sábado, 25 de junho de 2011

 VALADARES E A COINCIDENCIA DAS ELEIÇÕES


O senador Valadares acredita que a sua proposta de tornar coincidentes as eleições a partir de 2018, tem  hoje  maiores chances de ser aprovada, tanto pelo Senado como pela Câmara. Na  Comissão de Justiça, com parecer favorável do senador Renan  Calheiros a proposta já foi aprovada, e isso significa transito mais fácil  a partir de agora.  A proposta de  Valadares estabelece que os prefeitos  e vereadores eleitos no próximo ano terão um mandato normal de 4 anos, poderão ser reeleitos em 2016 para um mandato de 2  anos. Assim, em 2018, todos, presidente, governadores, senadores, deputados, vereadores, prefeitos, serão eleitos de uma só vez. E daí por diante.

ALBANO, COM OU SEM MANDATO


O ex- governador Albano Franco  é sempre atento na defesa dos interesses de Sergipe, tendo ou não um mandato eletivo.
 Agora mesmo, quando surgiu a ameaça de extinção dos incentivos fiscais, ele, que integra o conselho da Confederação  Nacional da  Indústria, sugeriu que fosse criado um Grupo de Trabalho para analisar a questão e fazer propostas. Isso ocorreu na véspera da decisão do Supremo Tribunal Federal, que considerou inconstitucional a concessão de incentivos nos moldes em que agora ocorre, configurando a chamada “guerra fiscal “.  O Grupo de Trabalho já foi formado, está trabalhando, e é presidido pelo deputado federal Jorge Corte Real, presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco.
 Albano  conversou com o Secretário da Fazenda de São Paulo, Andrea Calabi, e dele ouviu que a proposta do governo paulista será  no sentido de extinguir os incentivos, mas, convalidando os benefícios hoje existentes.
 Albano entende que essa proposta deve ser ampliada, com a manutenção dos atuais incentivos para quem já os recebe, e também, abrindo-se  espaço para a criação de algum instrumento fiscal que substitua o  atual, em consonância com o que decidiu o STF,  e que possa assegurar a manutenção  de uma política de incentivos, sem a qual ,  Albano considera que o desenvolvimento de todo o nordeste será comprometido. Nesse particular, o que ele sugere está na linha daquilo que o governador Marcelo Déda vem defendendo.
Albano lembrou  que a Federação das  Indústrias de Sergipe, que ele presidiu,  também já firmou posição sobre  a ameaça  de perda dos incentivos fiscais.
  Com relação à política, Albano já se considera fora do PSDB, quer apenas concluir algumas conversas  com líderes do partido, aos quais é ligado por laços de amizade,  somente para explicar a posição que se vê obrigado a tomar. Mas, já estuda  convites que recebeu de outros partidos. Quanto ao  seu futuro político,  diz que não mira no seu horizonte a possibilidade de disputar cargos majoritários, mas, não está fora das  suas cogitações a tentativa de retornar à Câmara Federal.

A OAB E OS TERRENOS DE MARINHA


O presidente da OAB, Carlos Augusto Monteiro Nascimento, após  a decisão do juiz federal Edmilson Pimenta, que acatou pedido da OAB sergipana e suspendeu  a cobrança da taxa de ocupação relativa ao exercício de 2011,  faz uma advertência aos proprietários de terrenos de marinha. Segundo Carlos Augusto, quem pretender a devolução dos valores já pagos, deve, por precaução, aguardar o final do julgamento.
A OAB resolveu ingressar com a ação depois de ser procurada por diversos proprietários de terrenos de marinha e também pelo ex-deputado federal Jose Carlos  Machado, que há muito tempo vinha denunciando  abusos no reajuste das taxas,  em alguns casos chegando a  quatrocentos por cento.  Carlos Augusto acredita que o correto seria o pedido  que a OAB formulou à Justiça, no sentido de fixar a atualização das taxas de ocupação através da correção monetária, tomando-se como base os índices do INPC, ou outro similar.

DÉDA : “ NEM PIRULITO NEM HARAQUIRI SERTANEJO”


Juntam-se, a reforma tributária unificando o ICMS, com e a iminente extinção dos incentivos fiscais, e essa junção pode se configurar na maior ameaça ao desenvolvimento do nordeste. Contra a possibilidade dessa  hipótese se  transformar em realidade,   articularam-se os governadores nordestinos, do norte,  do centro-oeste, e começaram a demonstrar que não irão aceitar passivamente o golpe.
O governador Marcelo Déda,   em sucessivas entrevistas, colocou a questão muito claramente  e fez uma dura advertência ao Ministério da Fazenda: “Não tentem negociar conosco como se fossemos crianças, capazes de serem levadas por um pirulito “ E foi adiante, negando-se terminantemente a aceitar a proposta de mudança do ICMS, que é indevidamente chamada de  “reforma tributária “,  e, ainda mais, a perda da eficaz ferramenta para a política de desenvolvimento regional: os incentivos fiscais. Isso seria , definiu Déda : “Um haraquiri sertanejo “, ou seja, um suicídio econômico dos nove estados da região. As duras palavras de Déda  deram o tom exato da indignação dos governadores, e ganharam uma ampla repercussão. A presidente Dilma entrou diretamente no debate, e isso foi saudado por Déda como a “moldura política “ que faltava para um problema que não pode ser tratado exclusivamente sob a ótica dos  burocratas.  Assim, depois que a grande  mídia deu repercussão às posições externadas pelo governador sergipano, o debate  retornou ao campo da sensatez. O nordeste, as regiões  do país ainda em processo de desenvolvimento, carentes de industrialização, não podem se contentar com uma redução no peso representado pela dívida dos estados, aceitando a mudança no ICMS, e  também, passivamente, o fim dos incentivos fiscais. Isso seria o “pirulito” que Déda prontamente recusou, fazendo ainda uma advertência ao Ministério da  Fazenda: “Não precisamos de babá, para nos dar lições sobre responsabilidade fiscal, pois já praticamos responsabilidade fiscal há muito tempo”.  Déda fazia uma referencia a argumentos   de certa forma desabonadores para o nordeste, considerando que, com a folga obtida pela mudança do indexador da dívida, os estados poderiam fazer uma gastança irresponsável.
  Marcelo Déda deu, na hora exata, uma demonstração forte de que é aliado sintonizado com as diretrizes do governo, do partido ao qual pertence, até o instante em que os interesses de Sergipe venham a ser ameaçados.  Assim, na última semana, ele cresceu na confiança dos sergipanos.
 A OAB E OS TERRENOS DE MARINHA
O presidente da OAB, Carlos Augusto Monteiro Nascimento, após  a decisão do juiz federal Edmilson Pimenta, que acatou pedido da OAB sergipana e suspendeu  a cobrança da taxa de ocupação relativa ao exercício de 2011,  faz uma advertência aos proprietários de terrenos de marinha. Segundo Carlos Augusto, quem pretender a devolução dos valores já pagos, deve, por precaução, aguardar o final do julgamento.
A OAB resolveu ingressar com a ação depois de ser procurada por diversos proprietários de terrenos de marinha e também pelo ex-deputado federal Jose Carlos  Machado, que há muito tempo vinha denunciando  abusos no reajuste das taxas,  em alguns casos chegando a  quatrocentos por cento.  Carlos Augusto acredita que o correto seria o pedido  que a OAB formulou à Justiça, no sentido de fixar a atualização das taxas de ocupação através da correção monetária, tomando-se como base os índices do INPC, ou outro similar.

A GUERRILHA CIBERNÉTICA


No início da década dos anos 60 a guerra de guerrilha foi elevada ao   altar da estratégia revolucionária internacional. A experiência chinesa da Longa Marcha;  a vitória espetacular dos barbudos de Sierra  Maestra,  que desceram da montanha para o poder em Havana, tudo isso  consolidava a crença de que a derrota do imperialismo seria alcançada através de grupos movidos pela fé revolucionária,  dispostos a subir cordilheiras, embrenhar-se nas selvas, e fustigar o inimigo em rápidas ações de ataques e fugas. Moscou , embora  financiasse grupos combatentes, e os treinasse,  transmitia aos partidos comunistas que  eram fieis, um outro ensinamento. Ele consistia na aliança operário-camponesa com a burguesia nacionalista, para fortalecer o movimento de massas e chegar ao poder através de etapas, sem  aventuras armadas, restritas  quase aos quartéis, como acontecera no Brasil em 1935, com a desastrada rebelião militar no Rio de Janeiro, Recife e  Natal.
  O  discurso de Fidel Castro, estrela recente e de primeira grandeza no firmamento revolucionário, era  bem diferente do aliado e protetor soviético.  Fidel e Guevara sonhavam em multiplicar guerrilhas através da Cordilheira dos Andes,  pelas florestas da África,  da América Central, até pelas selvas mexicanas, bem próximo às fronteiras do grande inimigo.
 Naquela época, começou a circular no Brasil um livrinho intitulado Guerra de Guerrilhas, era uma espécie de manual para o combate,  escrito nada mais nada menos do que por Ernesto  Guevara, o exímio guerrilheiro. Pressionado por todos os lados, o presidente Jango Goulart mandou que o seu Ministro da Justiça proibisse a circulação do livro,  ao mesmo tempo, determinou também que fosse recolhida a “bíblia “  nazista, o Mein Kampf,( Meu Credo), escrito por Adolf Hitler. Quando veio a gloriosa, salve, salve, de 64, os “subversivos “ deixavam bem visível nas suas bibliotecas o detestado volume do Mein Kampf, enquanto, precavidamente, tocavam fogo no Guerra de Guerrilhas. Deu em nada, porque, quando militares e policiais invadiam residências em busca de “material comunista “,  levavam tudo quanto fosse volume com lombada ou capa vermelhas . Depois, na vitrine de A Moda, onde o “comando revolucionário” organizou uma mostra do “material subversivo,”  lá estava o Mein  Kampf  vermelhinho, do grande exterminador de comunistas e judeus Adolf Hitler,  ao lado do edulcorado romance O Vermelho e o Negro, de Stendhal.  Era uma pequena mostra do festival de besteiras que assolava o país.
Hoje, se por desgraça das desgraças ocorresse alguma coisa parecida com o golpe de 1964, a repressão entraria de casa em casa a procura de computadores,  celulares, os grandes instrumentos da subversão. Explodiriam provedores, teriam de paralisar também as empresas telefônicas, tornar inoperante a Internet.  A ditadura ao invés de procurar livros,  faria  gigantescas fogueiras de computadores.
Em tempos  cibernéticos,  querem Sarney e Collor tornar eternos alguns segredos de Estado.   Felizmente, a presidente Dilma já deu sinais de que a reação dos dois senadores  não chegou a contaminá-la com a idéia retrógrada. Então, entra em cena a guerrilha cibernética, os hacker’s,  que invadem  saites  da presidência da República, de Ministérios,  de vários outros setores do governo. Parece uma advertência em relação aos que pensam controlar a História, tornando-a inacessível ao povo.
 Mesmo nos piores momentos da censura e da repressão,  no Brasil, era possível saber uma boa parte do que acontecia dentro do nosso país, bastava sintonizar emissoras de rádio estrangeiras. Até a Voz da América e a BBC de Londres, serviam, porque sempre divulgavam o que aqui os censores vetavam.

O IMPÉRIO DERROTADO E QUASE FALIDO


Obama, o breve, anuncia agora a retirada das suas tropas do Afeganistão. Quando ele entrou na Casa Branca, lampeiro,  fagueiro, loquaz, logo anunciou que retiraria suas tropas do Iraque, fecharia o campo de concentração,  quase cópia do nazista Auschwitz,  em Guantánamo, território ocupado de Cuba. Desenhou então uma nova  geopolítica,  transferindo para o Afeganistão o centro das operações militares; “a guerra contra o terror “, que Bush anunciou ao mundo sem definir exatamente quais seriam os seus inimigos. Para Obama, era no Afeganistão onde, dalí  em diante, a juventude americana deveria morrer em defesa de vagos e suspeitíssimos conceitos de liberdade e democracia.  Seria no Afeganistão, onde, cercado por suas tropas fieis, estaria metido em alguma caverna  Osama    Bin Laden, comandando, lá de dentro do  remoto buraco, as ações terroristas da Al Qaeda , sua particular organização terrorista.
 Escancarou-se para todos os norte-americanos sensatos, a formidável farsa mentirosa de Bush,  amedrontando a nação com as repetidas denúncias sobre o perigoso arsenal de armas de  destruição em massa, ou seja, artefatos nucleares,  gases letais, produtos biológicos capazes de espalhar terríveis e mortais epidemias, e tudo isso nas mãos de um “louco assassino “, como era definido Saddam Hussein.
 Os americanos arrasaram o Iraque com suas bombas  “inteligentes “,  capturaram um acovardado Saddam, maltrapilho e sujo, enfiado num poço infecto.    E  então , com o fracasso da ocupação, que consumiu trilhões de dólares, entenderam que  Saddam Hussein  era mesmo a garantia de estabilidade forçada, num país repartido entre tribos, etnias e seitas, raivosamente rivais.
 Daí em diante, a “guerra justa “ seria somente no Afeganistão, onde estava a  “grande ameaça ao mundo livre, à democracia”. Passa o tempo e os argumentos são sempre os mesmos. Terminada a “ameaça comunista “ era preciso encontrar um   outro motivo para manter intacto o formidável aparato militar que   exaure o tesouro americano, e  Osama Bin Laden ofereceu o pretexto,  com a insânia do 11 de setembro. Existem hoje plausíveis suspeitas de que a engrenagem da inteligência militar americana sonhava com um bom motivo para  evitar o desmonte parcial da máquina de guerra, que seria inevitável, sem a existência de graves ameaças externas.
Obama fala em paz, ou em guerra, a depender das circunstancias, das tendências do eleitorado captadas pelas pesquisas eleitorais. Durante a campanha, prometeu paz,  diálogo substituindo a força,  nova política para o Oriente Médio, que, necessariamente, passaria pela   criação do Estado Palestino. Capitulou diante do poderoso lobby  sionista.  Temendo a agressiva direita americana,  cedeu às pressões do Pentágono,  esqueceu do que prometera em relação a Guantánamo, centro clandestino de torturas. Começou uma tímida retirada do Iraque  e  ampliou a guerra no Afeganistão. Enquanto apertava um nó da gravata no quarto de hotel no Rio de Janeiro, autorizou os bombardeios na Líbia,  abrindo uma terceira e desastrada frente de combate.  Uma atitude deselegante, grosseira, um chute na diplomacia, que, em face das circunstancias, recomendaria respeito ao país visitado, que já se manifestara contra a intervenção na  Líbia.
Acossado agora pela opinião publica que se mobiliza contra a guerra, premido pelas finanças que entram em colapso acelerado,  Obama imprime um outro tom à sua retórica  quase desacreditada, e inventa um  diálogo com os Talibãs, tornando possível a retirada das tropas. Na verdade, diante da perspectiva de falência e do beco sem saída onde meteu seus exércitos, Obama,  de olhos postos numa difícil reeleição,  manda parar a carnificina.
É possível agora que venha a paz, não exatamente para preservar vidas, mas, como decorrência da necessidade de votos.

UMA BAGUNÇA “EXTRA”


Noite de  quarta-feira, 22 de junho, véspera de feriado grande, supermercados entupidos.Nessa euforia de crescimento econômico e elevação da renda que estamos vivendo, as pessoas  compram mais, outras começam a comprar, e assim,  o número de lojas  das grandes redes de supermercados em Aracaju parece agora insuficiente para corresponder à demanda. Realidade boa,  merecendo ser  festejada, todavia sem esquecer dos cuidados para que não haja excesso consumista,   desrespeito aos sinais de alerta do endividamento elevado, e  não se perca o foco na  manutenção da sustentabilidade macro-econômica ,  este último item, responsabilidade exclusiva do governo.
Nas alargadas  instalações da loja do Extra, na Tancredo Neves,  havia muita gente comprando, mas, felizmente, em número bem menor do que   nos outros supermercados. Felizmente, dissemos, não porque assim haveria menos desconforto.  Exatamente ao contrário:    Apesar das filas menores   a demora no Extra era  revoltante.
 Isso acontecia porque o Extra,  do  Grupo Pão de Açúcar, do   mega-empresário Abílio Diniz,  decidiu, até agora impunemente, descumprir a lei. Determina a Justiça do Trabalho que em cada  registradora, além de quem opera a máquina, esteja disponível um empacotador  para acondicionar a mercadoria. O Extra se recusa a contratar empacotadores. Assim, aumenta os seus lucros aleijando os caixas, todos  fazendo  um esforço sobre-humano, um contorcionismo   capaz de arrebentar os mais resistentes músculos.     Sobrecarregados pelas duplas funções  que são obrigados a desempenhar, ainda  tentam, sem êxito, evidentemente, fazer tudo com rapidez.  Precisando concentração para  faturar corretamente  as mercadorias,    aquela manobra continuada à frente do dispositivo eletrônico  que  lê e interpreta o código de barras, ou, consultando  extensa lista daqueles produtos nos quais não pode ser pregada a etiqueta codificada,    os caixas , ao mesmo tempo,  acondicionam  as compras em sacolas, retirando-as da esteira rolante que, alem de tudo,  vez por outra  está quebrada  Há muitos  trabalhadores fazendo   tratamento para aliviar as dores e recuperar   lesões causadas pelo esforço repetitivo, outros, em pior situação,   incapacitados fisicamente, estão encostados  na previdência.  O Extra de Abílio Diniz, que apregoa a modernidade da sua visão empresarial, aqui em Aracaju,   está transformado numa  engrenagem perversa a provocar  graves seqüelas  nos seus trabalhadores, submetidos a uma rotina de trabalho que afronta a dignidade humana.  Abílio Diniz, neste    século  21, assemelha-se  a  qualquer daqueles  senhores de escravos que transformavam seres humanos em bestas de carga, e assim lucravam, ,  ficavam muito ricos. O regime escravocrata alimentou o capitalismo mundial, até quando, empresários mais esclarecidos, descobriram que assalariar  pessoas, transformando-as em mão de obra livre, ou supostamente livre, seria bem mais proveitoso.   Isso se fez  muito mais em função da lógica  do mercado  do que pela sensibilidade aos gritos indignados dos abolicionistas, defendendo argumentos morais.
O que o Extra  faz com seus clientes é um desrespeito que pode ser facilmente corrigido: basta que lá não entrem mais.  Já aquilo que o Extra comete contra  trabalhadores, é  crime, crime que  clama por  merecer a atenção do Ministério Público do Trabalho, do Sindicato dos Comerciários, que não fiscaliza, não denuncia, não exige o cumprimento da lei, e se o faz,  não age com  disposição para enfrentar uma empresa que  reincide no desrespeito  às leis.
 Tente o Sindicato dos Comerciários ouvir o que dirão os trabalhadores do Extra, se receberem a garantia do sigilo que os protegerá contra a demissão.
Procure a representação do Ministério Público em Sergipe cumprir com mais eficiência as suas funções,  assim contribuindo para que o Ministro Carlos Luppi anuncie,  com o habitual entusiasmo,  o número de empregos criados com carteira assinada,  mas, tendo  tranqüilidade suficiente para poder acrescentar à sua fala: ” Empregos criados, necessariamente, com o indispensável respeito  aos direitos do trabalhador.”

O FORROCAJU GANHOU O BRASIL


O destaque que as redes de televisão deram ao Forrocajú, mostra que o evento aracajuano já está definitivamente incluído entre os três maiores festejos juninos do Brasil.  Não se trata agora de saber quem é o maior, se o São João de Campina Grande, o de Caruaru, ou o   de Aracaju. Importa ter a certeza e a alegria de  saber que o Forrocajú não para de crescer ano após ano, e que  hoje atingiu o clímax. Chegaram milhares de turistas, a divulgação foi eficiente, as televisões locais colaboraram, e muito, por isso, ganhamos tanto espaço na Rede Globo, na Rede  Record. Aliás, é bom lembrar que a repórter  Carla Suzane fez uma excelente cobertura, e ajudou a destacar ainda mais a nossa festa. Criado por Jackson Barreto, quando no seu primeiro mandato de Prefeito de Aracaju, o Forrocajú só fez crescer, e para isso, todos os prefeitos que se sucederam colaboraram, buscando sempre uma parceria com o governo ,  que foi maior ou menor, dependendo das afinidades políticas entre  estado e  município.  No último dia da festa  Edvaldo Nogueira poderá tocar muito contente a sua zabumba, tendo ao seu lado Déda no triangulo, ou como vocalista. A dupla  Pé de Serra tem muito a ver com o sucesso do Forrocajú, com a sua inclusão entre os grandes eventos juninos do país.  Os patrocinadores que se mantiveram firmes no apoio à festa, a participação do governo federal, foram fatores decisivos, nessa escalada do Forrocajú até alcançar  fama nacional. Que venham, a partir de agora, os turistas estrangeiros. A torcida é para que as obras do novo aeroporto comecem logo.

                              ( O ULTIMO CAPÍTULO, O QUINTO, DA SÉRIE RETALHOS DE
                                  UMA VIAGEM,  SERÁ PUBLICADO NO PRÓXIMO DOMINGO)

sábado, 18 de junho de 2011

OS INCENTIVOS E O NORDESTE


 Não foi fácil começar a industrialização do nordeste e manter uma política de incentivos fiscais por cima de tantas resistências e incompreensões, que não eram apenas de outras regiões brasileiras, mas, estavam aqui mesmo, tramando no atraso dos latifúndios e do coronelismo contra a  experiência nova que  trazia a modernidade para o nordeste das secas, dos retirantes e dos paus de arara. As investidas contra a SUDENE foram muitas. Um senador paraibano Argemiro Figueiredo, apresentou em 1962, um projeto que praticamente acabava a SUDENE. Então mobilizou-se o nordeste, os seus governadores, tendo á frente o de Pernambuico, Cid Sampaio, e o prefeito do Recife Miguel Arrais.  Num dos maiores comícios já realizados na capital pernambucana,  dezenas de milhares de pessoas reuniram-se na Praça do Diário. E coisa estranha, os representantes de Sergipe que lá estavam, estudantes e operários, assistiram a cavalaria  da Polícia Militar investir contra o povo que ouvia os oradores, entre eles o próprio governador Cid Sampaio.  No palanque   debaixo  dos gritos de protesto de Arrais, Cid Sampaio dava ordens a um  coronel da PM que o acompanhava, para que fosse deter os cavalarianos que espancavam o povo.
 Naquela época o desenvolvimento do nordeste era assunto que galvanizava as pessoas, que a todos reunia num mesmo sentimento forte, sobre a necessidade de  ser vencido o subdesenvolvimento. Cinquenta anos transcorridos,  parece existir agora um distanciamento da sociedade em relação a temas  políticos e econômicos  essenciais para que o desenvolvimento não seja ameaçado. Agora mesmo, o STF acaba de tomar uma medida que poderá ter efeitos desastrosos sobre o nordeste, e todo o esforço pela industrialização  seria comprometido. Os ministros do STF deliberaram sobre questões geralmente apresentadas por sindicatos paulistas contestando a legitimidade dos incentivos fiscais. O STF entendeu que eles na forma como agora são feitos, configurando uma “guerra fiscal, ” ferem a Constituição. Além do governador Marcelo Déda,  que movimentou-se em busca de uma saída legal que garanta a manutenção dos incentivos, e do empresário Tácito de Faro Melo que escreveu um artigo de advertência publicado no Jornal da Cidade, ninguém mais se manifestou. A Federação das Indústrias permaneceu muda, como se isso não lhe dissesse respeito;  os sindicatos, tanto patronais como de trabalhadores nem se moveram, embora o fim dos incentivos, se consumado, a todos ameace com a falência e o desemprego. E nas emissoras de rádio, nesses bate-bocas matinais, fala-se, como sempre, sobre as intrigalhadas da política miúda.

BOAS NOTICIAS NA CULTURA


Nesta segunda-feira, dia 20, o magistrado que é também poeta, escritor,  teatrólogo, militante cultural,  Jose Anselmo de Oliveira, deverá ser  ungido pela imortalidade acadêmica. Candidato em chapa única  ele ocupará uma cadeira na Academia Sergipana de Letras vaga o ano passado com a morte do jornalista e escritor Benvindo Sales de   Campos.
 Dia 11 de Julho próximo o jornalista e poeta Antonio  do Amaral Cavalcante estará, finalmente tomando posse, depois de há quase dois anos  lhe terem aberto o caminho da imortalidade.  O discurso de posse que já aprontou, será, por certo, uma peça lítero-petica a constar com destaque nos anais da Academia, onde grandes intelectuais sergipanos deixaram as marcas do pensamento e da cultura.
Dessa forma a Academia mais se qualifica e democratiza,  coisas essenciais a uma instituição cultural.
Há outras boas notícias a festejar na área cultural.  Assinalando o centenário de nascimento do engenheiro professor e historiador Fernando Figueiredo Porto, a Prefeitura de Aracaju,  a Academia Sergipana de Letras e o Instituto Histórico promoveram a reedição de um livro sobre nomes antigos de logradouros  da capital sergipana, descritos, além de tudo, com o conhecimento também do urbanista, que sempre foi Fernando Porto.
A advogada e professora Patrícia Veronica Nunes Carvalho Sobral de Souza, técnica do Tribunal de Contas, lançou mais um livro, Corrupção e Improbidade. Patricia  se tem especializado nessa área  objeto das atenções de todos os órgãos controladores das finanças publicas, e vem revelando uma especial capacidade  para sintetizar conceitos e oferecer caminhos novos para a eficácia das ações dos tribunais de contas.
Depois do sucesso alcançado pelo seu romance de esteia, Os Tabaréus do Sítio Saracura,  Antonio Francisco de  Jesus ( Antonio Saracura) consolida a impressão de que surgiu um novo e bom contador de estórias e ficcionista sergipano, lançando agora o livro Meninos Que Não Queriam Ser  Padres.
 Antonio Saracura é de Itabaiana, terra também do  jurista e romancista  Vladimir Carvalho, cujos livros agora estão nas estantes das livrarias de todo o país.  E em Itabaiana, nesta segunda-feira, dia 20,  o escritor e poeta Carlos Mendonça estará lançando no campus da UFS o livro biográfico “Chico de Miguel a Historia de Um Líder. Há biografias que ajudam a compreender uma época.
Nada melhor para a cultura do que as iniciativas que partem da própria comunidade, que resultam dos esforços de batalhadores culturais que acreditam na própria capacidade de realização, e saem em busca do que querem,  sem esperar pelo adjutório do poder público.
 Foi assim que surgiu a Companhia de Teatro Stultifera  Navis, que agora, na Sala Sergipana de Espetáculos apresenta às sextas e sábados, sempre a partir das 21 horas o Cabaret dos Insensatos, direção de Lindemberg Monteiro.
Um repertório da nossa música circula  num bem apresentado álbum com CD e livreto.  Vozes e Toques  Sergipanos 2,  é o resultado da dedicação a incansáveis pesquisas e andanças
 do professor e historiador Jose Paulino da Silva,  do belgo-sergipano Damien Chemin. Ponto para Waldoilson Leite, presidente da FUNCAJU, que tornou possível a produção que valoriza a musicalidade sergipana.

ESCONDER A HISTÓRIA É DESRESPEITO E COVARDIA


 Essa tentativa de ocultar da Nação a sua História, é um ato de covardia e um insulto aos brasileiros. Se a nossa própria memória como povo nos envergonha,  nos compromete e ameaça, então, o sensato não é ocultá-la, deixando que para sempre fique a pairar uma desconfiança sobre o que teríamos feito de tão ruim que não possa ser revelado. A Câmara dos Deputados aprovou a liberação de documentos oficiais com mais de meio século, mas o intelectual, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras Jose Sarney e o ex-presidente Collor que um dia valeu-se da frase: “O tempo é o senhor da razão”, resolveram mudar o texto do projeto de lei oriundo do  poder executivo, que estabelece prazos para que sejam tornados públicos documentos oficiais considerados secretos ou ultra-secretos. A presidente Dilma parece ter sido influenciada pelos argumentos dos dois senadores, e estaria concordando em manter inacessíveis eternamente alguns papeis julgados comprometedores, e que poderiam, se divulgados, atrapalhar as nossas relações com países vizinhos. Não há clareza sobre o que existiria nesses papeis, mas, sabe-se que guardam ações relacionadas à guerra do Paraguai e ao processo de consolidação das nossas fronteiras. Sobre eles não existem mais segredos, apenas duvidas em relação a alguns episódios.  O que aconteceu na Guerra do Paraguai já foi revelado em dezenas de livros publicados; o que  se fez na negociação de áreas conquistadas nas fronteiras, ou tomadas pelas armas, não é segredo para ninguém. O que resta, tão somente, é  conhecer como tudo isso está expresso em documentos oficiais.  Tratariam eles das escapadas dos nossos almirantes e generais para os cabarés e os cafés elegantes de Buenos Aires, enquanto as tropas eram dizimadas pela malária e pela fome no chaco paraguaio insalubre ?  Confirmariam as versões que circulam de boca em boca na Bolívia, sobre a troca do Acre por um cavalo dado como miserável propina  brasileira a um comandante de tropas bolivianas ? Se  estamos a venerar até hoje personagens históricas de caráter e fibra moral duvidosos, então, que a verdade revelada nos sirva para  situá-los exatamente como seres humanos, inevitavelmente falíveis. Se cometemos atrocidades,  pecamos por covardia ou pusilanimidade, então, que de tudo isso a História devassada nos dê lições claras e úteis. Quem desconhece o passado e com ele não aprende, estará condenado a repetir os mesmos erros, e  se faz indigno do presente e mais ainda do futuro
Além de tudo, hoje não é mais possível garantir-se o segredo nos arquivos, por mais protegidos que sejam. Está ai o Weekleaks a desvendar tudo, a penetrar nos espaços mais ocultos e mais bem guardados do mundo, e tornar público o que lá existe carimbado como top-secret. Já foram devassados o Pentágono, Bancos Centrais,  códigos militares e financeiros, e a vida íntima de presidentes,  ministros,  reis rainhas e bilionários. Nada escapa  à expertisse dos ratos virtuais. Se esses nossos papeis que “”  ameaçariam as boas relações com países vizinhos” estiverem digitalizados, brevemente estarão expostos na Internet, basta que Julian Assange tome conhecimento do que acontece agora no Brasil. Mas, se ainda estiverem sob a forma de papel velho, com a segurança dos nossos arquivos, logo , ratos e traças  acabarão de destruí-los. Teremos  então para sempre uma herança de dúvidas nunca dissipadas.
Essa covarde atitude de esconder o passado enoja qualquer brasileiro, ainda mais quando assiste o presidente do Congresso a tentar justificá-la.
Não há no mundo nenhum  país que proceda dessa forma. Os Estados Unidos que se envolvem em  tantas guerras, que têm um histórico de atrocidades  cometidas, guardam por tempo delimitado seus documentos,  depois, acreditando mesmo que o tempo é o senhor da razão, os levam ao conhecimento público.
Na mesma semana em que conquistamos no mundo financeiro um ítem onde superamos os Estados Unidos,  e o ministro Mantega comemorou o feito,  decidia-se no Senado a ocultação eterna da nossa História. Se por um lado nos aproximávamos do primeiro mundo, por outro, caminhávamos em direção  à grosseira estupidez dos  fundamentalistas Talibãns.
 Devemos reagir contra isso, e uma forma efetiva de demonstrar inconformismo e revolta é enviando  mensagens e mais mensagens aos senadores, a Sarney, a Collor. Uma alerta da cidadania ferida, para que eles não consumem a barbaridade.

RETALHOS DE UMA VIAGEM O FIM DOS TOVARISH (4)


Em 1963 realizou-se no Rio de Janeiro, no amplo espaço da feira de São Cristovão, uma exposição sobre os avanços da ciência e da tecnologia soviéticas. Apesar dos coices e relinchos da direita horrorizada com aquela “invasão comunista”, a exposição  transcorreu sem  que se concretizassem as ameaças de bombas terroristas.  Para montar  a estrutura do evento chegaram engenheiros russos  que comandavam uma numerosa equipe de trabalhadores brasileiros. Os técnicos,  todos com carteirinha do  partido comunista, tratavam-se entre si por camaradas,  tovarish, em russo. Era tovarish  prá cá, tovarish  prá lá, e os brasileiros escutando aquilo , e então, entenderam que todos os gringos chamavam-se Tavares, e assim passaram a chamá-los. Um correspondente do jornal Pravda acompanhava toda aquela movimentação, e mandou um despacho para o jornal que o publicou triunfalmente. Segundo o  correspondente no Rio de Janeiro a revolução no Brasil estava em avançado estágio, o proletariado consciente seguia as orientações do partido, e todos homenageavam os  engenheiros soviéticos, chamando-os,assim mesmo, em russo,  tovarish,  demonstrando, dessa forma, uma elevada consciência internacionalista.
Agora, na ex-União Soviética, a Rússia renascida, com  as cúpulas dos seus templos ortodoxos, azuis, verdes e douradas rebrilhando, parecendo recém construídos,  chamar alguém de tovarish pode ser perigoso.  Desde o fim da União Soviética em 1991  as pessoas se esforçam para esquecer o passado.  Durante todo o mês de maio comemorou-se o fim da Segunda Guerra Mundial, a Grande Guerra Patriótica, como é chamada pelos russos.  Nenhum país entre todos os envolvidos contra o nazismo, naquele conflito sofreu mais e mais duramente combateu os alemães. Nas estepes geladas, onde antes atolada na lama do degelo, esfacelou-se a Grand Armeé de Napoleão, também arrastaram-se, batidas, as  panzer-divisionen de Hitler.  A lama, disse Tolstoi, salvou a Rússia. Ele nem imaginaria que, mais de um século depois, as mesmas cenas se repetiriam, com blindados no lugar de cavalos.  Em uma primavera  surpreendentemente ensolarada, nas ruas de  Moscou e São Petesburgo, nas antenas dos veículos, nos pulsos das pessoas, nas barracas onde se oferecem as “babouskas”, aquelas bonequinhas  gordinhas, uma dentro da outra,  vêm-se  fitas cor de abóbora com listas pretas longitudinais. Pessoas quase sempre idosas, nas ruas entregam aquelas fitas, e o fazem com certa reverencia, tentando também explicar o significado daquilo, mas o russo é ininteligível.  A curiosidade sobre aquelas fitinhas que fazem lembrar aquelas do Senhor do Bonfim,  é satisfeita no anglo-francês de uma senhora elegante, talhe aristocrático, que nos ajuda a desvendar caminhos pelo apinhado metrô,  depois, nos acompanha até o Teatro Bolshoi que está sendo restaurado.  Providenciaram ao lado, em outro teatro menor, a continuação dos espetáculos. Naquele dia, a  ópera Carmen, de Bizet. Chama-se Natália a dama  que tão atenciosamente nos orienta pela cidade ríspida, e onde há inimagináveis perigos para turistas. Ela é de Vladvostock no extremo da Sibéria. Está em Moscou concluindo doutorado em letras, também leva uma fita no pulso e diz  que trata-se de uma homenagem aos  combatentes mortos durante a guerra. Foram mais de cinco milhões, que faziam parte do  vitorioso exército vermelho, mas as cores escolhidas para relembrar  os sacrifícios e a vitória, eram as mesmas usadas nas insígnias oficiais dos tempos do império. Os russos exaltam as conquistas científicas, o pioneirismo no espaço, os feitos heróicos, mas , recusam-se a relacioná-los ao período comunista.
Esse apagão  da História se faz paralelo a  um retorno saudosista ao passado, talvez uma busca de valores, de referencias perdidas momentaneamente, por um povo que sofreu um colapso ético no momento em que desmoronou toda a estrutura da economia estatal, e a privatização se fez entre quadrilhas que partiram para o assalto, apossando-se do que era coletivo,  gerando  ilusória igualdade e um totalitarismo real.
Na Rússia  que freneticamente vai enriquecendo, não há mais lugar para os tovarish. Não há mais ” camaradas”, há competidores empenhados numa competição feroz. Os comunistas envelheceram, e o comunismo tornou-se algo distante, anacrônico, para uma gente que parece obcecada pela corrida de obstáculos, sejam quais forem, em direção ao dinheiro.
Mikhail Gorbatchev, o último comunista no poder, quando lançou a  perestroika e a glasnost,  (reestruturação e transparência), advertiu que o regime e a própria União Soviética correriam o risco de desaparecer, caso não fossem implementadas as  transformações na economia, paralelas à reforma política.  A tsunami social  levou tudo de roldão.  Gorbatchev caiu, e os velhos comunistas  que não conseguiram concluir a rápida metamorfose para continuar no poder, devem estar fazendo uma espécie de justificação íntima para os erros que cometeram, as ilusões que espalharam,  a crença equivocada na eficácia da repressão para manter um regime que apodreceu.
 Os escombros da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas perturbam, causam uma  certa confusão na mente de quem viu, naquele modelo fracassado , uma esperança para o mundo, e passeia agora pela Moscou das máfias, com a suspeita de que a realidade de  hoje é, também, uma espécie de herança indesejada.
 Mas há uma justificação e uma espécie de consolo na ingenuidade da convicção, que o filósofo esloveno  Slavoj  Zizek tão bem define: .....”um personagem trágico bastante conhecido da época da Guerra Fria: aqueles esquerdistas ocidentais que enfrentavam heroicamente, com total sinceridade, a histeria anticomunista em seus países. Dispunham-se até a idem presos por suas convicções comunistas e pela defesa da União Soviética. Não é  a própria natureza ilusória de sua crença que torna essa postura subjetiva tão tragicamente sublime ? A realidade miserável da União Soviética stalinista torna ainda mais majestosa a beleza frágil dessa convicção íntima. “

O LIVRO CAINDO N`ALMA


Diz Castro Alves, fulgor de gênio que brilhou apenas 24 anos, num dos seus mais belos e mais difundidos  ( seriam ainda? ) poemas, O Livro e a América:  “Oh! Bendito o que semeia. Livros livros à mão cheia. E manda o povo pensar. O livro caindo n’alma. É germe – que faz a palma. É chuva – que faz o mar. “ Anda o  poeta dos escravos tão esquecido, não só ele, todos os poetas. No mundo em rede, tuitando, feicebucando, orkutando, guulgogando,  resta mínimo ou nenhum espaço para a poesia. A rede que fez do mundo aldeia   causa um curioso fenômeno: Na virtualizada comunidade, quase todos se comunicam, poucos se conhecem.  Sem a  proximidade física suprime-se a emoção da voz, dos gestos,  desaparecem sentimentos, antes visivelmente exteriorizados e permutados. A rede  amplia horizontes de relacionamentos ao mesmo tempo em que os tornam desumanizados;     a  escrita usual  desaparece, substituída pelos signos da Internet   que exprimem o abreviado dialeto das tribos digitais.  E agora  se diz que o livro já tem morte anunciada. Os e-books, os tabletes, iriam definitivamente  aposentar, retirar de cena, tanto o jornal como o livro, aqueles mais diletos filhos da prensa de Gutenberg.
Umberto Eco,  o autor de O Nome da Rosa que termina o seu enigmático romance ateando fogo à biblioteca do mosteiro, diz, sapiente, negando-se a aceitar o óbito do livro: “O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados não podem ser melhorados. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher. O livro venceu seus desafios, e não vemos como, para  o mesmo uso, fazer algo melhor  que o próprio livro. Talvez ele evolua em seus componentes, talvez as páginas não sejam mais de papel, mas ele permanecerá o que é. “
Para a poesia parece mesmo não haver remédio. Ela ficará restrita cada vez mais a pequenos grupos. O desinteresse pelo poema aumenta  acompanhando as transformações  que se processam tão aceleradamente. Nos céus fumarentos das cidades já não brilham mais a lua, as estrelas. Nos campos também  iluminados, as noites são fluorescentes.  Amor é poesia e vice versa, e  quem mais se atreveria a fazer uma serenata ? Na Internet o que prospera é a degeneração da pedofilia. Admitamos, então, que a realidade é mesmo adversa para a poesia, mas, nem por isso teremos de aceitar passivamente o abandono do livro.  E não é a ameaça eletrônica que faz medo.  A grande ameaça ao livro é o esquecimento da leitura. As livrarias sobrevivem graças à venda do livro didático. Poucos consomem a literatura. E agora  qualquer coisa se encontra fácil na Internet, nem é mais preciso pesquisar, tudo já se oferece pronto e acabado. Então, por que remexer  estantes buscando livros ocasionalmente relembrados?
 A Secretária da Cultura Eloisa Galdino fez, semana passada, uma assustadora revelação. Indo ä Biblioteca Pública Epifanio Dória para fazer a entrega de livros comprados pela sua Secretaria, ela revelou que, há exatamente 22 anos, o acervo daquela biblioteca não era acrescido com a compra de novos livros pelo estado. Chegaram esporádicas doações, mas, compra mesmo de volumes novos somente agora aconteceu, após tantos anos. Ou seja, o último aporte de livros novos à Biblioteca Pública adquiridos pelo estado, ocorreu ainda quando era governador, Augusto Franco, e para cuidar  mais especificamente de um assunto um tanto posto à margem em nosso meio, Augusto Franco mandou um projeto à Assembléia criando a Subsecretaria da Cultura, que era parte da Pasta da Educação, então comandada pelo deputado federal Antonio Carlos Valadares.
 Sem que se criem atrativos para a leitura, sem que se levem livros ao povo, como recomendava o poeta,  o livro  quase desaparecerá antes  que se confirme a previsão de que será golpeado de morte pelo seu sucessor eletrônico.

sábado, 11 de junho de 2011

EDVALDO SAI DA COXIA E VAI AO PROSCENIO


Edvaldo Nogueira, o prefeito de Aracaju, entendeu que agora é tempo de sair da coxia e ir ocupar seu lugar no proscênio do teatro político onde  começa a ser protagonista influente. Ele afirma que não foi tarefa fácil suceder a Déda, enfrentar uma eleição estadual, depois, ser reeleito, mas confessa, humilde, que além do agradecimento permanente aos aracajuanos, reconhece que Marcelo Déda e Jackson Barreto foram os sustentáculos da sua  confirmação como prefeito logo no primeiro turno. Com o fim do seu mandato se aproximando e a necessidade de surgirem candidatos, ou candidato, Edvaldo sai a campo e articula intensamente. Sabe que tem de ir muito além dos limites estreitos do seu  PC do B, partido que fundou e do qual nunca  se desligou. Agora, conversa com todos os políticos e entende que é tempo de somar, e, sobretudo,  evitar-se atrito, tanto com aliados, como também com a oposição, na forma em que ela está hoje configurada.  Semana passada Edvaldo reuniu-se com jornalistas, todos convidados pelo seu discreto e eficiente Secretário da Comunicação, jornalista Marcos Cardoso.  A conversa descontraída aconteceu no Chopp 13, da Praia Formosa, ( poucos lembram desse nome, agora é 13 de Julho) e o papo andou solto, enquanto Edvaldo repetia que estava a fazer constantes exercícios para superar a timidez. Os exercícios já devem ter dado resultado, pois nunca se viu um Nogueira tão desenvolto.  Na área administrativa o prefeito assegura que terá muito a mostrar até meados do próximo ano quando começa a campanha.  Garante que as duas últimas favelas de Aracaju, o Coqueiral e a Terra Dura estarão urbanizadas e  terão começado ações para transferir os moradores dos barracos às margens do Poxim, principalmente daqueles ao redor do São Conrado. Em parceria com o Instituto Vida Ativa, já tem  milhares de mudas para  reiniciar este mês a arborização da cidade, reforçada, agora, com a criação do Conselho Municipal de Arborização. Aracaju estará com  quase todas as ruas asfaltadas, e,  já concluída a ponte sobre o Poxim, resta fazer o túnel sob a Tancredo Neves e as grandes avenidas de acesso. Há planos para racionalizar o transito.  Há muitos outros projetos em andamento, inclusive o das grandes artérias para desafogo das áreas congestionadas; conclusão de obras de escoamento das chuvas, e Edvaldo lembra que a última grande  tempestade em maio não causou desastres. E vai mais longe, anunciando a próxima conclusão do calçadão da estrada da Atalaia. Admitindo com franqueza os gargalos existentes na saúde Edvaldo diz  estar certo de que uma boa parceria com os governos do Estado e Federal, vai ajudar a superá-los. Para melhorar a arrecadação e tornar a população de Aracaju participante e fiscalizadora, Edvaldo anuncia a nota fiscal eletrônica.
Na tessitura de alianças políticas ampliadas e renovadas, Edvaldo tem quase a certeza de que irá atrair o ex-governador Albano Franco e o seu grupo de amigos, além de  aprofundar diálogos com aliados que poderão tornar mais fortalecido o projeto para dois mil e doze.
  Retornando de São Paulo na quinta-feira, depois de participar como conselheiro de mais uma reunião da FIESP, Albano, pela primeira vez, admitiu que o seu tempo de  tucanato  está chegando ao fim. O  ex-deputado federal Jose Carlos Machado  seria o nome  preferido da cúpula tucana para comandar o PSDB em Sergipe, assim que Albano  apagar as luzes  e fechar as portas da sede na rua Duque de  Caxias.

A SACERDOTISA DA DANÇA


Há pessoas para as quais todas as homenagens recebidas nunca correspondem ao que elas merecem. A calabresa, ou melhor dizendo,  a siciliana Lú Spinneli, ( na Itália seria uma prima dona) é uma dessas personagens assim, que se fazem credoras do reconhecimento, pelo que fazem, pelo que são, pelo protagonismo que exercem na sociedade. No tempo em que homem dançar “ era prova de viadagem “ e que mulher sofria restrições quando exibia o corpo, e isso faz só quarenta anos,  Lú, filha de Spinelli, o mais famoso alfaiate baiano ( Adão não se vestia porque Spinneli não existia) chegou ao acanhado Aracaju, lugar bem miúdo,  província assolada por todos os preconceitos e maledicencias.  Veio, vestindo roupas dos out-siders de então, e foi desafiando hábitos de um conservadorismo  rabugento. Fez um Studio e chamou as pessoas a dançarem a vida. O Studio Danças é hoje uma respeitada instituição, e a sua fundadora uma  festejada pioneira. Nesses quarenta anos que a fizeram sergipana reconhecida pelo Poder Legislativo, Lú  firmou presença ativa na cena cultural, foi ativista, foi batalhadora e nunca parou. É chegado o  tempo das homenagens, e Lú Sppineli aos quarenta anos de  sergipanidade, está a recebê-las. Ao tempo em que foi reconduzida para o Conselho Estadual de Cultura, juntaram-se o Governo do Estado, a Prefeitura de Aracaju, a Universidade Federal, para ainda mais a homenagear, e Lú, em meio a tantas deferências, só faz misturar lágrimas aos sorrisos.

A PONTE E A ENERGIA NUCLEAR


O ex-governador João Alves tem uma especial habilidade para sobreviver. Mantêm-se na mídia,   é um eficaz oposicionista, e não tem qualquer receio de cometer excessos, exagerando algumas vezes na dose daquilo o que afirma. Também era assim em relação às suas ações quando no Governo. Mas, dessa forma, ele consegue manter uma permanente liderança sobre boa parcela dos sergipanos, e sabe habilidosamente crescer ao capitalizar ao seu favor as insatisfações. Mês passado ele voltou a tocar na mesma tecla das perseguições que estaria a sofrer,  e fez uma denuncia um tanto despropositada.  Disse que a grande ponte da Barra,  marco do seu seu terceiro governo, poderia cair a qualquer momento, porque,  propositalmente, o governo não lhe estava dando a manutenção necessária.  E, caindo a ponte, o pesado ônus da queda desabaria eleitoralmente sobre ele, que a construiu.  Foi de certa forma um absurdo, porque a ponte, da mesma forma que a Orla da Atalaia, outra obra de João Alves, dessa vez no segundo governo, são cuidadosamente mantidas e conservadas.  O custo de manutenção da ponte por sinal não é pequeno, porque  o seu vão central se sustenta vistosamente pendurado a cabos, os estais, que exigem redobrados cuidados.  Abandonar aquelas obras seria, antes de mais nada, um crime contra o patrimônio público, e o governo de Déda se tem caracterizado  pelo zelo com esse patrimônio,  objeto de muitas obras de restauração. E mesmo que a ponte viesse a ser agora completamente abandonada, tratando-se de uma obra bem construída, ela só viria a desabar, no mínimo, daqui a uns vinte anos. Mas, quem disse que até lá João ainda não estará disputando o voto dos sergipanos ?
 Então, João Alves mudou rapidamente de assunto, e concentrou-se num tema que certamente o colocará no centro dos debates.  Isso é,  exatamente o que ele deseja.  Fez oportunamente publicar um conciso e bem fundamentado artigo na Folha de S. Paulo abordando a questão das usinas nucleares projetadas aqui para o nordeste. Depois da catástrofe de Fukushima, fica difícil encontrar pelo mundo quem ainda tenha a coragem de defender publicamente a expansão das centrais atômicas. A Alemanha já tem um plano para fechar as suas nos próximos quinze anos, mas o Brasil está a construir Angra-3, e poderá  não abandonar o projeto das três centrais  no nordeste. Se o governo insistir nesse projeto, João Alves já tem  lugar assegurado no debate.  Ficará, por certo, em destacada posição, e ainda mais exercitando os argumentos sintonizados com a grande maioria da opinião pública, apavorada diante do desastre japonês.  Nada melhor para quem se  dispõe,  levado pelos números das atuais pesquisas, a disputar no ano que vem a Prefeitura de Aracaju, tentando reocupar a cadeira onde começou sua trajetória política, daquela vez sem voto, nomeado Prefeito da capital pelo governador Jose Rolemberg Leite em 1975.  Trinta e seis anos depois,  levado pelas circunstâncias, o engenheiro João Alves quer de novo alisar a cadeira onde, pela primeira vez, sentiu o gosto do poder. E aquele gosto o contaminou pela vida a fora.

UMA INGRATIDÃO ITALIANA


Há na  Calábria, mal-afamada região italiana, um dito jocoso que corre de boca em boca: Quando nasce uma criança  do sexo masculino o pai segura nas mãos uma consistente massa de pizza e a arremessa contra a parede  do quarto do recém nascido; se a massa cair, a criança será um mafioso, se despencar  ao chão, será um cantor. Os italianos são assim, têm muito daquelas características latinas que existem nos brasileiros, estes, marcados ainda mais pela sensualidade africana, todos porém  igualmente expansivos, tantas vezes emocionais, capazes também de rir-se dos próprios defeitos. Pois não é que um ministro da Justiça italiano propôs, nada mais nada menos, do que um boicote da seleção, a “azzurra” de tantas glórias, à Copa do Mundo de 2014 no Brasil !!!
Fizesse o Brasil tal bobagem, logo seria lembrada aquela frase que o general De Gaulle aliás nunca disse, nesse caso transferida para a Itália:  “L’ Italie, ne’pas un pays serieux.” Mas a Itália é terra européia, centro do antigo império romano, país de história e tradições milenares, berço do Renascimento,  de Leonardo da Vinci, de  Caruzo, de Verdi, de  Gramisci,  de São Francisco de Assis, da ópera Nabuco, e seria fastidioso enumerar todos os seus artistas, os seus santos, os seus políticos, os seus gênios. Quando se fala daquela península, é impossível não sentir o olor dos seus vinhos, os sabores e os cheiros florais  que emanam naquelas  colinas da Toscana,      seios arredondados de uma madona carnuda, de numa madrugada gélida, como sons atemporais nos ouvidos deliciados, o marulhar suave, quase imperceptível, talvez sonhado, das águas do Arno esbatendo-se contra  a arquitetura inigualável de Florença, ou ainda, o metálico, quase celestial planger  de um violino numa noite ébria, pelo chão molhado da Praça São Marcos, afagando uma desconhecida, encontrada quase bêbada num canto deserto de um bar fumarento, ao lado do palácio onde os Médicis fizeram ferir punhais assassinos, e também mover pinceis que criaram as mais belas formas de arte. Não se pode falar em Itália sem evocar sentimentos, e esses suplantam as lembranças dolorosas do fascismo, que soldados brasileiros deram o sangue e a vida para ajudar a derrotá-lo, e agora, bem presente,  a constatação vergonhosa de que a grande Itália se faz menor pela avacalhação de um mafioso que os italianos toleram, e ainda aplaudem, e não se apressam em derrotá-lo e prendê-lo, o neo-fascista, mafioso, corrupto e amoral Sílvio Berlusconi.
Cesare Batisti poderá até ter cometido crimes, ter feito jorrar sangue, mas isso aconteceu na década agitada dos setenta, quando, tanto a sua facção, os Proletários Armados Para o Comunismo, como as Brigadas Vermelhas, empenhavam-se numa luta política armada, não exatamente contra a democracia italiana, mas, contra o regime capitalista que eles sonhavam em derrotar pela via armada.  Num país que em tantos casos se mostrou condescendente com mafiosos, tanto assim que não os consegue expulsar de Nápoles, da Sicília, da Calábria, é estranha essa  sêde de punição a  Batisti, a perseguição que contra ele moveram, desrespeitando-se até princípios elementares,  como o  direito à defesa. Todos os que pegaram em armas no passado  contra o Estado italiano foram anistiados, menos Batisti. Por que toda essa comoção, toda essa arrogância, todo esse desconhecimento de que a um país soberano é-lhe facultado o direito de conceder asilo, e o julgamento do merecimento ou não da guarida concedida cabe apenas ao país concedente ? Por que os insultos ao Supremo Tribunal Federal, ao  ex-Presidente Lula, ao Brasil, classificado como “ republica bananeira de segunda categoria”? Foi essa” república bananeira de segunda categoria” que abrigou levas e mais levas de italianos acossados pela fome, pela miséria em seu país, que aqui chegaram como emigrantes, aqui foram recebidos com afeto, aqui formaram famílias, aqui têm milhões de descendentes, que, sendo, brasileiros, se sentem ofendidos pelo insensato clamor e o desrespeito ao Brasil. Da “república bananeira” desprezível, saíram os soldados que foram ajudar a Itália sã, a livrar-se da doença política espalhada por Benito Mussolini e sua gente criminosa;  daqui, também saiu uma mulher heroína, Anita , que, com seu amado aventureiro e idealista italiano, Garibaldi, foi lutar pela fundação da moderna Itália. Por esse tempo andavam exilados no Brasil carbonários, os terroristas da época, que depois, foram recebidos festivamente na Itália  que derrotara a opressão com a ajuda deles, tão bem recebidos e acolhidos pelo que  seria então o “Império bananeiro “.
 Um dia tudo isso passará, e os italianos, pelo menos os não contaminados pela intolerância fascista, irão reconhecer que cometeram uma injustiça com o país do mundo que, depois dos Estados Unidos mais os acolheu e talvez mais os admire.

RETALHOS DE UMA VIAGEM MOSCOU, OU O QUE FIZERAM DO SOCIALISMO ( 3 )



O aeroporto de  Sherement é amplo e está tinindo de novo, rebrilha seu chão de mármore branco. Mas, às  três  horas da tarde de uma terça-feira  parece deserto. Não há pontos de informação turística.  Junto à porta de saída aglomeram-se homens desmazeladamente vestidos. Deles exala um forte cheiro de álcool.  São taxistas, e  cercam os poucos passageiros oferecendo-lhes seus serviços,    começa  a negociação do preço da corrida, porque nenhum táxi liga o taxímetro.  O que  estava em quatro mil rublos termina pela aceitação de mil e quinhentos. Nenhum deles consegue, além do russo, pronunciar três ou quatro palavras em línguas mais acessíveis, e aí a mímica é o único recurso possível.  Mas há ainda que confiar na sorte, porque boa parte dos taxistas  integra alguma das inúmeras máfias moscovitas, e um assalto é sempre possível. No trajeto até o hotel a enorme surpresa de quem conheceu países do leste europeu antes que desmoronassem o Muro de Berlim, e depois, todo o sistema socialista. Nas estradas e ruas predominam os carros de alto luxo, o tráfego é pesado  e absolutamente caótico.  Há construções subindo por toda parte,     as marcas das mais conhecidas multinacionais estão sobre os edifícios. Nos carros luxuosos há na frente, invariavelmente, o motorista e um segurança, requisitos indispensáveis para a nova classe de  ricos e bem sucedidos empresários que multiplicam os lucros com a mesma facilidade com que mafiosos acrescentam ao  patrimônio o resultado dos assaltos que cometem.  A Rússia transformou-se num país repartido entre máfias, e Moscou é a resplandecente e perigosa cidade por todas escolhida  para ser a sede dos seus negócios.
Mafiosos e prostitutas sempre formam um binômio indissolúvel em qualquer parte do mundo, e na velha capital dos  tzares e autocratas bolchevistas essa simbiose só não se torna ostensivamente visível nos magníficos templos ortodoxos para aonde acorrem fieis em número cada vez maior. Jovens e idosos, mostrando que de nada adiantou a intensa pregação ateísta e a repressão forte às religiões, exercida com maior ou menor intensidade durante os setenta anos que durou o regime comunista.
 O começo dos anos sessenta  foi um tempo auspicioso para o mundo socialista. A revolução cubana encantava a juventude latino-americana e intelectuais franceses, que sonhavam em reproduzir as façanhas  guerrilheiras dos barbudos comandados por Fidel e Guevara; as proezas soviéticas no espaço  davam fortes argumentos  à esquerda, e principalmente aos partidos comunistas do mundo todo, no embate ideológico que travavam para demonstrar a evidente superioridade do socialismo em face do capitalismo que, segundo a análise marxista, estaria atravessando a sua fase final,
  e  logo,  vitimado pelas suas próprias e insuperáveis contradições, seria  definitivamente sepultado pelo proletariado revolucionário que  conquistaria o poder. A Moscou chegavam diariamente representações  de todas as partes do mundo, muita gente vinda dos países africanos recentemente  saídos da condição de colônias e tornados repúblicas populares.Alguns , exultantes pela grande oportunidade, encaminhavam-se à Universidade dos Povos Patrice Lumumba, de onde regressariam aos seus países,  graduados, para exercerem as mais diversas profissões,  ideologicamente fortalecidos para a luta revolucionária. O aeroporto de Vnukovo era o único a receber vôos internacionais, e no trajeto até o centro de Moscou os recém chegados  se espantavam com a visão de uma extensa favela, bem ao lado da principal rodovia que  levava  à capital. O espanto era logo desfeito pelos guias que falavam línguas diversas e explicavam que ali, naquela favela, única aliás  em toda a União Soviética, viviam os irrecuperáveis,   alcoolatras, drogados, vagabundos,  que se mostraram resistentes ao tratamento em clínicas especializadas, e  preferiam viver naquelas condições degradantes. Para o regime que surpreendentemente os tolerava,  sem fazê-los trilhar  compulsoriamente os caminhos gelados da Sibéria,   eles eram todos classificados dentro daquela  visão marxista da sociedade, como  “lumpens “, o “lumpen proletariat “,    assim escreveram em alemão  Karl Marx e Friederich Engels, definindo aquela classe de gente indiferente à luta político-ideológica, e que prefere o isolamento e a vadiagem. Ficavam então satisfeitos os visitantes, absolutamente certos de que a  ditadura do proletariado instalada na União Soviética estava, de fato,  forjando o novo homem para um novo mundo em construção.
 Teriam sido educados naquele tempo aqueles que hoje formam as máfias ?
 Na declaração da Conferência Internacional dos Partidos Comunistas,em 1969, um ano antes das grandes comemorações pelo centenário de Vladmir Lênin, constava este  texto triunfal: “O nome de Lênin tornou-se símbolo da vitória do Grande Outubro, ( alusão à tomada do poder em outubro de 1918) dos grandes feitos revolucionários que modificaram radicalmente o quadro social do mundo e marcaram a viragem da humanidade para o socialismo e o comunismo. “
 Moscou, hoje, é a capital  mundial dos bilionários, ali, eles concentram-se em maior número do que em qualquer outra parte. E lá enriquecem  mais e mais, todos praticando um capitalismo selvagem, devastador, um vale tudo em busca de dinheiro. A mesma cultura das máfias.
Aquela múmia de Lênin, coisa de extremo mau gosto, exibida num mausoléu  dentro dos muros do Kremlin, deve estar sendo maquiada todos os dias, para que não apareça contorcida e desfigurada em espasmos de raivosa indignação incontida

PÉ NA TERRA DEDO NO GATILHO


 Possuir extensos tratos de terra sempre foi, no velho Brasil, um sinônimo de poder. O velho Brasil das Casas Grandes e dos coronéis era uma réplica resistente  dos feudos que, na Europa,  foram  territórios incontestados, onde reinava absoluta a vontade dos grandes senhores , os barões da terra,  donos do chão e das almas. Aqui, pelo Brasil antigo, também convivemos como enorme e estático país agrícola, com algo muito próximo ao feudalismo,  base das relações de produção de toda a Idade Média. Acontece, porém, que o Brasil foi descoberto quando a Idade Média já se findava, exatamente pela expansão do mundo  que se ia tornando conhecido, ao mesmo tempo em que se desvendavam os saberes  escondidos nas bibliotecas, e a arte rompia os cânones da estagnação cultural, imposta exatamente pelo  forma de vida que os barões da terra estabeleciam. Em Portugal, encolhido num desvão da Europa,   a letargia dos seus barões feudais começava a ser perturbada com a azáfama dos portos  por onde chegavam e saiam mercadorias, o alvorecer, para os lusitanos, de um tardio mercantilismo. Para aquietar barões insatisfeitos,  nada melhor do que a grande terra recém descoberta dividida em gigantescas Capitanias Hereditarias, numa partilha restrita aos escalões da alta nobreza. Assim, quando na Europa morria o feudalismo,  no Brasil, Portugal começou a reinventá-lo. O modelo arcaico sobreviveu ,  venceu os “tenentes” que quiseram mudá-lo em 1930,  despejou o radicalismo e a intolerância pelo país, quando Francisco Julião criou as Ligas Camponesas, revelando a desgraça miserável nos massapês dos engenhos pernambucanos; e fez mais ainda pelo retrocesso brasileiro,  apressando a chegada do golpe  de 64,  mas  logo colocou-se na  defensiva, quando Roberto Campos, ministro do planejamento do general Castelo Branco,  traduzindo os interesses das grandes corporações interessadas em ampliar mercados, fez o Estatuto da Terra, um avançado documento, um  passo  positivo em direção à reforma agrária, tentado pelo regime militar nos seus primórdios,  que os senhores da terra logo trataram de engavetá-lo.
 Os nossos “terratenientes” nunca perderam a empáfia, a enorme arrogância, e assim  atravessaram os séculos, passaram desde a colônia ao império; na República, estão ainda agora, neste século vinte e um, desafiadores, e também assassinos, matando  os que ousam enfrentá-los.  Não  guardam mais qualquer semelhança com aqueles senhores de terras antigos, que se julgavam, da mesma forma que os reis, beneficiados pelos privilégios que a graça divina lhes concedia . Os matadores do Pará que tiraram a vida de ambientalistas, de defensores da floresta, de militantes políticos, são bandidos da pior espécie, grileiros, desmatadores, gente capaz de cometer todos os crimes, desde quando possam ganhar mais dinheiro. Com o pé na terra e o dedo no gatilho, consideram-se  ainda hoje invioláveis em seus redutos, onde antes,  as autoridades chegavam para lhes prestar reverencias.  Sentindo-se cada vez mais isolados como relíquias desprezíveis em plena modernidade,  colocaram todas as suas esperanças de sobrevivência no gatilho, que, covardes e traiçoeiros, fazem manejar através de pistoleiros contratados.
 Mas o pior de tudo é que  eles não estão   isolados como se possa imaginar.  Continuam conservando muito  poder, ainda exercem  forte influência, por isso, reincidem, matando, devastando a floresta amazônica, e ainda lhes dão o vergonhoso prêmio de um Código Florestal já aprovado pelos deputados,  concedendo anistia a todos os desmatadores.  Por esse caminho poderá chegar o dia em que os assassinos também virão a ser anistiados.