Em 1980 o escritor francês Jean- Jacques Servan- Schreiber escreveu o livro Le Defi Mondial, publicado e traduzido literalmente no Brasil ( O Desafio Mundial) no mesmo ano, pela editora Nova Fronteira. O livro já era sucesso no mundo, e aqui também tornou-se disputado best – seller. Daquele livro, extraímos parte de um capítulo intitulado O Cometa Brasileiro:
¨Até meados dos anos 80 a ¨decolagem ¨ desse super-star dos países em desenvolvimento sobre a qual tanto se apostou – e tanto se ganhou -, realizada à custa de uma infinita miséria campesina, da erradicação sangrenta dos adversários e da baixa efetiva do nível de vida de 70 milhões de brasileiros em uma população de 130 milhões, valeu-lhe todas as indulgências. E todos os créditos.
Hoje, a situação do país parece tão comprometida que o craque bancário, temido no mundo inteiro, causa mais ansiedade no Brasil do que em qualquer outro país. Os quatro maiores bancos americanos emprestaram, cada um ao Brasil, fundos equivalentes à totalidade do seu capital.
Ora, o Brasil deve atualmente mais de 57 bilhões de dólares. Soma colossal, que o obriga a pagar, como amortização aos seus credores estrangeiros, 13 bilhões de dólares por ano ! Novos pedidos de empréstimos são quase inaceitáveis. Serviriam apenas para pagar os juros das dividas anteriores. ¨Malsão¨, de súbito, para o capital estrangeiro, o Brasil, acuado, só tem uma arma: a chantagem. Chantagem com a explosão, que desestabilizaria o regime, substituído por um ¨nacionalismo populista ¨ cujos chefes estariam prontos a renegar, pura e simplesmente as dívidas do país. O que, segundo o pudico eufemismo da revista inglesa The Economist, teria ¨um efeito pelo menos interessante sobre o sistema bancário ocidental¨.
A dívida global do terceiro Mundo atingiu, em 1980, a vertiginosa soma de 350 bilhões de dólares. Até 1974 os países tomadores, com raras exceções, sempre mantiveram em dia o serviço da sua dívida externa. Mas já não é o caso ¨.
Transcorridos 32 anos, a História não deu saltos, mas revela mudanças substanciais.
O Brasil, que se pendurava na forca com uma dívida impagável de 57 bilhões de dólares e era obrigado a fazer humilhadas reverencias aos credores, tem hoje reservas que se aproximam dos 400 bilhões de dólares, não deu calote, pagou o que era devido, e inverteu as posições.
Os orgulhosos credores estão de pires não mão. A Europa pede ao Brasil e outros emergentes poderosos, como a China, que lhe ajude a sair do atoleiro, destinando mais recursos ao FMI, aquele mesmo que mandava arrogantes agentes ao Brasil , que se imiscuíam nas nossas contas, também devassadas pelos banqueiros internacionais, impondo comportamentos, pingando ajudas pontuais à medida que nos submetíamos, submissos, às suas exigências.
Aqueles que nos anos 70 e 80 ficavam a gritar abaixo o FMI, quase se perguntam: O que houve, aconteceu uma revolução ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário