Você já leu algum livro além dos escolares ?
- Não.
- Seus
professores lhe recomendaram algum
livro?
-Uma professora disse para eu ler Dom Quixote .
-Ela falou alguma coisa sobre o Dom Quixote?
- Não, nada.
- Qual a matéria que
você mais gosta?
-Geografia.
-Você sabe as capitais dos estados ?
- Sei
- Então vamos lá: Amazonas? ( nada) Ceará
? (nada ) Pernambuco ?
( nada) Minas
Gerais? (nada ).
Afinal, acertou as capitais de 3 estados: Alagoas, São
Paulo, Rio de Janeiro,
e disse saber que Brasília era a capital do Brasil.
- Você sabe a capital de algum país além do Brasil ?
- Acho que não.
-Você estuda inglês?
- Estudo.
- Há quantos anos ?
- 3 anos .
-Sabe alguma palavra em inglês ?
- Sei, are.
-O que é are ?
-É um verbo.
- Seria o verbo to be?
- O que é isso ?
- Sabe algum número em inglês.
- Sei. ( citou corretamente de one a
ten )
-Ontem foi o Dia da
Consciência Negra, falaram sobre isso na sua Escola?
- Falaram, falaram em
Zumbi.
_ Quem foi ele ?
- Ele lutou pelos escravos.
- Quem assinou a Lei acabando a escravatura no Brasil ?
- A Rainha da Inglaterra.
Alunos como este,
vítima de um sistema disfuncional
não existem apenas em Sergipe. Eles estão em todos os estados brasileiros, aos
milhares, aos milhões.
Cada dia que passa, em
cada escola pública, um jovem brasileiro
deixa de colocar um tijolo na construção
do seu próprio futuro. A manutenção deste
modelo emperrado, é o mesmo que
abrir para o Brasil a tampa de lixo da História.
Se os políticos principalmente senadores, deputados ,
vereadores, não começarem a entender a educação como uma Política de Estado,
necessariamente afastada das ingerências eleitoreiras, não haverá presidente, não haverá governador
nem prefeito que consiga realizar as transformações necessárias. O professor não pode ficar olimpicamente
ausente dessa luta que não se resume à
conquista de salários. Qualquer melhoria
na qualidade do nosso ensino só será alcançada quando houver um processo
criterioso e permanente de avaliação .
Isso acontece em todos os locais onde a escola apresenta bons índices de
aproveitamento, auferíveis através do desempenho dos alunos, com isso, avalia-se também a capacidade
revelada por cada professor para transmitir com eficiência o conhecimento.
Por outro lado, dos
docentes recebendo salários
incompatíveis com a dignidade e a importância da função que desempenham, não se
poderá exigir muito. Os alunos não podem ser penalizados com as greves infindáveis que transformam o calendário escolar numa mera peça de
ficção.
A persistência de um
conflito recorrente, algumas vezes radicalizado, entre as representações dos
docentes e o poder público, poderá favorecer eventuais interesses eleitoreiros particulares, mas é
um malefício que recai sobre a sociedade em geral, e terá de ceder lugar ao diálogo democrático do qual participem o professor,
os pais de alunos, os próprios alunos , o poder político, o Ministério Público.
Enquanto o interesse eleitoral cercar a escola com a nomeação
política de diretores, vices - diretores, secretários, e ainda ocupando
espaços nos pontos nevrálgicos da gestão
educacional, não se terá ensino
eficiente , porque administração e comitês eleitorais não se devem
misturar. Por isso, é preciso fechar as portas das Secretarias da Educação para
políticos sonhando com candidaturas.
Cheguemos especificamente a Sergipe. No governo Marcelo Déda,
depois que um técnico como o professor Jose Lima foi derrotado em
seus propósitos de qualificar o ensino, profissionalizando sua gestão, Déda procurou alguém com maior experiência
política, exatamente para dialogar politicamente e tentar reduzir a pressão
eleitoreira sobre a gestão do ensino. O
escolhido foi o seu vice no primeiro mandato Belivaldo Chagas, que não era
exatamente um técnico na área, mas, um quadro
dotado de sensibilidade, transito político e infinita disposição para
dialogar, sobretudo alguém que dera por
encerrada a sua carreira política e não almejava ser candidato a nenhum cargo
eletivo. O conflito foi reduzido, mas hoje, fazendo uma analise retrospectiva
sobre os seus suarentos anos à frente da Secretaria da Educação, Belivaldo está convicto de que nenhum esforço
dará plenos resultados enquanto o interesse eleitoral não se afastar da escola.
Esse era também o objetivo duramente perseguido pelo governador Marcelo Déda. Ele encontrou as maiores resistências dentro
do seu próprio partido.
Na cruzada que faz pela educação o senador Buarque só enxerga uma forma de afastar do
ensino público as mazelas que nos
municípios e nos estados, principalmente os mais pobres, fazem das nossas escolas essas fabricas de analfabetos
funcionais que temos hoje . Buarque tem
um projeto para federalizar os dois
níveis de ensino que competem constitucionalmente aos estados e municípios. Ele
propõe a avaliação do desempenho de cada escola ; meritocracia na escalada
funcional dos educadores, e, para eles, um salário base de 9 mil e 500 reais, o
que estaria fora do alcance de estados e municípios, mas, poderia ser
conseguido com a federalização.
Cristovão quer também a escola em
tempo integral, tal como sonharam Darci Ribeiro e Leonel Brizola.
O professor Jorge
Carvalho com a experiência que acumula na área da educação, e o saber que foi ampliar em um doutorado na Alemanha, enxerga na idéia do
senador uma espécie de luz no fim do
túnel onde mergulhou a escola pública brasileira.
No município de
Aracaju parece que surgem boas noticias
na educação com a queda de
braço vencida pela Secretária Márcia
Valéria. Ela vai implantando o sistema
de avaliação do desempenho das escolas, e para isso teria carta branca do prefeito João Alves.
No caso da rede pública estadual o problema é bem mais
complexo, o desafio é ainda maior. E aqui não cabe enumerar os obstáculos que
terão de ser enfrentados.