quinta-feira, 5 de maio de 2011

O BRUCUTÚ DO PARANÁ E O BANALIZADOR DO MARANHÃO


O Senado Federal já viveu dias bem melhores. E menos indignos. Comissão de Ética era formada por senadores que podiam retirar sem embaraços uma folha corrida, fosse na Justiça ou na polícia. O Senado “era o céu” como certa vez emblematicamente o definiu um senador sergipano. A Câmara Alta naqueles tempos estava reservada quase sempre a encanecidos senhores no ápice de uma vida pública trilhada com irretocável correção. Assim, antes de baixarem à sepultura, se descrentes na possibilidade de lhes serem abertas as portas do paraíso, esforçavam-se, e muito, para poder transpor os umbrais austeros de um belo edifício que ficava ainda no Rio de Janeiro, na confluência da Avenida Rio Branco com a Praça Paris, um dos caprichos mais bem elaborados do renovador prefeito Pereira Passos. A transferência para Brasília, lá, envolvido agora pelas linhas revolucionariamente modernas de Niemayer, não causou o abastardamento do Senado. Não foram as imensidões do cerrado goiano que o distanciaram dos sentimentos e dos padrões de comportamento majoritariamente usuais da sociedade brasileira. A Casa que “era o céu” criava e tolerava alguns privilégios, que eram até diminutos se comparados a um Parlamento onde um parlamentar substitui a palavra, o diálogo, alicerces da civilidade e da democracia, pela brutalidade da força que é a forma covarde de defesa ou fuga dos arrogantes. O senador Roberto Requião, o brucutu do Paraná, ao agredir o jornalista e perpetrar o desprezível gesto de desrespeito à liberdade de expressão, foi acobertado pelo quase completo silencio conivente dos seus, - seriam ilustres ou deslustrados pares?- que assim, parecem fortalecer aquela generalizada impressão de que aquilo que “era o céu” vai deslizando perigosamente ladeira abaixo,- se é que ao céu se sobe ou dele se desce por caminhos escarpados- e poderá chegar o dia em que o povo definitivamente o veja como um prostíbulo. Se isso acontecer a democracia estará em perigo, pois ela não sobrevive por muito tempo se os representantes do povo continuarem a fazer um strip-tease da credibilidade.
Depois do brucutu das araucárias, entra o banalizador dos babaçuais. Sarney, o vitalício presidente, justifica o gesto de Requião e o define como” sintoma de um temperamento forte.”
Sarney é, sem favores, o grande banalizador de todos os absurdos. Como presidente da República ele banalizou a tsunami avassaladora da inflação que o seu governo inerme permitia ultrapassar os cem por cento ao mês. Agora, banaliza o gesto estúpido, inadmissível, de um Senador da República que se transforma em beleguim intolerante, e arranca um gravador das mãos de um repórter, não pede desculpas depois, pelo contrário, se vangloria da insanidade e insulta o jornalista e a imprensa. Sarney banalizou o gesto, como banalizou e continua a banalizar tantos escândalos, inclusive a tragédia social do “seu” Maranhão.
Assim, de banalização em banalização, terminará aparecendo quem tenha saudade daquele autoritarismo extremo do general Newton Cruz, e até sugira erguer-lhe uma estátua insultuosa à democracia, com o rebenque nas mãos no dia inglório em que expulsou os representantes e cerrou as portas do Congresso.

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