sábado, 16 de janeiro de 2016

¨ PAU DE ARARA ¨ A IMAGEM INDELÉVEL DE UM REGIME



¨ PAU DE ARARA ¨ A IMAGEM
 INDELÉVEL DE UM REGIME
Um regime que transforma adversários em prisioneiros políticos,  os submete a desumanas torturas, e, pior ainda, os assassina e esconde os seus corpos, não merece a condescendência, muito menos  homenagens prestadas aqueles que o comandaram.
A ditadura militar-civil que começou em abril de 64 fez uma estréia  tenebrosa.
As TVs do Recife colocaram no ar,  por determinação do ¨Comando Revolucionário do Nordeste ¨ a cena  que revelava a índole do novo poder: um homem de 64 anos, semi nu , ferido e sangrando , amarrado pelo pescoço a uma corda, arrastado pelas  ruas do Recife por uma viatura militar.  Os coronéis Vilocq e Ibiapina comandavam a barbárie e repetiam insultos contra o prisioneiro . Ele era o militante comunista Gregório Bezerra, ex-sargento do Exército que participara, em 1935 , da chamada   ¨Intentona Comunista  ¨, uma ação  equivocada e desastrosa em que se envolveu o Partido Comunista do Brasil.
Gregório era  homem corajoso ,  militante obstinadamente dedicado à causa. Foi preso, todavia,  sem esboçar resistência. Obedeceu à ordem que lhe foi dada pelo sargento Jose Gilson  Santos  comandante de uma das patrulhas  que o procuravam no interior pernambucano.  Saiu da casa onde estava  com as mãos para o alto, identificou-se, e nada mais disse. O sargento Gilson, que vem a ser o Procurador de Justiça de Sergipe hoje aposentado,    não tripudiou sobre o prisioneiro subjugado e o entregou, intocado, no Comando do Quarto Exército ao coronel Vilocq. Logo   depois, o coronel liberou a frustração e a covardia reprimidas que se ocultavam sob o nome de ¨patriotismo , ¨ e  começaram  os espancamentos.
Entre esses dois episódios extremos e opostos da vida brasileira  , o de novembro de 1935, e o de abril de 1964, está condensada a História conturbada e pontilhada de tantos equívocos ideológicos  cometidos no século vinte,  quando  se imaginou, de forma ferozmente antagônica, que as revoluções seriam parteiras  da História, e as contra-revoluções abortariam o parto indesejado.
O professor Josué Modesto  Subrinho, ex-reitor da UFS,  presidente da Comissão Sergipana da Verdade, no momento histórico em que o  Governo do Estado corrigia o equívoco de homenagens indevidas, foi pertinente e lúcido ao lembrar  que o pensamento e a prática política evoluíram muito, aprenderam com as experiências  malsucedidas, e hoje existe  quase um virtuoso consenso unindo a esquerda e direita civilizadas, sobre a prevalência da democracia e a aversão completa a qualquer forma violenta de transformação social, ou substituição de governos.
O presidente do Tribunal de Justiça desembargador Luiz Mendonça, outro orador, disse que a atitude tomada por Jackson  era  uma exaltação à democracia     e também uma prática pedagógica,  retirando-se de colégios e de um estádio, os nomes de presidentes que chegaram ao poder pela força, e permitiram que prisioneiros políticos fossem trucidados. Por isso, não poderiam estar no mesmo pedestal em que honramos os  grandes vultos.
 Wellington Mangueira, ex- militante comunista e humanista por toda a vida, narrou um dos episódios do drama sinistro e recorrente nas masmorras da repressão,  onde sádicos que desonravam suas fardas, colocavam presos políticos no ¨pau de arara¨,   esfolavam seus corpos, esfrangalhavam  suas mentes. Wellington não precisaria dizer mais nada sobre o que fizeram a ele e à   Laurinha, sua mulher, para demonstrar  o óbvio: os que permitiram ou tiveram ouvidos moucos aos clamores sobre a prática de torturas, não poderiam continuar dando seus nomes  a prédios públicos.
 Jackson encerrou a solenidade falando sobre a sua militância política, como adversário da Ditadura,  risco que aceitou conscientemente correr, porque entendia que a luta pelo retorno à democracia era a grande tarefa que o destino reservara à sua geração. Relembrou os companheiros, contou casos da sua atuação clandestina, homenageou os velhos lutadores, exaltou  nomes  que precisam ser lembrados ao longo da História e que agora figuram em escolas e  estádio: Professor João Costa, Professor Paulo Freire, Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela,   Etelvino Mendonça , este, um  itabaianense lembrado com saudade em sua terra, e que será, doravante, o nome do estádio de futebol.
  O sempre lembrado senador Jose Eduardo Dutra, aquele nunca envolvido nos escândalos da PETROBRAS da qual foi presidente, depois diretor, será nome de um conjunto habitacional em Aracaju.

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