OS BILHETES SECRETOS
DE GETÚLIO A LOURIVAL
Lourival Fontes, nascido no Riachão do Dantas, no dizer
do fluente orador Marques Guimarães,
¨ foi um sergipano de berço
humilde que galgou, na República brasileira, por mérito próprio, os cumes
alcandorados do poder e das honrarias.¨
Apesar do rebuscado estilo gongórico, o Dr. Marques não exagerava, dessa feita, nos seus
habituais encômios.
Fontes foi, realmente,
um personagem singular. Transitou do declarado entusiasmo pelo fascismo de Mussolini, Franco
e Salazar, para a reintegração, como liberal, aos sentimentos democráticos e
humanistas que exigiam a união de todos contra a monstruosidade do
hitlerismo.Essa trajetória se fez em
sintonia com os passos políticos de um homem a quem ele sempre serviu e foi leal: Getúlio Vargas.
No Estado Novo Getulista, Lourival foi o super-poderoso
diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, implacável fiscal de tudo o que
se escrevia, se encenava, e se falava, até, do que se pensava. Mas, havia nele uma característica que todo intelectual valoriza, que é o culto à
inteligência. Assim , mesmo no opressivo
clima de um regime ditatorial, estimulava e financiava diversas publicações, fora
daquela linha de exaltação ao regime e ao ditador. Uma delas, foi a excelente revista bimestral Cultura e
Política. Trabalhando nessas revistas sobreviveram intelectuais de esquerda, e também ex-integrantes da direitista Ação
Integralista, todos postos na cadeia
após as rebeliões comunista de 1935, e a
fascista de 37.
Lourival Fontes era um homem rigorosamente feio. Diziam, seus
detratores, que a sua feiúra interior era ainda pior que a externa. Nas
posições em que esteve, ele não tinha como evitar que fosse um desaguadouro de
desavenças e ódios. Apesar dessa
fealdade era um homem sedutor. Conseguiu a façanha de casar com a jornalista e
militante comunista Adalgisa Néri,
mulher linda, sensual, disputadíssima por tantos homens.
A inteligência sempre
agrega valor especial aos jogos da sedução.
Getúlio fez um decreto
instituindo o divórcio no Brasil para que os dois, que eram desquitados,
pudessem casar. Depois, logo o revogou, atendendo aos indignados reclamos do
Cardeal Primaz. Na sempre maledicente
capital da República, circulava a versão apimentada de que Adalgisa seria
amante do ditador. Foram contar a
Getúlio a fofoca, e ele, um baixinho barrigudo, assumindo ares de irresistível
conquistador, solta, tranqüilo, uma baforada do inseparável charuto, e
responde: ¨ Não tenho nada com a
Adalgisa, deve ser o Lourival que inventou isso para se gabar ¨.
O presidente do
Tribunal de Contas , Carlos Pina,
acompanhado de assessores, foi ao Palácio de Despachos entregar ao governador em exercício Belivaldo
Chagas, o livro Getúlio Escreve a
Lourival, que acabava de sair do prelo da Editora de Sergipe. Deixou mais um
volume para o governador Jackson Barreto ler, enquanto se recupera, e Belivaldo
pediu ao Secretário Benedito Figueiredo que o levasse
ao amigo. O livro despertará a
atenção de de pesquisadores e
historiadores, e exigirá novas edições. Faz parte das comemorações do
centenário do ex-governador Lourival Baptista, a quem Lourival Fontes entregou
a preciosidade dos bilhetes por ele recebidos, quando Ministro Chefe da Casa Civil de Getúlio,
no período democrático, todavia conturbado, de 1951 a 54, pedindo-lhe que só os
tornassem públicos após 30 anos. O filho de Lourival Baptista, o médico e
escritor Francisco Baptista Neto, faz uma primorosa apresentação, minuciosamente esclarecedora.
Carlos Pina, ao fazer a entrega, ressaltou a importância
histórica do livro, sobretudo, para uma melhor compreensão de um dos mais
tormentosos momentos da vida política brasileira, observando o fato de que os
bilhetes de Getúlio, onde ele demonstrava constante preocupação e conhecimento
dos grandes problemas brasileiros, e tratando também de minuciosos detalhes,
desfazem a propalada e falsa imagem de um presidente idoso,
desligado da administração e da política, um quase ausente do poder. Era
exatamente o contrário.
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