sábado, 17 de outubro de 2015

MEMORIAS DE UM TEMPO ASQUEROSO

MEMORIAS DE UM
TEMPO  ASQUEROSO
Atravessamos, no século passado, duas ditaduras. Uma, começou com a desordem generalizada  dos tenentes  chegando ao poder em 1930,  querendo  mudanças sem saber  como . Getúlio Vargas que a revolução fez presidente foi aquietando os impetuosos,  repondo a hierarquia nos quartéis, e concentrando poder em suas mãos. No dia 10 de novembro de 1937, com o mundo á beira da   guerra mundial, esquerda e direita se enfrentavam, na Espanha já se estraçalhavam mutuamente. No Brasil, duas rebeliões sufocadas,    motivaram a resposta de Getúlio:  o   Estado Novo,  modelo fascista que durou até 1945, quando o ditador foi deposto pelo mesmo exército e  generais que o apoiaram e sustentaram o regime. Já a ultima das duas ditaduras, instalou-se em abril de 1964. Veio após uma sucessão de clamorosos erros políticos e uma radicalização que apontava para a guerra civil. 
Ficou até 1985, variando de intensidade e de humor conforme as circunstancias locais  ou a temperatura da ¨guerra fria ¨, antecâmara da  temida guerra nuclear entre os blocos capitalista e comunista.
Em dezembro de 1968 a ditadura extremou-se . Sob a complacência  de todos os que fizeram parte da sinistra reunião,  decidiu-se que o Ato Institucional nº 5 seria editado e ai  desabou a tempestade.
 Esse tempo de arbítrio e medo foi relembrado na Assembléia  durante a devolução simbólica dos mandatos aos cassados.
Gilton Garcia presidente do Poder Legislativo, que foi levado preso e humilhado ao quartel do 28 º BC , perdeu o mandato e a cátedra na UFS, fez um longo histórico da sua vida e das suas vicissitudes naquele tempo sombrio. Mostrou como a besta arrogante funcionava, perseguia, e se fazia ouvinte atenta de  todas as intrigas e delações. Gilton só conseguiu descobrir os reais motivos da sua desdita mais de 20 anos depois, quando teve acesso às  fichas liberadas pelo SNI. Lá estava escrito: ¨Trata-se de um jovem inteligente, preparado, que poderá ter um grande futuro  político ¨.  Repressão e inteligência são antípodas.
Aerton Silva, outro que perdeu o mandato, foi preso e teve bens confiscados. Ele contou, emocionado e firme. como foi alvo do ódio descontrolado  oficial Eduardo Pessoa Fontes, Capitão dos Portos  e Chefe da Comissão Geral de Investigações , um aparato de feição totalitária que  mandava e  desmandava.    O oficial matou-se   no Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro. Era acometido por surtos psicóticos, e  foi o sátrapa terrível de uma satrápia chamada Sergipe.
A deputada Maria Mendonça  filha do líder itabaianense  Chico de Miguel, falou emocionada,  indo as vezes às lágrimas ao lembrar dos tempos tormentosos que viveu a sua família. Teve palavras duríssimas em relação aos regimes autoritários e alertou os jovens para o perigo de se deixarem encantar pelo equívoco pernicioso  das soluções buscadas nos quartéis.
Uma filha do grande sergipano  Jaime Araujo, a engenheiro Selma, recebeu das mãos de João Augusto Gama, o diploma de deputado que tiraram do seu pai, porque ele foi sempre a voz corajosa e lúcida que nunca calou diante do arbítrio .
  Outros igualmente punidos pela mesquinharia    do regime estavam representados pelas famílias naquele  momento  que eles não viveram para participar:  Baltazarino Santos, Edson Oliveira,  Santos Mendonça e Durval Militão.
O líder lagartense Rosendo Ribeiro , em solenidade anterior,  recebeu  de volta, ele próprio,  o diploma, das mãos do seu neto o deputado Gustinho Ribeiro.

O exemplar instante de civilidade política, foi o gesto do  presidente da AL, deputado Luciano Bispo, adversário   de Chico de Miguel. que deixou de lado antigas animosidades,  participando  da entrega  do diploma confiscado ao filho do homenageado ,  o ex-deputado federal e estadual Jose Teles  Mendonça .

Nenhum comentário:

Postar um comentário