quarta-feira, 20 de abril de 2011

A SULANCA DA VIOLÊNCIA

Convivemos com uma feira, uma enorme feira da violência. Temos uma legislação rigorosíssima a respeito da comercialização e o porte de armas de fogo, mas não se consegue desarmar bandidos e não se evita a venda clandestina de armas. Nesse episódio recente em que foi morto o foragido Floro Calheiros e dois dos que o acompanhavam na fuga, viu-se que na camionete havia um arsenal. Mas esse é apenas um exemplo de tantos, de milhares de casos semelhantes espalhados pelo país. Talvez tenha sido por isso que, quando houve o plebiscito, a população manifestou-se a favor da continuação da venda e do porte de armas, aceitando o argumento de que se os fora da lei transitam livremente armados, por que o cidadão honrado não poderia portar uma arma, tê-la guardada em sua residência, até mesmo para defender-se da bandidagem. Assim, o desarmamento geral foi desautorizado pelo voto da maioria dos brasileiros, mas, o uso ilegal de armas continua criminalizado, e ter arma legalmente adquirida e registrada é tarefa das mais difíceis.  Se o desarmamento houvesse sido aprovado na votação, a situação não seria muito diferente. Os bandidos continuariam tendo acesso às armas, e a criminalidade estaria no mesmo nível. Agora, vem o senador Sarney a propor um novo plebiscito para que a população vote outra vez e diga se quer ou não o comércio e o porte de arma. Trata-se de um retumbante equivoco, mais um diversionismo de ocasião, para encobrir uma realidade que os nossos legisladores se recusam a tratar objetivamente, por omissão, negligencia ou covardia. Se for feita mais uma consulta ao povo, e dessa vez a maioria decidir pela proibição total das armas de fogo, nada vai mudar. Hoje, essas armas na prática já são proibidas, mas, quem quiser e tiver dinheiro, principalmente se estiver ligado à bandidagem, poderá comprá-las até com uma certa facilidade. No Paraguai, coladas à nossas fronteiras, há feiras permanentes de armamentos de todos os gêneros e calibres.  No Brasil continuam entrando armas a granel. Essa é uma parte da sulanca da violência. A outra parte, talvez tão perigosa quanto é a criminosa exaltação do comportamento violento, e isso se faz por todos os meios e modos, ostensivamente, escandalosamente, sem que se preocupem os legisladores em criar leis que combatam a disseminação de uma cultura de  crime e brutalidade, que não faz parte dos nossos hábitos como povo, que até já foi caracterizado pela cordialidade.  A sulanca da violência é uma enorme feira livre que terá de ser combatida e vencida, não com medidas oportunistas, mas, com uma permanente dedicação para que surja entre nós uma consistente cultura de paz.

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