segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MISÉRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA


Uma empresa de consultoria inglesa a Economist   Intelligence  Unit,  faz  projeção da economia mundial para os próximos 20 anos   desenhando um ranking das maiores potencias na próxima década dos 30. O Brasil  figura em quarto lugar, com um PIB de 7 trilhões e 340 bilhões de dólares,  caso mantenha um crescimento médio de 3,9 ao ano.   Quando se analisa  o quadro dos países líderes em riqueza, não  se pode deixar de sentir um  desalento. A China, em primeiro lugar, terá um PIB de 41 trilhões e 600 bilhões; os Estados Unidos, desbancado da liderança mundial,  ficará bem atrás, com 31 trilhões e 930 bilhões. Mas a Índia estará a nossa frente com uma boa folga, ficando com 11 trilhões e 320 bilhões.    A Índia, onde as vacas ainda param o transito nas ruas  tendo  tanta gente quanto a China,  uma população de miseráveis duas vezes superior à população brasileira,   será a terceira potencia econômica mundial, parque investiu forte na formação de uma numerosa elite de cientistas e tecnólogos. Não se pode ter aquele país,  onde são gigantescas as desigualdades sociais, como  parâmetro a ser seguido, não se pode, enfim, admitir como desejável um modelo de  crescimento econômico  à semelhança de uma desabalada corrida, atropelando a própria população , na ânsia de cifras, lucros, e envenenando o planeta.
 Todavia, um  país como o Brasil, onde não há terremotos, vulcões, ciclones, regiões inóspitas,   grandes desertos, imensas montanhas ou  invernos gelados, conflitos  religiosos ou étnicos, ameaça de vizinhos belicosos; que tem as imensas riquezas naturais das quais nos ufanávamos sem delas tirar proveito; que, único no mundo, pode colher quatro safras em regiões diferentes ao longo do ano, um país assim, sendo suplantado folgadamente pela Índia, deve refletir sobre as razões desse evidente fracasso. Não há outro motivo a não ser a nossa negligencia em relação à educação.  Somos importadores de tecnologias, pagamos muito caro pelo know-how alheio que utilizamos. Nossa primeira universidade surgiu na segunda década do século passado, os Estados Unidos já haviam criado  Havard e mais tantas outras ,    um século e meio antes. E quando fizemos faculdades,  nos contentamos com a cultura bacharelesca,  relegamos a técnica a um patamar inferior.  Se tivéssemos hoje, espalhadas pelo país, ilhas de excelência como o ITA a  Embrapa,  seguramente a Índia não nos estaria  ultrapassando. Desde 1957 produzimos  veículos, até hoje, porém, não conseguimos projetar com sucesso um automóvel brasileiro. Na área de computadores  nos reduzimos a uma linha de montagem. Os principais componentes dos aviões que a Embraer fabrica com tanto sucesso, vêm do exterior. Naquelas poucas áreas onde avançamos em tecnologia, as nossas empresas disputam com êxito o mercado internacional, como é o caso da Petrobrás na exploração de petróleo em águas profundas, das grandes construtoras. A Índia gera tecnologia, suas universidades, seus centros de pesquisas transformam teoria em prática O mercado brasileiro está sendo invadido agora por carros fabricados na India, na  Coreia , na China, com tecnologia de ponta gerada naqueles países.  Por aqui não conseguimos sequer formar professores minimamente capacitados a transmitir conhecimento numa sala de aula. A rede pública de ensino,  cada dia que passa, vai revelando suas  inacreditáveis mazelas. São alunos da ultima série do fundamental que não sabem as quatro operações, não conseguem elaborar um simples, prosaico cálculo de um troco, ao efetuarem um pagamento, na maior parte, se mostram incapazes de fazer a interpretação de um texto, ou de escrever um simples bilhete. Quando foi estabelecida a exigência de titulação para os professores, espalharam –se  pelo Brasil, aquelas faculdades que fabricavam diplomas de licenciatura,  sem que o MEC exercesse a indispensável fiscalização, e o que se vê hoje é uma profusão de professores absolutamente incapazes.
 Se for feito, em Sergipe por  exemplo, um teste com professores de inglês da rede pública, se chegará à triste constatação de que, pelo menos setenta por cento deles não saberão se expressar na língua que ensinam. Por aqui, e em quase todos os outros estados, ainda se ensina gramática inglesa nas escolas públicas, enquanto nos cursos particulares essa prática já foi abolida com a adoção de métodos modernos que habilitam efetivamente o aluno a falar , escrever e traduzir textos. em inglês. Há em Sergipe  o professor Valdemberg,  abnegado mestre, que vive a descobrir talentos para a matemática. Já encontrou verdadeiros gênios, quase todos saídos de famílias muito pobres, aos quais foram proporcionadas condições para estudar.  Todos,  precocemente, se transformarem em mestres e doutores.  Deles ,  muitos já deixaram o Brasil, atraídos por ofertas de trabalho que aqui inexistem. Ao contrário do que se convencionou  admitir, o brasileiro não tem ojeriza às ciências exatas, o problema é que as escolas públicas  fingem que ensinam física, matemática, química, e nelas raramente existem laboratórios, e a matemática, rançosamente ensinada, se torna um enfadonho e inútil aprendizado.  Enquanto  o ensino publico se desconstrói, deteriora-se, estamos contaminados pela ideologização, pelo uso politiqueiro da rede escolar. Fala-se muito, como se isso fosse solução para os nossos males, em “ democratização da escola”, em eleição direta dos gestores, mas, não se trata de fazer a indispensável avaliação do rendimento escolar, unidade por unidade,  não se traçam metas pedagógicas, não se exige do professor a atualização permanente, a reciclagem de conhecimentos,  o treinamento prévio em salas de aula,  como estágio, antes de receberem a titulação, exatamente o que  fazem escolas de rede particular, que se transformam em referencias de ensino eficiente. Nas escolas particulares um professor recebe invariavelmente remuneração menor do que os colegas da rede pública. É obvio que não se pode admitir como justo um piso salarial como o que temos, e do qual andava a orgulhar-se uma gestora da educação em Minas Gerais. Mas a responsabilidade do professor decorre do juramento que fez,  da carreira que escolheu, e não pode  aumentar ou diminuir de acordo com o valor do salário.  Geralmente, os pais  dos alunos das escolas publicas têm salários bem menores do que recebem os professores. A maior parte deles nem sabe o que é fazer uma greve, mas, todos esperam que os seus filhos, nas escolas, mereçam um mínimo de atenção. Democratizar a escola é, em primeiro lugar,  torná-la um instrumento válido de ascensão social. Sem que os mestres se conscientizem e assumam a parte que lhes cabe nesse desmoronar da educação pública, vamos continuar no mesmo ramerrão de aulas repetidas e iguais, como se fosse  ritual cansativo de uma obrigação burocrática a ser cumprida.
Certamente haverá quem diga: esse é o velho discurso reacionário da direita.
Rotular sempre foi a saída mais fácil. Enquanto isso, vamos ficando,  desenxabidamente,  na rabeira da índia.

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