sábado, 29 de dezembro de 2012

O MATEMÁTICO GENARO O PROFESSOR GENARO



O MATEMÁTICO GENARO
O  PROFESSOR GENARO

Para os não iniciados mexer com números é um árido e   cansativo exercício. Para o matemático não existe a aridez,  existe a poesia dos números, a sedutora aventura de lidar com os algarismos.  Genaro Dantas Silva, criança ainda, encantou-se com a poesia dos números, e a esse poema-teorema dedicou a vida, acrescentando à alegria permanente que encontrava no cálculo, na elegância das demonstrações e da elucidação de teoremas, o  transcendente prazer de transmitir, de abrir aos seus alunos os fascinantes e belos caminhos das matemáticas. Adolescente, começou a ensinar, e a ele já recorriam professores, engenheiros, querendo ajuda para a resolução de intrincados problemas. Na  Escola  de Quimica Industrial, que era uma das quatro instituições de ensino superior mantidas pelo estado, Genaro, aluno, ensinava matemática a todos os colegas. Abandonou a Escola  por não tolerar o estudo da química,  principalmente a orgânica, que detestava e, porque não queria ser químico, queria ser professor. Tempos depois graduou-se em matemática, porque precisava do diploma para ensinar na Universidade Federal,  e na UNIT.   À beira do túmulo sua filha Kátia, falou sobre o amor que Genaro dedicava à profissão, e revelou um  fato que poderá servir como exemplo  aqueles que apenas cumprem a ¨ maçante obrigação de dar aulas¨.  Genaro, nos últimos anos de vida,  além dos problemas renais, sofria de uma permanente variação de pressão arterial. Passou a usar um aparelho que fazia o mapa dessas alterações, as subidas, a raríssima estabilização,  e as quedas. No momento em que ele começava a dar aula, as variações terminavam, a pressão permanecia estável.
Era o milagre da mente plenamente satisfeita,  transbordando a felicidade  que é capaz de corrigir  mazelas do corpo.
 Sendo professor exemplar  Genaro já seria um referencial de cidadania. Ele foi muito mais do que isso. Sem participar diretamente da política era um atento observador, crítico, por vezes contundente, e entusiasmado defensor de mudanças que entendia essenciais para o nosso país.  Não tinha militância direta, mas sempre,  na ¨ geometria¨ da sua vida, as linhas tiveram uma nítida inclinação para a esquerda.  Seu filho Alberto o ouvia atento, e assim se fez militante. Quando após o golpe de 64 seu cunhado o professor Paulo Barbosa se tornou alvo das mesquinharias da ditadura, Genaro  não conseguia reter a indignação,  e a sua esposa, companheira de toda a vida, Arlete, bem lembra que naquele tempo, ele, pela primeira vez, deixou de lado seus  cálculos e suas abstrações para envolver-se na teia de solidariedade aos perseguidos.
Aracaju precisa ter uma rua, uma escola, uma praça, algo bem visível,  que leve o nome símbolo de Genaro Dantas Silva. É o mínimo que agora se pode fazer pela memoria de um grande sergipano.

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