domingo, 7 de setembro de 2014

UMA RECESSÃO PRÉ-FABRICADA



UMA RECESSÃO
PRÉ-FABRICADA
Um sisudo comentarista  desfilava na TV uma  série de razões pelas quais a economia brasileira teria tecnicamente  afundado em recessão. Recessão logo nos remete àquelas cenas de enormes filas de desempregados em busca de um só disputado posto de trabalho, as pessoas temerosas e precavidas reduzindo despesas, consumindo o mínimo para a subsistência. Depois do  comentarista o noticiário prosseguia, e ficava-se então sabendo que em Brasília hotéis e restaurantes estão  atravessando sérios problemas porque não  há mão de obra disponível . Enquanto isso, os turistas brasileiros  cada vez em maior número batiam recordes de gastança no exterior.
  Sendo apenas uma constatação tão sinistra quanto eleitoreira, ou uma realidade indiscutível, a verdade é que o fantasma da recessão    continua de vez em quando  fazendo as suas aparições ,  isso porque, há dois anos, o Ministro  Mantega já deveria ter sido devolvido à tranqüilidade da sua residência . Nele ninguém mais acredita,  e esse descrédito é coisa grave, porque no Brasil, desde o Império, os agentes econômicos sempre se movimentaram em torno das decisões, ou dos favores do Ministério da Fazenda.
O homem que manobra a economia brasileira  pode  tornar-se desacreditado por dois motivos:  falha própria ou atingido pela conspiração do prostíbulo financeiro em que se transformou o capitalismo  global desenfreado. Mantega é vitima das duas coisas, mas, já tendo dado o que deveria dar, há muito  tempo teria chegado a sua hora de pegar o chapéu e sair.
 Se de fato existe, essa nossa recessão é um 
 tanto estranha.   Contrastando com  ela, nas ruas das cidades americanas e européias há nítidos e alarmantes  sinais de uma progressiva deterioração social.
 Aqui,  nenhum banqueiro saltou do   alto de algum prédio na Avenida Paulista. Na  recessão de 1929 banqueiros, magnatas falidos, foram se esborrachar sobre o asfalto, despencando de edifícios da Wall Street,  onde a Bolsa e  todo o sistema financeiro agonizavam. Por aqui os bancos, todos eles, sem nenhuma exceção, exibem inacreditáveis lucros. E esse ganho despudorado    resulta  cada vez mais da especulação avassaladora,  que não gera emprego nem distribui renda. E ainda querem a autonomia para o Banco Central, um eufemismo que na realidade significa  o controle da economia pelo mercado financeiro.

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