sábado, 16 de janeiro de 2016

OS MILITARES E O GOLPE DE 1964



OS MILITARES E O
 GOLPE  DE 1964
Historicamente  , generais e coronéis, até tenentes,  nunca estiveram quietinhos  azeitando suas armas, elaborando  planos estratégicos, pondo em forma as suas tropas. Os militares brasileiros sempre fizeram política, sempre nelas se intrometeram. Um exemplo?
Fizeram nascer a República.  Imaginaram – se,  até, como uma espécie de Condestáveis do Império  que não fizeram, e da República que construíram.    Desde o Império estiveram envolvidos em revoluções, ou, muito mais do outro lado,  a combatê-las. Nisso, foram peça essencial para que permanecesse  preservada e íntegra a imensidão territorial brasileira. Estiveram também em guerras, algumas, que nos envergonham, e a eles também, como a de  Canudos, um massacre de infelizes irmãos que os ¨ coronéis ¨ civis  exigiram que fosse feito. Na sangreira  do Paraguai, tudo começou com a necessária e urgente defesa do nosso território invadido, para terminar como uma matança que poderia ter sido evitada.  E os nossos militares que tanto ocuparam a Presidência, como a ela foram candidatos, que tanto estiveram a intrometer-se nas coisas do chamado poder civil, foram também,   únicos entre países independentes do hemisfério sul, que  combateram a peste nazi-fascista, na Itália, nas vastidões do Atlântico.  E se saíram muito bem, apesar das adversidades dentro e fora dos campos de batalha.
Quando fizeram quarteladas e mazorcas  , os militares eram instigados pelos civis, políticos, quase sempre frustrados, a quem um dia o marechal Castelo Branco comparou às Vivandeiras,  quando   acossado pelas baterias  da palavra e da escrita flamejantes de Carlos Lacerda, que até o chamou de  ¨ Anjo   da   Rua Conde Lage ¨, ou seja, um  inocentinho  em pleno puteiro.  Vivandeiras,  eram aquelas mulheres  prostitutas, ou não, que acompanhavam tropas em movimento.
Generais costumavam fazer, aberta e ostensivamente, política. E política partidária. Eram civilizados como Golbery do Couto e Silva,  Cordeiro de Farias,  Góis Monteiro, ou  raivosamente radicais, como o almirante Penna Botto, o brigadeiro João Paulo Burnier.  Sobre este último, vale ressaltar o que dele disse  , o Marechal do Ar  Eduardo Gomes, em carta enviada ao general presidente Médici,  insurgindo-se contra a  promoção  de Burnier a major-brigadeiro, isso em 1972, a pior fase da repressão:  ¨Burnier é um insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários a pretexto de combater o comunismo . ¨
Burnier  não foi promovido.
Era um personagem sinistro.
É acusado de ter assassinado o  educador Anísio Teixeira, também   de forma cruel, torturado até a morte o jovem militante da extrema esquerda Stuart  Angel Jones, e o deputado Rubem Paiva, cujo corpo nunca foi encontrado.Planejou explodir o gasômetro do Rio para  matar  centenas de pessoas e depois botar a culpa nos comunistas . Foi denunciado por um seu subordinado, o capitão -aviador Sérgio Miranda, o Sérgio Macaco, que aliás pagou caro. Foi preso e depois reformado.
 Com a anistia Sérgio Macaco foi promovido post-mortem a brigadeiro.
Essa presença dos militares na política era favorecida  pela fragilidade das nossas instituições, pelo clima de radicalização ideológica resultante da ¨Guerra Fria ,¨ e, também, por uma tolerância da legislação que permitia ao oficial - general permanecer por muitos anos no posto. Cordeiro de Farias , Juarez Távora, Góis Monteiro, no exército , Eduardo Gomes
na Aeronáutica,  ficaram por mais de 20 anos na ativa, no posto de oficial general.  O general –presidente Castelo Branco  revogou essa prerrogativa, e assim acabaram-se as ¨ lideranças militares ¨ na vida política.
Quando os generais Mourão e Guedes saíram de Juiz de Fora rumo ao Rio, começando o golpe militar  , já  ocorrera pelo país  manifestações que mobilizaram centenas de milhares de pessoas. Eram as marchas com Deus pela Democracia.
 Os políticos no Congresso pediam o golpe, os jornais o exigiam, os empresários o financiaram.
A chamada Revolução de 64, seria  apenas mais um golpe militar caso não houvesse insistido em perpetuar-se, cada vez mais endurecendo o regime, e permitindo a tortura, a repressão descontrolada, fazendo censura, perseguindo artistas e intelectuais, até  cassando ministros do Supremo Tribunal. A  ¨ revolução ¨  não foi alem da  mesquinhez .
A tortura e os assassinatos, questões mais controversas, são invariavelmente  negadas pelos militares. Em nome da exatidão histórica esses fatos já deveriam ter sido admitidos, reconhecidos, até porque, por eles, a República já pediu perdão.  Os militares, evidentemente, fazem parte desta República, que se quer cada vez mais republicana, ou  seja,  democrática, e buscando sempre a utopia da igualdade.
 Essa atitude renitente, contrasta com a face moderna e  constitucional das Forças Armadas.  Os que hoje as integram nada têm a ver com o que aconteceu no passado.
No dia em que o governador Jackson Barreto fez a solenidade de substituição dos nomes dos três ex-generais –presidentes  não havia na sala um só militar. Talvez não tenham sido convidados para que se evitassem possíveis constrangimentos,  aliás injustificáveis. Foi notado que até representantes da Policia Militar não  compareceram.
Isso não é bom, porque os militares não podem estar distanciados dos sentimentos democráticos da sociedade, e não podem dissociar-se  do rumo tomado pelas instituições, hoje, mais do que nunca legítimas, porque não surgiram na frente ou no rastro de quarteladas.
A   ¨tigrada ¨, como o  ministro do exército no governo Figueiredo, general Walter Pires apelidava os fanáticos, onde estavam também torturadores e assassinos, sempre foi uma pequena, todavia perigosa e atuante minoria. Dos crimes cometidos, estão isentos mais de noventa por cento dos militares naquele tempo na ativa.

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