sexta-feira, 8 de julho de 2016

O FEIJÃO QUE SUMIU E O “FEIJÃO” DA PONTE



O FEIJÃO QUE SUMIU E O “FEIJÃO” DA PONTE
O preço do feijão nosso de cada dia vai às alturas. A transformação do cereal plebeu em ingrediente custoso nos pitéus granfinos, anda a abalar as estruturas vulneráveis da nossa economia em descenso. Se o tomate, ou até mesmo o insípido chuchu (o legume, não o governador de São Paulo) conseguiram desfazer os cálculos econométricos do Banco Central e aceleraram a inflação, por que o feijão, assíduo freqüentador de pratos ricos e  pobres, não mereceria receber o título de fator inflacionário?
Em outros tempos a crise do feijão logo faria surgir fantasmas ou abantesmas conspiratórios. Sempre existiu entre nós aquela mania de atribuir a outros as culpas pelas nossas próprias mazelas. Dividimo-nos entre os que nos apontavam como perigosos inimigos , o “comunismo internacional” ou o “imperialismo americano”. E pouco nos demos ao trabalho de elencar os nossos próprios erros, causados aqui dentro por cada um de nós, no nosso dia a dia, ampliados pela rapinagem ou incompetência daqueles que erradamente elegemos. Talvez o feijão esteja assim tão escasso e inacessível, menos pelo clima do que pela ausência, no seu cultivo, das tecnologias que a EMBRAPA oferece ao agricultor, resultado da competência e  dedicação dos seus cientistas.
Mas para não perder o velho hábito viram na crise feijoeira o dedo vermelhíssimo dos irmãos Castro, os quase decrépitos mandatários de Cuba. A eles  Lula, “cúmplice da ditadura cubana” doou, faz tempo, 600 toneladas de feijão, e isso até agora desconjuntou os nossos estoques reguladores.
Seiscentas toneladas de feijão é exatamente a mesma quantia que o deputado federal Fábio Mitidieri informa que solicitou à COBAL para que fossem enviadas a Aracaju, mas, completou a informação denunciando o prefeito João Alves que esqueceu o feijão e o deixou apodrecer sem uso.
O que, sendo verídico, vem a comprovar a tese mais objetiva de que os erros devem ser encontrados principalmente aqui, entre nós mesmos.
 O feijão é alimento igualitário, freqüentador de todas as mesas. O muito pobre o consome agradecido pela sorte, o remediado o consome com gosto, o rico o consome um tanto contrafeito, disfarçando aquela preferência ausente dos cardápios sofisticados.
Mas todos se juntam de maneiras diversas em tôrno do prato de feijão.
Para determinar os efeitos da carestia (assim se chamava a inflação) sobre o consumo de alimentos e o bem estar da coletividade, o poeta Freire Ribeiro andou a formular teorias, aplicando uma metodologia muito pessoal e um método empírico-escatológico, também invenção sua.
Partindo da premissa de que o consumo do feijão entre a população pobre variava de acordo com o preço (ele nem conhecia o economês, nada sobre elasticidade ou inelasticidade da demanda)  Freire, freqüentador assíduo da Ponte do Imperador, onde pobres, sem duvidas, defecavam à noite, saía  durante o dia a prospectar os indícios de feijão, evidenciados e perceptíveis pelas cascas que restavam inteiras nos excrementos. De acordo com a fartura ou escassez daqueles “inequívocos testemunhos” ele anunciava com a face alegre e riso sarcástico, que lançava as bases sólidas, ou nem tanto, de uma radical teoria econômico-social-escatológica, perfeitamente aplicável à realidade brasileira .
Freire, fascinado leitor de Bocaccio e Cervantes, bem conhecia quanto vale uma sátira.

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