O PROCURADOR HELI
NASCIMENTO
Heli Nascimento foi,
por toda a vida, uma pessoa extremamente reservada e discreta. Isso, desde os
tempos de estudante quando também ajudava o pai, atendendo no balcão da
Livraria e Papelaria Nascimento. Como os demais irmãos e irmãs, todos se
encaminharam para as poucas faculdades que então existiam em Aracaju ou foram
buscar o diploma superior em outras cidades ou o oficialato nas Agulhas Negras.
Sobre o depois íntegro e diligente Procurador de Justiça que foi Heli
Nascimento, o ecrevinhador sente-se devedor de um público depoimento pessoal, fugindo,
assim, à impessoalidade com que sempre procura traçar estas linhas.
Numa tarde de 8 de
dezembro de 1972, feriado santo em Aracaju, o escrevinhador dormia em sua casa na então quase deserta Atalaia,
após uma caranguejada regada a cerveja. A esposa o acorda para informar-lhe que
havia, na porta, uma patrulha da Marinha para levá-lo até a Capitania dos
Portos, convocado pelo Capitão de Corveta Eduardo Pessoa Fontes. Antes mesmo de
levantar-se a patrulha armada já estava no seu quarto, e o escrevinhador foi
posto num Jeep, todavia sem mal tratos ou sequer ofensas verbais. Além do
constrangimento pela situação insólita, não houve maiores contratempos até o
ingresso na sala onde se encontrava o Capitão dos Portos. O militar estava na
cabeceira de uma mesa, parecia presidir mais uma reunião da tenebrosa Comissão
Geral de Investigações, um poder discricionário que o regime militar atribuíra
à Marinha de Guerra. À mesa estavam alguns oficiais e os promotores Heli
Nascimento, Carlos Leite, e o contador Poconé, todos, retirados de suas
atividades normais, e convocados para integrarem a temida CGI. Quando o
escrevinhador devidamente escoltado transpôs a porta da sala, o Comandante
contra ele investiu aos gritos, o segurou e ameaçou espancá-lo. Foi quando o
promotor Heli Nascimento levantou-se da cadeira e colocou-se entre o
escrevinhador e o militar, logo depois sendo seguido pelo promotor Carlos
Leite.
Gestos assim, que
hoje pareceriam comuns e até indispensáveis, diante de tais situações naqueles
dias, seriam impensáveis se partidos de pessoas que estavam subordinadas a uma
autoridade militar. O promotor Heli Nascimento ao ouvir um dia o agradecimento
do escrevinhador, disse que nem mais se recordava do gesto, o que era mais uma
demonstração da forma exemplar como desempenhava suas funções.
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