DE ITAMAR A TEMER
Quando Collor começou a
balançar na cadeira de presidente, seu vice,
Itamar Franco, fez um discreto trajeto pelos quartéis. Queria saber a
opinião dos generais a respeito dele
mesmo, Itamar, e também o que pensavam sobre o processo do impeachment. Fazia
menos de sete anos que os militares
estavam recolhidos aos quartéis, afastados do poder devolvido aos civis.
Mas os generais, muitos deles participantes do golpe de 64, quando ainda eram
majores ou coronéis, acompanhavam muito de perto o desenrolar da experiência
democrática que se iniciara e se fortalecera com a Constituição de 1988.
A principal conversa que
teve Itamar foi com o general Leônidas Pires Gonçalves, ex-Ministro do
Exército, que fora uma espécie de fiador junto às casernas da
posse de Sarney, após a traumática doença de Tancredo que o levaria à morte.
Leônidas disse a Itamar que,
sendo respeitada a Constituição, os militares não se envolveriam, nem teriam
como se opor a ele, porque se tratava do vice- presidente democraticamente
eleito. As continências devidas como
Chefe Supremo das Forças Armadas já lhe estariam asseguradas pela lei.
Agora, passado tanto tempo
os militares cuidam apenas dos seus afazeres , não se envolvem, fardados, com a
política. Mas, vestindo o pijama da inatividade
muitos ainda se manifestam, sensatos, ou insanos. Todavia, as
instituições estão firmes, e há a garantia de que diante do desmando, da
truculência, da baixaria e da imoralidade que o sinistro e hipócrita Eduardo
Cunha, comanda na Câmara Federal existe a vigilância do STF e da procuradoria
Geral da República.
O vice Michel Temer, que
começa a lustrar o terno, não precisará rondar os quartéis. A ronda política
ela já começou a fazê-la, faz muito tempo. Espera-se que nessa ronda ele não
inclua a calhordice desmoralizante e
vergonhosa de Eduardo Cunha. Se o fizer, estará traindo as suas convicções consolidadas ao longo da vida pública e
fortalecidas na condição de professor
doutor em direito constitucional. E, caso isso venha a acontecer, caso se valha
do adjutório amolecado de Cunha, estará entrando no Planalto com o pé torto do desprezo pela
ética, e pelos bons costumes.
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