O MATEMÁTICO GENARO
O PROFESSOR GENARO
Para os não iniciados mexer com
números é um árido e cansativo
exercício. Para o matemático não existe a aridez, existe a poesia dos números, a sedutora
aventura de lidar com os algarismos.
Genaro Dantas Silva, criança ainda, encantou-se com a poesia dos números,
e a esse poema-teorema dedicou a vida, acrescentando à alegria permanente que
encontrava no cálculo, na elegância das demonstrações e da elucidação de
teoremas, o transcendente prazer de
transmitir, de abrir aos seus alunos os fascinantes e belos caminhos das
matemáticas. Adolescente, começou a ensinar, e a ele já recorriam professores,
engenheiros, querendo ajuda para a resolução de intrincados problemas. Na Escola
de Quimica Industrial, que era uma das quatro instituições de ensino
superior mantidas pelo estado, Genaro, aluno, ensinava matemática a todos os
colegas. Abandonou a Escola por não
tolerar o estudo da química,
principalmente a orgânica, que detestava e, porque não queria ser
químico, queria ser professor. Tempos depois graduou-se em matemática, porque
precisava do diploma para ensinar na Universidade Federal, e na UNIT.
À beira do túmulo sua filha Kátia, falou sobre o amor que Genaro
dedicava à profissão, e revelou um fato
que poderá servir como exemplo aqueles
que apenas cumprem a ¨ maçante obrigação de dar aulas¨. Genaro, nos últimos anos de vida, além dos problemas renais, sofria de uma permanente
variação de pressão arterial. Passou a usar um aparelho que fazia o mapa dessas
alterações, as subidas, a raríssima estabilização, e as quedas. No momento em que ele começava a
dar aula, as variações terminavam, a pressão permanecia estável.
Era o milagre da mente plenamente
satisfeita, transbordando a
felicidade que é capaz de corrigir mazelas do corpo.
Sendo professor exemplar Genaro já seria um referencial de cidadania.
Ele foi muito mais do que isso. Sem participar diretamente da política era um
atento observador, crítico, por vezes contundente, e entusiasmado defensor de
mudanças que entendia essenciais para o nosso país. Não tinha militância direta, mas sempre, na ¨ geometria¨ da sua vida, as linhas
tiveram uma nítida inclinação para a esquerda.
Seu filho Alberto o ouvia atento, e assim se fez militante. Quando após
o golpe de 64 seu cunhado o professor Paulo Barbosa se tornou alvo das
mesquinharias da ditadura, Genaro não
conseguia reter a indignação, e a sua
esposa, companheira de toda a vida, Arlete, bem lembra que naquele tempo, ele,
pela primeira vez, deixou de lado seus
cálculos e suas abstrações para envolver-se na teia de solidariedade aos
perseguidos.
Aracaju precisa ter uma rua, uma
escola, uma praça, algo bem visível, que
leve o nome símbolo de Genaro Dantas Silva. É o mínimo que agora se pode fazer
pela memoria de um grande sergipano.
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