MEMORIAS DE UM
TEMPO ASQUEROSO
Atravessamos, no
século passado, duas ditaduras. Uma, começou com a desordem generalizada dos tenentes
chegando ao poder em 1930,
querendo mudanças sem saber como . Getúlio Vargas que a revolução fez
presidente foi aquietando os impetuosos, repondo a hierarquia nos quartéis, e
concentrando poder em suas mãos. No dia 10 de novembro de 1937, com o mundo á
beira da guerra mundial, esquerda e direita se
enfrentavam, na Espanha já se estraçalhavam mutuamente. No Brasil, duas rebeliões
sufocadas, motivaram a resposta de
Getúlio: o Estado
Novo, modelo fascista que durou até 1945,
quando o ditador foi deposto pelo mesmo exército e generais que o apoiaram e sustentaram o
regime. Já a ultima das duas ditaduras, instalou-se em abril de 1964. Veio após
uma sucessão de clamorosos erros políticos e uma radicalização que apontava
para a guerra civil.
Ficou até 1985,
variando de intensidade e de humor conforme as circunstancias locais ou a temperatura da ¨guerra fria ¨, antecâmara
da temida guerra nuclear entre os blocos
capitalista e comunista.
Em dezembro de 1968 a
ditadura extremou-se . Sob a complacência
de todos os que fizeram parte da sinistra reunião, decidiu-se que o Ato Institucional nº 5 seria
editado e ai desabou a tempestade.
Esse tempo de arbítrio e medo foi relembrado
na Assembléia durante a devolução simbólica
dos mandatos aos cassados.
Gilton Garcia
presidente do Poder Legislativo, que foi levado preso e humilhado ao quartel do
28 º BC , perdeu o mandato e a cátedra na UFS, fez um longo histórico da sua
vida e das suas vicissitudes naquele tempo sombrio. Mostrou como a besta
arrogante funcionava, perseguia, e se fazia ouvinte atenta de todas as intrigas e delações. Gilton só
conseguiu descobrir os reais motivos da sua desdita mais de 20 anos depois,
quando teve acesso às fichas liberadas
pelo SNI. Lá estava escrito: ¨Trata-se de um jovem inteligente, preparado, que
poderá ter um grande futuro político ¨. Repressão e inteligência são antípodas.
Aerton Silva, outro
que perdeu o mandato, foi preso e teve bens confiscados. Ele contou, emocionado
e firme. como foi alvo do ódio descontrolado
oficial Eduardo Pessoa Fontes, Capitão dos Portos e Chefe da Comissão Geral de Investigações ,
um aparato de feição totalitária que
mandava e desmandava. O
oficial matou-se no Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro. Era
acometido por surtos psicóticos, e foi o
sátrapa terrível de uma satrápia chamada Sergipe.
A deputada Maria Mendonça filha do líder itabaianense Chico de Miguel, falou emocionada, indo as vezes às lágrimas ao lembrar dos
tempos tormentosos que viveu a sua família. Teve palavras duríssimas em relação
aos regimes autoritários e alertou os jovens para o perigo de se deixarem
encantar pelo equívoco pernicioso das
soluções buscadas nos quartéis.
Uma filha do grande
sergipano Jaime Araujo, a engenheiro
Selma, recebeu das mãos de João Augusto Gama, o diploma de deputado que tiraram
do seu pai, porque ele foi sempre a voz corajosa e lúcida que nunca calou
diante do arbítrio .
Outros igualmente punidos pela
mesquinharia do regime estavam
representados pelas famílias naquele momento
que eles não viveram para participar: Baltazarino Santos, Edson Oliveira, Santos Mendonça e Durval Militão.
O líder lagartense
Rosendo Ribeiro , em solenidade anterior, recebeu de volta, ele próprio, o diploma, das mãos do seu neto o deputado
Gustinho Ribeiro.
O exemplar instante
de civilidade política, foi o gesto do presidente
da AL, deputado Luciano Bispo, adversário
de Chico de Miguel. que deixou de lado antigas animosidades, participando da entrega do diploma confiscado ao filho do homenageado ,
o ex-deputado federal e estadual Jose
Teles Mendonça .
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