sábado, 28 de maio de 2016

O PROCURADOR HELI NASCIMENTO



O PROCURADOR HELI NASCIMENTO
Heli Nascimento foi, por toda a vida, uma pessoa extremamente reservada e discreta. Isso, desde os tempos de estudante quando também ajudava o pai, atendendo no balcão da Livraria e Papelaria Nascimento. Como os demais irmãos e irmãs, todos se encaminharam para as poucas faculdades que então existiam em Aracaju ou foram buscar o diploma superior em outras cidades ou o oficialato nas Agulhas Negras. Sobre o depois íntegro e diligente Procurador de Justiça que foi Heli Nascimento, o ecrevinhador sente-se devedor de um público depoimento pessoal, fugindo, assim, à impessoalidade com que sempre procura traçar estas linhas.
Numa tarde de 8 de dezembro de 1972, feriado santo em Aracaju, o escrevinhador dormia  em sua casa na então quase deserta Atalaia, após uma caranguejada regada a cerveja. A esposa o acorda para informar-lhe que havia, na porta, uma patrulha da Marinha para levá-lo até a Capitania dos Portos, convocado pelo Capitão de Corveta Eduardo Pessoa Fontes. Antes mesmo de levantar-se a patrulha armada já estava no seu quarto, e o escrevinhador foi posto num Jeep, todavia sem mal tratos ou sequer ofensas verbais. Além do constrangimento pela situação insólita, não houve maiores contratempos até o ingresso na sala onde se encontrava o Capitão dos Portos. O militar estava na cabeceira de uma mesa, parecia presidir mais uma reunião da tenebrosa Comissão Geral de Investigações, um poder discricionário que o regime militar atribuíra à Marinha de Guerra. À mesa estavam alguns oficiais e os promotores Heli Nascimento, Carlos Leite, e o contador Poconé, todos, retirados de suas atividades normais, e convocados para integrarem a temida CGI. Quando o escrevinhador devidamente escoltado transpôs a porta da sala, o Comandante contra ele investiu aos gritos, o segurou e ameaçou espancá-lo. Foi quando o promotor Heli Nascimento levantou-se da cadeira e colocou-se entre o escrevinhador e o militar, logo depois sendo seguido pelo promotor Carlos Leite.
Gestos assim, que hoje pareceriam comuns e até indispensáveis, diante de tais situações naqueles dias, seriam impensáveis se partidos de pessoas que estavam subordinadas a uma autoridade militar. O promotor Heli Nascimento ao ouvir um dia o agradecimento do escrevinhador, disse que nem mais se recordava do gesto, o que era mais uma demonstração da forma exemplar como desempenhava suas funções.

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