sábado, 29 de dezembro de 2012

SUBDESENVOLVIMENTO A PALAVRA ESQUECIDA E AINDA TÃO ATUAL



 SUBDESENVOLVIMENTO  A PALAVRA
ESQUECIDA  E   AINDA  TÃO   ATUAL

Subdesenvolvimento já foi palavra da moda. Ela apareceu nas discussões acadêmicas, nos acalorados embates políticos em meados da década dos  cinquenta. Gunnar Myrdal,  economista sueco escreveu  livro que se tornou a bíblia dos que,  pelo mundo, e aqui entre nós com tanto  fervor de mudança se debruçavam sobre as causas do  atraso econômico que confrangia o chamado terceiro mundo. A teoria da causação circular,  miséria  gerando miséria num inescapável círculo fechado,  foi vista inicialmente com muitas reservas  porque  desfazia o argumento da espoliação imperialista como causa central da pobreza  dos países periféricos, predominante no pensamento marxista. Josué de  Castro,   teve a atitude    para aquele tempo heroica de revelar a dimensão da fome no mundo.  Ele criou  de forma aparentemente tão prosaica a expressão ¨ciclo do caranguejo ¨,   assim,  antecipou,  estudando,  as condições sub- humanas das favelas recifenses sobre os manguezais,  a miséria literalmente alimentando-se dela própria.
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB, havia publicado o  livro referencia do  escandinavo Gunnar  Myrdal,   Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas,   com prefácio  avalizador   de Álvaro Vieira Pinto, sinalizando  aos  pensadores da esquerda que as ideias do economista nórdico precisavam ser levadas a sério.
 A criação da SUDENE pelo presidente Juscelino Kubistcheck  para romper o círculo da pobreza nordestina, colocou na agenda de todos os governos da região o problema crucial do subdesenvolvimento. Em Sergipe o governador Luiz Garcia criou o Conselho do Desenvolvimento Econômico de Sergipe, CONDESE. O professor Aloísio de Campos  recebeu a tarefa de planejar o desenvolvimento do estado.  Estado planejador era uma novidade, e também,  motivo de furiosas críticas vindas  de economistas ultra- ortodoxos que  endeusavam a intocável virgindade  do mercado,    disciplinadora única e decisiva do comportamento da economia.
Começou-se então a sair das formulações teóricas para as ações objetivas,  e no nordeste ganhou força a industrialização , reduzindo-se a constrangedora distancia que nos separava de outras regiões, embora,  no conjunto,  o país continuasse anos a fora a merecer a desanimadora classificação de subdesenvolvido.
Transitando entre períodos de euforia e  de desencanto,  até chegamos a esquecer, ou a ocultar,  a nossa condição de país subdesenvolvido. No nordeste,  taxas estimulantes de crescimento alcançadas nos últimos anos  fizeram a região superar os complexos de inferioridade  que não eram poucos. Talvez nos tenhamos equivocado ao arquivar ou retirar de cena o significado forte  da palavra subdesenvolvimento,  estigma do qual não nos libertamos definitivamente.
Vez por outra nos deparamos com a presença de um  daqueles  sintomas decepcionantes de atraso econômico    que  se mostram bem visíveis depois de derretida a maquiagem dos programas sociais .  
 O economista Ricardo Lacerda que se tem dedicado a um trabalho consistente de análise e descortínio   de perspectivas para a economia sergipana, acaba de revelar números confrangedores do que nos resta, até de forma insuspeitada  do malsinado subdesenvolvimento.
  Em Sergipe existem hoje 117. 928  servidores públicos  espalhados pelas administrações,   estadual, federal e pelos nossos 75 municípios. Isso corresponde a mais de 30 %  da população economicamente ativa. É um número preocupante,    demonstrando  a extrema fragilidade da nossa economia. O  inchaço que se registra principalmente nas prefeituras, contribui fortemente para o descomunal aparato dos empregos públicos. E o que é pior, o inchaço  observado mais acentuadamente no interior,  resulta,  exatamente,  da extrema pobreza vigente no interior,  da ausência completa de oportunidades num inexistente mercado de trabalho. Surge então o poder público municipal como  único gerador de empregos, e aí, se poderia configurar exatamente aquele ¨círculo vicioso da pobreza ¨a que se referia o economista Myrdal.  O mercado não oferece empregos,  a prefeitura surge como empregador maior, assim,  consome-se  a maior parte das receitas municipais com a manutenção de uma massa inútil de servidores em excesso ou parasitas. O município não investe. A economia permanece estagnada.
Fecha-se o círculo. A pobreza permanece.
Mas há casos que surgem bem diferentes.  São as prefeituras que se diferenciam daquelas extremamente pobres,  e que fazem a mesma deplorável política do empreguismo  recheado com festas.  Pouco pão para  alguns e o circo para todos os que curtem. Assim, com essa fórmula  medíocre e oportunista em todos os sentidos, o tempo passa,   e a pobreza, todas as  formas de carências continuam.
 O subdesenvolvimento carrega como características identificadoras, uma variada  composição de fatores, entre eles, a incapacidade administrativa, ou o simples desleixo, que se tornam ainda mais devastadores quando aliados à voracidade patrimonialista.

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