sábado, 28 de novembro de 2015

UM PASSEIO PELO PREDIO EM RUINAS



UM PASSEIO PELO
PREDIO EM RUINAS
O  edifício da SUDENE na Avenida Caxangá,  arredores do Recife, era, certamente, entre os anos 50 e 60 um dos mais imponentes da cidade, naquela época ainda começando a verticalizar-se. Ali, sob o comando de um grande brasileiro chamado Celso Furtado, operava uma parte da mais lúcida inteligência nacional. Estavam todos debruçados sobre livros, pranchetas, mapas, equipamentos diversos de laboratório, planejando o nordeste. Estudavam as condicionantes sociais do seu povo, os fatores que determinavam o atraso econômico, com a conseqüência trágica da miséria, do abandono, da fome, da baixa expectativa de vida. Estudavam o clima, buscavam identificar  as causas do fenômeno inevitável das secas; meios  para estabelecer previsões eficazes, formas de conviver com a estiagem, formulas para transformar o semiárido brasileiro numa área produtiva e capaz de abrigar uma população  densa e produtiva. Estudavam as características do solo, da vegetação, buscavam  o que havia no subsolo, de preferência água. Queriam  perenizar rios, construir barragens, açudes, queriam até fazer chover.
Enfim, o pessoal da SUDENE planejava o nordeste, apontava as transformações necessárias, abria perspectivas para a modernização, atraia indústrias e montava um esquema de incentivos ficais que   despertava o interesse de investidores nacionais e  estrangeiros. O prédio imponente da SUDENE, era o símbolo,  na sua arquitetônica  futurista, de um nordeste  pulsante de entusiasmo, naquela  célere passagem do antigo para o novo.
Cedo, assim que terminou o mandato de Juscelino,  um senador  cúmplice e também agente do atraso nordestino, o paraibano Argemiro Figueiredo, apresentou um projeto que castrava a SUDENE. As vozes  das ¨casas grandes ¨ nordestinas, do reacionarismo brasileiro, também cúmplice e agente do atraso, a ele se juntaram. Houve um comício em apoio à SUDENE realizado no centro do Recife, na ¨Pracinha do Diário ¨. Alguns jovens sergipanos foram dele participar. No palanque, estavam o governador de Pernambuco,  Cid Sampaio, e o prefeito do Recife Miguel Arrais, mas, mesmo assim , a cavalaria investiu contra o povo. Houve embates, e alguns feridos.
Havia algo tenso no ar  irrespirável do confronto político-ideológico que antecipava 64.
O golpe civil-militar de 1964,  prendeu Celso Furtado, Arrais, dezenas de técnicos da SUDENE, que os coronéis Ibiapina e Vilocq,( aqueles que amarraram Gregório Bezerra a um Jeep e saíram a arrastá-lo sangrando pelas ruas do Recife) entendiam que era preciso fechar  por ser nada mais do que um ¨covil de comunistas ¨.
Felizmente  o ¨covil ¨ não foi fechado, os técnicos retornaram ao seu trabalho. Houve na SUDENE bons administradores,  como o general Euler ( pronuncia-se óiler ) Bentes Monteiro.
O sociólogo que se tornou presidente, FHC , deve ter entendido que a SUDENE não mais servia para nada, nisso, aproximando-se, por outras razões, ao que pensavam os coronéis  Vilocq e Ibiapina. FHC desativou a grande agência de desenvolvimento que pensou e liderou um processo de transformações . Se a SUDENE permanecesse com o protagonismo   que tinha quando Juscelino a criou,  a renda do nordeste,  hoje, estaria igual ou superior à de Santa Catarina.
 Lula, que muito fez pelo nordeste, apesar de coisas chocantes e calamitosas, como a  refinaria Abreu e Lima, a inacabada e agora quase impossível transposição,  condenou a extinção da SUDENE, mas não a reativou.
O outrora iluminado  prédio onde havia o azáfama de construir o amanhã, está hoje sombrio e abandonado. Um daqueles sergipanos que esteve no comício de 1961 no Recife, em defesa da SUDENE, na última sexta – feira, dia 27, desceu do táxi que o levava da rodoviária, vindo de Campina Grande, para o aeroporto do Recife, e resolveu percorrer o quase entulho em que está transformada a sede da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste  , a SUDENE.  Andou pelos destroços daquele prédio , onde tantas horas passou acompanhando o entusiasmo de gente como os sergipanos  Juarez Alves Costa, Jacó Charcot Pereira Rios, ou as reuniões mensais onde as lideranças nordestinas discutiam, entendiam-se ou tantas vezes discordavam e defendiam idéias diferentes,  mas sempre sintonizadas com o interesse da região.
O prédio em ruínas parece ser uma metáfora triste de tantas esperanças perdidas. Esperança que todavia  se constata, viva e vibrante, na juventude das escolas que compõem a Universidade Federal de Campina Grande, nos seus professores doutores, que estão a disseminar técnicas para o semiárido. Isso, numa cidade sob ameaça de não ter nos próximos dias água para beber.
Quanta falta nos faz a SUDENE, hoje com a sua antiga sede desmoronando.

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