quinta-feira, 5 de maio de 2011

A LISTA FECHADA E AS REAÇÕES


A propósito do artigo aqui publicado no domingo passado, quando entendemos como positiva a adoção da lista fechada como meio de reduzir a compra de votos, recebemos um grande número de manifestações, quase todas discordando e condenando a idéia da elaboração prévia pelos partidos de uma relação com os nomes que seriam levados aos eleitores.
O desembargador aposentado Pascoal Nabuco, um estudioso do processo eleitoral, sempre em busca de soluções para as nossas volumosas mazelas, faz sérias restrições `a lista fechada, e resume todo o seu desencanto, fazendo seu, o ceticismo crítico de Miguel Arrais exposto no seguinte episódio: Um deputado muito entusiasmado com a idéia da lista fechada, tentava transformá-la num projeto de lei, e sabendo que Arrais não era muito simpático à iniciativa foi tentar convencê-lo e conseguir sua adesão, que seria importantíssima naquele momento. Depois de gastar por muito tempo seu precioso latim, enquanto Arrais absolutamente mudo apenas balançava a cabeça, o deputado imaginou que aquilo seria um gesto de aprovação e concluiu a arrastada arenga, perguntando: Então, governador, posso contar com o seu apoio?
Arrais que quase cochilava, se recompôs rápido, endireitou-se na cadeira e perguntou com um meio sorriso nos lábios: ”Tudo bem deputado, e quanto vocês vão cobrar de cada um que fizer parte da lista? “
O desembargador Pascoal mostra-se descrente em relação ao controle da influencia do poder econômico no processo eleitoral. Aplaude, todavia, as idéias práticas que possam contribuir para reduzir a influencia do dinheiro na caça ao voto. Lembra que tanto se fala em financiamento público de campanha, sem que se leve em conta que a maior parte das despesas legais já são custeadas ou asseguradas pelo poder público através da propaganda eleitoral gratuita, do tempo reservado aos partidos para a propaganda partidária, do fundo partidário, que é em dinheiro vivo, havendo, além de tudo isso, uma legislação quase draconiana a limitar os gastos com a campanha. Mesmo assim, diz o desembargador aposentado, ainda corre livremente o caixa 2, porque ninguém pode com eficácia conter a ânsia por dinheiro dos vendedores de votos, e da vontade de comprá-los de quem é candidato e consegue recursos para efetuar a compra. Trata-se pois, de uma doença grave que foi contaminando o organismo político, e cuja cura exigirá educação, conscientização política desenvolvimento econômico e social, enfim, um processo de aperfeiçoamento que só se consolida ao longo do tempo e do continuado exercício democrático.
O ex-deputado Jorge Araujo, hoje numa das principais assessorias do governador Marcelo Déda, é crítico até contundente da lista fechada, que ele considera antipática até pelo nome. Segundo Jorge, a escolha das cúpulas partidárias definirá a eleição, sendo beneficiados aqueles que forem antecipadamente bafejados pela preferência dos caciques e colocados nos primeiros lugares das listas. Não se reduzirá, no entender do ex-deputado, a influencia do dinheiro, que poderá acontecer antes, dentro dos partidos, e. da mesma forma depois, no decorrer da campanha. O eleitor, ou quem os “lidera” e se dispõe a vender-lhe os votos, irão procurar exatamente os primeiros da lista em busca da “estrutura “de campanha, - esse eufemismo que disfarça a compra e venda- e caso recebam uma negativa, irão, da mesma forma percorrer as outras listas, até conseguirem o que desejam e assim, a eleição continuará da difícil para quem não for rico ou receba o apoio forte de quem tenha dinheiro para garantir-lhe a eleição.
Diversos outros políticos se manifestaram contundentemente contrários à lista fechada. Todos eles, contudo, concordavam no mesmo ponto: a coincidência das eleições, é a melhor e mais objetiva providencia para reduzir a influencia do poder econômico na conquista do voto.

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