domingo, 18 de setembro de 2011

A BOCA DEGRADANDO A POLÍTICA

A palavra é a ferramenta essencial da política, sem conversa não há articulação, não há entendimento. A palavra é fundamental para aproximar, para reduzir ou acabar desconfianças, para construir  afinidades. Nesse sentido, a palavra ou o ¨ olho no olho ,¨ é bem mais eficiente do que a escrita. A fala desperta emoções, mexe com os sentimentos, atiça  entusiasmos.  A palavra  é flamante, queima, agita,  arrasta. Dificilmente alguém produziria uma escrita incendiária que gerasse imediatas adesões ou ódios repentinos. A carta testamento de Getúlio  Vargas transformou-se em explosivo documento no instante em que foi lida aos microfones da  
 Rádio Nacional. A  comoção indignada do locutor, logo provocaria naquele agosto de 1954 uma explosão social poucas vezes registrada na História deste país.  As ruas se encheram com as multidões vingadoras.  Depredavam, caçavam aqueles responsabilizados pelo suicídio do presidente. A palavra  carrega consigo uma força que tanto pode ser construtiva como demolidora. Por isso, é preciso dosá-la, lapidá-la com todos os cuidados que exigem a civilidade.  O limite para o uso adequado da palavra, é,  em primeiro lugar, estabelecido pelo bom senso de cada um. Mas, há também o respeito às convenções,  isto é,  ao conjunto de regras que a evolução social permitiu construí-las, e são elas o ornamento da democracia. Quando  um político, deliberada e continuamente viola essas regras, em última análise ele se mostra inadaptado  a um confronto que, para não se transformar  em insanável conflito, porta aberta para o descambar da violência, deve ser conduzido com uma indispensável dose de respeito ao adversário. A palavra, no debate político,  poderá ser candente, cáustica, jamais insultuosa.   Quando esses parâmetros para a convivência  entre contrários se perdem, perde-se, também, a  função precípua da política,  que é a de permitir o transito sem acidentes pelos caminhos mais desencontrados das divergências.

 Se a ação política torna-se ineficaz, surgem duas situações antípodas:   o caos de uma absoluta anarquia social ou a  degradante ordem do totalitarismo absoluto. Uma Somália desgovernada ou uma Coreia do Norte com excesso de ordem, de ordem unida.
Não há  como esperar muito da politica ou dos políticos,  se esses conceitos são desprezados, por ignorância, ou   também  pelo excesso de um individualismo presunçoso, que transforma  alguns em equivocados martelos da ética, da correção, da decência, enquanto os adversários se tornam alvos das pancadas, reduzindo-se  tudo a  questões pessoais,  a uma ânsia insatisfeita de achar, nos outros, todos os defeitos, todas as iniquidades, enquanto cercam a sí mesmos com um manto  hipocritamente luminoso de uma inexistente santidade.
Quando o verbo descarrila o desastre se propaga nas instituições.
 Semana passada o  ex-deputado João Fontes dizia a amigos que estava meditando, de boca fechada, sobre   um quase aforisma que ouviu do também ex-deputado e agora rei da noite aracajuana, Fabiano Oliveira : ¨João, você é mais eloquente quando cala do que quando fala¨.
Já o deputado federal Almeida Lima......
No Sermão da Sexagésima,  diz o senhor da língua e da palavra, o padre  Antônio Vieira:  ¨Palavras sem obras, são tiros sem bala, atroam, mas não ferem ¨.

Nenhum comentário:

Postar um comentário