A CULTURA DE
TOLERANCIA
CRIADA PELOS MUÇULMANOS
Depois dessa coisa tétrica e estúpida que aconteceu em Paris,
esperava-se, pelo menos, que diante da selvageria do ódio surgisse uma reação
de bom senso , uma tentativa de busca
das raízes daquela fúria desumana que não nasce nos desertos do Iraque ou da
Síria, onde fica o califado de combatentes radicais. O ódio nasce bem mais
perto, nos subúrbios de Paris, nos
guetos dos segregados. Quase ninguém observou que os 3 assassinos são
franceses, descendentes de árabes. Quase ninguém notou que o ódio se acumula há
muito tempo, desde que os europeus brancos, dominadores, naquele tempo
classificado por Eric Hobsbawn como a Era
dos Impérios, colocaram suas botas sobre
países, tribos, nações, transformados em colônias. Os brancos, ocidentais e cristãos, cometeram
nas colônias as maiores atrocidades, até genocídios. O que os franceses fizeram
na Argélia, seria motivo suficiente para que tentassem expiar suas culpas
dedicando aos argelinos que chegam à França um tratamento o mais próximo
possível da fraternidade. Mas não é o que acontece, o árabe é discriminado,
vítima de insuperáveis preconceitos, e claro, se sente ofendido, humilhado,
espezinhado, quando sua fé, os valores aos quais se apega, são tratados de
forma galhofeira, mesmo que sob a ótica sem limites do humor.
Fala-se agora, tão somente, na ameaça à liberdade de
expressão , na necessidade de assegurar
o pluralismo, o direito de divergir,
valores que seriam inerentes à
civilização alcançada pelo mundo agora globalizado. E o que isso
significa, por exemplo, para um iraquiano vivendo num subúrbio miserável
de Paris, ou Nova Iorque, depois que o seu
país foi destruído pela quadrilha petroleira de George W Bush? Por acaso o
mundo indignou-se, como indignado está agora pelo atentado à revista satírica
Charlie Hebdo, quando o espetáculo apocalíptico das bombas que caiam sobre a
imensa Bagdad foi exibido em tempo real
pela televisão? Ou quando a poderosa máquina militar de Israel despejava ferro
e fogo durante semanas a fio sobre
milhões de palestinos espremidos na
Faixa de Gaza ?
O terrorismo, sob qualquer pretexto, é moralmente
inadmissível, mas, a tal Guerra Contra o
Terror deflagrada pelo genocida Bush, é algo assim, semelhante à causa combatendo os seus próprios efeitos.
O Islã visto agora
como nascente do terrorismo, foi, no passado,
quem levou à Europa a cultura da tolerância. Quando os árabes se
instalaram na Espanha, muçulmanos,
judeus e cristãos, conviviam em paz e
partilhavam seus valores. Em Córdoba, Granada, Sevilha, Toledo, há mesquitas
com bibliotecas anexas, onde existem
preciosidades do cristianismo e do judaísmo. E também igrejas com inscrições em
árabe, fazendo referências ao Alcorão, e sinagogas imitando a arquitetura dos palácios muçulmanos. Quando reis católicos reconquistaram a
Espanha começou a perseguição implacável e sangrenta contra muçulmanos e judeus. O mundo ocidental, cristão, hoje
globalizado, está colhendo os frutos do
que plantou, e continua semeando.
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