¨ PAU DE ARARA ¨ A IMAGEM
INDELÉVEL DE UM REGIME
Um regime que transforma adversários em prisioneiros
políticos, os submete a desumanas
torturas, e, pior ainda, os assassina e esconde os seus corpos, não merece a
condescendência, muito menos homenagens
prestadas aqueles que o comandaram.
A ditadura militar-civil que começou em abril de 64 fez uma
estréia tenebrosa.
As TVs do Recife colocaram no ar, por determinação do ¨Comando Revolucionário
do Nordeste ¨ a cena que revelava a
índole do novo poder: um homem de 64 anos, semi nu , ferido e sangrando ,
amarrado pelo pescoço a uma corda, arrastado pelas ruas do Recife por uma viatura militar. Os coronéis Vilocq e Ibiapina comandavam a
barbárie e repetiam insultos contra o prisioneiro . Ele era o militante
comunista Gregório Bezerra, ex-sargento do Exército que participara, em 1935 ,
da chamada ¨Intentona Comunista ¨, uma ação
equivocada e desastrosa em que se envolveu o Partido Comunista do
Brasil.
Gregório era homem
corajoso , militante obstinadamente
dedicado à causa. Foi preso, todavia, sem esboçar resistência. Obedeceu à ordem que
lhe foi dada pelo sargento Jose Gilson
Santos comandante de uma das
patrulhas que o procuravam no interior
pernambucano. Saiu da casa onde estava com as mãos para o alto, identificou-se, e
nada mais disse. O sargento Gilson, que vem a ser o Procurador de Justiça de
Sergipe hoje aposentado, não tripudiou sobre o prisioneiro subjugado e
o entregou, intocado, no Comando do Quarto Exército ao coronel Vilocq. Logo depois,
o coronel liberou a frustração e a covardia reprimidas que se ocultavam sob o
nome de ¨patriotismo , ¨ e começaram os espancamentos.
Entre esses dois episódios extremos e opostos da vida
brasileira , o de novembro de 1935, e o
de abril de 1964, está condensada a História conturbada e pontilhada de tantos
equívocos ideológicos cometidos no
século vinte, quando se imaginou, de forma ferozmente antagônica,
que as revoluções seriam parteiras da
História, e as contra-revoluções abortariam o parto indesejado.
O professor Josué Modesto
Subrinho, ex-reitor da UFS, presidente da Comissão Sergipana da Verdade,
no momento histórico em que o Governo do
Estado corrigia o equívoco de homenagens indevidas, foi pertinente e lúcido ao
lembrar que o pensamento e a prática
política evoluíram muito, aprenderam com as experiências malsucedidas, e hoje existe quase um virtuoso consenso unindo a esquerda
e direita civilizadas, sobre a prevalência da democracia e a aversão completa a
qualquer forma violenta de transformação social, ou substituição de governos.
O presidente do Tribunal de Justiça desembargador Luiz
Mendonça, outro orador, disse que a atitude tomada por Jackson era uma
exaltação à democracia e também uma prática pedagógica, retirando-se de colégios e de um estádio, os
nomes de presidentes que chegaram ao poder pela força, e permitiram que
prisioneiros políticos fossem trucidados. Por isso, não poderiam estar no mesmo
pedestal em que honramos os grandes
vultos.
Wellington Mangueira,
ex- militante comunista e humanista por toda a vida, narrou um dos episódios do
drama sinistro e recorrente nas masmorras da repressão, onde sádicos que desonravam suas fardas,
colocavam presos políticos no ¨pau de arara¨,
esfolavam seus corpos, esfrangalhavam
suas mentes. Wellington não precisaria
dizer mais nada sobre o que fizeram a ele e à Laurinha, sua mulher, para demonstrar o óbvio: os que permitiram ou tiveram ouvidos
moucos aos clamores sobre a prática de torturas, não poderiam continuar dando
seus nomes a prédios públicos.
Jackson encerrou a
solenidade falando sobre a sua militância política, como adversário da
Ditadura, risco que aceitou
conscientemente correr, porque entendia que a luta pelo retorno à democracia
era a grande tarefa que o destino reservara à sua geração. Relembrou os
companheiros, contou casos da sua atuação clandestina, homenageou os velhos
lutadores, exaltou nomes que precisam ser lembrados ao longo da História
e que agora figuram em escolas e estádio: Professor João Costa, Professor Paulo
Freire, Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela, Etelvino Mendonça , este, um itabaianense lembrado com saudade em sua
terra, e que será, doravante, o nome do estádio de futebol.
O sempre lembrado
senador Jose Eduardo Dutra, aquele nunca envolvido nos escândalos da PETROBRAS
da qual foi presidente, depois diretor, será nome de um conjunto habitacional
em Aracaju.
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