sábado, 5 de setembro de 2015

OS BILHETES SECRETOS DE GETÚLIO A LOURIVAL

OS BILHETES SECRETOS
DE GETÚLIO A LOURIVAL
Lourival Fontes, nascido no Riachão do Dantas,   no dizer  do fluente orador Marques Guimarães,  ¨ foi um sergipano  de berço humilde que galgou, na República brasileira, por mérito próprio, os cumes alcandorados do poder e das honrarias.¨
Apesar do rebuscado estilo gongórico, o Dr. Marques   não exagerava, dessa feita, nos seus habituais encômios.
 Fontes foi, realmente, um personagem singular. Transitou do declarado  entusiasmo pelo fascismo de Mussolini, Franco e Salazar, para a reintegração, como liberal, aos sentimentos democráticos e humanistas que exigiam a união de todos contra a monstruosidade do hitlerismo.Essa  trajetória se fez em sintonia com os passos políticos de um homem a quem  ele sempre serviu e foi leal: Getúlio Vargas.
No Estado Novo  Getulista, Lourival foi o super-poderoso diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, implacável fiscal  de tudo o que  se escrevia, se encenava, e se falava, até, do que se pensava.  Mas, havia nele uma  característica que todo  intelectual valoriza, que é o culto à inteligência. Assim  , mesmo no opressivo clima de um regime ditatorial, estimulava e financiava diversas publicações, fora daquela linha de exaltação ao regime e ao ditador. Uma delas,  foi a excelente revista bimestral Cultura e Política. Trabalhando nessas revistas sobreviveram intelectuais  de esquerda,  e também ex-integrantes da direitista Ação Integralista, todos postos na  cadeia após as rebeliões comunista de 1935, e a  fascista de 37.
Lourival Fontes era um homem rigorosamente feio. Diziam, seus detratores, que a sua feiúra interior era ainda pior que a externa. Nas posições em que esteve, ele não tinha como evitar que fosse um desaguadouro de desavenças e ódios.  Apesar dessa fealdade era um homem sedutor. Conseguiu a façanha de casar com a jornalista e militante comunista Adalgisa Néri,     mulher linda, sensual, disputadíssima por tantos homens.
 A inteligência sempre agrega valor especial aos jogos da sedução.
 Getúlio fez um decreto instituindo o divórcio no Brasil para que os dois, que eram desquitados, pudessem casar. Depois, logo o revogou, atendendo aos indignados reclamos do Cardeal Primaz.  Na sempre maledicente capital da República,  circulava  a versão apimentada de que Adalgisa seria amante do   ditador. Foram contar a Getúlio a fofoca, e ele, um baixinho barrigudo, assumindo ares de irresistível conquistador, solta, tranqüilo, uma baforada do inseparável charuto, e responde: ¨ Não  tenho nada com a Adalgisa,  deve ser o Lourival   que inventou isso para se gabar ¨.
 O presidente do Tribunal de  Contas , Carlos Pina, acompanhado de assessores, foi ao Palácio de Despachos  entregar ao governador em exercício Belivaldo Chagas, o livro  Getúlio Escreve a Lourival, que acabava de sair do prelo da Editora de Sergipe. Deixou mais um volume para o governador Jackson Barreto ler, enquanto se recupera, e Belivaldo pediu ao Secretário Benedito Figueiredo que  o levasse  ao amigo. O livro  despertará a atenção de  de pesquisadores e historiadores, e exigirá novas edições. Faz parte das comemorações do centenário do ex-governador Lourival Baptista, a quem Lourival Fontes entregou a preciosidade dos bilhetes por ele recebidos,  quando Ministro Chefe da Casa Civil de Getúlio, no período democrático, todavia conturbado, de 1951 a 54, pedindo-lhe que só os tornassem públicos após 30 anos. O filho de Lourival Baptista, o médico e escritor Francisco Baptista Neto, faz uma primorosa apresentação,  minuciosamente esclarecedora.

Carlos Pina, ao fazer a entrega, ressaltou a importância histórica do livro, sobretudo, para uma melhor compreensão de um dos mais tormentosos momentos da vida política brasileira, observando o fato de que os bilhetes de Getúlio, onde ele demonstrava constante preocupação e conhecimento dos grandes problemas brasileiros, e tratando também de minuciosos detalhes, desfazem a propalada e falsa imagem de um presidente  idoso,  desligado da administração e da política, um quase ausente do poder. Era exatamente o contrário.

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