quinta-feira, 5 de abril de 2012

A FEIRA DA SULANCA, NOSSA INVENÇÃO ¨CHINESA ¨

Antes da invasão chinesa nós já havíamos inventado a sulanca,   que era e continua sendo uma espécie de feira volante,  por vezes  fixa,  vendendo confecções variadas, desde bermudas, biquines,  calcinhas, camisas, calças, até sapatos e bolsas,  também roupa de cama. Tudo resultante da informalidade, da fuga aos impostos. Pequenos empresários, com fabriquetas de fundo de casa, vendedores que usam de mil artifícios para driblarem o fisco.  E o resultado disso foi uma espécie de revolução no vestuário da grande massa de baixa renda. Antes da sulanca, a compra de uma camisa, uma bermuda, uma calça,   tornava-se sacrifício que o pequeno assalariado fazia vez por outra, e os que eram pobres andavam quase sempre esfarrapados.  Roupa, representava um item que pesava muito no orçamento das famílias. Era costume entre a classe média que estava apenas um pequeno degrau acima da classe C, comprar vestimentas no final de ano.  Em Aracaju havia o hábito de envergar  fatiota nova no dia primeiro de janeiro para assistir a procissão do Bom Jesus dos Navegantes e desfilar na Rua da Frente.
Depois da Sulanca tudo baixou de preço,  e muitas cidades do nordeste se transformaram em polos de confecções, oferecendo emprego farto, invariavelmente sem carteira assinada, e quase sempre se valendo do amparo político  que gerava a deliberada omissão do fisco. Tobias Barreto aqui em Sergipe, Itabaiana, e em menor escala Itabaianinha e outras cidades, cresceram produzindo e vendendo na informalidade, e a constatação óbvia,   é que, se não contribuíram para encher os cofres públicos, deram, de fato, um grande impulso à economia  em geral,  que se beneficiou do dinamismo daqueles polos que escapavam dos impostos, da burocracia, da rede atravancadora de exigências e encargos pesando sobre as empresas.
É claro que este não é um modelo a ser seguido numa sociedade civilizada e moderna. Nenhuma nação subsistiria, se todos resolvessem se tornar isentos do compromisso de destinar recursos para que os serviços públicos sejam mantidos. Mas devem existir limites razoáveis para o desempenho da máquina arrecadadora, e o sistema tributário brasileiro passa bem longe da razoabilidade.
Aqui,  a sulanca,  brasileiríssima invenção, entra, não como exemplo de sucesso com a fuga aos impostos, mas,  da capacidade empreendedora do brasileiro simples, do nordestino, estereotipado quase sempre como passivo, indolente habitante de um meio adverso, que ele não sabe, ou não se empenha em transformar. A sulanca   gera empregos em centenas de confecções espalhadas principalmente pelo interior, estabelece elos afinados entre quem produz e quem vende, e se mostra criativa na elaboração de modelos que tornam atraentes os seus produtos para as classes C e D , que antes não conseguiam vestir-se. Depois da sulanca, que surgiu bem antes da invasão chinesa, os esmolambados desapareceram das ruas. O Brasil tem  como resistir e manter suas indústrias produzindo, sem fechar as portas para a importação, desde que,  entre muitas coisas que precisam ser feitas, não se permita a excrescência de incentivos em alguns portos brasileiros para produtos importados. Enquanto pelo porto de Itajaí, em Santa Catarina, entram em profusão  toalhas, lençóis, cobertores de qualidade duvidosa,  tudo beneficiado com renuncia de impostos, industrias tradicionais catarinenses, em Blumenau, Joinville, pioneiras da  manufatura têxtil brasileira, estão sendo fechadas ou obrigadas a reduzir a produção, e despedindo mão de obra. Aqui em Sergipe, onde também se formou um parque têxtil moderno e competitivo a partir dos anos vinte do século passado, os efeitos da carga tributária pesada, da burocracia, de uma legislação trabalhista caduca, somando-se à ousadia descontrolada como agem os asiáticos, geram um perigoso cenário de desestímulo  e desalento.
Na medida em que se acentuarem as providencias agora iniciadas pela presidente Dilma, as ¨sulancas ¨ da informalidade,   hoje mantidas fora das estatísticas oficiais,  serão acrescentadas ao PIB brasileiro,  então, no ranking das  grandes economias, saltaremos da sexta posição que agora ocupamos, para a quarta, que de fato já somos, mas, sem o reconhecimento oficial, deixando para trás a França, a Alemanha, e sendo superados apenas pelos Estados Unidos, a China e o Japão. 
 Em 1964, quando  mais se radicalizavam posições, ninguém imaginaria  o que aconteceu esta semana, quando empresários e sindicalistas saíram juntos, carregando as mesmas bandeiras, vestindo as mesmas camisas, e foram protestar andando pela Avenida  Paulista, defendendo a indústria brasileira, os empregos que ela gera. A sulanca  pode transmitir, tanto  aos homens da FIESP, como às centrais sindicais, boas experiências de criatividade , organização, arrojo,  para que, sem duvidas com menor carga tributária , possam resistir e  superar os audazes competidores amarelos.

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