O TERROR E AS VOLTAS
QUE
A HISTÓRIA FAZ
Giambattista Vico foi um filósofo
italiano que escreveu no primeiro quartel do século dezoito um livro intitulado
Ciência Nova que se tornaria no século seguinte objeto de acirradas polêmicas
entre pensadores e ideólogos , desde o
revolucionário Karl Marx ao ultra –conservador Joseph de Maistre , que
atribuía ao carrasco o papel de
vigilante da ordem social. Vico entendeu a História humana como um processo de
avanços e retrocessos ( corsi e ricorsi
). Depois de um período evolutivo dividido em três etapas as sociedades humanas
passariam por um tempo de retrocesso,
que Vico caracterizou como
¨rebarbarização cíclica dos
costumes ¨, ou seja, atingindo o apogeu civilizatório , desabaríamos ao
interior das cavernas.
A fúria assassina do Estado Islâmico com seus seguidores que se
explodem, atropelam dezenas de pessoas, cortam gargantas, até de um padre no
interior de uma igreja, poderia nos fazer imaginar que a ¨rebarbarização ¨ da
humanidade , prevista por Giambattista Vico estaria sendo confirmada, e o seu
início acontecera no limiar deste novo século quando , ao vivo e a cores teimando contra a incredulidade, arregalamos
os olhos para confirmar a realidade das Torres Gêmeas desmoronando, marco de
uma era de terror bárbaro que estaria começando.
Mas, então, o que dizer
daquela fotografia terrível que nos anos setenta percorreu o mundo? A menina vietnamita correndo nua com a
pele a despregar-lhe do corpo sob o
calor calcinante das bombas de napalm lançadas pelos aviões da maior potencia
econômica e militar do planeta.
E nem se passara meio século,
desde quando, afundados na lama das trincheiras dezenas de milhões de jovens
morreram na Europa, naquele matadouro da Primeira Grande Guerra. Menos tempo ainda, desde os dias de agosto de 1945 quando dois grandes
clarões sobre Hiroxima e Nagasaki inauguraram a era do terror atômico,
dissolvendo, em segundos, mais de cem mil corpos humanos.
O ódio, que gera a guerra e
o terrorismo, não está localizado numa parte do mundo, nem resulta de comunidades seguidoras desta ou
daquela crença religiosa.
Cristãos, até entre si
mesmos já se exterminaram. Um branco norueguês de olhos azuis, usando uma arma
matou mais pessoas do que qualquer outro desses assassinos fanatizados que o
Estado Islâmico identifica como seus combatentes.
A barbárie não é determinismo geográfico, nem étnico,
nem religioso. É um instinto arraigado do qual ainda não libertou-se o gênero humano, mas nos levará de volta à caverna enquanto
sobre o corpo inanimado das suas vítimas houver alguém que faça uma prece e
deposite uma flor.
Todavia, enquanto isso, a civilização terá de amparar-se no rigor da lei, e
proteger-se, algumas vezes, no uso indispensável do fuzil.
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