OS ÚLTIMOS DIAS DE UMA CONDENADA
A genialidade de Victor Hugo nos deu um livro que está entre
aqueles mais primorosos que ele escreveu. Chama-se Os Últimos Dias de um
Condenado. Como o nome indica, trata do drama derradeiro de
um sentenciado à pena capital. Ele não tem dúvidas sobre a natureza do crime
cometido, sobre a inevitabilidade da morte que se avizinha, mas apega-se à
vida, imagina, contra todas as evidencias, escapar do carrasco que o levará a
por a cabeça sob a lâmina afiada do invento do Sr. Guilhotin.
Victor Hugo, ao descrever o calvário do condenado, transforma
o livro num libelo emocionante, contra a aplicação da pena de morte.
Nessa triste quadra da história brasileira, vivemos os últimos dias de uma condenada, que nega o crime, se
diz injustiçada, e imagina, ainda, no instante crucial, poder chutar os
testículos do carrasco.O que não
acontecerá, até porque inexiste, no caso, um carrasco visível, identificável.
Dos últimos dias do condenado de Victor Hugo ficou a idéia de
que Justiça não pode ser confundida com justiçamento, que a força da lei só pode
chegar até aonde começa a dignidade da vida.
No caso da nossa condenada há também lições importantes que
devem ser retiradas de todo o complexo contexto político que envolvemos
acontecimentos.
Os motivos alegados para condenarem Dilma são controversos,
insuficientes, numa situação normal para provocar o afastamento de um
governante.
Para se contrapor à frase célebre da esquerda espanhola,
trazida ao atual cenário político brasileiro, o “Não Passarão”, da
revolucionária Dolores Ibarruri, a Passionária, entrou em cena uma outra expressão,
aliás, com força demolidora: O Conjunto
da Obra.
Nessa frase estão contidos os erros, os equívocos, as teimosias
e as barbeiragens calamitosas cometidas pela presidente, que não podem ser
considerados tecnicamente como crimes, mas contra ela provocaram uma onda
enorme de reprovação, e é essa onda que congrega setores amplos da sociedade
brasileira, que está levando a presidente a viver, como condenada, os seus
últimos dias no Planalto. Antes mesmo de concluído o julgamento a condenação já
era previsível como os eclipses do sol ou da lua.
Na outra frase, o “Não Passarão”, se desfez a ilusória
certeza de um partido que, por situar-se
à esquerda, e ter posto em prática um projeto de transformação social exitoso,
estaria livre de seguir às “regras burguesas”, sem dever obediência à critérios
que independem de visões ideológicas, e são conceitos essenciais para que não se misture o público com o
privado; o Estado com partidos, o cofre público com o bolso da calça de cada
um. Os outros sempre fizeram quase o mesmo.
Mas, quem semeou
esperanças não poderia ter seguido o mesmo caminho. E com tanta voracidade.
Por tudo isso, a condenada do Planalto, da mesma forma que o
condenado de Victor Hugo, irá à degola por mais que gritem: Não Passarão.
Venceu O Conjunto da Obra.
Consumatum est........
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