terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O ALCAIDE E A AL QUAEDA, COISAS DO BOLE- BOLE E SARAMANDAIA


Houve um jornalista que, há coisa de uns quinze anos passados, fez uma sugestão tanto a Jose Ribeiro, o Cabo Zé, como a Jerônimo Reis, ferrenhos opositores, integrantes dos dois grupos em que se divide a política lagartense, o Bole Bole e o Saramandaia. A sugestão era para que, todos os anos, eles viajassem a Paris, cada um com a sua comitiva de seguidores e lá fizessem, juntos, uma grande festa de confraternização. Ergueriam taças de champagne em homenagens recíprocas, brindes trocados pelo sucesso e felicidade de cada um dos que em Lagarto se apresentam como inconciliáveis adversários. A razão para essa comemoração que a primeira vista pode parecer absurda, simples e facilmente compreensível. Tanto os bole-boles como os saramandaias dividem o poder, desde que desapareceram as lideranças do coronel Acrísio Garcez e de Dionízio Machado. Eles deixaram sucessores do velho antagonismo, inicialmente, Rosendo Ribeiro Filho, e Artur Reis, Seu Artur do Gavião. Quando a novela de Dias Gomes fazia grande sucesso, os grupos receberam a denominação que hoje ainda conservam. A polarização no município já foi total, houve casos em que casamentos foram desfeitos, porque marido e mulher tinham preferências políticas diferentes, ou casamentos que se tornaram impossíveis, porque o noive era Bole- Bole e a noiva Saramandaia. Repetiram-se em Lagarto episódios semelhantes ao drama de Romeu e Julieta, personagens célebres do não menos famoso Shakespeare, os integrantes das famílias dos Montechios e Capuletos, poderosos aristocratas que se enfrentavam na Florença do século XVI. Em Lagarto as diferenças nunca se resolveram com suicídios conjuntos, ou a fio de espada, até mesmo porque a arma já caíra em desuso, e felizmente, os Colt ou Shmidt-Wesson calibre 38 que eram sempre exibidos nas cinturas dos chefes políticos nunca foram usados. Trocavam-se muitos desaforos, muitos xingamentos, agora radiofonizados, depois que os dois grupos se tornaram proprietários de emissoras de rádio, mas a violência política sempre se limitou a algumas esporádicas trocas de sopapos.
Não se chegou a uma radicalização extrema como no povoado de Cruz do Cavalcanti em Ribeirópolis, onde havia dois minúsculos cemitérios, um, para famílias do PSD, outro, para famílias da UDN. O PSD daquele tempo não é este de agora, presidido pelo pacífico Jorge Araujo. Apesar disso, juram, fanáticos integrantes dos dois grupos que, se um seu aliado descambar para uma aliança com o adversário, nunca terá o seu voto. Assim, por obra e graça das paixões despertadas e que dividem o município em parcelas que sempre se equilibraram quase com a mesma dimensão eleitoral, por causa exatamente disso, os líderes saramandaias ou bole-boles nunca ficam inteiramente afastados do poder. Perdem a prefeitura, elegem deputados, fazem oposição ao governo, mas controlam o município, ou vice- versa. E se vão perpetuando no centro da cena política sergipana. Razão tinha então o jornalista quando sugeriu a confraternização parisiense.
No meio desse cenário repartido em dois, entrou um novo personagem, havido como intruso. Chegou sem laços políticos consistentes, seja com o Sarmandaia ou o Bole Bole. Fez uma aliança com o Saramandaia Cabo Zé, colocou um filho dele como vice, e elegeu-se prefeito. Era o Valmir da Madeireira, que agora, rompido com o Cabo Zé, tenta a reeleição, e é chamado de Bole-Bole Paraguaio. Os dois grupos tradicionais se reorganizam e partem para o enfrentamento, enquanto Valmir busca manter uma terceira via com todos os obstáculos que isso representa em um eleitorado polarizado. Cabo Zé, com o mesmo temperamento impulsivo que o acompanha desde quando, aos 23 anos tornou-se deputado estadual, isso nos idos de 1962, faz, quase diariamente na sua Rádio Eldorado, fortes criticas ao prefeito a quem resolveu chamar usando a velha denominação de alcaide. Era alcaide para lá alcaide para cá, até que chegou na Eldorado uma convocação para que Cabo Zé fosse a Anatel dar explicações. Lá chegando, soube que o prefeito o havia denunciado por estimular possíveis atos de represália dos americanos ou mesmo de Israel contra ele. É que confundiram alcaide com a organização terrorista Al Qaeda, a alcaida.
O desconhecimento até se justifica, mas o desinteresse em consultar o dicionário, o velho pai dos burros é algo inconcebível.

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