QUANDO PAULISTAS
SÃO OS FLAGELADOS
Os flagelados pela
seca no nordeste chegavam a São Paulo sabendo que poderiam passar fome, mas de
sede não morreriam. No sul, onde pouco se conhece sobre o nordeste, era costumeiro ouvirem-se críticas à indolência
do nordestino que se submetia, apático, aos efeitos do flagelo e nem pensava em
perfurar poços artesianos para deles retirar a água que a ausência de
chuvas tornava rara. Descobrem agora os
paulistas, vendo a lama virar pedra nos seus reservatórios quase secos, que a
coisa não tão fácil assim.
Igualmente carentes de
água, paulistas e nordestinos têm algo em comum que não se restringe às
torneiras secas, porque sobre cabeças –
chatas e bandeirantes recai a mesma culpa de terem sido descuidados,
negligentes. Nesse capítulo a culpa do paulista é bem maior, porque permitiu
que se degradasse até o colapso o meio ambiente de uma região úmida , com rios perenes e chuvas regulares. Já o
nordestino conseguiu sobreviver na secura do semiárido, onde rios são intermitentes, e o fenômeno das
secas faz parte do cotidiano. O paulista decepou as florestas, sujou, envenenou
os rios, criou áreas imensas de cimento e asfalto destituídas de árvores, e assim provocou as
bolhas de calor, e tornou o ar seco, onde antes existia a regularidade da garoa
que, diariamente, umidificava a terra e
o ar.
Já o nordestino botou fogo na caatinga para fazer pastos e
criar bois, agora troca o fogo pelo herbicida, fazendo surgirem desertos. Também aterrou nascentes e
se descuidou dos rios, fez pouca açudagem,
e sobretudo, cometeu o crime maior, permitindo que se degradasse o São
Francisco.
A crise hídrica chegou por aqui, país de enormes rios, de grandes lençóis freáticos.
Uma crise assim vários países do mundo
com ela convivem há muitos anos,mas estão buscando ou até já encontraram
soluções. A transposição de bacias tem sido uma forma de levar água onde ela
existe farta, em rios caudalosos, para outras regiões de cursos d` água exíguos
ou minguantes, garantindo uma melhor
distribuição ou partilha da água. Já existe quem desenhe uma nova geopolítica
gravitando entre a água e a falta dela.
Essa visão
geopolítica dos recursos hídricos transnacionais, deve nos interessar, no caso
de duas bacias: a do Prata, onde já
vivemos uma crise com a Argentina quando foi iniciada a hidrelétrica de Itaipú, e a amazônica, com vários rios transnacionais.
Dentro de mais um ano estará, talvez concluída, a obra de
transposição do São Francisco, é possível
que os canais permaneçam secos por muito tempo enquanto se aguarda que o Velho
Chico tenha uma cheia que assegure o transporte da água de Pernambuco até o Ceará. O enorme
investimento poderá até ser perdido, um enorme desperdício de dinheiro, se não
se pensar urgentemente em começar uma obra que seria a solução definitiva : a
interligação das bacias do Tocantins com o São Francisco. Não faltaria água
para goianos, tocantinenses e paraenses, e o nordeste não mais sentiria a sua
falta. O Velho Chico teria garantida a sua existência.
Essa transposição é idéia surgida no Império, levada em conta
pelo Estadista visionário que foi Jose Bonifácio, e que acabou caindo no
esquecimento.
Agora, o deputado federal João Daniel coloca a sua assessoria a
trabalhar recolhendo dados sobre o assunto, e vai insistir na tribuna da Câmara
batendo na tecla da
urgência dessa
transposição, esperando que o nordeste e o Brasil o escutem, e o assunto entre
na pauta de prioridades da presidente Dilma.
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