UMA RECESSÃO
PRÉ-FABRICADA
Um sisudo comentarista desfilava na TV uma série de razões pelas quais a economia
brasileira teria tecnicamente afundado
em recessão. Recessão logo nos remete àquelas cenas de enormes filas de
desempregados em busca de um só disputado posto de trabalho, as pessoas temerosas
e precavidas reduzindo despesas, consumindo o mínimo para a subsistência.
Depois do comentarista o noticiário
prosseguia, e ficava-se então sabendo que em Brasília hotéis e restaurantes
estão atravessando sérios problemas
porque não há mão de obra disponível . Enquanto
isso, os turistas brasileiros cada vez
em maior número batiam recordes de gastança no exterior.
Sendo apenas uma
constatação tão sinistra quanto eleitoreira, ou uma realidade indiscutível, a
verdade é que o fantasma da recessão
continua de vez em quando fazendo
as suas aparições , isso porque, há dois
anos, o Ministro Mantega já deveria ter
sido devolvido à tranqüilidade da sua residência . Nele ninguém mais acredita, e esse descrédito é coisa grave, porque no
Brasil, desde o Império, os agentes econômicos sempre se movimentaram em torno
das decisões, ou dos favores do Ministério da Fazenda.
O homem que manobra a economia brasileira pode tornar-se desacreditado por dois motivos: falha própria ou atingido pela conspiração do
prostíbulo financeiro em que se transformou o capitalismo global desenfreado. Mantega é vitima das duas
coisas, mas, já tendo dado o que deveria dar, há muito tempo teria chegado a sua hora de pegar o
chapéu e sair.
Se de fato existe,
essa nossa recessão é um
tanto estranha. Contrastando com ela, nas ruas das cidades americanas e
européias há nítidos e alarmantes sinais
de uma progressiva deterioração social.
Aqui, nenhum banqueiro saltou do alto de algum prédio na Avenida Paulista. Na recessão de 1929 banqueiros, magnatas
falidos, foram se esborrachar sobre o asfalto, despencando de edifícios da Wall
Street, onde a Bolsa e todo o sistema financeiro agonizavam. Por aqui
os bancos, todos eles, sem nenhuma exceção, exibem inacreditáveis lucros. E
esse ganho despudorado resulta cada vez mais da especulação
avassaladora, que não gera emprego nem
distribui renda. E ainda querem a autonomia para o Banco Central, um eufemismo
que na realidade significa o controle da
economia pelo mercado financeiro.
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