sábado, 25 de junho de 2011

UMA BAGUNÇA “EXTRA”


Noite de  quarta-feira, 22 de junho, véspera de feriado grande, supermercados entupidos.Nessa euforia de crescimento econômico e elevação da renda que estamos vivendo, as pessoas  compram mais, outras começam a comprar, e assim,  o número de lojas  das grandes redes de supermercados em Aracaju parece agora insuficiente para corresponder à demanda. Realidade boa,  merecendo ser  festejada, todavia sem esquecer dos cuidados para que não haja excesso consumista,   desrespeito aos sinais de alerta do endividamento elevado, e  não se perca o foco na  manutenção da sustentabilidade macro-econômica ,  este último item, responsabilidade exclusiva do governo.
Nas alargadas  instalações da loja do Extra, na Tancredo Neves,  havia muita gente comprando, mas, felizmente, em número bem menor do que   nos outros supermercados. Felizmente, dissemos, não porque assim haveria menos desconforto.  Exatamente ao contrário:    Apesar das filas menores   a demora no Extra era  revoltante.
 Isso acontecia porque o Extra,  do  Grupo Pão de Açúcar, do   mega-empresário Abílio Diniz,  decidiu, até agora impunemente, descumprir a lei. Determina a Justiça do Trabalho que em cada  registradora, além de quem opera a máquina, esteja disponível um empacotador  para acondicionar a mercadoria. O Extra se recusa a contratar empacotadores. Assim, aumenta os seus lucros aleijando os caixas, todos  fazendo  um esforço sobre-humano, um contorcionismo   capaz de arrebentar os mais resistentes músculos.     Sobrecarregados pelas duplas funções  que são obrigados a desempenhar, ainda  tentam, sem êxito, evidentemente, fazer tudo com rapidez.  Precisando concentração para  faturar corretamente  as mercadorias,    aquela manobra continuada à frente do dispositivo eletrônico  que  lê e interpreta o código de barras, ou, consultando  extensa lista daqueles produtos nos quais não pode ser pregada a etiqueta codificada,    os caixas , ao mesmo tempo,  acondicionam  as compras em sacolas, retirando-as da esteira rolante que, alem de tudo,  vez por outra  está quebrada  Há muitos  trabalhadores fazendo   tratamento para aliviar as dores e recuperar   lesões causadas pelo esforço repetitivo, outros, em pior situação,   incapacitados fisicamente, estão encostados  na previdência.  O Extra de Abílio Diniz, que apregoa a modernidade da sua visão empresarial, aqui em Aracaju,   está transformado numa  engrenagem perversa a provocar  graves seqüelas  nos seus trabalhadores, submetidos a uma rotina de trabalho que afronta a dignidade humana.  Abílio Diniz, neste    século  21, assemelha-se  a  qualquer daqueles  senhores de escravos que transformavam seres humanos em bestas de carga, e assim lucravam, ,  ficavam muito ricos. O regime escravocrata alimentou o capitalismo mundial, até quando, empresários mais esclarecidos, descobriram que assalariar  pessoas, transformando-as em mão de obra livre, ou supostamente livre, seria bem mais proveitoso.   Isso se fez  muito mais em função da lógica  do mercado  do que pela sensibilidade aos gritos indignados dos abolicionistas, defendendo argumentos morais.
O que o Extra  faz com seus clientes é um desrespeito que pode ser facilmente corrigido: basta que lá não entrem mais.  Já aquilo que o Extra comete contra  trabalhadores, é  crime, crime que  clama por  merecer a atenção do Ministério Público do Trabalho, do Sindicato dos Comerciários, que não fiscaliza, não denuncia, não exige o cumprimento da lei, e se o faz,  não age com  disposição para enfrentar uma empresa que  reincide no desrespeito  às leis.
 Tente o Sindicato dos Comerciários ouvir o que dirão os trabalhadores do Extra, se receberem a garantia do sigilo que os protegerá contra a demissão.
Procure a representação do Ministério Público em Sergipe cumprir com mais eficiência as suas funções,  assim contribuindo para que o Ministro Carlos Luppi anuncie,  com o habitual entusiasmo,  o número de empregos criados com carteira assinada,  mas, tendo  tranqüilidade suficiente para poder acrescentar à sua fala: ” Empregos criados, necessariamente, com o indispensável respeito  aos direitos do trabalhador.”

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