sexta-feira, 6 de maio de 2016

OS ÚLTIMOS DIAS DE UMA CONDENADA



OS ÚLTIMOS DIAS DE UMA CONDENADA
A genialidade de Victor Hugo nos deu um livro que está entre aqueles mais primorosos que ele escreveu. Chama-se Os Últimos Dias de um Condenado.   Como o nome indica, trata do drama derradeiro de um sentenciado à pena capital. Ele não tem dúvidas sobre a natureza do crime cometido, sobre a inevitabilidade da morte que se avizinha, mas apega-se à vida, imagina, contra todas as evidencias, escapar do carrasco que o levará a por a cabeça sob a lâmina afiada do invento do Sr. Guilhotin.
Victor Hugo, ao descrever o calvário do condenado, transforma o livro num libelo emocionante, contra a aplicação da pena de morte.
Nessa triste quadra da história brasileira,  vivemos os últimos  dias de uma condenada, que nega o crime, se diz injustiçada, e imagina, ainda, no instante crucial, poder chutar os testículos  do carrasco.O que não acontecerá, até porque inexiste, no caso, um carrasco visível, identificável.
Dos últimos dias do condenado de Victor Hugo ficou a idéia de que Justiça não pode ser confundida com justiçamento, que a força da lei só pode chegar até aonde começa a dignidade da vida.
No caso da nossa condenada há também lições importantes que devem ser retiradas de todo o complexo contexto político que envolvemos acontecimentos.
Os motivos alegados para condenarem Dilma são controversos, insuficientes, numa situação normal para provocar o afastamento de um governante.
Para se contrapor à frase célebre da esquerda espanhola, trazida ao atual cenário político brasileiro, o “Não Passarão”, da revolucionária Dolores Ibarruri, a Passionária, entrou em cena uma outra expressão, aliás, com  força demolidora: O Conjunto da Obra.
Nessa frase estão contidos os erros, os equívocos, as teimosias e as barbeiragens calamitosas cometidas pela presidente, que não podem ser considerados tecnicamente como crimes, mas contra ela provocaram uma onda enorme de reprovação, e é essa onda que congrega setores amplos da sociedade brasileira, que está levando a presidente a viver, como condenada, os seus últimos dias no Planalto. Antes mesmo de concluído o julgamento a condenação já era previsível  como  os eclipses do sol ou da lua.
Na outra frase, o “Não Passarão”, se desfez a ilusória certeza de um partido que,  por situar-se à esquerda, e ter posto em prática um projeto de transformação social exitoso, estaria livre de seguir às “regras burguesas”, sem dever obediência à critérios que independem de visões ideológicas, e são conceitos essenciais  para que não se misture o público com o privado; o Estado com partidos, o cofre público com o bolso da calça de cada um. Os outros sempre fizeram quase o mesmo.
Mas, quem semeou esperanças não poderia ter seguido o mesmo caminho. E com tanta voracidade.
Por tudo isso, a condenada do Planalto, da mesma forma que o condenado de Victor Hugo, irá à degola por mais que gritem: Não Passarão.
Venceu O Conjunto da Obra.
Consumatum  est........

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