DE DILMA A TEMER A COMÉDIA DOS ERROS
Comédia dos Erros é nome
da primeira peça teatral escrita por William Shakespeare, até hoje, mais de 400
anos depois, considerado o maior dramaturgo de todos os tempos.
A peça em 5 atos, trata dos equívocos, das confusões e dos
desencontros, provocados pela existência de dois gêmeos com o mesmo nome, Antífolo. Depois, na mesma cidade, Éfeso,
surge outro par de gêmeos também com nomes idênticos, Drômio. Dos pares de
gêmeos dois residem em Éfeso, e os dois outros são estrangeiros.
Só a genialidade de Shakespeare para fazer um contraponto
entre tragédia e comédia, colocar em cena situações que envolvem a condição
humana, percorrendo emoções e tentando superar circunstancias e contingências.
Vivemos no Brasil uma comédia de erros, encenada também por
“gêmeos”, ou seja, por protagonistas com a mesma cara. A comédia de erros em
alguns momentos grotesca, não acabou com o afastamento de Dilma, mas,
infelizmente, parece que irá prosseguir com outros “gêmeos” em cena, todos univitelinos.
Precisamos urgentemente de um Estadista, até clamamos ao
Supremo Arquiteto do Universo para que ele apareça, por milagre, se dele nos fizermos
merecedores. Nesse sistema político que temos, dificilmente se abrirá espaço aos verdadeiros homens de Estado. Mas, sobram
espaços para os Cunha, os Dirceu, os Roberto Jefferson, os Maluf, os Gim Argelo,
os Delcídio, os Bolsonaro. A lista é enorme, e seria insensatamente injusto se
nela fosse incluído o Tiririca.
A presidente que sai, diz, aclamada por pessoas vindas das periferias:
“Não roubei, não tenho contas no exterior, não me submeti a chantagens e não
fiz negociatas”.
Talvez, não possam dizer o mesmo todos os ministros que agora
integram o governo Temer.
Então, para que saíram multidões às ruas clamando por
moralidade pública, e assim abrindo caminho para o impeachment?
Para que espoucaram tantos foguetes na manhã, que seria
esperançosa, do dia 12 de maio ?
Seriam intolerantes com ministros de Dilma indiciados na
lavajato, e tolerantes com os mesmos, agora, ministros de Temer?
No decorrer do dia 12 de maio o jurista Hélio Bicudo, um dos
três autores da ação popular que resultou no afastamento da presidente Dilma,
decepcionado, postava mensagem nas redes sociais, lamentando que uma “cleptocracia
tomasse o lugar de outra”.
No discurso de posse, Temer não saiu-se mal, todavia, esteve
longe do que se esperaria de um Estadista, com a dimensão necessária para nos retirar dessa enorme enrascada.
Falta-nos um Estadista que pudesse dar o primeiro exemplo,
livrando-se do cerco espúrio dos 25 partidos e dos interesses pessoais, e que
tivesse liderança, capacidade, legitimidade e visão, para formar um ministério
de alto nível técnico e político, com pessoas rigorosamente ilibadas e isentas
de quaisquer suspeitas. Mas seria isso possível com a classe política que temos?
Nesse Ministério do toma lá dá cá, formado apenas com olhos
no julgamento final a ser feito pelo Senado, só no máximo cinco ministros
teriam dimensão política e capacidade técnica para exercerem o cargo, entre
eles, Henrique Meireles, Jose Serra e o general Etchegoyen.
Um Estadista pensaria exclusivamente no Brasil, e não
precisaria nomear ministro um filho, para garantir o voto futuro do pai, o senador
Jader Barbalho, que não esteve presente na madrugada do dia 12, e é preciso que
esteja, quando se poderá fazer o afastamento definitivo de Dilma.
Um Estadista falaria
precisamente ao povo brasileiro, esqueceria os amigos, desprezaria as
conveniências.
Um Estadista não aceitaria ministros que acabaram de sair de
um governo pífio que terminou por inépcia, para ingressar em seguida em outro
que se autodenominou de “salvação nacional”.
Enfim, parece que não escaparemos desse desenxabido destino
de povo condenado a ser figurante, numa comédia de erros encenada por aqueles
nos quais votamos, e deles fizemos nossos representantes.
A nossa comédia ou tragédia dos erros é que, pela ausência de
Estadistas, daqueles que sabem exercitar a Grande Política, estamos afundando
no lamaçal da desgraçada política rasteira.
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