DO LADRÃO FAMINTO A
PAULO ROBERTO COSTA
Descalço,
sujo, roupa em frangalhos, o menino confessou numa delegacia de Fortaleza:
¨Doutor, eu nuca roubei, hoje foi a primeira vez. Tava com fome, sai de casa
sem tomar café e vi na minha frente o homem com
um cordão de ouro no pescoço. Nem reparei se tinha seguranças em volta
dele. Puxei a corrente e sai correndo, Só queria vender a corrente e comprar
comida Pra mim, os meus irmãos e a minha mãe ¨.
O homem do cordão de ouro furtado fazia uma caminhada pelo calçadão da Praia de Iracema. Hospedado num hotel 5 estrelas da orla, saíra, protegido por dois seguranças. Ele era,
nada mais nada menos do que o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Estava no Ceará convidado para fazer
uma palestra numa Universidade.
O menino, que já chegara aos 18 anos, ladrão iniciante e extremamente
azarado, pagou pelo que fez. Passou mais de 6 meses numa das penitenciárias
infectas, para aonde vão os desventurados miseráveis que roubam pouco.
O colar do ministro
deveria valer algo em torno de 2 mil reais.
Já o felicíssimo assaltante, Paulo Roberto, agenciador confiável para altas
figuras da República, roubou, só ele, bem mais de um bilhão. Admitamos que
depois das ¨partilhas ¨, a Paulo Roberto restassem 200 milhões de reais. Se, ao infeliz menino, a pena aplicada por
ter roubado um bem que valeria 2 mil reais, foi de 6 meses numa Penitenciária,
a Paulo Roberto Costa, seguindo-se o mesmo critério, e imaginando-se que na
República Federativa Brasileira todos são iguais perante a lei, o mega-gatuno dirigente da PETROBRAS, deveria,
teoricamente, ter contra ele aplicada uma pena de 50 mil anos
a ser cumprida, também,
numa dessas superlotadas penitenciárias
brasileiras, onde circulam ratos, baratas, e se dorme no chão, numa fedentina
de esgoto entupido.
Como se sabe, Paulo Roberto Costa, o autor principal de
inaudita façanha, foi condenado a uma
pena de 7 anos, a ser cumprida em casa. Decorrido um ano, em regime aberto. Isso é castigo ou prêmio?
Por que isso acontece?
Porque temos uma democracia viciada, um Estado de Direito, usado para garantir impunidade para a elite; uma República que se transformou em covil , enquanto a cadeia,
a cela infecta, está sempre pronta para receber ladrõezinhos de primeira viagem
, ladrõezinhos com a barriga roncando de fome, como aquele menino de uma favela
da capital cearense , que teve a pouca sorte de ver, brilhando no enfeitado
pescoço de uma grande autoridade da República, um cordão de ouro.
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