quinta-feira, 5 de abril de 2012

O DESAFIO MUNDIAL

Em 1980 o escritor francês Jean- Jacques Servan- Schreiber escreveu o livro Le  Defi  Mondial, publicado e traduzido literalmente no Brasil ( O Desafio Mundial) no mesmo ano, pela editora Nova Fronteira. O livro já era sucesso no mundo, e aqui também tornou-se  disputado best – seller.  Daquele livro, extraímos  parte de um  capítulo intitulado O Cometa Brasileiro:   
  ¨Até meados dos anos 80  a ¨decolagem ¨  desse super-star dos países em desenvolvimento sobre  a qual tanto se apostou – e tanto se ganhou -, realizada à custa de uma infinita miséria campesina, da erradicação sangrenta dos adversários e da baixa efetiva do nível de vida de 70 milhões  de brasileiros em uma população de 130 milhões, valeu-lhe todas as indulgências. E todos os créditos.
Hoje, a situação do país parece tão comprometida que o craque bancário, temido no mundo inteiro, causa mais ansiedade no Brasil do que em qualquer outro país. Os quatro maiores bancos americanos emprestaram, cada um ao Brasil,  fundos equivalentes à totalidade do seu capital.
Ora, o Brasil deve atualmente mais de 57 bilhões de dólares. Soma colossal, que o obriga a pagar, como amortização aos seus credores estrangeiros, 13 bilhões de dólares por  ano ! Novos pedidos de empréstimos são quase inaceitáveis. Serviriam apenas para pagar  os juros das dividas anteriores.  ¨Malsão¨,  de súbito, para o capital estrangeiro, o Brasil, acuado, só tem uma arma: a chantagem. Chantagem com a explosão, que desestabilizaria o regime, substituído por um ¨nacionalismo  populista ¨ cujos chefes estariam prontos a renegar, pura e simplesmente as dívidas do país. O que, segundo o pudico eufemismo da revista inglesa The Economist, teria  ¨um efeito pelo menos interessante sobre o sistema bancário  ocidental¨.
A dívida global do terceiro Mundo atingiu, em 1980, a vertiginosa soma de 350 bilhões de dólares. Até 1974 os países tomadores, com raras exceções, sempre mantiveram em dia o serviço da sua dívida externa. Mas já não é  o caso ¨.
Transcorridos  32 anos, a História não deu saltos, mas revela mudanças substanciais.
O Brasil,  que se pendurava  na forca com uma dívida impagável de 57 bilhões de dólares e era obrigado a fazer humilhadas reverencias aos credores, tem hoje reservas que se aproximam dos 400 bilhões de dólares, não deu calote, pagou o que era devido, e inverteu as posições.
Os orgulhosos credores estão de pires não mão. A Europa pede ao Brasil e outros emergentes poderosos, como a China,  que lhe ajude a sair do atoleiro, destinando mais recursos ao FMI, aquele mesmo que mandava arrogantes agentes ao Brasil , que se imiscuíam nas nossas contas, também devassadas pelos banqueiros internacionais, impondo comportamentos, pingando ajudas pontuais à medida que nos submetíamos, submissos, às suas exigências.
 Aqueles que nos anos 70 e 80 ficavam a gritar abaixo o FMI, quase se perguntam: O que houve, aconteceu uma  revolução ?

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