sábado, 31 de março de 2012

E MAILS RECEBIDOS


Do  amigo, Odilon Cabral, privilegiado herdeiro das melhores qualidades de cultura e dignidade do pai, Cabral  Machado:    
 Caro Luiz Eduardo,
Fico feliz com sua recuperação e o retorno de seu texto sem igual. Não queira ouvir Bach no além, nem por sonho ou alucinação celestial. Prefira-o aqui mesmo, onde você pode escolher o canto e o encanto do coral. Fique bom completamente, sobretudo para os jabs dos netos. Estes o melhor madrigal. É o desejo do leitor cordial. Odilon Cabral Machado.
Do  valoroso lutador sertanejo e amigo, Wolney Britto:
Amigo Luiz Eduardo Costa,
 ¨Fico feliz por sua recuperação cirúrgica pelas mãos abençoadas da Doutora Sônia Oliveira Lima e sua equipe. Imagino sua angústia diante de um quadro que o afligia sabendo que um dia chegaria o momento da intervenção cirúrgica. Fique certo que as madrugadas sertanejas serviram-lhe  de alento, quando você buscava fixar no firmamento a constelação que direciona o universo, das Três Marias aos Três Reis Magos, sendo vigiadas pelo Escorpião, e do outro lado, o Caminho de Santiago indo ao encontro do Cruzeiro do Sul. Além dessa força cósmica,  no verão, as craibeiras  do rio Jacaré florescerão mais belas, enquanto seu amigo continuará fazendo suas orações na Hora da Ave   Maria na capelinha, nas terras do Gararú, colocando nas nossas preces as pessoas do bem. Luiz Eduardo, você é um grande amigo. Wolney Britto, um veterinário sertanejo. ¨
Minha gratidão aos dois atenciosos amigos, e meu apelo a Wolney para que inclua, se ainda não o fez, em suas certamente ouvidas preces, o apelo pela recuperação do nosso comum amigo, e maior intérprete do sertão, o querido  Alcino Alves Costa.

A ESQUERDA FASCISTA

Que coisa feia,  um grupo de esquerda parecendo  milícia fascista a  interromper transito, gritar ofensas, tentando impedir a entrada e saída de militares da reserva que chegavam para um ato   saudosista e frustrante  em memoria da tardiamente falecida  ¨revolução¨ de primeiro de abril,  no Clube Militar,  Rio de Janeiro. Não é demais lembrar que na tarde de primeiro de abril de 64, quando manifestantes  faziam um ato contra o golpe em marcha, saíram daquele Clube os tiros que fizeram na rua as primeiras vítimas do regime que estreava disparando. Mas a esquerda deve manter uma asséptica distancia do fascismo, em primeiro lugar, dignificando-se, pelo respeito à ideologia e a livre manifestação de adversários.  Quando isso não acontece, mergulhamos, todos,  na atmosfera cinzenta da intolerância e do ódio.

RELEMBRANDO LEITE NETO


Francisco Leite Neto, foi um político daqueles tempos em que, acima das conveniências e do interesse pessoal,  se colocava um  outro sentimento, bem mais forte, o sentimento de honra.
Discreto, fechado, quase um enclausurado tímido, Leite Neto foi o líder forte do PSD durante muitos anos, confrontando uma   outra liderança bem mais carismática do que a dele, a do engenheiro Leandro  Maciel. Também originário da aristocracia canavieira Leandro se tornara o símbolo da  oposição à chamada oligarquia. Como presidente da poderosa Comissão de Orçamento, o deputado Leite Neto distribuía fartamente verbas, mas, fato raro, talvez inédito, nunca pediu a um só dos prefeitos que recebiam o dinheiro que ele liberava, para que o depositasse num pequeno banco do qual era sócio, o   Rezende  Leite.  Aliás,  o banco fechou exatamente quando ele  presidia a endinheirada Comissão. Leite Neto viveu e morreu deixando   o mesmo patrimônio, e foi, também durante mais de seis anos  o Secretário Geral de Governo,  na Interventoria  de um outro homem, ao contrário dele impulsivo,  as vezes temerário, o interventor coronel Augusto Maynard Gomes.  Leite Neto era o segundo homem mais poderoso de Sergipe. Tempos duros de ditadura, erros certamente cometidos em consequência do autoritarismo dominante, mas, sempre mantendo-se  a convicção ética de que dinheiro público não pode ser roubado. Entre os deslizes autoritários, a prisão arbitrária do jornalista e promotor Paulo Costa, em agosto de 45,  jogado na penitenciária, depois, no Quartel dos Bombeiros até a libertação final pelo Supremo, que atendeu habeas corpus assinado pelo próprio preso, e pelos colegas advogados Luiz Garcia e Mário Cabral. Leite Neto morreu aos 54 anos como senador da república, em 1964. De Leite  Neto, Jackson Barreto que menino era seu admirador, diz que surpreendeu-se ao  rever no Senado projetos  que ele apresentou na linha  de ideias sociais avançadas. Leite Neto ocupou o governo de Sergipe por algum tempo na ausência do interventor  Maynard Gomes. O Palácio Museu  o homenageou  em março  quando faria aniversário. Sobre ele falou o historiador Luiz Antonio Barreto. Entre os presentes ao auditório que se tornou ponto de referencia da memoria  republicana de Sergipe , muitos amigos, familiares, netos, filhos , sobrinhos, e a irmã, a desembargadora aposentada Clara  Leite  Rezende, uma forçada ausência da qual a Justiça sergipana se ressente.

PETRÓLEO, DE SEIXAS A DÉDA

Carmópolis foi o segundo campo produtor de petróleo no Brasil. Começou a produzir em 1963, quando só existia petróleo em alguns poços do recôncavo baiano. A   Petrobrás apenas começava, desafiando a reação negativa de setores descrentes na capacidade brasileira para construir um modelo autônomo de desenvolvimento, esquecendo, nas gavetas, o parecer pessimista e até suspeito de um famoso geólogo americano, que deu seu nome ao que escreveu, o tão controverso Relatório Link. Quando o óleo começou a jorrar, o então governador Seixas Dória foi  a Carmópolis.     Ex-integrante da Frente Parlamentar Nacionalista, Seixas ali enxergava, também, a sua participação para o êxito de uma empresa brasileira que a duras penas se consolidava. Meio século depois, Marcelo Déda, um governador de outra geração, que era  criança em 63 , esteve em Carmópolis,  agora, o mais antigo campo produtor do Brasil. Nele, a Petrobrás faz fortes investimentos para a reativação dos poços, que continuarão  produzindo, e com capacidade aumentada por ainda muitos anos. Para Déda, para Jackson, que estava também em Carmópolis,  aquele episódio, somado às novas perspectivas de ampliação do potencial produtivo de petróleo sergipano no mar,  representam novas vitórias de uma luta histórica, que nela engajou políticos comprometidos, coerentemente, com um projeto de independência econômica do Brasil. 

O CATÃO ¨PARAGUAIO ¨


Marcus Pórcio  Cato, mais conhecido como Catão, foi um ilustre romano que transformou o seu nome em  adjetivo para classificar aqueles que se dedicam à nobilitante tarefa da defesa intransigente dos valores morais. Censor, Catão fustigava os costumes corruptos do seu tempo, empenhava-se  nas constantes advertências a respeito da moralidade na administração do Império, denunciava senadores, estava sempre atento às falhas e aos vícios associados ao poder. O senador por Goiás Demóstenes Torres,  era um Catão moderno. Tornou-se conhecido nacionalmente  pela sua intransigente defesa da moralidade pública, fez constantes denuncias, inclusive contra colegas que ele considerava indignos de ocuparem uma cadeira no Senado, o seu gabinete é decorado com cópias de páginas dos jornais que noticiam as suas sempre pontuais ações contra corruptos e corruptores. Demóstenes integra o Ministério Público goiano, é Procurador de Justiça, seus colegas de todo o país tinham  por ele até as revelações recentes, o maior respeito, e  o viam como um raro exemplo de político. Conservador ao extremo, Demóstentes  defendia posições que o aproximavam muito da direita, e fazia tudo isso com muita inteligência, com raro embasamento jurídico e cultural, nos artigos que escrevia e que  os jornais brasileiros reproduziam, certamente honrados por terem em suas páginas um colaborador tão positivamente avaliado.
Mas, veio a contundente surpresa. O senador Demóstenes não passava de um vigarista, um malandro cínico que se travestia de moralista, enquanto se associava a  um marginal, Carlinhos  Cachoeira, que está preso numa penitenciária de segurança máxima no Rio Grande do Norte. Tratava-se, lamentavelmente,   de um produto falso, espécie de uísque paraguaio vendido por contraventores em qualquer esquina.