OS MILITARES E O
GOLPE DE 1964
Historicamente ,
generais e coronéis, até tenentes, nunca
estiveram quietinhos azeitando suas
armas, elaborando planos estratégicos,
pondo em forma as suas tropas. Os militares brasileiros sempre fizeram
política, sempre nelas se intrometeram. Um exemplo?
Fizeram nascer a República. Imaginaram – se, até, como uma espécie de Condestáveis do
Império que não fizeram, e da República
que construíram. Desde o Império estiveram envolvidos em
revoluções, ou, muito mais do outro lado, a combatê-las. Nisso, foram peça essencial
para que permanecesse preservada e
íntegra a imensidão territorial brasileira. Estiveram também em guerras,
algumas, que nos envergonham, e a eles também, como a de Canudos, um massacre de infelizes irmãos que
os ¨ coronéis ¨ civis exigiram que fosse
feito. Na sangreira do Paraguai, tudo
começou com a necessária e urgente defesa do nosso território invadido, para
terminar como uma matança que poderia ter sido evitada. E os nossos militares que tanto ocuparam a
Presidência, como a ela foram candidatos, que tanto estiveram a intrometer-se
nas coisas do chamado poder civil, foram também, únicos
entre países independentes do hemisfério sul, que combateram a peste nazi-fascista, na Itália,
nas vastidões do Atlântico. E se saíram
muito bem, apesar das adversidades dentro e fora dos campos de batalha.
Quando fizeram quarteladas e mazorcas , os militares eram instigados pelos civis,
políticos, quase sempre frustrados, a quem um dia o marechal Castelo Branco
comparou às Vivandeiras, quando acossado pelas baterias da palavra e da escrita flamejantes de Carlos
Lacerda, que até o chamou de ¨ Anjo da Rua
Conde Lage ¨, ou seja, um inocentinho em pleno puteiro. Vivandeiras,
eram aquelas mulheres prostitutas, ou não, que acompanhavam tropas
em movimento.
Generais costumavam fazer, aberta e ostensivamente, política.
E política partidária. Eram civilizados como Golbery do Couto e Silva, Cordeiro de Farias, Góis Monteiro, ou raivosamente radicais, como o almirante Penna
Botto, o brigadeiro João Paulo Burnier. Sobre este último, vale ressaltar o que dele
disse , o Marechal do Ar Eduardo Gomes, em carta enviada ao general
presidente Médici, insurgindo-se contra
a promoção de Burnier a major-brigadeiro, isso em 1972,
a pior fase da repressão: ¨Burnier é um
insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários a pretexto de
combater o comunismo . ¨
Burnier não foi
promovido.
Era um personagem sinistro.
É acusado de ter assassinado o educador Anísio Teixeira, também de
forma cruel, torturado até a morte o jovem militante da extrema esquerda
Stuart Angel Jones, e o deputado Rubem
Paiva, cujo corpo nunca foi encontrado.Planejou explodir o gasômetro do Rio
para matar centenas de pessoas e depois botar a culpa nos
comunistas . Foi denunciado por um seu subordinado, o capitão -aviador Sérgio
Miranda, o Sérgio Macaco, que aliás pagou caro. Foi preso e depois reformado.
Com a anistia Sérgio
Macaco foi promovido post-mortem a brigadeiro.
Essa presença dos militares na política era favorecida pela fragilidade das nossas instituições, pelo
clima de radicalização ideológica resultante da ¨Guerra Fria ,¨ e, também, por
uma tolerância da legislação que permitia ao oficial - general permanecer por
muitos anos no posto. Cordeiro de Farias , Juarez Távora, Góis Monteiro, no
exército , Eduardo Gomes
na Aeronáutica, ficaram por mais de 20 anos na ativa, no posto
de oficial general. O general
–presidente Castelo Branco revogou essa
prerrogativa, e assim acabaram-se as ¨ lideranças militares ¨ na vida política.
Quando os generais Mourão e Guedes saíram de Juiz de Fora
rumo ao Rio, começando o golpe militar ,
já ocorrera pelo país manifestações que mobilizaram centenas de
milhares de pessoas. Eram as marchas com Deus pela Democracia.
Os políticos no
Congresso pediam o golpe, os jornais o exigiam, os empresários o financiaram.
A chamada Revolução de 64, seria apenas mais um golpe militar caso não houvesse
insistido em perpetuar-se, cada vez mais endurecendo o regime, e permitindo a tortura,
a repressão descontrolada, fazendo censura, perseguindo artistas e
intelectuais, até cassando ministros do
Supremo Tribunal. A ¨ revolução ¨ não foi alem da mesquinhez .
A tortura e os assassinatos, questões mais controversas, são
invariavelmente negadas pelos militares.
Em nome da exatidão histórica esses fatos já deveriam ter sido admitidos,
reconhecidos, até porque, por eles, a República já pediu perdão. Os militares, evidentemente, fazem parte desta
República, que se quer cada vez mais republicana, ou seja,
democrática, e buscando sempre a utopia da igualdade.
Essa atitude renitente,
contrasta com a face moderna e
constitucional das Forças Armadas.
Os que hoje as integram nada têm a ver com o que aconteceu no passado.
No dia em que o governador Jackson Barreto fez a solenidade
de substituição dos nomes dos três ex-generais –presidentes não havia na sala um só militar. Talvez não
tenham sido convidados para que se evitassem possíveis constrangimentos, aliás injustificáveis. Foi notado que até
representantes da Policia Militar não
compareceram.
Isso não é bom, porque os militares não podem estar
distanciados dos sentimentos democráticos da sociedade, e não podem
dissociar-se do rumo tomado pelas
instituições, hoje, mais do que nunca legítimas, porque não surgiram na frente
ou no rastro de quarteladas.
A ¨tigrada ¨, como o ministro do exército no governo Figueiredo,
general Walter Pires apelidava os fanáticos, onde estavam também torturadores e
assassinos, sempre foi uma pequena, todavia perigosa e atuante minoria. Dos
crimes cometidos, estão isentos mais de noventa por cento dos militares naquele
tempo na ativa.
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