sábado, 14 de maio de 2016

AS MESÓCLISES QUE NOS FAZEM TREMER



AS MESÓCLISES QUE NOS FAZEM TREMER
Disse, uma comentarista da Globo, que a posse dos ministros de Michel Temer, tinha assim, uma espécie de “ar retro”, ou seja, algo passadista.
O professor e jurisconsulto, 55 anos depois, reintroduziu no Planalto a empáfia do rebuscamento gramatical, e caprichou na mesóclise para soltar aquele sê-lo-ia, que, queira Deus, não termine sendo a metáfora do seu próprio governo, transformando-se numa marca: GOVÊRNO FEDERAL-SÊ-LO-IA. Pairava, naquela cerimônia da posse dos ministros, o espírito burlesco e sinistro do Bruxo da Vassoura.   Professor de Português, Janio Quadros manipulava a língua com maestria barroca, e fazia a “Flôr do Lácio, inculta e bela”, perder a suave sonoridade acariciante aos ouvidos. Janio, de porre ou sóbrio, o que era raro, disparava, com frequência, aqueles petardos rascantes: “Fí-lo, porque qui-lo”, “Bebo porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia”.
Caprichou nos desusos da gramática e perdeu-se na desatualização do tempo em que vivia. Quando o biquine era também símbolo da emancipação feminina, que começava, Janio o tornou proibido no Brasil, e deu marcha a ré numa época caracterizada pelas rebeldias , avanços sociais e desconstrução de preconceitos.
Os que ouviram, talvez embevecidos a mesóclise, retomada por Temer, nem imaginaram a figura gramatical rediviva, como um sintomático componente do cenário passadista, onde, no “dispositivo”, espaço reservado aos luminares da República, não havia um só negro, o que pode não ser racismo, mas é menosprezo à maioria negra e parda da nossa população. Não havia também uma só mulher entre os ministros, o que conferia ao governo iniciante uma característica de desusado alheamento ao protagonismo hoje exercido pelo sexo feminino. Na platéia só havia brancos.  Isso aqui não é a Suécia branquíssima, mas, um país de maioria negra, também, de maioria feminina. Por todo lado só os caprichados, reluzentes ternos Armani. O clima era elitista, a festa foi das elites. Será possível tocar em frente um governo de “salvação nacional” sem povo?

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