terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A MEMÓRIA APAGADA NO MONUMENTO EM RUINAS


O cenário é desolador. No centro da praça um monumento em ruinas, ao lado, o edifício da estação da antiga ferrovia Leste Brasileiro abandonado. A Praça dos Expedicionários não merecia um destino tão inglório, exatamente porque deveria ser aprazível e bem cuidado logradouro a evocar uma das páginas da História que mais nos dignificam como povo: a participação brasileira na Segunda Grande Guerra Mundial. O monumento ou memorial foi construído pela Prefeitura de Aracaju em parceria com a Associação dos Ex- Combatentes. Nas suas paredes de mármore branco, cinza e negro, foram afixadas placas de bronze contendo os nomes de todos os sergipanos mortos, integrantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Os marinheiros eram mais numerosos, foram mortos durante o afundamento de diversos barcos da Marinha de Guerra; os integrantes da Força Expedicionária Brasileira, Divisão do exército que combateu na Itália, vinham em seguida. Da Aeronáutica só um sergipano, o tenente-aviador Aurélio Resende, morto em combate quando atacava ferrovias no meio- norte italiano. Hoje, as placas desapareceram, resta uma, a dos marinheiros, devastada pelo tempo e pelo abandono, e nela os nomes estão quase ilegíveis.
A Associação dos Ex- Combatentes quase já se extinguiu, até porque restam apenas vivos dois ou três dos seus antigos integrantes. Não há mais um major Aloísio, um capitão Juca Teófilo, e tantos outros que zelavam pelo monumento, comunicavam ao prefeito quando um vândalo o lambuzava de tinta, quando era necessário algum reparo, e ficavam a cobrar providências.
Não há mais as escolas que levavam seus alunos para visitas ao memorial, ao mesmo tempo, para que visitassem também a nossa História, com as explanações que os professores faziam sobre o mundo nos tempos conturbados da Segunda Grande Guerra. Ficavam então sabendo que a participação do Brasil foi modesta, num conflito onde só o chamado Exército Vermelho, da União Soviética mobilizou mais de dez milhões de soldados para derrotar as tropas nazistas na frente oriental. A contribuição brasileira limitada pelos nossos parcos recursos, pela má vontade e até sabotagem dos que no governo e nas forças armadas inclinavam-se pelo nazi-fascismo, justamente por isso, se tornou um exemplo de superação e heroísmo.
O monumento foi feito para preservar a memória daqueles dias, e exaltar a coragem dos sergipanos que atravessaram o Atlântico para irem à guerra, que patrulharam, em navios e aviões os nossos mares, que pilotaram aviões de combate nos céus italianos, e em combate morreram.
Não honramos a memória dos nossos combatentes, não reverenciamos a nossa História deixando, agredido pelo descaso e abandono, o monumento aos ex-combatentes sergipanos, os nossos mortos na Segunda Grande Guerra.
O que pensariam os franceses se um dia a Mairie de Paris deixasse de providenciar os buquês de lírios lilases e as fitas tricolores para colocá-los nos locais reverenciados onde morreram os combatentes da resistência?
    

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