AS NOSSAS JAQUEIRAS EM
EXTINÇÃO
Breve, em Sergipe, não
teremos mais jaqueiras. A jaca, aquele fantasticamente saboroso fruto, este ano
está sendo raridade nos mercados de Aracaju. À margem da estrada, quando se
passa por Areia Branca ou pelo Treze, no Lagarto, nas barracas de frutas ao
lado ainda algumas jacas podem ser encontradas, mas, dizem os vendedores,
contristados, que a desengonçada, todavia gostosíssima, quase sensual
fruta, está, a cada dia mais rara. Sobre a jaca, ou melhor, sobre , a
frondosa jaqueira, disse Gilberto Freire que se trata de uma árvore
escandalosamente sensual, pornográfica mesmo. Não se sabe se o sociólogo
pernambucano que nos deu de volta o prazer telúrico de sermos brasileiros e
nordestinos, queria se referir ao sabor untuoso, , talvez lúbrico, da fruta, ou
a alguma saborosa aventura idílica sob a sombra aconchegante de uma jaqueira. O
fato é que Gilberto, era atento aos sabores, aos cheiros dos massapês
nordestinos, também aos dengos das sestrosas mulatas e das senhoras branquelas,
diminuindo nas Casas Grandes a distancia que separava as alcovas da
cozinha, e o sociólogo, quase sexólogo pernambucano, não poderia passar
ao largo das jaqueiras, também das mangueiras, habitantes inseparáveis dos
nossos pomares e quintais. Mas por aqui a jaqueira, repetimos, está
desaparecendo. Descobriram que a sua madeira, que a indústria naval antes já
consumira tão avidamente, é matéria prima insubstituível para a confecção de
belíssimos móveis. Bonitos e também remuneradores pelo alto preço que alcançam.
Dessa forma, a motoserra se pôs a funcionar, decepando sem piedade as seculares
jaqueiras. O IBAMA nada pode fazer , a jaqueira veio da Índia trazida pelos
navegantes portugueses, não é árvore gentia, é estrangeira.. E tome-le serra.
Cabe ao IBAMA proteger apenas a nossa flora nativa. Mas os senhores
deputados poderiam, rapidamente, baixar uma lei declarando a jaqueira
patrimônio cultural do Sergipe, e com isso tentariam deter a devastação.
Uma jaqueira ao longo de tantos anos que vive poderia servir a várias gerações
oferecendo seus frutos que, para agregar valor, ( essa inseparável exigência do
negócio bem sucedido ) poderia se transformar em doce, geléia, suco ,
sabendo-se que a casca é disputada como ração para os bichos, bois, cavalos,
porcos, carneiros, cabras, até galinhas, perús e guinés.
Mas, é mesmo uma pena.
Vamos ficar sem jaqueiras. Ano passado o Instituto Vida Ativa, pedindo aos
vendedores nas ruas de Aracaju que guardassem os caroços dos bagos que oferecem
descaroçados, os levava depois para Canindé do São Francisco onde produz mudas.
Em 2014 foram então distribuídas gratuitamente pouco mais de cinco mil pés de
jaqueiras, que devem agora estar plantados em vários pontos do estado, até aqui
mesmo, na capital. Mas este ano os vendedores quase sumiram e não haverá
sementes para essa tentativa de repovoar Sergipe com as jaqueiras, agora quase
sumidas.
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