QUANDO SILENCIAM
AS VOZES DOS SINOS
Nas antigas aldeias do
mundo ocidental, cristão, os sinos das igrejas eram as ¨mídias ¨ com abrangência restrita, suficientes, porem, para os limites dos burgos
. O planger dos sinos anunciava as horas
. Na quieta solidão das aldeias isoladas
o tempo era longo, as vidas curtas.
Quando os sinos pareciam gemer,
era um outro tipo de anúncio : o da morte . E toda a comunidade recebia,
compungida, o aviso de que alguém, talvez um amigo, um parente, se despedira. A
morte era sabida e compartilhada. Os sinos também davam sinais de guerra, das
desgraças coletivas: as pestes, as intempéries. A aldeia globalizou-se. Perdeu-se
a referencia dos sinos.
Quando Aracaju ainda era quase aldeia, ouviam-se os sinos da Catedral, desde a Chica Chaves, ao
norte, à Praia Formosa no sul; da Fausto
Cardoso ao leste, ao Oratório de Bebé a
oeste. Eram os limites da cidade quieta, sem barulhos, onde o som grave do sino da matriz se impunha. E ficava mais solene quando dobrava em
finados. Então, as perdas eram mais compartilhadas, sentidas, do que hoje, espaço da virtualidade em que o sentimento vai
sumindo diante da alucinante correria das mídias em busca do tempo real, do
fato globalizado, e nisso a aldeia some , e se vão os sentimentos que nela
sobreviviam.
Na primorosa crônica de Clóvis Barbosa sempre aguardada no
Jornal da Cidade, o post scriptum com a
noticia da morte de duas extraordinárias
mulheres. Uma, a médica e professora Maria Helena Domingues Garcia,
esposa do médico e professor Eduardo Garcia, que, até na escolha da profissão
seguiu a rota humanista do pai, Antonio Garcia.
A outra mulher, professora de
Direito Penal, a suave Juçara Fernandes
de Melo. O Post Scriptum de Clóvis foi
perfeito na descrição emocionada do que significou a existência daquelas mulheres.
Uma outra morte, ocorrida depois das de Maria Helena e
Juçara, e que agora registramos, foi a de
Durval Calazans. Nesses tempos em
que valores essenciais andam tão depreciados, Durval lega o melhor exemplo de vida,
fiel aos princípios de correção,
integridade, respeito ao patrimônio público. O que demonstrou como
executivo da Caixa Econômica e
presidente do BANESE.
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