sábado, 14 de novembro de 2015

ÀS MARGENS DO LAGO AFUNDOU O PROJETO



ÀS MARGENS DO LAGO
 AFUNDOU O PROJETO
 Esta crise,  tem tudo para se tornar alongada e renitente. Muito precisamos e  quase tudo nos falta. Faltam-nos, sobretudo,  aquilo que é essencial: um projeto para o Brasil, e políticos capazes para colocá-lo em marcha. E por onde andarão esses políticos? Tratando de si mesmos, dos interesses específicos que representam, ou da mesquinhez de uma politicagem abjeta.  A história    nos demonstra :  desde 1889, quando Deodoro muito a contragosto retirou  Dom Pedro do trono e instalou a turbulenta República, só tivemos, de fato, dois projetos bem sucedidos para o Brasil. Um, foi tocado por Getúlio Vargas, outro, por Juscelino Kubitscheck.   Getúlio deu atenção ao povo, criou direitos que ele nunca tivera, mas seu modelo autoritário-populista excluía a hipótese de uma democracia representativa. O povo  ganhou direitos sob a forma de outorga, e serviu de massa de manobra para uma ditadura que cultivava a força e a adesão das massas.  Mas o Brasil tornou-se  menos injusto, e começou a modernizar-se, criando a plataforma para o salto da industrialização,  suplantando o retrógrado modelo agrícola – exportador, que, apenas substituíra o braço escravo pela semi-escravidão de trabalhadores subjugados.
 Juscelino,  prometendo 50 anos em 5, deu  feição moderna ao país rural. Instalou indústrias, abriu estradas, multiplicou  a geração de energia, levou civilização aos ermos inalcançáveis do centro-oeste. Criou otimismo e esperança, apesar das sublevações militares, do golpismo liderado pelos porta-vozes do atraso.
Eugenio Gudin, um dos gurús da reação conservadora – moralisteira, disse que Brasília era um disparate tão grande que melhor seria deixa – la inconclusa para que a vegetação resisiliente do cerrado  viesse, depois, a recobrir tudo. Com Brasília  às vésperas de ser inaugurada, Gudin escreveu   em  O Globo que a capital nova da República não poderia instalar o governo, porque as ligações telefônicas nunca seriam concluídas.  Três dias antes da inauguração de Brasília  o telefone tocou na casa de Gudin,  no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. Era o presidente JK que o convidava para a festa da nova capital. Gudin perguntou: De onde o senhor está telefona  ? JK respondeu: Do meu gabinete no Palácio da Alvorada em Brasília, onde já estou trabalhando.
    Juscelino era  fascinado pela loucura bendita de fazer. Usava     o    poder    para    concretizar   o  sonho de visionário . Acreditava na capacidade  que tem a política quando manejada com idealismo, para transformar-se no melhor caminho em direção à utopia.
Lula poderia ter concretizado o que seria o terceiro e mais consistente projeto para o Brasil.
Seria a abrangência ampla do   Fome Zero , com educação, saúde, empreendedorismo. Enchendo barriga e tornando produtivas as pessoas alimentadas.  A perfeita fórmula social, priorizando os excluídos,  e o  consequente  sepultamento de uma sociedade esclerosadamente   conservadora,  a consolidação de uma democracia participativa,  a vivificação  dinâmica da política pelos movimentos sociais.
 Todavia, a capital do futuro, Brasília, nascida das linhas revolucionariamente modernas de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa,  tornou-se, na sua imagem urbana deturpada, a metáfora infeliz   do generoso projeto social que naufragou às margens do Lago Paranoá.
Aquele lago é a emblemática imagem  da nossa trágica desigualdade, atravessando séculos, sem merecer qualquer forma de atenção.   Pelo contrário, sempre foi entendida como algo  inevitável   a ser solucionada num prazo futuro,  sempre, imprecisamente definido.
Em Brasília,  às margens disputadíssimas do lago estão os ¨metros quadrados ¨ mais caros do país. As grandes mansões ficam na frente, com vista privilegiada para o enorme espelho d`água.  Seus moradores ainda conservam o sofisticadíssimo direito, ou esbulho, de acesso exclusivo à margem. Nessas mansões estão próceres da República ( onde todos são iguais perante a lei ), há também escritórios de corporações, de advogados renomados, e também de notórios lobistas. Enfim, ali esta a finíssima flor dos poderosos em simbiose com negócios, ou, preferentemente, negociatas. Na segunda fila, sem vista para o lago,  estão as mansões de personagens menos importantes, mas, muito endinheiradas. É possível que nelas se encontrem numerosos servidores públicos,    desses, que conseguem gastar muito mais do que permitem os seus salários. Ao largo, rodeando o Lago de Paranoá está grande parte  da população brasiliense. A classe média nos prédios comuns, os ricos, que ainda não conseguiram chegar à beira do lago, ou que têm o bom senso de evitar o exibicionismo. Agora,  longe, muito longe, vive o grosso da população brasiliense. Aglomera-se nos núcleos empobrecidos e em grande parte favelizados : o Gama, Sobradinho, Ceilândia, Planaltina......
Os que ali vivem, enfrentam os terríveis problemas da grande massa trabalhadora  : mobilidade urbana péssima, saúde  e educação horríveis, segurança pública inexistente.
Nessa massa,   que é  síntese    do povão brasileiro, onde cabe também a classe média,  e até  ricos, conscientes de que num país clamorosamente desigual  os seus negócios ficam comprometidos,   havia a esperança alimentada pelo    projeto social que Lula liderava.    O conservadorismo renitente,     e    insensível,   sempre   foi    radicalmente contra,  raivosamente adversário.
Andava em busca de um bom pretexto para por tudo abaixo,  e deixar a nossa estratificação social perversamente, como  sempre foi: ricos, privilegiados,  à beira do lago, e o resto, o povão, no  miserê  do barracão de zinco, na rua com esgoto correndo , com fome, doente, e sem remédio.
Mas ai, quando o miserável começava a comer, quando os de baixo  subiam, já andavam de avião, compravam motos , carros, se vestiam, iam à restaurantes, os que tocavam o projeto social foram freqüentar as mansões dos lobistas à beira do lago. Ali, entusiasmaram-se tanto com as facilidades encontradas,  enquanto o projeto social ia para o brejo. Para completar, a inanição política e administrativa de Dilma, que,  aliás,  nunca freqüentou as mansões dos lobistas, agora, afunda  também o Brasil.

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